Volume 1
Capítulo 3: Um novo amigo.
Depois de passar um dia inteiro se recuperando, o garoto saltou de onde estava sentado, pois tinha se decidido:
— É isso! — Roy disse triunfante.
Colocou as mãos na cintura com um sorriso estampado no rosto. Ele tinha pensado em um plano para sobreviver naquela floresta. Então o otimismo assumiu o controle de seus pensamentos.
Até cogitou em voltar para seus companheiros, mas por dois motivos não levou o plano adiante. Um deles era Yuki, que ficaria furiosa. E outro é que não sabia o caminho.
“Mas tudo bem! Tenho um plano!”
O garoto puxou o ar e soltou com vontade de iniciar a jornada. O plano era simples: o primeiro passo era achar uma caverna, pois ali seria onde ele iria encontrar as tais pedras que Yuki citou. Roy deduziu que como não havia muitas pedras diferentes na floresta, talvez em alguma caverna poderia ter mais variedades. Assim haveria mais chances de achar as benditas pedras vermelhas para fazer o fogo.
“Isso, isso!”
Concordou consigo segurando queixo, como se fosse algum tipo de pensador.
Ao caminhar olhou melhor a floresta, agora iluminada, não era mais tão assustadora. Poderia ver se tinha algum animal próximo e se localizar melhor. As folhas não eram negras como achou e sim roxas.
Ele aproveitou inocentemente as descobertas. Viu formigas gigantes, pássaros com quatro asas que tinham um canto muito bonito. Até mesmo flores de mais de um metro de altura. A criança achou tudo aquilo muito bonito e o medo da floresta foi embora.
Depois de algumas horas de caminhada, achou o que tanto procurava.
— Achei!
Ficou feliz em encontrar aquele enorme buraco no chão. Mas ao chegar perto viu que o breu dominava ali dentro. E não tinha nada para iluminar no escuro.
— FROU-DO!
— UAH!
Um coaxo soou de repente. O menino se assustou com aquilo e perdendo o equilíbrio, caiu no buraco.
A sorte foi que a parte rochosa do buraco não era ali. Ele acabou caindo na terra e se machucado tanto. Procurou furioso quem tinha feito aquele barulho alto. Visualizou um brilho amarelado à sua frente.
— Frou-do!
— Ah, é você. — suspirou aliviado, no entanto viu que o sapo era quem brilhava. — Você é mesmo estranho.
Roy se agachou para cutucar o anfíbio. Ao ter uma ideia sorriu maleficamente para o animal. O sapo desconfiado não teve a chance de escapar. O humano o agarrou bruscamente para usar como lanterna.
— Pelo menos não vou ficar no escuro.
— Frou-do!
**
O menino ficou alguns minutos adentrando a caverna. O ar já tinha ficado pesado e a dificuldade para respirar era uma realidade. A luz do sapo não iluminava tanto. Se desse para ver o chão, já era o suficiente para ele.
“Será que não tem nada nessa caverna?”
Ele franziu a testa. Não queria passar mais tanto tempo ali. O fato de ele estar respirando muita poeira vindo da terra fazia seu nariz arder, além de que tinha um mau pressentimento sobre esse buraco. No entanto, em um ato de teimosia continuou a caminhada
— Frou-do! — coaxou seu amigo sapo.
— Calma, eu tenho certeza de que vamos achar as pedras aqui. — Respondeu ao animal, mas foi mais pra tentar se convencer que daria certo. Porém, nem ele conseguia convencer a si mesmo.
Caminhando mais uns metros. Bingo! O garoto encontrou uma pedra vermelha jogada na terra. Sem pensar duas vezes foi até ela. E tocando no objeto que cabia na palma de sua mão, sentiu a diferença de temperatura.
“Está morna, que estranho. É para ser assim?”
Ignorando esse fato colocou a pedra no bolso do casaco. Faltando apenas uma para cumprir o primeiro passo, sentiu-se triunfante, como se tivesse ganhado o maior prêmio de uma competição. Animado, se virou para seu companheiro sapo.
