Volume 3
Capítulo 102: Progresso
Ao ler os relatos sobre a luta interna que ocorria no Reino de Griffon, a Maga Imperatriz teve a impressão de ler um livro de história. Séculos atrás, o Império Gorgon havia enfrentado uma crise semelhante.
Depois que Magus Lochra Silverwing divulgou sua herança mágica para o mundo inteiro, as artes místicas começaram a melhorar rapidamente. O conhecimento que ela liberou interrompeu o longo período de estagnação que a pesquisa mágica sofria até então.
No entanto, como qualquer mudança, o pensamento, junto com novas soluções, trazia consigo novos problemas. Até aquele momento, a magia era limitada a feitiços de nível três, e isso permitia que famílias ricas e poderosas detivessem o monopólio dela.
Mas, a herança continha a base para muitos feitiços de nível quatro e plantou a semente do que seria conhecido como especializações. Logo, percebendo as inúmeras aplicações militares, os escalões superiores de cada país onde a informação chegou foram colocados em uma situação complicada.
Manter o uso da magia limitado apenas aos descendentes de suas famílias tornaria o progresso lento e difícil. Já era um raro talento, e agora havia muito para se estudar, mas poucos magos para tal tarefa.
Por outro lado, permitir que os plebeus estudassem magia teria alterado o equilíbrio de poder. Assim que tivessem acesso aos feitiços de nível quatro, quem poderia garantir que os novos magos não mordessem a mão que os alimentava?
Enquanto o Reino de Griffon optou pela criação da Associação de Magos, concedendo status e riquezas até mesmo para plebeus de acordo com suas contribuições, o Império de Gorgon rejeitou tal ideia como suicida.
Eles preferiram se concentrar em Forgemastering, investindo todos os seus recursos no desenvolvimento de coleiras de escravos. Graças a esses itens mágicos, os plebeus poderiam ser recrutados com segurança, e sua atitude quanto à magia podia ser verificada.
Assim, todo candidato a mago foi forçado à submissão, incapaz de desobedecer às ordens de seus mestres. A escravidão dos magos plebeus durou décadas, até que uma Forgemaster velha e astuta conseguiu encontrar uma brecha.
Seu mestre havia pedido a ela para criar um artefato capaz de desativar temporariamente itens mágicos, para usá-lo no campo de batalha e paralisar os recursos dos inimigos quando mais precisassem, mas ele nunca disse nada sobre usá-lo para afetar os colares.
A pedido dele, ela mostrou como funcionava, e as coleiras de todos os magos da casa dispararam. Foi aí que a revolta começou.
Ao combinar o uso do artefato para libertar novos magos, e aplicando as coleiras em seus algozes, eles lenta— mas constantemente — exterminaram ou escravizaram todas as famílias nobres que lá haviam.
O artefato era um segredo, então tudo o que ela precisou fazer foi usar seu agora obediente mestre como um cavalo de troia, deixando a rebelião se espalhar, silenciosamente, até que fosse tarde demais.
Depois do ato, os magos assumiram o poder, destruindo todos os vestígios ou menções sobre a manufatura das coleiras. Até mesmo pesquisar o assunto havia se tornado um crime capital.
De monarquia, o Império passou a ser uma oligarquia baseada apenas na meritocracia. Os títulos não seriam herdados, todas as posições seriam ocupadas por aqueles que fossem considerados dignos.
A maioria dos magos não tinha interesse em mansões chiques ou estátuas de ouro em tamanho real. Sendo assim. suas famílias e pesquisas foram o destino da maior parte de sua renda.
A primeira lei promulgada pelo primeiro Mago Imperador e seu Conselheiro Mágico foi a que garantia a liberdade de estudar magia, não importando o status social, e a introdução de tarefas mágicas no conjunto básico de disciplinas que as crianças deveriam estudar.
O sistema não era perfeito. Um bom mago pode ser um governante incompetente ou um cruel, sem falar que, na sua morte, a substituição de até mesmo um governador local poderia levar algum tempo, deixando o território aberto à corrupção ou ataques de fora.
Além disso, como a maioria dos recursos foram investidos na pesquisa constante e no desenvolvimento de novas formas de magia, seu exército humano foi considerado o mais fraco entre os três países vizinhos.
Porém, o Império Gorgon era agora o país mais avançado no campo da pesquisa mágica. A capital era uma cidade fortificada e flutuante, cujas paredes brancas brilhavam à luz do dia como as luzes de um farol para os viajantes.
As torres de guarda se estendiam acima e abaixo da parede, com gigantes cristais mágicos em cada extremidade, os quais alimentavam os círculos de runas místicas, visíveis a olho nu. Cada torre era capaz de atacar ou defender, de acordo com as circunstâncias, tornando a cidade praticamente invencível.
“Idiotas.” Disse a Maga Imperatriz. “Apenas atrasaram o inevitável, colocando um tipo diferente de coleira em seus magos, e não importa quanto tempo, uma coleira é sempre uma coleira. Ordene que os exércitos em nossas fronteiras estejam prontos para o ataque.
É apenas uma questão de tempo até que alguém faça algo estúpido, e as coisas piorem. Devemos ser os mais rápidos para colher os benefícios de sua loucura.”
*****
Na manhã seguinte, Lith não tinha esperança de ter sucesso na segunda lição de magia dimensional. Depois de ensinar conjuração tripla para as meninas, ele passou a noite toda praticando, mas com pouco progresso.
