Volume 5

Capítulo 151: Suspeita relacionada à habilidades

Começamos a voltar para a cidade após eliminarmos os ladrões que nos atacaram.

Solas pediu para deixarmos ele assumir a liderança, algo que não recusamos.

Parecia ser uma ideia muito boa mantê-lo o mais longe possível de nosso prisioneiro, só por precaução, caso ele sentisse desejo de matá-lo mais uma vez. Ao que parecia, os homens ainda estavam em posse dos itens que roubaram do grupo de Solas, então os recuperamos e os guardamos dentro da Caixa de Itens de Solas.

Não fomos capazes de identificar as habilidades dele por causa de seu Bloquear Avaliação, mas ele parecia ser do tipo batedor. Ele ocasionalmente encontrava armadilhas e se movia para evita-las.

Mesmo assim, não parecia que ele era habilidoso o bastante para notar e desviar de todas.

Au!

“Huh?”

— Urushi?

Au.

Uma flecha foi disparada do teto e seguiu na direção de Urushi, mas o enorme lobo conseguiu agarrar o projétil com sua boca sem que ele o atingisse. Que velocidade de reação!

— Tudo bem?

Rrrrr!

— Des-desculpe, minha culpa.

Solas se desculpou na mesma hora por não perceber a armadilha. No entanto, eu não podia culpa-lo. Ele estava com um pouco de pressa, então parecia não estar tão atento quanto costumava ficar. Além disso, não era como se nós tivéssemos descoberto todas as armadilhas.

Hmmmmm… porém, por algum motivo estranho, senti uma súbita sensação de desconforto, como se algo estivesse errado… era quase como se um choque elétrico atingisse meu cérebro... embora eu não tivesse um.

“Hmmm…”

“Mestre? Algo errado?”

“Não tenho certeza em como explicar, mas... sinto que algo não está certo.”

“Nn?”

“Sabe quando você sente algo fora de lugar?”

“Hmm?”

“E quanto a você Urushi?”

Au?”

Eu só estava imaginando coisas?

— Eu realmente sinto muito, eu acabei de ativar outra armadilha

Ó! Aí está…

“Vocês sentiram agora mesmo?”

“Nn?”

“Au?”

Nem Fran nem Urushi conseguiram sentir o que eu estava sentindo, apesar do fato de que era a mesma sensação que eu tinha quando detectava feras demoníacas e armadilhas. Hm… esquisito, não estou entendendo.

“Ó, que seja, vamos apenas continuar.”

— Nn.

— Um, você está bem?

— Ilesa.

— Ufa, bom…

Solas parou de repente após avançar só um pouco.

Alguma coisa aconteceu?

— Há algo bem ali.

— Nn? Onde?

— Bem ali.

Não consegui ver nada na direção que Solas estava apontando. No entanto, ele não estava errado. Meus sentidos me diziam que havia algum tipo de armadilha ali, mas não consegui descobrir o que era. Aquela sensação estranha de algo estar errado também voltou.

— Está literalmente bem ali. Quer saber, vamos lá, vamos verificar.

Huh… acabou de acontecer de novo. É, tudo bem. Eu com certeza não estou imaginando isso.

Mesmo assim, não tive tempo para descobrir o motivo para estar sentindo isso, já que Solas disparou para a frente sem esperar que Fran o respondesse. Quatro pequenos buracos se abriram ao nosso redor e começaram a emitir um tipo de névoa. Havia uma em cima, uma embaixo e uma de cada lado.

A névoa era algo que nossas habilidades tornaram completamente inválida: gás venenoso.

— Ah! Me perdoe!

Parecia que Solas acidentalmente pisou no interruptor de ativação da armadilha. É sério, puta merda, por que ele está fazendo tanta besteira? Mesmo com as circunstâncias atuais, ele não deveria estar assim.

— Vo-você está bem?

Não podíamos vê-lo por causa de todo o veneno sendo emitido, mas ainda podíamos ouvir sua voz.

E junto com essa voz, mais uma vez, veio aquela sensação esquisita de incongruência.

Parecia que isso era algo que eu sentia sempre que ele falava. Espere, poderia ser que isto era o que Dias descreveu como a sensação estranha que você sente quando alguém usa uma habilidade em você? Espere, isso significa que Solas estava usando algum tipo de habilidade…

Na gente.

Dúvidas começaram a preencher minha mente no momento que cheguei a essa conclusão, como se elas tivessem rompido uma barragem.