— Muito bem! Agora só falta mais uma!
Agarrando novamente o animal, voltou a ir mais fundo. Depois de alguns segundos andando, viu que o chão tinha ficado mais firme. Jogando a luz amarela no piso, a terra foi trocada por um chão rochoso.
“Agora vai ficar mais fácil.”
Pensou positivo.
Mas dessa vez tinham esfera redondas em seu caminho. Eram grandes, do tamanho da perna de Roy. Confuso, se aproximou devagar e sacou a adaga.
“São pedras?”
No total tinha quatro à sua frente. O menino segurou o sapo com uma mão e com a outra deu dois toques com a pontas dos dedos em uma delas. E nada aconteceu. Foi em outra e fez a mesma coisa. O mesmo resultado ocorreu.
— Ué...
As rochas se partiram formando assim um tipo de criatura. Saíram cabeças e patas das pedras, revelando vários tatus de rochas. Tatus normalmente são animais pacíficos. No entanto, percebeu que um deles tinha consigo alguns filhotes.
Três dos animais voltaram para a forma de esfera, se lançaram ao ataque contra o garoto. Girando seus corpos com velocidade. Estavam decididos em proteger os pequenos.
— Merda!
Roy soltou o sapo no chão para correr para o lado contrário.
Correu o mais rápido que pode, porém a velocidade das esferas era maior. Antes que voltasse para onde tinha o chão terroso, uma delas golpeou as costas do garoto. A pancada pesada e dura do animal fez Roy perder o ar. Sua visão embaçou, isso fez ele tropeçar e cair bruscamente no chão.
Com um movimento desajeitado tentou se levantar. No entanto...
Dois tatus passaram em alta velocidade por cima do menino. Roy foi compactado no chão. Sentiu algo quente descer do nariz, era sangue.
“Porra!”
Jogou seu braço para frente para tentar se arrastar, mas uma das esferas passou sobre sua mão.
— ARGH! — Institivamente berrou de dor.
Roy foi cercado. Tinha dois animais a sua frente e um atrás. Não tinha outra escolha, para sair dali ele teria que matar. Agarrou a adaga com a mão machucada.
Os animais sentiram o instinto do garoto mudar. A temperatura corporal do humano tinha mudado, fumaça saía do de várias partes dele. Enquanto os tatus entendiam a situação, deu tempo para Roy se levantar.
— Vocês... — A voz de Roy ficou fria, seu olhar foi tomado pela vontade assassina.
O ar que foi liberado da boca tinha foi acompanhado por fumaça de vapor. Armou para uma briga segurando sua arma.
O menino dobrou os joelhos para partir ao ataque. Mas uma imagem fez ele desfazer sua postura de caçador.
— Kir! Kir!
Era o som que os filhotes faziam.
Observou os filhotes se aproximando de um dos tatus adultos. Roy percebeu que faziam aquilo para proteger os pequenos. A tristeza tomou conta de seu peito, uma sensação que ardeu e machucou o garoto. Ele já esteve na posição de ser protegido.
— Tudo bem, Roy! Já fez o bastante. Agora deixe comigo.
Foi a última coisa que seu avô disse antes de partir para aquela batalha.
Abaixou sua arma. Desistindo completamente da investida, usou a velocidade para sair do buraco e sumir pela floresta. Mas por ter hesitado os animais partiram novamente para o ataque.
**
— Ai! Ai!
Roy caminhou com a mão nas costas, sentia muita dor aonde os tatus o golpearam. Não aguentando mais, se sentou no chão.
Ele se sentiu inconformado. Aqueles animais eram bem mais fracos que a serpente o urso, não eram perigo de alto risco. E mesmo assim não conseguiu lutar. Podia usar a desculpa que não enxergava direito ou que eles eram muito resistentes, porém nenhuma iria colar.
