Volume 5

Capítulo 210: Ponto de vista: Amanda

Observar Fran lutar com Goldalfa me deixou em um estado de choque. Ela se tornou muito mais forte do que eu imaginava.

Fran sempre fora forte e fofa. Eu soube disso desde o momento em que nos conhecemos. Eu também sabia que ela acabaria crescendo se tivesse tempo suficiente.

Eu sabia que ela um dia me superaria, mas sempre pensei que esse dia não chegaria pelos próximos dez anos.

Eu tinha previsto que ela perderia a partida nas quartas de final, mas isso não aconteceu. Ela derrotou Goldalfa, um inimigo contra o qual eu sofreria bastante.

Sua taxa de crescimento era tão alta que só poderia ser considerada anormal. Isso deve ter sido provocado por seu desejo de evoluir, e se tornou possível com a ajuda do Mestre, sua misteriosa espada. Eu não tinha dúvidas de que foi ele quem a guiou.

Falando nisso, parecia que o Mestre também se tornara muito mais poderoso. Ele havia realizado vários feitos surpreendentes quando Fran duelou com Goldalfa, feitos que não podiam ser atribuídos à própria garota. Sendo mais específica, eu acreditava que era provável que ele fosse responsável pelos casos em que o Fran parecia estar usando a magia de espaço-tempo e a magia do relâmpago sem encantamentos e em rápida sucessão. Da mesma forma, eu também assumi que ele era o catalisador que permitiu que ela evoluísse, para fazer o que era considerado impensável para os membros da Tribo dos Gatos-Negros.

Eu era incapaz de dizer com exatidão quais habilidades poderiam ser atribuídas a Fran e quais poderiam ser atribuídas ao Mestre, mas eu sabia que eles seriam um oponente difícil com seus poderes combinados.

Eles não deveriam ser subestimados, nem um pouco.

A parte mais surpreendente da batalha foi quando a dupla usou a Anulação de Dano Físico. Eu só consegui reconhecer a habilidade porque uma vez experimentei lutar contra um inimigo que a possuía. A habilidade da dupla de parar o machado de Goldalfa e bloquear seus poderosos ataques que criavam ondas de choque com nada além de um braço estendido serviu para provar que eles tinham a habilidade ou uma em suas derivações.

A Anulação de Dano Físico era poderosa e difícil de lidar, mas ainda tinha suas falhas. Seu alto consumo de mana significava que eu poderia romper suas defesas enquanto continuasse atacando.

— Essa menina possuí bastante força. Por acaso ela é algum tipo de aventureira?

— Duvido muito dessa sua conjectura. Ela parece ser uma Mulher-Fera e, portanto, deve estar associada à Nação dos Homens-Fera.

— Eu realmente preferiria que ela se afiliasse a nós, considerando sua força.

— Bem, não permitirei que você passe a perna em mim.

— Ela tem um grande número de pedidos se você levar em consideração a beleza dela.

— Uhyohyo, eu também gostaria de tê-la sob minha própria asa.

Os nobres ao meu redor fizeram o que era natural a se fazer e começaram a tomar nota dela. A tenra idade de Fran os levou a acreditar que ela estava propensa a ouvir seus comandos, independentemente de quais fossem.

— Eu adoraria que ela se juntasse às fileiras dos meus convidados imperiais.

— Ela seria uma guarda perfeita para minha filha.

Senti o desejo de administrar um pouco de disciplina, mas parei quando ouvi várias ideias mais legítimas surgindo. Não consegui determinar qual curso de ação seria melhor e, em vez disso, acabei refletindo sobre o crescimento dela.

Eu já conhecia Fran há bastante tempo. Nos conhecemos muito antes de nos encontrarmos em Aressa. De fato, fui apresentada a ela há mais de dez anos.

Mas, na verdade, nosso relacionamento estava muito mais enraizado do que isso.

Eu conheci os pais dela há muito tempo. Eles eram ex-alunos de um dos orfanatos que administrei. Os nomes de seus pais eram Kinan e Framia. Ainda me lembrava de cuidar deles em suas juventudes.

