Volume 5

Capítulo 188: A segunda rodada preliminar

Fran se animou e entrou na arena, apenas para ser recebida por uma arena de proporções épicas, tão grande e bem decorada que não podia ser comparada à coisa suja usada na primeira rodada preliminar. Sua construção consistia em duas partes, uma plataforma redonda e a parede cilíndrica maior que a envolvia. Ao redor da arena havia assentos suficientes para acomodar mais de mil espectadores. O lugar estava muito acima da lotação; todos os lugares estavam ocupados e ainda havia mais pessoas de pé.

Nossa entrada foi recebida por uma série de aplausos da plateia, foi tão alto que minha lâmina tremeu em resposta.

Apesar de tudo, Fran estava como sempre; ela não se importava com o ambiente.

Três dos nossos quatro adversários já estavam no topo da arena, um dos quais reconhecemos.

— Hum? Fran!?

— Judith?

— Ah, por favor! Agora tenho certeza que vou perder!

Judith caiu de joelhos no momento em que percebeu que estava nos enfrentando. Para ser honesto, foi uma ação pela qual não podia culpá-la. Basicamente, não havia como ela vencer, dado o fato de Fran ser muito mais forte do que ela.

Ao que tudo indicava, ela não foi a única a reconhecer Fran, pois os outros concorrentes também adotaram expressões semelhantes de desconforto.

— Então essa é a Garota da Espada Mágica…? Hum, ela é mesmo apenas uma criança.

— Não baixe a guarda. O rank dela é ainda mais alto que o nosso. Ouvi dizer que ela é uma rank C agora.

A primeira rodada das preliminares parecia ter filtrado a maioria dos aventureiros menos capazes. Todos, exceto um dos participantes presentes, foram habilidosos o suficiente para perceber que Fran não era fraca. O único que falhou em reconhecer sua força foi o último a entrar no ringue.

— Hahahah! Por que há uma pirralha aqui? Isso não deveria ser um Torneio de Artes Marciais?

O Gato-Azul desagradável e barulhento que se juntou a nós riu antes de olhar mais de perto para ela e franzir as sobrancelhas.

— Como diabos você conseguiu passar da primeira rodada? Você subornou todos os seus oponentes? Ou eles eram todos pedófilos?

— Força.

— Hã? Besteira! Você é uma maldita Gata-Negra! De maneira nenhuma uma gata covarde e de merda como você poderia saber lutar de forma decente. Coloque-se em seu lugar. Espere, já sei. Aquele Cão-Branco velhote deve ter mexido alguns pauzinhos. Deve ter sido isso.

Olhá-lo mais de perto me permitiu reconhecer que ele era de fato um membro do Orgulho Azul. Para ser mais específico, ele era uma das duas pessoas que estavam de pé junto ao portão e tentando convencer Aurel a vê-los.

A constatação explicou na mesma hora por que ele foi agressivo com Fran e seu benfeitor.

— Apenas aguarde, gata banana. Vou arrancar sua mandíbula para que você não possa se render, tirar sua roupa e envergonhá-la antes de lhe dar uma surra inesquecível.

— ... falando demais para alguém do Orgulho Azul.

— Haah? O que você acabou de dizer?

— Você tentou visitar Aurel mentindo e afirmando que era famoso, mas foi recusado nos portões porque sua mentira foi reconhecida sem demora. Vocês são apenas um grupo de mercenários fracos, patéticos e sem relevância. E fique longe e mim. Você fede.

Fran parecia ter perdido o controle, já que começou a falar com frases mais longas e prolongadas.

— Sua putinha…!

Uma enorme tela semelhante ao que você veria em um estádio de esportes decorava uma das laterais da arena. Parecia ser algum tipo de item mágico, fazendo o mesmo que um monitor, e exibia uma versão ampliada da interação que acabara de ocorrer em tempo real.

A resposta da multidão aos comentários do Gato-Azul foi bastante fraca. Alguns dos homens o incentivaram, mas um número maior de mulheres acabou vaiando. A refutação de Fran, por outro lado, fez com que todo o estádio explodisse em aplausos. O homem ficou com uma veia saltada pela raiva, mas Fran o ignorou por completo e tudo o que ele disse daquele momento em diante, o que, como se poderia suspeitar, só o fez ficar ainda mais irritado.

A interação deles foi algo que a multidão parecia mesmo ter gostado, já que os espectadores começaram a zombar na tentativa de instigar os dois.

Com o clima definido, a partida finalmente começou.

O Gato-Azul na mesma hora travou os olhos na posição de Fran e se lançou sobre ela. Sua habilidade com a espada não era tão ruim, e ele a atacou sem se segurar; ficou claro que ele planejava matar a garota. Suas ações me fizeram querer ridicularizar a forma como ele era infantil. Ele acabou perdendo todo o senso de racionalidade apenas por causa de uma leve zombaria.