— Eu não consegui de novo... Aqueles ratos não eram fortes... Tudo bem, é só mais uma derrota pra conta.
Já tinha se acostumado do fato de nunca ter vencido uma luta. Era o que ele dizia para si mesmo. Não tinha acostumado, no fundo ele sempre quis vencer.
— E também eles tinham filhotes, não seria justo. — Disse com um tom otimista. De repente, sua visão ficou embaçada e as lágrimas desceram. — Tudo bem... Snif! Agora é tentar de novo...
Mesmo com a dor e a depressão de mais uma derrota. O garoto dizia coisas para tentar se convencer a seguir em frente. Porém não teve como segurar, chorou como um bebê.
“Vovó.”
Tirou um colar do pescoço. A corrente prateada e brilhante segurava um pingente de um leão no meio da joia.
— Não sei como cumprir nossa promessa...
Alguns meses atrás.
Roy estava impaciente. Para lidar com a ansiedade caminhava por um local que servia como uma enfermaria em um acampamento militar. Viu muitas macas e pessoas desacordadas, até que viu uma figura familiar.
— Vovó!
Avistou uma mulher de cabelos grisalhos, de corpo magro e olhos amigáveis de cor castanhos. Ela estava deitada em uma cama. O corpo da mulher tinha algumas ataduras pelo corpo, não parecia correr algum risco mais grave.
Ao ver o garoto se aproximando. Ficou aliviada, deixou as lágrimas descerem. Como se não tivessem se visto por anos ela abraçou seu neto com força.
— Estava tão preocupada!
— A senhora está bem? Onde a senhora estava?
— Sim, Thomas me deixou junta a algumas pessoas em uma casa fora do local de batalha. — Respondeu, enquanto analisou seu neto apalpando seu corpo inteiro. — Está todo machucado, como ficou assim?
— Estou bem. Mas o velho... Ele...
— Eu sei meu pequeno, ele fez o que tinha o que fazer.
— Não pude fazer nada — ele se sentou ao lado de sua avó, olhando para suas mãos — Queria ter feito mais.
— Você não podia fazer nada. Ele já tinha aceitado a muito tempo que a hora dele iria chegar rápido.
Ela tentou acalmar seu neto, colocando as duas mãos no rosto de Roy, que encarou confuso. Mary abriu um leve sorriso melancólico.
— Ele já estava doente a muito tempo, mas ele queria morrer em luta. Um sonho de militar que ele tinha.
— Que doença ele tinha?
— Uma doença chamada “faca de dois gumes”. — Devagar tirou as mãos do rosto do garoto, para limpar suas lágrimas.
— Faca de dois gumes?
— É quando o corpo de uma pessoa não é compatível com o próprio armazenamento de mana, a cada vez que a pessoa usa a mana dela corrói o próprio corpo. Uma doença até comum para os cavaleiros de chamas. Thomas já estava no estágio intermediário e a luta o fez exceder o que restava, como a doença não tem cura, se entregou com tudo que tinha.
Ouvindo aquilo o garoto chorou ainda mais agarrando o corpo de sua avó., ela passou sua mão sobre a cabeça de seu neto devagar.
— Você ainda é muito novo, não pode se culpar tanto. Ele sabia que você ficaria assim.
Mary tirou uma carta debaixo do cobertor, e entregou para ele.
— Ele escreveu isso para você.
Roy pegou a carta, analisando todos os lados dela, vendo a assinatura de seu avô, olhou com um sorriso para ela, ele estava encorajado e parecia ter um plano.
—Você é especial, saiba disso.
Ele limpou as lágrimas, seu olhar tinha mudado. E com um sorriso disse a seguinte frase:
— Eu vou ficar forte!
Ela sorriu para ele.
— Sei disso, meu pequeno. — Ela tirou algo do pescoço e entregou a Roy — Esse colar era do Thomas, quando ele se aposentou ele me entregou para que fosse um amuleto da sorte.
O menino analisou aquele colar muito bonito.
