Volume 5

Capítulo 184: A barreira do calabouço

Nós imediatamente voltamos para o calabouço no dia seguinte ao nosso aumento de rank, pois era crítico para nós que ficássemos os mais fortes possível o quanto antes, já que o torneio estava se aproximando.

Tanto as Habilidades da Senhora das Espadas quanto a Magia Dimensional eram muito potentes por si só, mas não poderíamos usá-las de forma apropriada se não nos acostumássemos com elas. Para esse fim, decidimos lutar enquanto nos impúnhamos uma série de pesadas restrições.

Fazer treinamento de combate também dobrou a aquisição de pedras mágicas, já que poderíamos ganhar outro lote de pontos de autoevolução se obtivéssemos o suficiente. O treinamento era uma maneira confiável e comprovada de nos fortalecermos. Embora fosse de fato importante, isso não seria a única coisa que faríamos. Nós também visitamos a guilda antes de sair para verificar se Fran teria ou não permissão para passar por uma mudança de classe e reforçar seus atributos.

Poderia se supor que a obtenção do título de Senhora das Espadas também desbloquearia a classe de mesmo nome, mas, infelizmente, isso não aconteceu. Contudo, ela desbloqueou uma enorme quantidade de outras classes, muitas das quais centradas em torno da ferraria ou magia avançada. O treinamento que ela realizou também permitiu que Fran tivesse a disposição várias classes furtivas e semelhantes a batedores, mas nenhuma era de nosso agrado. Assim, ela acabou permanecendo como uma Guerreira Mágica.

Ao entrar no calabouço, descobrimos que ele havia voltado ao normal. Os Seres Malignos que o inundaram não estavam mais à vista. Eles foram substituídos pelas feras demoníacas que vimos em nossa primeira passagem. Em outras palavras, Rumina tinha revertido todas as mudanças que fez.

Sabendo disso, abrimos caminho através do labirinto e progredimos devagar em direção às suas profundezas.

Fran precisava voltar à cidade dentro de quatro dias, quando as preliminares do torneio estavam marcadas para começar. Para nós, no entanto, voltar para a cidade era uma questão trivial, já que havíamos instalado vários sinalizadores que facilitariam o processo. Sendo mais específico, nós colocamos um na pousada e vários outros fora da cidade. Graças a isso, poderíamos continuar treinando até o momento em que precisássemos aparecer em pessoa.

Mesmo assim, tínhamos algo para fazer antes de voltarmos, assim, não era como se pudéssemos passar os quatro dias inteiros vagando por aí. Para ser específico, Fran e eu planejamos colocar um sinalizador adicional dentro do quarto de Rumina, já que seria muito mais conveniente para visitá-la.

Nós passamos algum tempo experimentando o feitiço Sinalizador para descobrir suas limitações. Descobrimos que só poderíamos ter oito deles ativos em um determinado ponto no tempo. A habilidade seguiu a metodologia primeiro que entra, primeiro que sai¹, já que a criação de um nono sinalizador causaria o imediato desaparecimento do primeiro que fizemos. Além disso, seu alcance não era ilimitado. Os Sinalizadores só permaneceriam ativos enquanto estivessem dentro de um raio de cerca de dez quilômetros.

Agora, você pode estar se perguntando como exatamente nós conseguimos descobrir que dez quilômetros era o nosso limite superior. A resposta para essa pergunta era na verdade bastante simples: nós fizemos Urushi pegar uma pedra com um sinalizador e apenas o deixamos correr em direção ao pôr do sol. Nós o fizemos continuar até que não pudéssemos mais captar o sinal.

Também descobrimos que o consumo de mana da Porta Dimensional variava com a quantidade de distância entre ela e seu alvo. Em geral, ela consumia cerca de 100 pontos de mana, mas podia consumir até 500 se tentássemos saltar dez quilômetros de uma só vez.