Apesar disso, eu já estava esperando essa situação.

Entretanto, o que eu não esperava era que os outros três concorrentes se juntassem a ele. Todos decidiram cooperar imediatamente para eliminar Fran, pois, ignorando o Gato-Azul, eles sabiam que ela era a mais forte do grupo. Por acaso, Judith se destacou de seus colegas, pois se colocou de propósito na retaguarda para poder usar os outros três concorrentes como escudos de carne.

Fran e eu ficamos bastante impressionados com as ações dela. Ela não tinha desistido de vencer, apesar de saber que seríamos capazes de subjugá-la.

A inesperada situação de quatro contra um colocou Fran no que poderia ser considerado uma desvantagem numérica, mas ela não se importou. A Gata-Negra não se importou que todos os outros concorrentes tivessem se juntado contra ela. Ela não reclamou, nem se incomodou em falar com qualquer um dos quatro sobre injustiça.

Em vez disso, ela apenas retaliou.

— Fmph.

— Guahhh!

Ela me balançou sem se preocupar em tirar minha lâmina da bainha e acertou o Gato-Azul bem na mandíbula. O impacto fez com que ele voasse no ar rodopiando antes de voltar para o chão.

Fran então atacou de novo; ela usou o impulso crescente que acompanhou seu primeiro golpe para desferir um poderoso ataque horizontal.

— Corte Pesado.

— Kyaah!

— Quê!?

— Gyaaahhh!

Corte Pesado era considerada uma habilidade de nível relativamente baixo, mas provou ser mais do que eficaz o suficiente, dado o quão poderosa Fran havia se tornado. O ataque enviou o espadachim e o lanceiro que seguiram o Gato-Azul de volta para Judith. Nenhum dos três foi capaz de se recuperar do ataque e, portanto, todos foram forçados a sair da arena.

Apenas alguns segundos se passaram, mas Fran já havia eliminado três de seus quatro oponentes. Ela poderia facilmente ter feito o mesmo com o último do grupo, mas, ao invés disso, ela escolheu parar seu ataque.

— Hiiii! A-axuda…!

Ela me desferiu para baixo. Ao fazer isso, ela pegou o Gato-Azul no ar, esmagou-o contra o chão e fez com que uma rachadura reverberasse através dele.

— Gahiii… fuaarghh…!

O sangue na boca do Gato-Azul o deixou incapaz de dizer qualquer coisa, exceto dar alguns gemidos. Ele mal conseguiu se manter consciente, não porque era resistente, mas porque Fran se certificou de se segurar apenas o suficiente para causar isso.

— Eu… ze renbu! Eu ze renbu!

— Não entendi.

— Ezistu!

— Ainda não entendi.

Bem, sim, era meio difícil para ele falar, já que não tinha mais uma mandíbula ou um queixo.

— Eu ezistu a artiba!

— Estúpido demais para saber como se render? Bom, não há o que fazer, já que é um Gato-Azul.

Fran basicamente admitiu saber o que ele estava tentando dizer, mas isso não importava. O que foi feito por ela foi o mesmo que ele alegou que queria fazer com a garota.

— Deveria despir e humilhar você?

— Hiiii! Eu sintu uitu! Eu sintu uitu! For avor, are! Enha iedadi!

A enorme quantidade de sede de sangue que Fran emanava fez com que o Gato-Azul ficasse tão assustado quanto possível; uma mancha quente e úmida se espalhou por suas regiões inferiores, enquanto ele implorava por seu perdão.

De modo natural, o árbitro percebeu que a partida não podia continuar e, por isso, correu para a arena e tentou subi-la.

Fran notou que o homem se aproximava, então ela se moveu para dar o golpe final antes que ele pudesse detê-la.

— Terminará conforme solicitado.

— Gobaaarrrgggh!

Ela murmurou algumas palavras em voz baixa enquanto me balançava como um taco de golfe e enviava o Gato-Azul para fora da plataforma. Ela parecia ter exagerado um pouco, pois ele voou pelo que pareceram dez metros antes de finalmente atingir o chão.

Fiquei um pouco preocupado que a multidão acabasse achando suas ações desagradáveis, mas acabou que ela realmente gostou disso, já que aplaudiu no mesmo instante.

— E acabou! A jovem dama acabou de fazer o impossível e fez um homem adulto sair voando do ringue com apenas um golpe! Isso não foi incrível senhoras e senhores? Isso não é algo que você esperaria de alguém com um rosto tão fofo, com certeza não!

Espere, havia um comentarista o tempo todo? Como diabos eu não percebi?

O anúncio do comentarista fez com que a multidão explodisse em um aplauso muito alto.

— E com isso, a aventureira de rank C, Fran, a Garota da Espada Mágica, venceu no 11º grupo oeste e garantiu um lugar no evento principal sem sequer sacar a arma da qual recebeu seu apelido!



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