Volume 5
Capítulo 217: Uma discussão sobre o futuro
— Ei Fran. Parabéns por ficar em terceiro lugar.
— Mmph.
— Kukuku. Acho que você percebeu que eu não quis dizer isso apenas como um elogio, não é?
Dias começou parabenizando Fran em tom de provocação no momento em que entramos em sua sala. Era óbvio que ele já tinha visto através da garota e sabia exatamente como ela se sentia.
— … porque perdi para Amanda.
— Sabe, um rank C normal estaria mais do que apenas se gabando se conseguisse chegar ao terceiro lugar.
O sorriso de merda do Mestre da Guilda não desapareceu quando ele deu de ombros. Ele estava apenas dizendo isso porque sabia que Fran não era do tipo que de repente começaria a se gabar de quão boa ela era.
Porém, ele tinha razão. O senso comum ditava que um rank C derrotando um rank A não era algo que poderia ser realizado com frequência. Essa era uma façanha tão milagrosa que justificaria uma pessoa ficar cheia de si.
— Também não pude derrotar o Lorde das Feras.
— Bom, o caso dele é um pouco especial. Nem mesmo eu seria capaz de levantar um dedo contra ele.
— Vencerei algum dia.
— O fato de você estar dizendo isso de forma tão séria é um pouco aterrorizante.
O fato é que Fran estava mesmo séria dizendo o que ela disse. Ela queria crescer forte e se tornar forte suficiente para um dia derrotar o Rei dos Homens-Fera.
Mesmo assim, ela teria que primeiro se fortalecer o bastante para derrotar Amanda e Forrund antes mesmo de pensar em lutar contra um rank S.
— Para ser sincero, tentei promovê-la de novo, mas meu pedido não foi aprovado.
— Mesmo se tornando rank C há pouco?
"Você não está pressionando para que as coisas aconteçam um pouco rápido demais?"
— Bom, vocês realmente conseguiram derrotar um rank A. Você é muito mais capaz do que um rank C mediano deveria ser quando se trata de sua capacidade de lutar.
"É, acho que você tem razão. Mas se for esse o caso, por que não deu certo?"
A menção de Dias à nossa força de batalha significava que não estávamos cumprindo pelo menos um requisito que não estava relacionado a esse ponto.
Na verdade, existem alguns problemas, de acordo com os outros mestres da guilda.
— Outros Mestres da Guilda?
— Sim, eu usei um item mágico para falar com alguns deles.
O maior dos problemas parecia ser a idade de Fran.
— Havia um bom número deles dizendo sobre como não havia precedentes para o que eu estava tentando fazer. Eu odeio lidar com pessoas assim. Na realidade, estou planejando eliminar todos eles em seu devido tempo.
"Tá, uh, divirta-se com isso."
Dias mencionou algo que eu imaginei que seria melhor não nos envolvermos.
— Algumas pessoas também alegaram que não havia como julgar o quão bom alguém era se aventurando com base em seu desempenho em um ambiente controlado como um torneio.
— Entendido.
Eu tinha que admitir, o segundo argumento que Dias nos apresentou era sólido. O torneio tinha regras e restrições em vigor. Isso realmente não servia para provar toda a extensão da habilidade de alguém, nem chegava a emular os muitos tipos de situações em que você se encontraria enquanto se aventurava.
O calibre de alguém como aventureiro precisava ser medido através de mais do que apenas a capacidade de lutar. Você também tinha que levar em consideração o conhecimento de magias e feras demoníacas, a capacidade de detectar e desarmar armadilhas, a capacidade de manter a calma e a capacidade de pensar fora da caixa.
É claro que a destreza no combate ainda era a mais valiosa das habilidades mencionadas, portanto, rotular alguém que havia derrotado um rank A e B não deveria ter sido um problema.
— Além disso, há também a velocidade com que você está subindo de rank. Eles estão preocupados que as pessoas comecem a reclamar porque parece que você está recebendo tratamento preferencial ou algo do tipo.
O terceiro ponto foi mais um argumento contra o qual não pude argumentar. Fran só conseguiu chegar ao rank C porque Dias havia puxado o cartão do favoritismo.
— Outro problema que eles levantaram foi sua falta de experiência como líder.
— Quero explicação.
— Aventureiros rank B devem atuar como comandantes em tempos de crise. Eles devem liderar outros aventureiros, caso alguma vez se encontrem em uma situação que envolva debandadas de feras demoníacas, eventos de nível desastre ou ataques feitos por monstros mais poderosos, só para citar algumas possibilidades.
"Sim, isso não soa como algo que Fran poderia fazer."
— Nn. Não posso. Muito chato.
— Foi o que imaginei, por isso foi um dos poucos pontos que reconheci como razoáveis.
A personalidade de Fran tornava quase impossível que ela fizesse algo como comandar um exército.
— O último argumento levantado contra o seu caso foi que você não parecia ter o tipo certo de temperamento, considerando que os rank B precisam lidar com os pedidos que a guilda recebe da nobreza.
— De verdade?
— Pois é, sim. Em circunstâncias normais, os aventureiros podem escolher os pedidos que desejam receber. Alguns pedidos vêm de locais altamente influentes, outros da realeza. Pedidos como esses são aqueles que não podemos recusar e, portanto, os designamos a aventureiros que sabemos que são competentes e que provavelmente os concluirão.
Os rank A eram poderosos, mas poucos em número, por isso eram mantidos em espera para casos de emergência. Portanto, esses pedidos eram entregues aos rank B.
Os rank B em questão sem dúvidas teriam que lidar com os indivíduos que haviam feito o pedido. Havia uma chance de que o nobre ou o que quer que fosse acabasse ficando irritado se o aventureiro enviado a eles não tivesse o tipo certo de temperamento ou atitude.