Quando chegaram ao Salão de Treinamento, o Professor Rudd já estava lá, esperando. A sala tinha trinta metros de comprimento, vinte metros de largura e estava completamente vazia. Pequenos círculos haviam sido desenhados no chão, indicando onde os alunos deveriam se posicionar.
O solo e as paredes não apresentavam nenhum vestígio de fendas, o que fazia a sala parecer ter sido esculpida em uma única pedra maciça, em vez de montada com pedras menores.
“Começem.” Ele disse antes mesmo do último gongo anunciar o início da aula.
Normalmente, Lith teria fingido incompetência por um tempo antes de ficar sério, mas dessa vez não tinha motivo para fingir.
O professor caminhou lentamente entre eles, tomando notas mentais daqueles que eram realmente capazes de lançar três vezes. O pequeno fio amarelo era o indicador disso.
Lith, Lyam e apenas alguns outros foram capazes de completar a primeira etapa. E após várias falhas, muitos entre os que não conseguiram pegaram seus livros tentando entender o que estavam fazendo de errado.
Graças a todo o seu treinamento, Lith conseguiu entender o tempo necessário para estabilizar o fogo-fátuo com a magia da água, permitindo adicionar mais energia ao núcleo, transformando-o assim em duas pequenas esferas pretas.
O problema era que ele não tinha ideia de como continuar. Depois de centenas de tentativas, ainda era incapaz de aumentá-los e esticá-los. O formulário do horizonte de eventos era a última etapa antes de concluir o exercício adequadamente.
– “Segunda etapa já, nada mal, para um plebeu.” – Rudd estalou a língua, percebendo a falta de progresso do restante da turma.
Depois que uma hora se passou, não havendo progresso algum em suas tentativas, Lith decidiu pedir ajuda.
“Professor, eu tenho uma pergunta.”
“Que coincidência! Eu também. Diga-me, você leu meu livro ontem?”
“Sim.”
“Você entendeu o que está escrito?”
“Sim.” Lith sabia para onde ele estava indo. Algo semelhante havia acontecido com ele durante uma aula na faculdade.
“Então, para o seu próprio bem, você não tem nenhuma pergunta. Volte para o seu lugar.”
Furioso de raiva, Lith retomou o feitiço.
Mais tempo se passou, e como ainda estava preso na segunda etapa, ele parou por um momento para verificar como os outros estavam se saindo. Yurial e Phloria ainda não tinham produzido o fio amarelo, enquanto Friya parecia ser capaz de gerá-lo regularmente.
– “Parece que ela finalmente conseguiu a conjuração tripla. Vamos ver como a Quylla está.” –
Depois de olhar em volta, Lith foi capaz de encontrá-la. Para sua surpresa, ele a viu gerar o feixe, transformá-lo nos dois pontos pretos e até mesmo dar um jeito de começar a dar a eles a forma de funil.
O professor Rudd foi incapaz de decidir se ficava mais surpreso com ela ou furioso com a classe. Vários alunos tentaram pedir dicas e conselhos a ele, mas todos receberam a mesma resposta dada a Lith.
Quando a aula terminou, ninguém havia feito nenhum progresso adicional. Mais da metade da classe não foi capaz de atingir nem mesmo a primeira etapa do feitiço Loop.
“Antes de ir, quero que saibam que estou enojado com as suas atitudes.” Rudd disse. “Não acredito em igualdade, todos nascemos diferentes por um motivo. Também não acredito em solidariedade, uma academia não é uma instituição de caridade. É um campo de batalha onde cada mago luta por si mesmo.
No entanto, quando ontem eu disse a vocês que a conjuração tripla era essencial, por que ninguém teve a coragem de me dizer que muitos de vocês não estão nesse nível? Esperavam que, de alguma forma, eu ficasse cego e não percebesse?
Bem, tudo o que vocês conseguiram realizar hoje foi perder meu tempo e paciência. A partir de amanhã, é melhor para quem não consegue cumprir os requisitos mínimos não comparecer às minhas aulas. Liberados.”
Uma vez do lado de fora, Lith correu ansiosamente para Quylla, esperando que ela pudesse ajudar a superar seu gargalo.
“Como você alcançou a terceira etapa? Eu consegui entender como estabilizar o primeiro núcleo de energia, alimentando-o com mana suficiente para crescer e se dividir. Mas depois disso, ele enlouquece. Ou eu uso magia da água para estabilizar um dos Portal ou o outro. Não posso fazer as duas coisas.
Ou melhor, eu tentei, até mesmo recorrendo ao quadra-lançamento para usar dois pulsos mágicos de água ao mesmo tempo, mas nada funcionou.”
“Você não precisa de lançar quatro magias, é realmente muito simples.” Quylla respondeu. “Os dois Portais estão tão profundamente conectados que agem como um só. Você não deve tratá-los como entidades separadas, mas como um todo. É como curar alguém com um ombro deslocado e dedos da mão quebrados.
Dois pontos no espaço, mas apenas um braço. Você deve simplesmente fazer a magia de luz circular por todo o membro danificado para cuidar de ambos os problemas. Molezinha.”
Lith lançou o Loop mais uma vez, seguindo as instruções.
– “Quylla está certa! Eu posso fazer a mana da água circular de uma ponta a outra, Eureka!” –
No entanto, em vez de se esticarem, os dois pontos pretos se desintegraram com um som de estouro.
“Não, não posso!” Ele respondeu com um suspiro.