Volume 4

Capítulo 11: Partida (1)

Satou aqui. Eu amo criar programas sem precisar me preocupar com qualquer tipo de restrição. A última vez que fiz isso foi montei um robô com pernas, durante a minha pesquisa de graduação na universidade. Depois que entrei na vida adulta de trabalho, nunca mais pude fazer algo assim. Mas, desta vez, parece que a oportunidade veio, só que com itens mágicos.

 

◇◇◇

 

Sim, mas que belo dia.

Eu caminhei pela cidade, enquanto aproveitava a sensação agradável do sol da manhã.

Diferente de mim, Yosagu-san bocejava constantemente, com uma aparência ainda cansada. Eu o convidei para vir tomar o café da manhã, mas ele me respondeu que, como não tinha passado a noite em casa, o pessoal da casa dele provavelmente devia estar lhe esperando com raiva, por isso nos despedimos assim que saímos da loja.

— Se eu fizer um bom ganho na cidade do labirinto, vamos fazer isso de novo! — Eu disse a ele com um grito.

Apesar de ainda ser muito cedo, tanto as pessoas comendo nas barraquinhas de comida como quanto aquelas oferecendo so seus produtos, pareciam bastante animadas.

A atmosfera vulgar que permeava continuamente o distrito leste, provavelmente era culpa dos visitantes.

Alguma coisa boa cheirava bem das barraquinhas. Embora eu não estivesse particularmente com fome, decidi comprar alguns souvenirs para as meninas. Apesar de que eu não poderia comprar um pacote de madeira com sushis como faziam os pais na era Showa.

Em uma das barracas, comprei uma cesta de mão feita com trás de madeira fina, com largura o suficiente para caber duas tigelas de arroz. Também compre dois recipientes com tampa para sopa e coloquei dentro da cesta.

Aí, fui até outra barraca e pedi alguns pratos quentes de comida, que coloquei no [Armazém], usando a cesta como disfarce. Depois disso, fui pedindo mais algumas coisas até uma extensão que não parecesse suspeito.

No final, as minhas compras foram: Sopa de ossos com vegetais; um grosso ensopado de verduras com carne; várias peças de churrasco diferentes, começando com carne de cabra; grelhado de seryuu; pães recém-saídos do forno; batatas cozidas no vapor; e algumas frutas sortidas que peguei no caminho.

Era comida o suficiente para 30 pessoas. Talvez um pouco de mais para um mero souvenir, mas não faria mal ter algo guardado para uma emergência. Com essa quantidade, mesmo que acabássemos em algum lugar onde não fosse possível acender uma fogueira, ainda poderíamos encher as nossas barrigas com uma refeição quente. Para início de conversa, eu planejo fazer um bom uso das coisas que tenho no [Armazém], então não acho que acabaremos numa situação desesperada como essa.

Por sinal, eu também planejava comprar alguns materiais de alquimia, mas a loja estava fechada a esta hora do dia.

 

◇◇◇

 

Quando voltei para a Monzen, Arisa me viu pela janela e desceu correndo. Depois olhar bem para o meu rosto, ela começou a pisar com raiva no chão.

— Ugh! Eu não acredito! Como é que você tem coragem de chegar aqui com essa cara de satisfação!

Ela fez beicinho mordendo um lenço de bolso.

Sério, cada movimento dela parece tão antigo... Acho melhor não perguntar quantos anos ela tinha antes de reencarnar...

— Era para ser EU quem iria tirar a sua virgindade!

Olha, eu não lembre de ter feito esse tipo de promessa. — Mas resolvi não dizer nada para evitar mais problemas.

— Deixe de fazer tempestade num copo d’água. Essa nem foi a minha primeira vez.

— NÃAAAAAAAO!!! ESSA ERA UMA CHANCE EM UM MILHÃO DE ROUBAR A VIRGINDADE DE UM SHOOOOOOOOTA!!!

Minhas sinceras condolências

Chamei pela Lulu e reuni as meninas na frente da carruagem. O nosso café da manhã foi os espetinhos de carne que eu tinha acabado de comprar.

Enquanto todos comiam, pedi para que a Arisa checasse para mim, a condição de Lulu e, caso ela ainda não estivesse bem, nós poderíamos adiar a nossa partida em mais dois dias. De acordo com ela, o primeiro dia foi o pior, mas agora Lulu já estava bem.