— Porém, esse realmente não pareceu ser um problema para mim, com base em como você agiu na cerimônia de premiação.
Em outras palavras, isso foi algo em que a Etiqueta da Corte de Fran poderia compensar. Eu admiti que a maneira como ela falava levaria as pessoas a pensarem que a garota era rude, mas isso não era um problema sério, desde que ela confiasse no lado mais taciturno de sua personalidade.
— Acho que isso foi tudo o que foi dito. Desculpe, mas você ainda está presa no rank C.
— Nn. Não ligo.
"Isso não era algo que você poderia realizar."
Tornar-se um rank B com apenas 12 anos de idade a rotularia como a exceção entre as exceções, portanto, fazia sentido sermos negados dessa forma. Pessoalmente, não achei que houvesse algo errado em trabalhar com calma realizando pedidos e construindo uma reputação antes de enfim aumentarmos nosso rank, pois poderíamos usar os eventos que acompanhavam esses atos para nos treinarmos e nos fortalecermos ainda mais.
— Para ser sincero, a única razão pela qual tentei elevar seu rank foi porque senti que te devia um favor.
— Devia favor?
— É porque você é a razão pela qual sei o que aconteceu com Kiara.
— De verdade?
— Sim. Você é a razão pela qual o Lorde das Feras e eu fomos capazes de conversar da maneira que conversamos, em especial porque não podia deixar de guardar ressentimento contra ele e sua linhagem.
Dias curvou-se profundamente para demonstrar a extensão de sua gratidão.
— Obrigado Fran. Eu aprecio muito o que você fez por mim, por nós.
Dias ficou tão agradecido que abandonou por completo sua atitude jocosa de sempre e falou em um tom sério.
— Estou feliz por enfim cumprir o pacto que fiz com Rumina. Parece que houve um enorme peso tirado das minhas costas.
Ouvi-lo mencionar Rumina me lembrou das circunstâncias da Tigresa-Negra. Eu estava um pouco preocupado que ela fosse subjugada agora que cumpriu seu propósito.
"Falando nisso, o que vai acontecer com o calabouço?"
— Bem, Rumina perdeu muito de seu poder. O número de monstros dentro de seu calabouço diminuiu de forma drástica, então precisaremos diminuir o rank dos calabouços em um nível cada.
“Entendo.”
— Sinto muito.
A evolução de Fran teve um efeito negativo direto na economia de Ulmut, pois a cidade girava em torno do calabouço que abrigava.
Dias não deveria estar muito feliz conosco, mas, de forma surpreendente, ele não estava zangado. Ele balançou a cabeça enquanto sorria.
— A verdade é que Rumina sempre pensou que havia uma chance de, ao ajudar um Gato-Negro a evoluir, ela perderia a vida. Ter os dois calabouços caindo em seus ranks não é algo tão grande se você comparar isso com o que poderia ter acontecido.
"Sim, mas o fato é que vocês não serão capazes de obter tantos materiais ou pedras mágicas como costumavam."
— Não posso dizer que isso não aconteça, mas os calabouços estão mais adequados para treinar aventureiros novatos em seus estados atuais. Esses novatos virão em massa, assim poderemos compensar nossa perda de receita com o aumento do comércio.
A profundidade dos pensamentos de Dias serviu para provar que ele merecia mesmo sua posição, apesar de sua atitude habitual. Fiquei feliz por não estarmos prejudicando a economia de Ulmut.
— Ó, verdade. Eu também tenho uma solicitação aqui com seu nome.
"Você está falando sobre aquela que disse que nos daria depois que chegássemos no rank C, não é?"
— Verdade. Eu sei que você e o Lorde das Feras não estão mais em terríveis termos, mas eu já havia informado várias outras filiais que iria emitir um pedido designado com antecedência, então não posso voltar atrás agora.
"O que precisamos fazer?"
— Estava pensando em lhe dar uma que os mandassem para o País dos Homens-Fera. Vocês devem ser capazes de contornar todos esses processos problemáticos de imigração se estiverem se dirigindo para atender um pedido da guilda. Da mesma forma, as filiais que temos por lá também devem oferecer seu apoio assim que você chegar.
— O que fazer após a chegada?
— Gostaria que você localizasse uma aventureira desaparecida que sumiu sem deixar vestígios. Nenhuma das pessoas que a procuraram conseguiu entrar em contato direto com ela, então gostaria que alguém confirmasse que ela ainda está segura.
Então ele queria que procurássemos Kiara? Puxa, isso é o que eu chamo de transformar um problema pessoal em assuntos oficiais.
— Nnnn…
"Parece bom para mim. O que você acha Fran?"
— Desejo ir ao leilão.
"Você quer dizer aquele que acontecerá na capital? Bem, eu gostaria de ir também, mas não é como se tivéssemos obrigação de ir. Eu diria que devemos priorizar a viagem para a Nação dos Homens-Fera por enquanto."
"Talvez consiga boas pedras mágicas no leilão."
"Sim, mas isso é algo que não está garantido. O mesmo poderia ser dito para o país dos Homens-Fera. Não se preocupe tanto comigo e apenas vá."
— Mas…
— Há algo errado?
— Quero ir ao leilão em junho.
— Ó, aquele? Você ainda tem um mês antes que isso aconteça. Você deve conseguir ir a Nação dos Homens-Fera e voltar em umas três semanas.
"Parece que podemos fazer as duas coisas."
— Nn. Então eu vou.
Fran assentiu alegremente, uma indicação clara de que ela queria muito ir para o País dos Homens-Fera desde o início.