— E agora, é o símbolo da nossa promessa. — A mulher fechou devagar o punho de Roy que segurava a joia. — Fique forte e proteja o máximo de pessoas que conseguir. Me promete isso?
Sua avó tinha um olhar determinado, sua voz demonstrou firmeza no que dizia. Segurou firme aquela corrente, movido pelo calor do momento:
— Prometo!
No momento atual toda aquela coragem e determinação não se encontravam mais no garoto.
Apenas observou o movimento das folhas. Não podia fazer muita coisa, pois Yuki não estava ali, Jeff e Alonso também não. Seus avós não podiam ajudá-lo e nem Johan. Completamente sozinho teria que se virar.
— Não sou tão especial assim. Acho que é melhor voltar para onde ela está.
Cogitou em voltar para onde sua avó estava abrigada. Sentiu que seu lugar não era ali.
— Frou-do!
Roy ouviu um coaxo familiar a sua frente. Era seu amigo sapo olhando para ele nos olhos. Ele até ficou feliz que o sapo tinha escapado do buraco. Mas logo seu sorriso se desfez.
— Você...
— GASP!!
O animal cuspiu algo nos pés do menino.
— Ei! Não faz isso...?
Algo morno tocou sua canela. Saltou rapidamente para ter certeza do que era. E o objeto era o que Roy tinha pensado. A segunda pedra vermelha!
— Isso! — Gritou animado, enquanto girava com o sapo. — Muito obrigado! Você realmente é um sapo estranho!
— Frou – do? — Traduzindo: mudou de ânimo muito rápido.
Realmente parecia que o sapo queria cuidar dele. Então não estava totalmente sozinho. Aquele animal poderia ser um aliado. Então se sentou, colocando o anfíbio na sua frente.
— A gente podia ser amigo, certo? — esperou ansioso a resposta que ele já sabia.
— Frou-do.
— Certo! Você me ajudou quando eu mais precisei. Vou retribuir de alguma forma... Hm... Como eu posso te chamar?
Roy segurou o queixo e cerrou os olhos encarando o sapo. Analisou como poderia chamá-lo.
Pela parte do sapo apenas piscou um olho de cada vez e lançou sua língua em um inseto que passava voando.
— Frou-do. — coaxou ao terminar de mastigar.
— Frodo! Seu nome será Frodo! O que acha?
A resposta de Frodo foi apenas acertar a língua no olho direito de Roy.
— Muito bem! Vou ter que aprender a usar essas pedras hoje e amanhã começar a caçar para esquentar a carne.
**
A noite caiu. Roy e Frodo se alojaram e fizeram sua “base”, colocaram algumas frutas que acharam perto de onde iriam dormir. O garoto fez camas improvisadas para ele e seu amigo sapo, usando algumas folhas maiores que tinha encontrado pelo caminho. Também pegou algus galhos e jogou no chão.
“Pelo que eu me lembre o, velho, pegava madeira.”
Roy fez um amontoado desses gravetos. E sacou as duas pedras.
Esfregou a primeira vez e nada.
Nada novamente.
Esfregou furiosamente várias vezes.
Depois de tanto tentar, na quinta tentativa faíscas caíram das rochas e acendeu os galhos.
As chamas que surgiram iluminaram os olhos do menino. O calor que emanou da fogueira trouxe alegria. Vendo seu feito, Roy mordeu a fruta laranja que tinha pegado, para saborear o banquete da vitória. Porém não durou muito.
Algo que tinha aterrissado fez o chão tremer. Uma enorme nuvem de poeira e folhas foi jogada sobre o garoto.
Quando a poeira baixou. Roy olhou o que tinha feito aquilo de baixo para cima lentamente. O garoto teve um sentimento mais de raiva do que medo.
“AH! Dá um tempo!”
Um enorme morcego tinha aterrissado na base de Roy e parecia faminto. A floresta não queria dar trégua para ele.
— IIIIRK! — Urrou a criatura.