Volume 6

Capítulo 255: O início de uma luta

Fran pediu desculpas sinceras a Jerome, Mordred e a todos os outros que depositaram sua fé nela assim que voltou a Algieba. Para ser honesto, eu queria fazer o mesmo. Eu fui o único que continuava falando sobre como poderíamos resolver tudo, mas o Navio Dragão da Água me fez engolir todas as minhas palavras. Eu me senti muito mal pelo fato de Fran ter que se desculpar em meu lugar.

Maldito seja, Navio Dragão da Água! Eu juro que vou te afundar por isso!

Eu esperava que todos ficassem bravos conosco e começassem a gritar, mas, para minha surpresa, nenhum deles fez isso.

— Então você atacou o dragão da água da mesma maneira que atacou os navios piratas que encontramos no outro dia?

— Nn.

— Se a coisa não sofreu nenhum dano de um ataque forte o suficiente para afundar um navio em um golpe, então não podemos culpá-la.

Para nossa sorte, eles foram capazes de entender nossas circunstâncias.

— Parece que nossa única esperança de ganhar essa seria embarcar na capitânia deles e derrubar quem quer que esteja controlando o dragão.

— Parece uma boa ideia.

O capitão assentiu enquanto pensava na sugestão de Mordred.

— Conhecimento sobre método de controle?

— Nenhum da minha parte. E quanto a você, capitão?

— Não tenho os detalhes, mas sei que a família real lida com esse tipo de monstro há séculos.

— Então, capturar realeza?

— Parece uma ideia muito boa. Poderemos descobrir como parar o maldito dragão se fizermos isso. Ou talvez, se tivermos sorte, podemos até descobrir como podemos roubá-los, navio e tudo mais.

— Tá.

Poderíamos levar para o País dos Homens-Fera uma lembrança bastante sofisticada. Dito isto, descobrir essa parte foi apenas um objetivo. Por enquanto, nosso foco principal seria impedir que o Navio de Guerra Dragão da Água fizesse algo.

— O único problema é que não temos ideia de como embarcar no navio. Até onde eu sei, nossa única chance seria de alguma forma abalroá-los¹.

— Pode deixar comigo.

— Você já pensou em algo, princesa?

— Nn. Posso mover todos para o navio inimigo instantaneamente.

Enfim era a vez da Porta Dimensional brilhar.

Seria difícil para nós abrirmos um portal para qualquer lugar fora do alcance da nossa visão, mas o Navio de Guerra Dragão da Água chegou perto o suficiente para que seu convés fosse visto a olho nu. Ligar nosso navio ao deles foi uma tarefa fácil.

Nossa confiança foi recebida por vários olhares céticos. Fran acabara de falhar de forma espetacular apesar de se gabar, e a magia de espaço-tempo era um elemento super-raro, então a maioria não se incomodaria em suspeitar que ela pudesse usar isso.

Percebendo que precisávamos de algo para apoiar nossa declaração, Fran jogou o chapéu do capitão através de um portal com alcance supercurto.

— Uou! Esse é um feitiço incrivelmente avançado!

— Você pode usar magia de espaço-tempo? Isso é impressionante.

— Essa é a nossa professora!

Aventureiros e marinheiros reagiram à nossa revelação com choque; eles começaram a conversar entre si e a fazer muito barulho.

— Então você pode usar o feitiço que acabou de lançar para nos levar para o navio inimigo?

O mais rápido a recuperar a calma e voltar aos negócios foi Mordred. Tivemos muita sorte em ter ele e sua sensatez a bordo.

— Nn. Posso conectar o portal ao convés do navio.

— Acho que isso significa que devemos manter este navio o mais longe possível deles.

Da mesma forma, Jerome também foi bastante rápido em começar a contemplar o feitiço e suas implicações.

— Nn. Não faz sentido embarcar no inimigo se nosso navio afundar.

— Você acha que conseguiríamos superar essa frota deles, capitão? Me parece que eles são mais rápidos que nós.

— Você está certo, eles vão acabar nos pegando. O Algieba é sólido pra caramba, mas o fogo de canhão concentrado com certeza o colocará em perigo.

