Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 11 – Arco 4

Capítulo 100: O começo do plano.

 

Hideki

 

— Nós vamos fazer assim…

Estava em uma sala pequena com todo mundo, existia uma mesa redonda no centro, e alguns papéis em cima dela, ainda que todos estavam se recuperando das coisas que aconteceram…

Kay chamou todos nós para essa sala, para conversar melhor sobre como seria o plano para ajudar tanto a Emilly, quanto a Shiori… existiam algumas coisas para se fazer e se falar no meio de tudo isso. Ele estava perdido e não sabia ao certo o que se fazer em certos momentos, então todos nós estávamos pensando em como seguir em frente com os planos em mente.

De início, a gente iria atacar o dragão para tentar ajudar a Shiori, enquanto isso alguns iriam ajudar a Emilly, mas tudo isso seria difícil pois estamos sendo procurados, e praticamente qualquer um que nos visse iria atacar, isso se deve a recompensa que estava na nossa cabeça… o que me deixava sem conseguir pensar em algo melhor.

Any que era a pessoa que mais sabia sobre as coisas do reino também estava pensativa demais, mas mesmo assim ela se levanta, anda até a parede da frente que havia um quadro negro… e começa a tentar explicar as coisas que estava pensando.

— Se me lembro bem daqui uns dois dias é o aniversário do rei, ele sempre faz uma festa… provavelmente aí será a melhor ocasião caso queiramos atacar.

— Mas não é qualquer pessoa que pode entrar na festa. — responde Kay.

— Eu sei, mas vamos ter que usar essa festa ao nosso favor, às vezes ele convidava todos que não eram da plebe pra festa, assim a pessoa teria que pagar pelo convite. Caso a pessoa pagasse, ela estaria praticamente pagando por uma proteção do rei por mais ou menos alguns anos, era assim que era feito antigamente.

— Estranho…

— Mas, mais do que isso. A festa que ele normalmente fazia era um baile de máscaras, então a gente tinha que achar alguma forma de entrar lá fantasiados. Mas teríamos que esperar para ver como será a festa desse ano, provavelmente será igual a todos, então ainda terá que… comprar o ingresso.

— Acho que conheço alguém que consegue arranjar pra gente caso… precise. — responde Kay.

Kay fica um pouco pensativo, mas ainda sim ele respira fundo. Parece que ele conhece as ruas desse lugar melhor do que qualquer pessoa, então a gente teria que confiar nele por enquanto, mesmo depois do que ele fez com Leon. Sobre o que aconteceu depois, ele pediu desculpas… e simplesmente disse que perdeu o controle com tudo o que aconteceu, mas eu não consigo confiar nessas palavras, pois havia uma pitada de mentira… ao meu ver.

— Tem mais uma coisa que precisamos… o reino precisa saber a verdade, e entender que tudo o que estão vendo… é mentira.

Any queria mostrar para as pessoas que o céu, as crenças deles, e a falsidade do rei… ela queria mostrar tudo isso para o povo, mas seria impossível fazer sem ter provas… e até então nessa reunião não foi mostrado nenhuma prova contra o pessoal que é mais alto. Então… tudo o que estamos imaginando… tudo seria impossível.

O reino está tão contra a gente que qualquer coisa que fossemos falar seria ou mentira, ou pior… colocar o povo ainda mais contra a gente, o que seria perda de tempo. Eu entendo o sentimento dela de querer salvar as pessoas do reino, mas deveria entender que nesse momento é praticamente impossível fazer qualquer coisa para tentar demonstrar isso…

O silêncio na sala demonstrava que ninguém sabe fazer alguma coisa contra o que ela está falando, pois na verdade é impossível fazer essas coisas… é impossível simplesmente tentar fazer algo contra o rei…

— Olha, eu sei que você se preocupa com as pessoas aqui, mas fazer isso nesse momento… é literalmente impossível.

— Não, Hideki… olha bem.

— Any, não dá pra simplesmente demonstrarmos que é tudo falso quando todos estão contra nós… é impossível, talvez em algum outro momento poderíamos tentar fazer isso, mas agora… não dá.

— Por favor, tenta entender o que estou falando…

Leon entra na minha frente.

— Ela realmente quer te falar algo importante… por favor, escute o que Any tem a dizer…

— Ah… certo.

Eu sei que estava pensando demais em mim mesmo, mas naquele momento era o que eu deveria fazer. Não posso abrir espaço para colocar mais peso ainda no plano… tenho que ter noção do que estou fazendo… não é tão fácil, eu não sou um deus nem algo do tipo… então porquê tanta confiança no que faço? 

— Eu entendo que você não quer colocar nada mais no plano… mas entenda, ela é uma pessoa importante no reino, quem poderá falar sobre ele melhor do que qualquer um aqui… é ela… — diz Leon.

— Hideki… eu sei que o povo está completamente submisso ao que esse novo rei está dizendo… e isso é por conta deles não saberem o que está acontecendo, então se a gente conseguir provar que tudo o que estão acreditando é falso… provavelmente tudo voltará a ser como antes…

— E como a gente faria isso?

— Eu poderia pensar melhor depois? Eu só quero a confirmação… tem como vocês me ajudarem nisso?