Eles cresceram, deixaram o orfanato depois de discutir comigo e começaram a se aventurar.

Nós nos despedimos de forma inadequada, então fiquei feliz por eles decidirem me visitar.

Em primeiro lugar, a briga foi por minha culpa. Aventurar-se não me pareceu o melhor para eles. O único destino que eu poderia imaginar que estava os esperando era a morte, então neguei seus sonhos. Eu disse que eles não seriam capazes de evoluir, mesmo que tentassem. Minhas críticas foram implacáveis demais e, por causa disso, falhei em impedir que os dois partissem.

Eu falhei em me comunicar com eles. Provavelmente, havia uma maneira melhor de dar conselhos aos dois. Foi por isso que fiquei muito feliz por eles me procurarem por vontade própria e me apresentarem sua filha recém-nascida.

Eles me disseram que o nome dela era Fran. Seu nome, idade e espécie batiam com a da jovem aventureira que conheci em Aressa.

Mesmo assim, não consegui discernir sua identidade quando a ouvi pela primeira vez. A razão para isso foi porque eu fui informada das mortes de Kinan e Framia. Embora nunca houvesse nenhuma palavra do destino de Fran, presumi que ela tivesse seguido os passos deles.

Contudo, conhecê-la e ver seu rosto mudou tudo. Ela parecia exatamente com Framia em sua infância, e assim, juntei dois e dois.

Eu queria que ela soubesse na mesma hora que conheci seus pais. Eu queria colocá-la sob meus cuidados, mas essa decisão foi uma que hesitei em tomar. Ela já havia se mostrado uma aventureira talentosa e, mais importante, eu já tinha demonstrado ser incapaz de proteger seus pais e impedi-los de enfrentar suas mortes.

Depois de um pouco de consideração, decidi não mencionar os vínculos que compartilhamos e, em vez disso, pensei em um método diferente pelo qual eu poderia oferecer proteção a ela. Foi por isso que forcei um caminho para duelar com ela, para que pudesse fazer meu máximo para garantir sua segurança. Eu tinha certeza de que Fran um dia se tornaria uma aventureira importante o suficiente para deixar seu nome na história.

Eu estava preocupada com o fato de ela um dia se superestimar e ter seu tapete puxado.

Eu queria ensinar a ela que pensar em si mesma como o auge da força era imprudente, que sempre havia alguém ou algo mais forte. Eu queria mostrar a ela como era enfrentar um inimigo muito mais poderoso.

Para esse fim, passei vários meses imersa em me aperfeiçoar. Ao fazer isso, aumentei o nível da minha habilidade Técnicas com Chicote pela primeira vez em cerca de 10 anos. Eu tinha apenas 50 anos, então ainda era jovem, mas a combinação do meu sangue élfico e um estilo de vida mais relaxado fez com que meus níveis de habilidade se estabilizassem. No entanto, muitas delas mais uma vez começaram a crescer conforme eu treinava com um objetivo em mente.

Minhas ações mais uma vez me permitiram afirmar que as metas eram importantes e que incentivavam a obtenção de resultados.

Eu enfim obtive a classe Mestra Celestial do Chicote que eu sempre almejei, tudo para derrotar Fran.


Fran e eu nos encaramos no dia seguinte.

Ela exibia um sorriso maravilhoso enquanto se preparava para a batalha. Ela não tinha medo de mim nem estava nervosa. Eu poderia dizer que ela havia direcionado todo o seu foco para a vitória e nada mais.

Eu sabia que teria que me esforçar se quisesse vencer. As observações de ontem me levaram a entender que Fran já não só me superava em termos de velocidade, mas também possuía poder de fogo suficiente para me matar com um único golpe.

Isso mostrava quanta força sua evolução lhe proporcionara.

