Volume 6

Capítulo 286: Um banquete com os Gatos-Negros

Os gatos-negros estavam empolgados. Eles continuaram conversando de forma animada um com o outro enquanto voltávamos para a vila. Em termos de conteúdo, as conversas eram bastante sérias. Eles estavam sinceramente tentando formar equipes e aprender mais sobre áreas em que podiam caçar seres malignos. Os arredores de Schwarzekatze eram quase todos desprovidos de monstros, então suas únicas opções eram ir para a capital ou zarpar para Gilbard, o continente do qual eu e Fran acabamos de vir.

Fiquei feliz por eles estarem motivados, mas também estava um pouco preocupado. Eles provavelmente morreriam se se esforçarem muito sem a preparação adequada. Podemos tê-los excitados um pouco demais.

"Pode ser uma boa ideia para você ficar em Schwarzekatze e treinar um pouco esses caras."

“Mas então não chegarei a tempo do leilão.”

Fran balançou a cabeça em desaprovação.

"Sim, eu sei, mas estou preocupado que eles saiam e se matem sem conseguirem fazer nada, entende?"

“Não posso ficar. Preciso manter a promessa.”

"Não tenho muita certeza se você pode chamar o que aconteceu de fazer uma promessa. Sei que Gallus nos deixou uma carta e várias informações, mas nunca lhe enviamos uma resposta. Em termos técnicos, não prometemos nada a ninguém."

“Mesmo assim, não.”

"Bem... se é o que você quer..."

Fran rejeitou firmemente minha sugestão e não deu espaço para negociação. Ela poderia ficar teimosa quando se tratava de coisas assim. A jovem gata-negra odiava voltar atrás em sua palavra. Ela sempre se apegava a qualquer coisa que decidia sem pensar duas vezes. Não havia sentido discutir com ela, então dei de ombros de forma metafórica e desisti da conversa.

Eu queria que ela cuidasse dos outros gatos-negros, mas não conseguiria fazê-la voltar atrás em sua decisão. Afinal, a força de sua determinação era uma das coisas mais encantadoras sobre ela.

Os gatos-negros que nos acompanharam no ataque começaram a se gabar de suas façanhas no momento em que retornamos à vila. Eles falaram sobre como mataram goblins e como testemunharam a heroica demonstração de força de Fran. Cada um deles tinha suas vozes cheias de orgulho e fervor. Mesmo aqueles que decidiram nunca mais lutar falavam bem do encontro.

Testemunhando a juventude revigorada, o chefe da aldeia fez uma reverência a Fran.

— Obrigado, Princesa do Raio Negro. — Sua voz demonstrava gratidão e deleite.

— Não posso agradecer o suficiente pelo que você fez.

— Não foi grande coisa. — Fran encolheu os ombros.

— Para nós é. Nossa tribo finalmente ganhou o vigor e a determinação que faltava. Nada disso seria possível sem você. Tenho que agradecer por tudo o que você fez. Você nos orgulha de sermos gatos-negros.

— Bom. —, disse Fran, assentindo.

Ela parou por um momento para abrir seu armazenamento dimensional e extrair uma parte do seu conteúdo. Para ser mais específico, ela tirou todas as armaduras que acabara de roubar dos goblins.

— Isso, posso deixar aqui?

Tudo era feito de ferro. Para veteranos, o material era inútil. Mas ainda era muito bom em comparação com o que a maioria dos novos aventureiros poderia colocar em suas mãos.

— Desculpe, eu não entendi direito. O que você quer dizer? — O chefe coçou a parte de trás da cabeça enquanto a olhava com um olhar claro de confusão.

— Não preciso.

— Vo-você está oferecendo nos dar tudo isso!? Não poderíamos aceitar. Tenho certeza de que você ganharia uma quantia justa de dinheiro vendendo essas peças, então é melhor você continuar com isso.

— Não é problema. Tenho dinheiro suficiente.

— Tem-tem certeza? Podemos mesmo ficar com tudo isso!?

— Nn.

— Mui-muitíssimo obrigado! Vou me certificar de que os jovens os utilizem bem!

— Nn. Bom. Então, isto também.

— Vo-você está nos dando tudo isso!?

Os olhos do chefe praticamente esbugalharam-se quando Fran despejou um monte de equipamentos que estávamos guardando no armazenamento dela. Nós saqueamos esses itens dos cadáveres de goblins, bandidos, piratas e tudo o mais que matamos em nossa jornada. A maior parte estava destruída, mas nada que não pudesse ser reparado. O material de couro poderia ser unido de novo, enquanto o material de metal poderia ser derretido e reforjado.

A razão pela qual não vendemos nada disso foi porque a guilda lidava apenas com partes de monstros. Armaduras e coisas do gênero precisavam ser levadas para lojas e comerciantes, e nem Fran nem eu queríamos passar pelo trabalho de vender tudo.

— Não preciso disto. Não quero passar pelo aborrecimento de vender. Ficarei feliz se você aceitasse.

— Obrigado! Muitíssimo obrigado!

O chefe começou a chorar. Ele interpretou as ações de Fran como generosidade, e as palavras dela como um pretexto.

Ele parecia muito emocionado. Era uma pena que Fran estivesse dizendo a verdade. Ela só decidiu dar a ele todas essas coisas porque estava com preguiça de vendê-las.


E assim, o resto do dia passou de forma bastante pacífica. Naquela noite, Schwarzekatze realizou um banquete. A cidade deu uma grande festa, tudo por uma questão de recepcionar Fran. A terra deles era infértil, então não entendíamos de onde estavam conseguindo dinheiro ou suprimentos para realizar o evento.