Eu não estava no direito de pedir alguma coisa, já que ela está me ajudando desde a luta contra aquela deusa que não me lembro…

— Certo. Eu pelo menos vou te ajudar nisso.

— Se o Hideki vai, eu também vou. — diz Yukiro.

— Se precisar de mim pra alguma coisa, acho que posso te ajudar…

— Obrigada, Maki.

— Eu e meu irmão vamos te ajudar!

— Eu acho que nem preciso dizer minha resposta, certo? — pergunta Kay.

Tudo se resolveria nessa festa que um tempo depois é anunciada. Por conta da gente estar sendo procurados, a festa tinha uma defesa gigantesca, existiam guardas reais por todo lado… Como todo o grupo estava junto, decidimos separar… e quem fala sobre isso é Kay.

— Existe uma pessoa que pode nos ajudar a estruturar nosso plano.

Nesse momento estávamos em cima de um prédio abandonado, nenhum guarda passava pela gente…

— Acho que sei de quem você está falando. — diz Any.

Any respira fundo e olha atentamente para o castelo principal. Lá estava o antigo rei anunciando a festa de aniversário dele, e que todo o povo estava convidado para participar da última festa oficial do rei, já que o trono passaria para outra pessoa, mas essa parte ele não explica.

— Armagedom.

— Ele mesmo. — confirma Kay.

— Quem é ele?

— Em uma guerra que teve entre esse reino e um reino vizinho, Armagedom foi o estrategista principal, sem ele a guerra teria dado ruim para ambos os lados. Tudo o que ele fez foi estratégia pura para matar o rei e a rainha daquele reino, fazendo a guerra parar de vez.

— Entendi… e onde podemos encontrá-lo?

Kay não me respondeu, na verdade ele ficou pensando por um tempo até chegar em uma conclusão sozinho.

— Tem um lugar onde podemos ir… enfim, sem tempo para descanso, temos que ir já que não sobra muito tempo.

Enquanto o pessoal começa a sair do andar mais alto do prédio, eu observo novamente o rei… só para olhar uma última vez, ao lado dele havia uma pessoa desconhecida aos meus olhos, na sua cintura tinha uma kanata, e ele sorria com um manto nas suas costas com alguns kanjis…”” o que significa isso?...

Ele tinha um longo cabelo branco e olhos vermelhos, sua pele era como leite e seu corpo era formado por pequenos músculos que se percebia aos poucos… abaixo desse manto tinha uma roupa de soldado e ele segurava na sua cabeça uma coroa preta. Não dava para me olhar independente do que você tentasse fazer, o prédio que eu estava era muito escuro por ser longe do centro do reino e por ser um lugar que estava abandonado… afinal, era de noite e o rei estava anunciando sua festa para o próximo dia… um pouco antes do esperado.

— Quem é você… — sussurrei.

Logo me virei e comecei a andar em direção ao pessoal.

Nesse reino existia uma parte que não tinha luz nem nada, então era um canto perfeito para se esconder e ficar lá por um tempo, era onde a gente estava para bolar nossos planos… mas neste momento, Kay estava levando a gente em encontro ao que parecia ser um amigo de infância, ele passava pelos pequenos corredores que havia nas ruas daquele lugar sem luz, e assim passamos até o amanhecer, chegando no canto da cidade… logo na loja de um ferreiro.

— Gab, ele está aí? — pergunta Kay.

O ferreiro que era musculoso e alto, com um cabelo curto e um pouco escurecido, responde com a cabeça, assim olha para os dois lados para ver se não tem ninguém se aproximando, e nos guia até dentro da sua pequena loja… era um lugar simples, com algumas prateleiras com armas que ele já fez e com materiais também. Mas o que chama a atenção era que existia uma pequena passagem para o subterrâneo logo atrás da bancada.

O andar de baixo do lugar era recheado de moedas de ouro por todo o chão… o lugar era escuro, e a única coisa que brilhava ficava logo a frente… um trono, e naquele trono tinha alguém, uma pessoa coberta por tecidos… que com uma voz extremamente grossa, tenta falar com a gente:

— Parece que você voltou…

— Sim, eu preciso da sua ajuda… Armagedom.

— Entendi, no que posso te ajudar?

Kay subitamente conta todo o plano que tinha em mente, desde o momento que nos encontramos até a situação de agora… como eles pareciam ser amigos nada é negado ou simplesmente ignorado, a pessoa que se chama Armagedom simplesmente levanta do trono, mostrando que usava uma camiseta branca rasgada coberta por um manto banhado a ouro, com uma calça preta social e um sapato.

Seus cabelos eram acinzentados e ele tinha uma espécie de tapa olho no seu olho direito, o esquerdo… era branco, como se estivesse cego. Ele parecia jovem, na sua cintura tinha uma katana.

— Entendi, então você quer que eu faça um plano até hoje de manhã, só assim você conseguirá fazer aquilo?

— Sim.

— Isso é muito ousado, ainda mais sem seu irmão por perto… mas enfim, eu acho que posso te ajudar de alguma forma, só preciso de alguns minutos para pensar melhor em um plano… ah sim, você está considerando o que Any falou?