E foi também essa a exata razão pela qual eu tinha que vencer. Eu tinha que fazer mais do que apenas vencer. Eu tinha que subjugá-la e provar que ela nunca deveria abaixar a guarda, e eu tinha que estar pronta para fazer todo e qualquer sacrifício necessário para tornar isso possível.

Fran e o Mestre lançaram vários feitiços no momento em que a partida começou.

A combinação precisa era de vento e relâmpago. Parecia que o primeiro foi usado para me impedir de usar meu chicote, e o segundo para me paralisar.

Estava claro que eles estavam usando a cabeça, mas os feitiços que lançaram eram fracos demais para me impedir de agir. Eu reagi me concentrando e liberando uma massa de energia mágica para executar minha técnica mais rápida e poderosa, uma que explodiu por completo seus feitiços.

— Anúncio do Fim — Ruína de Vaisravana¹!

Meu chicote enfureceu-se pelo estádio a uma velocidade que nem eu conseguia acompanhar.

Isso explodiu a magia de Fran e começou a atacá-la.

Meu ataque provou que Fran tinha a habilidade de Anulação de Dano Físico. Cada um dos ataques que a atingia era poderoso o suficiente para transformar um Alto-Ogro em carne moída, mas ela não estava sofrendo nenhum tipo de dano visível.

Ainda assim, continuei desferindo meu chicote. Eu poderia dizer que meus ataques estavam drenando a mana de Fran. Eu tinha que continuar a pressionando até sua reserva acabar.

O alto poder da minha técnica divina com chicote era tanto sua maior força quanto sua maior fraqueza. Meu chicote seria destruído se eu mantivesse a barragem por muito tempo.

O chicote que eu estava usando era um que eu tinha por muitos anos e que eu passei a amar, mas continuei pressionando mesmo assim. Não havia sentido em me preocupar com a minha arma durando até a rodada final. Meu verdadeiro objetivo era vencer esta partida. Incutir uma sensação de humildade em Fran era a única coisa com que realmente me importava.

— Aqui vem ela.

Fran desapareceu. Eu sabia que ela tinha se teletransportado através do uso de Magia de Espaço-Tempo, e porque sabia disso, consegui reagir ao ataque dela.

Me movi o mais rápido que pude e me afastei da minha posição anterior. Fran apareceu onde eu estivera momentos antes, com o rosto cheio de surpresa.

Ainda assim, ela não desistiu.

Ela combinou suas habilidades e feitiços para acelerar a uma taxa muito além das minhas expectativas, um ato que, por si só, era exatamente o que eu esperava dela.

— Haaaahhh!

Fran me colocou em uma situação difícil. Ela não apenas ativou minha habilidade Graça dos Espíritos, como também me colocou em seu alcance preferido. Sua lâmina reluzente coberta por um relâmpago negro voou contra mim mais uma vez. Era um ataque que eu duvidava que fosse capaz de desviar.


Nota

[1] Vaiśravaṇa, ou Vessavaṇa, também conhecido como Jambhala, é o nome do chefe dos Guardiões das Direções e uma figura importante da mitologia budista. O personagem Vaiśravaṇa é fundado sobre a deidade hindu Kubera, mas embora as deidades budistas e hindus compartilhem algumas características e epítetos, cada um deles tem funções diferentes e mitos associados. Embora trazido a Ásia do Leste como uma deidade budista, Vaiśravaṇa se tornou um personagem de religião folclórica e adquiriu uma identidade que é parcialmente independente da tradição budista. O Vaiśravaṇa é o guardião da direção do norte, e a sua casa está no quadrante do norte da fileira mais alta da metade mais baixa do Monte Sumeru. Ele é o líder de todo o yakṣas que se estendem sobre as encostas do Sumeru. Ele muitas vezes é retratado com uma cara amarela. Ele transporta um guarda-chuva ou o guarda-sol (chatra) como um símbolo da sua soberania. Ele também é às vezes exposto com um mangusto, mostrado muitas vezes ejetando joias de sua boca. O mangusto é o inimigo da cobra, um símbolo de ganância ou ódio; a ejeção de joias representa a generosidade.



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