Magus Supremo Americana

Tradução: SilentFitts

Revisão: Barão_d’Alta_Leitura


Volume 3

Capítulo 122: Interlúdio (2)

Depois que Arjîn saiu, Tyris não pôde deixar de suspirar, pensando na ironia do processo de refino do núcleo. Enquanto aqueles que começaram com um núcleo de mana muito fraco, seja ele vermelho ou amarelo, tiveram mais facilidade, quanto mais forte alguém tivesse o núcleo, maiores os riscos surgiam no processo.

Seu amado Valeron era o exemplo perfeito. Nascido com um núcleo amarelo, uma vez que aprendeu a verdadeira magia, teve a oportunidade de fortalecer seu núcleo e corpo ao mesmo tempo, removendo as impurezas pouco a pouco.

Uma vez que seu núcleo começou a ficar muito forte, a dor foi o primeiro sinal de alarme, permitindo que Tyris o impedisse de refinar a energia mundial até que o corpo estivesse totalmente adaptado.

Mas para seres mais fortes, como bestas mágicas ou magos talentosos que já alcançaram seu pleno desenvolvimento, a verdadeira magia quase sempre é uma pena de morte. Se eles purificassem as impurezas muito rápido, a energia dentro de seus corpos inundaria cada célula sem controle.

Os sortudos morreriam no local, enquanto os menos afortunados explodiriam entre dores excruciantes.

E então havia as abominações.

Seres com um núcleo tão forte, com uma vontade tão indomável que nem mesmo a morte poderia derrotá-los. Atormentariam a terra, consumindo todas as formas de vida na tentativa de prolongar sua existência.

Ao contrário de magos e bestas mágicas, as abominações eram como flocos de neve, não havia duas iguais. Suas almas e mentes moldariam sua nova forma, até o momento em que fossem sacrificadas como animais raivosos.

A única maneira de evitar esse destino era com muito trabalho e paciência, mas as recompensas estavam além da imaginação. Tornar-se um canal para a energia mundial significava se tornar um Desperto, um ser com um suprimento infinito de mana, cujo único limite mágico era sua própria força de vontade e imaginação.

Ao remover as impurezas, o corpo de um Desperto se tornaria progressivamente mais rápido, mais forte e mais resistente. Sua cura tão rápida que quase lembraria a regeneração, seus seis sentidos aguçados como os dos animais.

Por último, mas não menos importante, todos os Despertos teriam sua expectativa de vida aumentada. Eles não consumiriam mais sua própria força vital, substituindo-a pela própria energia mundial.

Era assim que monstros como Scorpicores, Griffons, Dragões e Fênix podiam ter uma vida quase eterna. Mas isso não significa imortalidade. Apesar de cada um deles serem realmente difíceis de matar, esse ato ainda estava longe de ser impossível.

É por isso que a maioria dos Despertos mais antigos acabou se isolando. Quanto mais forte você fosse, mais vaidoso se tornava, até o ponto em que se sentia no direito de forçar sua ideia de certo e errado sobre os outros, fazendo do mundo inteiro seu inimigo.

Pensando no tempo que passara com Arjîn e em como sua existência ainda era passageira, Tyris não pôde deixar de refletir se seu velho amigo e rival Leegaain estivera realmente certo o tempo todo.

“Ensinar humanos não é impossível, é apenas inútil.” dissera a ela na última vez que se encontraram, séculos antes, quando ele desistiu da humanidade devido à sua tolice inata.

Pensar nele, depois de todos aqueles anos, ainda conseguia fazê-la rir.

Leegaain foi o único dragão que ela conheceu que ostentava suas origens como um lagarto comum. Se não fosse por seu orgulho, talvez Tyris pudesse um dia confessar a ele que ela também havia começado como um simples tentilhão.

 

***

 

Enquanto corria pelas escadas, Arjîn Rênas ficou surpresa ao ver como sua resistência e velocidade haviam melhorado. Sendo um dos Magos Assassinos de elite do Reino, ele conhecia seu corpo como a palma de sua própria mão.

Como era um iniciante Desperto, Tyris permitia apenas que ele purificasse parcialmente o sangue das impurezas, mas as mudanças eram notáveis. Entretanto, sua felicidade durou pouco. Arjîn não conseguia parar de se preocupar com o relatório que acabara de receber.

Não por seu conteúdo, mas por sua extensão. Uma única página.

Isso só poderia significar que todos os recursos da Coroa estavam tão esgotados que mal podiam funcionar adequadamente. E considerando que incluía tanto o Corpo da Rainha quanto o Cadáver, a ideia era além de inquietante.

“Entrei em isolamento há apenas alguns meses, como a situação pôde mudar tanto em tão pouco tempo?”

Assim que alcançou um dos espelhos, ele espetou seu dedo indicador esquerdo com uma pequena adaga, usando seu sangue para desenhar uma runa mágica enquanto injetava sua mana.

A superfície do espelho estremeceu, enquanto a rede secreta Warp Gate foi ativada, permitindo-lhe chegar instantaneamente ao seu destino, a cidade de Kandria.