O chefe nos informou que estava planejando consumir as rações de emergência da vila. É claro que não havia como permitirmos isso. Nós viemos visitar, não drenar a vila de seus bens. Acabamos fornecendo toda a comida. Havia muitas coisas em nosso armazenamento. Tínhamos carne, legumes, grãos, ovos e peixe de todos os lugares.

A princípio, os gatos-negros hesitaram em usar nossos alimentos. Na verdade, eles até tentaram recusar, mas Fran os forçou a obedecer, explicando que ela precisava limpar a bagunça gigantesca que era seu inventário. Ela lhes disse que tinha tanta comida que seria literalmente impossível terminar tudo, e que precisava dos aldeões de Schwarzekatze para ajudá-la a acabar com isso.

Mais uma vez, o chefe acabou sufocando suas lágrimas de alegria. Ele pensava em Fran como uma espécie de heroína desde o início, mas agora, ele começou a vê-la como algo ainda mais do que apenas isso.

A esposa do chefe nos ensinou uma receita para um ensopado tradicional dos gatos-negros. O sabor era aparentemente medíocre, mas eu ainda achei bastante interessante por causa da maneira como foi feito. Ele foi cozido em uma panela de formato estranho. A cuba grande era grossa como uma parede e tinha a forma de uma bola de equilíbrio1. Cozinhar nela havia esquentado a sala inteira, provavelmente devido a algo semelhante ao efeito infravermelho distante2.

A carne e os tubérculos que enchiam a panela amoleceram com extrema rapidez. A esposa do chefe da aldeia havia acrescentado dois temperos principais: sal e um tempero fermentado que se parecia com molho de soja. Ela então deixou a panela descansar em cima de uma fogueira e a deixou assar, mexendo de vez em quando até ficar grossa e viscosa.

No fim das contas, lembrava algo parecido com um ensopado do estilo japonês. Decidi não apenas memorizar a receita, mas também melhorá-la daqui para frente, para que pudesse fazer para Fran uma versão mais saborosa da sopa que alimentou seu povo por gerações.

A esposa do chefe também estava curiosa sobre nossas receitas, por isso ensinamos a ela como fazer caldo, especificamente de ossos e vegetais.

Ela não tinha sido a única a preparar uma enorme quantidade de comida. Muitos outros moradores também se juntaram. Acabou havendo uma tonelada de comida, como seria de esperar de um banquete. Todos os aldeões estavam superempolgados ao verem a quantidade que eles tinham que comer.

Eles começaram o banquete praticamente idolatrando Fran. Muitos dos gatos-negros dançavam enquanto cantavam as músicas que sempre repetiam quando enfrentavam dificuldades.

A princípio, a atmosfera tinha sido quase solene. Mas com o passar das horas, as pessoas começaram a ficar bêbadas. Eles se animaram e começaram a ficar todos festivos. Eles beberam juntos, cantaram músicas desafinadas e dançaram de maneira alegre que contrastava muito com a atmosfera reverente com que o banquete começara.

Embora muitos estivessem bêbados, os aldeões não conseguiram esquecer sua apreciação. Eles começaram a se aglomerar em torno de Fran; todos queriam agradecê-la pelo menos uma vez.

Todos deixaram o círculo assim que pronunciaram suas palavras de agradecimento, mas o número de pessoas reunidas ao redor da garota não diminuiu nem um pouco. Na realidade, mais e mais começaram a se alinhar e se amontoar ao redor dela enquanto a bebida começava a fazer efeito.

"Você está bem, Fran?"

“Nn. Bem. — Ela parecia feliz.”

Certo, para ela, isso devia ser um sonho se tornando realidade. Ela sempre quis evoluir, tanto por ela mesma quanto pela própria tribo.

Os muitos gatos-negros continuaram cantando a noite toda com sorrisos nos rostos. Fran ficou quieta, e sua expressão permaneceu como de costume, mas eu podia dizer que ser o centro das atenções lhe trouxe alegria.

Eu queria muito encorajar Fran a ficar um pouco mais, mas sabia que ela não iria mudar de ideia. Não tinha dúvidas de que ela iria me dizer que queria sair em alguns dias. Mas quer saber, tudo bem. Tudo o que importava era que ela aproveitasse o tempo que passaria aqui.


Notas

[1] Uma bola suíça é uma bola de exercício físico construído com um material elástico macio com um diâmetro de aproximadamente 35 a 85 centímetros (14 a 34 polegadas) e cheia de ar. A pressão de ar é modificado através da remoção de uma válvula. Ele é mais frequentemente usado em fisioterapia e exercícios físicos. Também pode ser utilizada para a formação de peso. A bola, embora muitas vezes referida como uma bola suíça, também é conhecido por vários nomes diferentes, incluindo bola de equilíbrio, bola de nascimento, bola corporal, bola de fitness, bola de ginástica, physioball, bola pilates, bola Pezzi entre outros.

[2] Os raios infravermelhos distantes são ondas eletromagnéticas que aquecem os objetos. O ponto mais distante da luz visível das regiões de infravermelho adjacentes aos raios vermelhos visíveis é chamado de "raio infravermelho distante". A região do comprimento da onda principal do raio infravermelho distante é de 2,5 - 30μm na qual sobrepõe-se na região de vibração natural de várias moléculas. Portanto, quando as moléculas são atingidas pelo raio infravermelho distante, as mesmas são absorvidas pela superfície ativando a vibração natural, resultando no aumento da temperatura.



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