Proteger nosso próprio navio era uma obrigação, por isso propusemos dividir nossas forças. Para ser mais específico, nossa ideia era fazer com que Mordred liderasse um grupo de pessoas a bordo do navio inimigo, enquanto Fran afundava o resto da frota o mais rápido possível antes de se apressar para reforçar o primeiro grupo.

Não demorou muito para que o plano fosse validado como nossa melhor opção, dada a situação atual.

— Tudo bem rapazes, vamos invadir o navio inimigo, chutar traseiros e espancar alguns idiotas. Vocês estão prontos?

Mordred incendiou os ânimos dos homens quando se levantou e se preparou para embarcar na capitânia do pirata.

— Sim senhor!

— Fran, se você puder.

— Nn.

Eu abri o portal.

Com Mordred na liderança, nossas forças começaram a invadir o navio inimigo. A estratégia que empregamos foi uma abordagem de tudo ou nada. Ou venceríamos e tudo acabaria bem, ou ficaríamos em uma merda completa. Se o navio afundasse, estaríamos acabados, então não fazia sentido ficar a bordo e apenas esperar. Assim, todos os aventureiros e marinheiros que tínhamos a bordo acabaram seguindo Mordred até o navio-almirante inimigo, incluindo os três discípulos alegres de Fran.

— Está na hora de brilhar, Professora, aqui vamos nós!

Liddick pegou sua arma enquanto se preparava para atravessar o portal.

— É hora de mostrar tudo o que você nos ensinou!

— Vamos capturar os comandantes do inimigo, com certeza! Pode apostar!

Da mesma forma, Miguel e Naria se empolgaram enquanto esperavam a sua vez de fazer a surtida.

— Não se esforcem demais. Muito importante, continuar vivo.

— Sim Senhora!

— Sim Senhora!

— Sim Senhora!

E com isso, eles partiram.

Pessoalmente, eu não queria ver nenhum dos três morrer pela única razão de que Fran ficaria triste se isso acontecesse. Com sorte, eles não exagerariam demais.

Comecei a ouvir gritos, sobretudo de piratas, escapando de onde o portal estava conectado. Era provável que houvesse vários marinheiros inúteis a bordo, mas imaginei que nossos aliados provavelmente não perderiam, já que tínhamos Mordred do nosso lado. Ainda assim, seria do maior interesse deles que nós explodíssemos todos os outros navios o mais rápido possível.

— Hora de agir.

"Pode apostar que sim."

Au!

— Estamos contando com você, Princesa!

— Nn!

Trocamos algumas palavras com Jerome, fechamos o portal e entramos em ação. Tempo era essencial, quanto mais demorássemos, mais baixas nossos aliados sofreriam. Considerando isso, decidimos ir com a velocidade máxima desde o início.

— Mestre! Pronta!

"Eu também!"

— Urushi, velocidade máxima à frente.

Au!

Eu me transformei na forma de espada antinavio que eu havia adotado alguns dias atrás quando Urushi mergulhou direto em direção ao navio inimigo. Fran me levantou e me balançou no momento em que passamos. A combinação do poder de seu ataque e o impulso adicional causado pela velocidade de Urushi permitiram que ela cortasse o navio como uma faca quente na manteiga.

Um único golpe foi o suficiente para fazer minha lâmina passar da frente do navio e chegar ao seu fundo, o partindo ao meio e o afundando de uma só vez. Embora ele não fosse capaz de continuar usando a gravidade a seu favor, Urushi se recusou a desacelerar. Ele forçou as pernas repetidas vezes, levando a garota de navio em navio.

Nenhuma das embarcações que ele passou sobreviveu. Cada um foi dividido em dois. Os piratas não demoraram a reagir, eles logo começaram a bombardear o lobo com seus ataques, mas sem sucesso. Não era possível para eles atingirem Urushi em sua velocidade máxima.

Enquanto Urushi e Fran miravam nos navios próximos, eu me concentrei nos que estavam um pouco mais afastados. O poder do Martelo de Thor atingiu todos os navios longe demais do alcance dos meus companheiros.

Urushi conseguiu manter sua velocidade por 10 minutos, tempo suficiente para completarmos uma volta e afundarmos todos os navios da frota, faltando apenas a capitânia.

— Nn. Somente Navio de Guerra Dragão da Água sobrando.

"Tivemos muita sorte que todos os outros navios eram pequenos o suficiente para os afundarmos em um golpe cada."