No entanto, ela ainda parecia sentir dor, então a dei os anestésicos que fiz com alquimia. Ao todo, eu tinha cinco vias desse medicamento, o que deveria ser o suficiente por enquanto.

Assim que todas ficaram satisfeitas, dei continuidade com os nossos planos de ontem.

 

◇◇◇

 

Eu dirigi a carruagem até a área de estacionamento na Guilda dos Mercadores. Diferente de carros, os cavalos eram bem fáceis na hora de fazer baliza.

O lugar estava bem movimento pela manhã. Cada uma das carruagens ocupando metade do estacionamento, estavam ocupadas descarregando seus produtos. Todas também pareciam bem conservadas, com uma proporção de meio a meio para carruagens com e sem cobertura.

A carga contida nelas, estava embalada em sacos de aproximadamente 10kg e os homens descarregando pareciam bandidos usando roupas de aldeões, com camisolas de manga comprida e bermudas. Tinha até remendos nos joelhos e cotovelos.

Enquanto eu olhava curioso ao redor, Sunifun-san veio ate a nós, depois de confirmar a chegada dos produtos e conferir se os preços estavam corretos.

— Muito bom dia, Satou-sama. Você chegou bem cedo.

— Peço desculpas se isso lhe causou algum inconveniente.

Eu não achava que tinha feito qualquer coisa errada, mas me desculpar seria uma boa ideia.

— Não, nem um pouco. O Deus do comércio certamente abençoa aqueles que são rápidos em tomar decisões.

Embora tenha dito isso, se olharmos ao redor, normalmente as pessoas trazem seus bens pela manhã e só os retiram durante a tarde.

Eu fui guiado até o armazém da guilda, onde as coisas que encomendei ontem tinham sido colocadas em uma das seções. Depois de confirmar, com a ajuda de um funcionário, que todos os itens e quantidades estavam corretos, verifiquei a qualidade do [Pó de Dragão] presente em cada barril.

Os olhos Sunifun-san me seguiam cuidadosamente, como se fosse um avô assistindo ao seu neto fazer o primeiro serviço.

Ei, você não é assim tão velho, certo?

Pedi para um funcionário levar a carga até a minha carruagem, enquanto eu fazia o pagamento da transação no escritório da guilda.

Quando voltei para a carruagem, parecia que já tinham terminado de trazer as coisas, então confirmei se estava tudo presente. Eu não tinha como saber se o conteúdo dentro dos barris foi trocado ou não, mas considerando o pouco tempo que tiveram, acho muito difícil ter acontecido isso.

Em seguida, agradeci ao funcionário e dei a ele uma grande moeda de cobre de gorjeta.

— Que os seus negócios sempre prosperem! — Sunifun-san deixou essas palavras de despedida quando sai da guilda.

 

◇◇◇

 

— Bem-vindo de volta, nanodesu~

Quando cheguei na Monzen, Pochi me deu as boas-vindas. Ela me abraçou quando desci do assento do cocheiro e a acariciei na cabeça. Depois disso de me separar dela, fui desamarrar os cavalos da carruagem.

— Pochi vai ajudar, nodesu!

Ela imediatamente subiu no banquinho que compramos ontem e começou a limpeza.

Deixando-a trabalhar em paz nisso, comecei a desfazer os nós.

— O para onde o restante das meninas foi?

— Lulu está lavando daquele lado e as outras foram fazer compras, nodesu~

— Então apenas vocês duas ficaram em casa?

— Pochi foi encarregada de vigiar a bagagem, nodesu! — Disse Pochi estufando o peito com orgulho.

De fato, ela era a pessoa mais indicada para isso. Eu mesmo já conseguia imaginar que, se fosse a Tama, ela provavelmente adormeceria em cima das bagagens.

Perguntei a ela se poda levar os cavalos para o estábulo e, enquanto isso, coloquei a carga que comprei na guilda, dentro do [Armazém]. Pensei em deixar o couro de cabra e a lã fora, mas o cheiro era tão ruim que os coloquei de volta no mesmo instante.

Vou tentar fazer um desodorante na próxima vez.

Pochi carregou as nossas coisas até encher a carruagem dizendo “Pochi vigiou as bagagens direitinho, nanodesu”. Já que ela estava dando o seu melhor nisso, decidi ir ver como estava a condição de Lulu, mas como ela estava lavando as calcinhas nesse momento, decidi voltar sem chamá-la.