— Estou.

— Isso é interessante, talvez dê para fazer algumas coisas com todo esse plano que você me deu.

Estávamos em seis pessoas naquele momento, Maki tinha ficado para cuidar um pouco de Shiori, então estava tudo tranquilo.

O plano que Kay tinha montado era o seguinte:

— Leon e Thiago entrarão na festa como desconhecidos, já que são os mais fáceis de retirar a face de procurados, eles passaram informações pra gente por um utensílio que darei para vocês… Yukiro e Maki ficarão de guarda caso algo aconteça, uma ficará atrás do castelo, e a outra logo na frente, se escondendo… mas depois entrarão em ação de alguma forma. Lembrem que essa é só a primeira parte do plano… Any e Hideki vão para o subsolo, lá encontrarão o dragão… e já que com o poder do Hideki não deve ser tão difícil, ele fará o bicho sumir. Não subam para os andares superiores, lá será extremamente difícil de recuperar contato. Na segunda parte do plano, Leon subirá no palco e começará a contar a verdade para todo mundo, enquanto isso a barreira se quebra… logo faremos a sua amada voltar… Hideki.

— Certo.

De certo modo era extremamente funcional, tirando o fato de que todo mundo se arriscaria tanto.. tirando eu e Any, que simplesmente iremos desacordar um animal. Depois de um longos minutos pensando em como mudar isso, Armagedom fala:

— O plano de vocês não é ruim, mas tem muito perigo…

Armagedom se levanta…

— Talvez eu possa deixar algumas pessoas irem com vocês… aliás.

Ele passa por cada um, entregando um dispositivo que parecia ser tecnológico.

— Coloquem isso no ouvido de vocês, será nosso comunicador.

É o que ambos fazemos… Armagedom então chama a gente por um canal privado, e ainda chama mais algumas pessoas para nos ajudar com o que estamos fazendo… no geral ele aceitou tudo como se fosse algo fácil e simples, talvez seja o que ele mais queria fazer na verdade… 

“— … os nossos estrategistas já desistiram da verdade e não querem mais saber do que está acontecendo… só apenas aceitaram viver como seres humanos normais.”

Talvez ele seja um daqueles estrategistas que simplesmente não conseguiram seguir em frente, e agora estão tentando voltar com tudo para finalmente seguir os sonhos. Talvez seja esse o motivo dele aceitar tudo isso como se fosse algo que sempre quis fazer… não sei ao certo como explicar essas coisas, mas é o que eu sinto.

— As pessoas que eu chamei vão chegar no meio da missão, quando eles chegarem vou passar o que devem fazer, não vão atrapalhar o plano de vocês, continuem como se estivessem fazendo o certo. Serão mais duas pessoas, e cada um ajudará no contra-ataque caso dê alguma merda…

Virei as minhas costas e comecei a andar em direção a saída… na minha mente poucas coisas do que estavam acontecendo poderiam dar certo, afinal de contas… eles estavam confiando demais em um poder que eu tenho. O fator de conseguir destruir as coisas com o toque, não me permite ser praticamente invencível como eles estão pensando… ainda há limites, ainda há erros… e não sei quais são.

Por um momento me lembrei da época que estava tudo estranho, ou seja, logo no final da minha fuga na academia de batalha, aquela academia tinha deixado de existir com apenas um toque meu no chão… e queria entender como fiz aquilo. Em todas as vezes que tentei deletar alguma coisa não tinha sido tão simples assim… eu não sei o que aconteceu comigo naquele momento, parece que… meu desejo tinha sido uma ordem muito maior do que qualquer coisa no mundo, pelo menos naquele momento parecia que eu era… Deus.

Lutar por alguma coisa era difícil pra mim, ainda mais quando minha mente estava um caos completo… mas eu queria lutar por aquela pessoa que estava além da minha consciência… e chegando no quarto dela…

— Oi… Shiori.

Me sentei na cadeira que estava logo na frente da sua cama, seu rosto estava da mesma forma, perfeito, a beleza que existia dentro dela era gigante, e isso me deixava feliz, eu ficava bem só ao olhar pra ela, parecia que era a fórmula para a perfeição.

— Eu queria te contar uma coisa, já terminamos o plano… e agora falta pouco pra fazer você acordar de vez.

Poucos dias se passaram desde que ela desmaiou, mas desde aquele momento eu vim visitá-la e entender o que está passando por aqui, pois… vai que em algum momento ela acorde e me diga um bom dia.

— O plano é lindo e eu tenho certeza que vai gostar… eu vou matar um dragão… eu vou tentar matar um dragão.

Fui contando do plano pra ela enquanto esperava uma resposta a cada coisa que falava, vai que assim ela acordaria e eu não precisasse matar um dragão de verdade… naquele momento eu estava com medo, e não conseguia raciocinar os meus próprios pensamentos, por conta disso parei por um momento, e tentei segurar sua mão… o calor era tanto que nem consegui ficar por um toque.

— Seja lá o lugar onde está… quero que esteja bem… e pronta para voltar ao normal… eu te amo…

Eu voltei para a sala… e lá esperei o dia da festa chegar.



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