Eu estava esperando poder usar o feitiço para nos teletransportar entre Barbola e Aressa, mas, infelizmente, isso não parecia ser assim tão prático. Mesmo assim, isto poderia ser possível se montássemos uma grande quantidade de sinalizadores ao longo do caminho e nos deslocássemos entre eles até chegarmos ao nosso destino. Por sorte, esse problema não era algo que tínhamos que considerar quando pensamos se poderíamos ou não nos conectar aos aposentos de Rumina, já que precisaríamos apenas instalar um único sinalizador para que ele ficasse no alcance.

E assim, com um objetivo definido em mente, passamos o resto do nosso dia percorrendo o caminho até as profundezas do calabouço. Essa já era a nossa terceira vez, e já tínhamos guardado todas as armadilhas na memória, então acabamos fazendo uma viagem bem fácil.


A maneira pela qual Rumina nos recebeu desta vez foi muito diferente do que tinha sido a de ontem. Além disso, sua expressão era brilhante, e sua pele, que estava um pouco mais escura do que o normal, havia voltado ao tom habitual. Fiquei contente em ver que ela estava com boa saúde e que a luz havia voltado aos seus olhos.

— Bem-vinda. E para que finalidade devo atribuir a sua visita neste belo dia?

— Queria pedir um favor.

“Sabe…”

Contei a ela sobre o feitiço Sinalizador que tínhamos obtido e perguntei se poderíamos colocar um em seu quarto para facilitar nossa visita a ela.

— De modo algum eu me importo. Na verdade, eu gostaria muito que você pudesse colocar um e minha residência.

“Você gostaria?”

— A resposta para essa pergunta chegará a você caso faça um teste. Não tema, nenhum mal acometerá você no processo.

Ela parecia bastante convencida de que falharíamos, e insinuou isso em seu discurso. Entretanto, decidimos fazer um teste de qualquer maneira, já que ela afirmou que não era perigoso.

“Sinalizador.”

Coloquei um sinalizador no chão em um dos cantos da sala e, ao fazer isso, tornei possível me teletransportar de volta.

“Tudo bem, vamos voltar alguns andares.”

— Nn.

Nós fizemos o nosso caminho de volta até o 14º andar do calabouço antes de tentar ativar a Porta Dimensional — apenas para ver o feitiço fracassar e falhar, apesar de consumir mana.

Eu ainda podia sentir o sinalizador que tínhamos instalado, e o quarto de Rumina ainda estava em minha memória, então eu não entendi porque a habilidade não funcionou. Afinal, nós cumprimos todas as suas condições de uso.

Eu ativei a habilidade várias vezes de propósito, mas isso foi em vão. Ela nunca foi capaz de fazer nada além de chiar um pouco.

— Não funcionando?

“Pois é. Parece que algo está impedindo a habilidade de se ativar.”

A sensação que senti foi bastante semelhante à que tive quando estávamos presos na barreira de Rynford². Era como se algo estivesse atrapalhando e interrompendo a habilidade antes que ela fosse ativada. Infelizmente, não fui capaz de discernir com precisão o que era essa coisa, nem mesmo compreender sua identidade ou localização, apesar do fato de que eu podia sentir isso interferindo no processo de ativação.

Voltar e consultar Rumina me permitiu verificar que eu estava certo.

— Parece que você não conseguiu ultrapassar a barreira da Deusa.

Suas palavras me fizeram perceber que ela tendo algum tipo de barreira deveria ser algo que eu deveria ter considerado como uma possibilidade desde o início.

Calabouços deveriam ser difíceis ao extremo de se conquistar. Mesmo um de rank D poderia causar uma série de baixas. Em geral, os aventureiros de alto nível eram melhores em escapar da morte, mas mesmo eles poderiam encontrar seus fins se fossem pegos de surpresa por armadilhas, ou se deparassem com um mostro que acabara de conseguir tirar proveito de suas fraquezas.

Isso, naturalmente, gerou uma pergunta: qual era o caminho mais livre de riscos para se conquistar um calabouço? Eu estava certo de que muitos afirmariam que seria melhor treinar habilidades de detecção, fazer parte de grupos balanceados ou trazer uma porrada de poções, mas nenhuma dessas respostas estava de fato correta.

A maneira mais simples e segura de completar um calabouço não era conquistá-la da maneira que você chamaria de tradicional.