 

◇◇◇

 

Depois disso, pedi que Pochi ficasse em casa e fui dar uma volta na praça em frente ao castelo. O canteiro de flores no meio, ainda estava sendo recuperado, enquanto que a estrada em volta, já havia sido pavimentada com pedras.

Até que eles trabalham bem rápido. Aposto que usaram magia para isso, já que estamos em um mundo de fantasia.

O muro da loja de magia ainda estava sendo reparado, mas aparentemente eles estavam funcionando.

— (...) e então... catalisadores... escamas. Se algum dia você conseguir colocar as suas mãos num desses, eu gostaria que levasse para a base dos Soldados Mágicos.

— Irei perguntar para alguns alquimistas que conheço. Mas deixo logo claro que, no máximo, conseguirei apenas um ou dois fragmentos de escamas.

Quando entrei, uma senhora idosa, vestida como uma usuária de magia, e um senhor idoso estavam conversando. O senhor deu uma olhada em mim, mas saiu sem dizer nada.

— Hm? Um cliente? Eu sinto muito, mas se você estiver procurando por poções do amor ou que lhe deixem com “mais vigor”, vá procurar por isso na loja de alquimia do distrito leste.

Ela era uma senhora muito magra e enrugada, vestindo roupas que seriam apropriadas para uma feiticeira. Uma manta azul-escura de mangas longas, um enorme chapéu pontudo e realmente inapropriado para se usar dentro de casa, numerosos anéis com designe suspeito em seus dedos e um colar com uma impressionante esmeralda, com mais de 5 cm e um designe de caveira, em seu pescoço.

— Não, eu vim à procura de livros mágicos.

Ela levantou a sobrancelha em surpresa quando a respondi. Pendurando a varinha que carregava na parede, ela tirou um tábua de trás do balcão.

A Pedra Yamato de novo?

— Olhe, nós não costumamos vender livros mágicos para gente sem talento, fui bem clara? Recentemente, um monte de gente da nobreza vem procurando por livros mágicos apenas para ganhar prestígio, simplesmente os deixando acumular poeira. Meus livros são apenas para pessoas que consigam atingir uma boa marca nesse medidor.

Droga, eu devia ter trazido a Arisa…

Eu não tinha certeza o quão precisa a Pedra Yamato era, mas com toda certeza não seria nada bom que o meu poder mágico fosse conhecido.

— Peço desculpas, mas posso acabar quebrando o seu aparelho se eu não tomar cuidado.

— Que bela desculpa, hein? Olhe, uma luz azul vai acender depois você colocar a sua magia nele. Esse tipo de medidor é mais barato, se comparar com os que são vendidos na capital real, mas ele é bem mais robusto. Por isso, esse equipamento não vai quebrar, a menos que um feiticeiro veterano coloque um bom esforço nisso. Na hora em que você colocar a quantidade certa de mana, ele vai parar de absorver e a luz azul vai acender. Caso falhe nisso, uma luz vermelha vai ser emitida ao invés.

Então, posso me assegurar de que é seguro?

Se for como ela diz, então tudo bem. Mas espero que ela não me venha depois com um “na verdade, esse aparelho mede o valor da sua mana de forma precisa”. Isso sim seria perigoso.

— Olha, se você não quer fazer o teste, então vá embora. Estou muito ocupada, procurando [Pó de Dragão] entre os meus conhecidos.

Então eles estavam falando de Pó de Dragão, hein?

Bem quando pensei que esse nome era familiar, lembrei-me de que esse era o item que eu estava levando para revender na cidade do labirinto.

Será que ela aceitaria trocar isso por alguns livros mágicos?

— Senhora, se é [Pó de Dragão] eu tenho comigo. Caso seja do seu agrado, posso lhe vender algum.

Tirei 5 barrís de dentro da minha bolsa. Eu tinha 6 ao todo, mas era melhor deixar um a disposição para quando fosse necessário.

Vejamos, o preço de mercado é... 20 moedas de ouro por barril.

— Você não está querendo me enganar?

A senhora pegou um dos barris e usou alguns reagentes para testar uma pitada de Pó de Dragão que tirou de dentro dele.

— Hmm... Pago 10 moedas de ouro por cada tubo.

Mas que velha gananciosa!