— Urushi, vá para o Navio de Guerra Dragão da Água.

Au!

Tudo o que precisávamos agora era parar o Navio Dragão da Água antes de ele chegar a Algieba. Em outras palavras, precisávamos embarcar no navio e encontrar o ex-príncipe.

Fran saltou das costas de Urushi assim que chegamos e começou a derrubar os piratas que por acaso estavam onde ela pousou.

— Haaaaah!

— Higyaaah!

— Mer-merda, mais inimigos!

Ela soltou uma aura intensa de sede de sangue depois de despachar alguns inimigos, uma poderosa o suficiente para parar todos os piratas que estavam por perto. Usei o tempo que eles gastaram parados para rapidamente avaliar a todos, mas não consegui encontrar alguém que parecesse digno de nota em nossa vizinhança imediata.

"Ei, Fran, você está vendo aquilo, ali, aquele cara com uma lança enorme? Ele é um executivo. O mesmo vale para o mago que está bem ao lado dele."

— Só preciso capturá-los?

"Com certeza. Vamos nos livrar de todos os outros, pois eles vão acabar atrapalhando quando interrogarmos seus chefes."

— Nn. Entendido.

Fran assentiu antes de atacar a multidão de piratas.

— Gyaaaah!!

— Hiiiii!!

Os piratas entraram em pânico quando ela abriu caminho através deles. O momento em que ela entrou na briga foi o momento em que eles perceberam que estavam condenados. Ela se moveu tão rápido que eles nem eram capazes de vê-la, muito menos acompanhá-la. Toda vez que ela aparecia, seus aliados gemiam quando eram abatidos como cordeiros. Mas, mesmo assim, eles ainda nem sequer a vislumbravam. Suas linhas de visão estavam bloqueadas pelas fontes de sangue que irrompiam dos cadáveres de seus amigos.

Somente depois de assassinar mais uns dez piratas, ela enfim parou para emitir uma ameaça:

— Escolham. Saltar ao mar ou morrer.

Ela falou em um tom baixo e intimidador que apenas os que estavam ao seu lado podiam ouvir, ainda assim, metade dos piratas presentes reagiram e mergulharam no mar na mesma hora.

A outra metade, a metade restante, conseguiu manter o juízo e permaneceu no convés, apesar das ameaças. Eu não sabia dizer se as decisões deles tinham origem na lealdade, ou talvez algo como o credo deles como piratas, mas de qualquer forma, eles escolheram lutar. Em vão.

— Fizeram escolha? Então morram.

Fran deu um passo à frente.

Tínhamos dito telepaticamente a todos os nossos aliados que ficassem atrás dela; todas as pessoas na nossa frente eram piratas.

E assim, quando ela deu um segundo passo, ela me balançou.

Estendi minha lâmina e distorci minha forma geral na de uma katana de cinco metros de comprimento no momento em que ela se moveu e ativou uma técnica de espada. Embora ela só tenha me balançado uma vez, a combinação da minha forma e seu ataque magistral havia ceifado a vida de 20 piratas e ferido seriamente muitos outros.

Todos os piratas que sobreviveram ao ataque caíram no convés, gemendo de dor. Ignorando-os, ela continuou a avançar, seu olhar focado apenas nos dois executivos que vimos antes. Nenhum dos dois conseguiu se mexer. Ambos a encararam, congelados de terror.

… espere. Por que o cara com a lança está com o rosto todo coberto de sangue?

"Então, uh… Fran…"

"Nn. Cometi pequeno erro."

Pelo visto, fizemos uma "pequena" incisão na testa do lanceiro. Tivemos muita sorte. Nós o teríamos matado por acidente antes que ele nos dissesse o que queríamos saber se ele estivesse um pouco mais perto. Dito isto, quase ser morto o deixou muito assustado, então, de certa forma, as coisas acabaram dando certo.

— Como controlar dragão da água?

— Ó-ó Deus!

— Eu-eu-eu-eu vou dizer tudo que sei! Por-por favor, não me mate!


Nota

[1] Abalroamento é o termo náutico que significa choque entre embarcações em movimento. No contexto militar, o abalroamento é uma técnica que consiste em atingir um alvo colidindo com ele, usada tanto no combate aéreo como no terrestre e no naval.



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