No início, ele disse que foi atacado por três pessoas, porém, mais tarde, ele disse que havia quatro ladrões. Nesse momento, ignorei isso porque pensei que tinha sido um erro honesto, mas parece que fiz besteira. Confiei em alguém que acabei de conhecer, apesar de não ser capaz de avalia-lo. Por que diabos fiz isso?

Ele também disse que os homens que o atacaram estavam com máscaras, mas ele conseguiu os reconhecer na mesma hora. Como? Isso claramente não fazia sentido.

Eu também não entendi como não percebi o fato de que ele nos fazendo perguntas sem parar era apenas uma forma de investigar nossas habilidades.

Ele continuou ativando armadilhas, e, para completar, até tentou matar o homem que capturamos. Minha nossa, ele era suspeito pra caramba.

A única razão para eu confiar nele foi porque o Princípio da Falsidade não me disse que ele estava mentindo, porque ele tecnicamente não estava.

Um senso de desconforto muito poderoso me atacou, um muito maior do que todos os outros que senti antes. Por que tratamos alguém que acabamos de conhecer a menos de uma hora como um companheiro? E como se isso fosse algo natural!

A resposta para essa pergunta era algo que eu não podia explicar. Meu palpite era que Solas tinha feito algo a nós, mas não consegui pensar no que era, e também não podia de me impedir de ter a suspeita de que estava enganado sobre tudo isto.

Solas era com certeza suspeito, mas não tínhamos evidências sólidas de que ele era o responsável por isto…

“Fran, não o responda.”

“?”

“Só faça o que estou prestes a te dizer.”

Fran seguiu minhas instruções e se ajoelhou. Do mesmo modo, fizemos Urushi “desmaiar” no chão. Naturalmente, os dois estavam apenas atuando.

Se Solas fosse mesmo o que pensei que ele fosse, ele iria tentar algo... mas não é como se o rapaz fosse capaz de nos ferir. Eu podia ativar a Telecinésia em um instante, e já tinha invocado o Relógio de Chronos¹, um feitiço da Magia Dimensional, tanto em Fran quanto em Urushi. O feitiço permitia que os dois vissem as ações de Solas em câmera lenta, e assim, retaliassem se ele tentasse algo.

A grande desvantagem do Relógio de Chronos era o fato de que as palavras dele também ficariam lentas, então eles não conseguiriam entender o que ele estava dizendo, foi esse o motivo para eu não lançar o feitiço em mim mesmo.

— Você acabou de usar algum tipo de magia?

— …

— Fran? Você está bem?

Parecia que ele sentiu que usamos uma magia. Acho que usar o Relógio de Chronos não foi a melhor ideia, mas, é melhor prevenir do que remediar.

— Ugh…

— Hmm, então você usou algum tipo de magia, mas não conseguiu se impedir de ficar envenenada?

— Uu.

Fran estava exibindo suas habilidades de atuação ao fingir estar com dor.

— Parece que você está mesmo envenenada. Não se preocupe, vou te ajudar para que isso não te machuque mais.

Ele ainda não estava mentindo, mas suas ações serviram para contradizer suas palavras. Ou seja, ele sacou a espada em sua cintura e a desferiu na direção de Fran.

Na realidade, pensando sobre isso, o que ele disse era um clichê, mas isso não estava errado. Matar alguém era de fato uma forma de impedir que ele sentisse ainda mais dor.

— Nn.

— Quê!? Como!? Isso não deveria ser possível!

— Fmmph!

— Guahhh!

Fran facilmente desviou da espada dele, me sacou e realizou um par de ataques. O primeiro removeu a mão direita dele na altura do pulso, e o separou de sua espada. O segundo o fez se separar de sua perna direita.

— Qu-quê…

Solas, que caiu, olhou para cima, para nós, com uma expressão repleta de choque.

Não havia como Fran conversar com ele enquanto ainda estava sob os efeitos do Relógio de Chronos, então eu desfiz o feitiço e a deixei falar.

— Primeiro. Desative o Bloquear Avaliação.


Nota

[1] Chronos, também chamado de Aeon, na mitologia grega, era a personificação do tempo eterno e imortal, e governava sobre o destino dos deuses imortais. Chronos foi uma divindade criada pela seita órfica, sendo essencialmente uma cópia do titã Cronos, que, no culto popular dos antigos gregos, era o deus do tempo por excelência.



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