Embora no papel fosse apenas uma cidade de tamanho médio, prosperando graças à sua posição ao longo de uma das principais rotas comerciais, a realidade era um pouco diferente. Sob todo o suor e barulho produzidos por seus cidadãos trabalhadores e honestos, Kandria era o lar de um dos maiores mercados negros do Marquesado.

Pelo preço certo, havia certamente poucas coisas que você não poderia adquirir, mesmo coleiras de escravos, e isso dizia muito. A escravidão era proibida em todos os países livres, além de ser um crime punido com a morte, precedido de tortura e expropriação de todos os bens familiares.

Foi por causa do sempre florescente submundo do crime que uma alquimista famosa como Coirn Hatorne escolheu Kandria para construir seu laboratório de última geração. Isso a deu acesso a todos os tipos de clientes e ingredientes, permitindo-a obter o melhor dos dois mundos e se tornar podre de rica muito rápido.

Quando Arjîn emergiu na filial local da Associação de Magos, o balconista mal olhou para ele. A rede secreta também tinha acesso a todos os waypoints oficiais em todo o Reino, permitindo que os agentes evitassem ser questionados ou revistados.

A alfândega e os controles seriam realizados antes da partida, portanto, aqueles que chegavam eram considerados viajantes devidamente liberados. Antes de sair do prédio, Arjîn deu uma rápida parada no banheiro… para preparar seu disfarce.

Um traje de seda extravagante era imperceptível no castelo real, mas o faria se destacar como um polegar ferido em qualquer outro lugar. Ele usava leggings de algodão marrom, uma camisa branca e um colete. Seus sapatos novos tinham sola macia, permitindo que se movesse sem fazer barulho.

O toque final foi aplicar maquiagem com magia de água, simulando uma longa cicatriz que ia desde o olho esquerdo até o queixo. Mesmo que alguém parasse de olhar para ele, a cicatriz seria a única coisa que veriam.

Seus olhares seriam atraídos por ela, fazendo-os ignorar seus olhos e nariz. Sempre que tentassem se lembrar de sua aparência, a única coisa de que se lembrariam seria de um homem com uma cicatriz na bochecha.

De acordo com seus superiores, era a melhor máscara que alguém poderia usar.

Uma vez fora do prédio, Arjîn lembrou do porquê ele odiava Kandria. Quando a cidade foi fundada, ninguém esperava que um dia ela fosse tão movimentada, portanto as estradas não eram muito grandes.

Entre as barracas dos mercadores, as carruagens que paravam para carregar e descarregar suas mercadorias e todos os pedestres indo e vindo de suas casas, caminhar tornou-se uma forma de arte para os moradores e um belo trabalho para todos os demais.

A atividade movimentada forçava as pessoas a se esbarrarem, tornando aquelas ruas apertadas um paraíso para os ladrões. Quando Arjîn finalmente chegou ao seu destino, havia sido roubado quatro vezes da bolsa de couro que carregava no pescoço, a qual continha algumas moedas de cobre e prata para esconder o fato de que ele tinha um anel dimensional.

A cada vez, ele foi forçado a substituir o conteúdo por tudo o que pudesse encontrar nos bolsos daqueles que o estavam roubando — a quem ele roubou de volta com um passe de mágica. No processo, Arjîn ganhou três moedas de prata, que doou a um sem-teto qualquer pelo caminho.

O Cadáver circulou em torno da loja de Hatorne, fingindo verificar as barracas próximas enquanto procurava uma maneira de entrar. Por estar na parte mais sofisticada da cidade, o tráfego era limitado, e isso lhe permitiu apimentar as coisas com magia.

A cada passo que dava, Arjîn liberava ondas mágicas da terra que se infiltravam nas paredes da loja antes de voltar, como um sonar, permitindo-lhe verificar se havia passagens secretas. A toca do coelho de alguém inteligente teria duas saídas, mas a de um esperto teria muitas.

No entanto, apesar de todos os seus esforços, ele não encontrou nada.

– “Ou eu superestimei aquela bruxa traidora e não há passagem secreta, ou eu a subestimei, e ela magicamente protegeu seu laboratório.” –

No verso de seus pedidos, havia um mapa recém-desenhado do laboratório Alquímico, mas as únicas entradas observadas eram a porta da frente, além das vitrines — ele podia fazer muito pouco levando em consideração a atenção indesejada — e a entrada de serviço para os fornecedores.

De acordo com o mapa, ambas eram guardadas por mercenários habilidosos. Matá-los não seria um problema, mas entrar sem causar confusão sim. A missão exigia discrição, caso contrário, em vez do Cadáver, teriam enviado um simples policial com um mandado adequado.

Arjîn não gostava de planos complexos. Em sua experiência, quanto maior a configuração, maior o número de coisas que podiam dar errado. Ele tinha apenas uma chance na missão, então depois de explorar os arredores, comprou algumas bugigangas antes de desaparecer em um beco.

Escolheu esperar no topo do prédio mais alto da zona, uma casa de três andares, para ficar de olho no laboratório de alquimia sem que fosse notado.



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