Eu podia imaginar uma série de métodos que funcionariam com esse preciso paradigma de pensamentos. Você poderia se teletransportar para a sala central, explodir a citada sala de longe com magia ou fazer muitos outros truques similares que permitiriam que você destruísse o núcleo do calabouço sem ter que passar por uma série de desafios.

Embora os métodos que imaginei tivessem muitos requisitos rigorosos, eles não eram de modo algum irrealistas. Teleportar-se diretamente para a sala do núcleo do calabouço soava como algo muito fácil, desde que você maximizasse a Magia Dimensional e usasse um item mágico ou dois para uma pequena ajuda extra.

Além disso, não era como se você pudesse não levar em conta o fato de que Lâminas Divinas existiam. Lâminas Divinas eram conhecidos por seu incrível poder e, sendo franco, pareciam itens que poderiam desafiar por completo o que era considerado senso comum.

Fusão não existia mais, mas seu título implicava que ela não era nada menos do que uma verdadeira arma nuclear, uma arma de destruição em massa que devia ser capaz de destruir por completo um calabouço e tudo ao seu redor com facilidade.

Achei que parecia bastante lógico que os calabouços tivessem mecanismos defensivos embutidos para evitar que cenários como esse acontecessem. Calabouços pareciam ser equivalentes às provações impostas pelos Deuses, então não havia como eles não possuírem mecanismos que impedissem pessoas de trapacear durante a exploração dos mesmos.

A barreira, sendo algo criado por um Deus, só fez o fato de que eu não podia senti-la ainda mais compreensível.

— Eu recomendo que você tente colocar o sinalizador do lado de fora de meu aposento.

“Não sei se esse é o melhor lugar para isso. Alguém pode acidentalmente explodi-lo enquanto luta contra um chefe ou algo assim.”

Nós não poderíamos colocá-lo em qualquer andar acima do andar do chefe, vendo como as pessoas poderiam nos ver usando o portal.

— Estou certa em assumir que isso funcionará desde que a barreira não impeça a ativação da sua magia?

— Nn.

— Nesse caso, peço que você espere enquanto eu faço acomodações.

Rumina foi mais fundo dentro de seus aposentos e só saiu depois que ouvimos o som de algo pesado raspando contra algo de igual massa.

Um novo corredor havia surgido ao longo de uma parede próxima.

— Agradeço por sua paciência. A sala que fica além desse corredor está fora do alcance da sala do núcleo, e portanto, é tratada como uma sala comum do calabouço. Será possível que você se teletransporte dentro dela.

Rumina fez uso de suas habilidades como Mestra do Calabouço para criar uma nova sala.

Caramba, isso que é uma Mestra do Calabouço. Ela e eu pensamos em escalas totalmente diferentes.

— Obrigada.

— Você não precisa me agradecer. Como afirmei antes de sua excursão, nossas vontades estavam alinhadas. Eu também desejo que seja mais fácil para você me visitar.

Fizemos uma segunda experiência e confirmamos que Rumina estava correta.

A estalagem na qual estávamos hospedados ficava bem perto do calabouço, então colocar um sinalizador na recém-criada sala de Rumina tornou isso superconveniente para nós irmos e virmos entre os dois locais com facilidade. Além disso, era basicamente impossível alguém nos pegar no ato. Tivemos alguns contratempos inesperados ao longo do caminho, mas por fim, atingimos nossa meta e atendemos a todos os requisitos que definimos ao longo do caminho.

— Por favor, me visite quando você achar melhor. Te receberei a qualquer momento.

— Nn.

"Tudo bem, até mais. Vamos nos certificar de passar por aqui."


Notas

[1] PEPS é a sigla para Primeiro que Entra, Primeiro que Sai, ao se referir à avaliação dos estoques dentro de empresas, que é realizada pela ordem cronológica das entradas. Em inglês, a sigla é FIFO e significa First In, First Out. Assim, sai o material que entrou antes, isto é, é usado o lote mais antigo, no qual o preço está baseado no custo de quando ele entrou no estoque. Terminado o lote mais antigo, portanto, se faz uso do preço do segundo lote mais antigo.

[2] Eventos do capítulo 128.



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