Quando a disse que o preço de mercado era de 20 moedas de ouro, a resposta dela foi “isso se eu estivesse comprando em uma loja”, e então rejeitou a minha demanda.

Já que eu não era o interessado e nem ela queria fazer uma boa oferta, me virei para sair da loja. No entanto, as mãos dela me seguraram numa velocidade incompatível com a sua idade.

Os olhos da velha tinham um brilho assustador neles...

— N-não, espera! Aquele velhote do trovão, provavelmente só vai pagar esse tanto, mas eu te pago 20 moedas por cada um deles! No entanto, a minha condição é que espere até o final do mês para eu te pagar, porque o pessoal do exército demora na hora fazer o pagamento.

— Infelizmente, eu planejo sair da cidade amanhã, por isso não posso aceitar a sua oferta.

As negociações continuaram até a hora do almoço, mas no final, chegamos ao acordo de que o pagamento seria em livros de magia. No entanto, a venda de livros acima do nível intermediário para quem não fosse cidadão de Seryuu era proibida por lei, por isso, achar o equivalente a 100 moedas de ouro nos livros disponíveis foi algo bem difícil.

Primeiro, escolhi todos os livros de magia mais básicos de cada elemento. Mesmo assim, isso não passou das 40 moedas de ouro, então comprei teses de magia, livros de pesquisa e vários outras notas e manuscritos sobre magia. Assim, cheguei a 60 moedas de ouro.

Então, passei a olhar amuletos e varinhas. Aparentemente, apenas algumas pessoas que tenha recebido uma permissão do Conde podiam vender pergaminhos e, por sorte, consegui comprar alguns.

Além destes, também comprei catalizadores baratos para a criação de poções. Estes eram feitos a partir do núcleo de monstros de baixo nível.

— Ah, então na verdade você é um alquimista. Diga-me, o que acha de levar esses livros aqui?

A velha tirou dois livros de magia de trás do balcão com os títulos [Catalisadores Mágicos e Seus Materiais] e [Sementes e Catalizadores]. Eu estava meio preocupado por causa dos nomes, mas quando vi que o nome do autor era [Jahad], os comprei aliviado. Se eu não me enganava, esse era o mesmo criador do [Peão Mágico] de antes.

Ao todo, comprei 5 livros escritos por este mesmo cara.

— Ainda faltam 15 moedas de ouro, não é? O que mais você deseja? Eu não tenho muitas ferramentas mágicas sobrando. Na melhor das hipóteses, uma ferramenta de iluminação e outra para aquecimento.

Ei, ei, ei, por que você deixou as coisas boas só para o fim?

Quando as pedi, a primeira foi uma série de bolinhas de cristal do tamanho de um doce, enquanto as outras se pareciam com um pote preto com aproximadamente 20 cm de diâmetro e 3 cm de espessura, de um material parecido com porcelana. Em um dos lados, algumas linhas de cobre foram cravadas, formando um círculo concêntrico.

Quanto às bolinhas de cristal... [Gotas de Luz], como assim chamadas, absorviam mana e passavam a emitir luz. Pelo que eu vi, a iluminação duraria até trinta minutos para cada recarga. Já o pote de porcelana... [Panela de Aquecimento Leve], seguia o mesmo modelo, gerando aquecimento por 10 minutos. No entanto, como só emitia calor o suficiente para escaldar a pele, e não ferver a água, não servia para cozinhar. Apesar de que era o bastante para preparar chá e aquecer uma sopa.

As [Gotas de Luz] custavam uma moeda de ouro cada, enquanto que a [Panela de Aquecimento Leve] custava 3 moedas de ouro. Como ela só tinha duas gotas de luz no estoque, levei ambas.

No final, não achei nada que valesse a pena comprar, então as 10 moedas restantes foram me passado em cash.

Ainda bem, achei que teria de gastar tudo. É sempre saber guardar algum dinheiro.

— Deixando o dinheiro de lado, fazia muito tempo que eu não via alguém comprar tanto na minha loja.

— Muito obrigado. Graças a senhora, consegui muita coisa que vai ser útil.

Agradeci a dona da loja e perguntei se podia deixar as coisas que comprei com ela, enquanto fazia as minhas compras. Depois disso, acabei esquecendo de comprar um mapa na livraria do lado, mas felizmente, a proprietária concordou em guardar tudo por mais um tempinho e, assim, fui em busca do mapa na livraria.



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