Volume 2
Capítulo 50: A Queda da Escuridão (1)
Essa longa conversa foi muito cansativa para Lith, acrescentando um novo peso ao seu fardo. Não pelas informações que adquiriu, pois, apesar de tudo, ele sentiu que suas oportunidades ainda eram muito boas, com ou sem uma academia.
O único ajuste em seus planos era que, depois de ingressar na Associação de Magos como um membro de fato do círculo externo, como um mago renegado, ele precisaria acumular méritos o mais rápido que pudesse, para assim conseguir um aprendizado com um bom Forgemaster.
No entanto, méritos normais não lhe fariam bem. Ele precisava daqueles que pudesse ganhar como mágico, servindo à Associação de Magos da melhor maneira possível.
O único problema real com sua situação atual seria apodrecer por mais quatro anos, como o proverbial sapo no poço.
Mas o motivo pelo qual Lith se sentiu tão mal foi porque finalmente havia percebido o quanto seus amigos haviam investido nele, não apenas em termos de dinheiro, mas também de tempo, paixão e esperança.
Não era o fracasso o incomodando, mas o fato de que, com sua atitude impetuosa e indiferente, ele havia ferido os sentimentos deles, tratando a coisa toda como uma piada. Lith teve que admitir que, no lugar deles, ele sentiria que estava jogando pérolas para um porco durante anos.
Claro, o conde Lark não era tão crítico quanto ele, mas Lith podia ver o quão profundamente ele se importava e como ele estava ferido após a última repreensão.
Foi a primeira vez que Lith sentiu que, por ter vencido uma discussão, na verdade havia perdido a guerra.
Mas, além de repensar, não havia muito que ele pudesse fazer naquele momento. Então, ele prometeu a si mesmo reconsiderar tudo com um novo par de olhos se a oportunidade surgisse, e decidiu passar para um problema mais urgente.
Lith ainda não tinha resolvido seus problemas com a magia de nível quatro, e perguntar a Nana estava fora de questão. Isso revelaria muito para ela, expondo o quão profunda era sua compreensão de magia, apesar de ser um autodidata.
A única carta que ele ainda tinha para jogar era pedir a ajuda de seu amigo, o rei Ry no oeste da floresta de Trawn. Graças ao seu núcleo de mana ciano, Lith ficou menos assustado com ele e, durante os últimos anos, eles desenvolveram um relacionamento estranho.
Lith o usaria como um confiante, às vezes pedindo conselhos sobre magia de fogo e vento, os dois elementos que Ry poderia usar. Em troca, Lith o ajudaria com os problemas na zona leste da floresta.
Após a morte de Irtu, não havia uma besta mágica forte o suficiente para tomar seu lugar, e de vez em quando a luta pelo poder entre as várias facções afetava o equilíbrio da floresta.
Nessas situações, o Flagelo e o Protetor se juntariam para forçar as feras mágicas a uma trégua.
No momento, a magia falsa de nível quatro era um gargalo mental que nem ele e nem Solus podiam superar. Apesar de ser capaz de lançar todos os feitiços que encontrara nos livros do conde, eles continuavam sem fazer sentido para ele.
E isso era algo inaceitável, consumindo Lith por dentro. Ele sempre odiou enigmas, a menos que fosse ele quem os estivesse dando.
Lith estava quase chegando em casa quando sentiu um cheiro familiar.
“O que diabos você está fazendo fora da floresta? Se alguém te ver, isso pode desencadear uma caça às bruxas. A última coisa que eu preciso agora é você ter uma recompensa por sua cabeça e eu ter que explicar por que não estou interessado.”
“Eu sei.” O Ry respondeu. “Mas tempos de desespero exigem medidas desesperadas. Um monstro apareceu na floresta, forte o suficiente para representar uma ameaça para os meus filhotes, bem como para os seus. Precisamos da sua ajuda.”
‘Eu nunca vi o Ry assustado antes, seja o que for, deve ser muito importante.’ Pensou Lith.
Depois de concordar em ajudar, o Ry pediu a ele para pular em suas costas, antes de correr a toda velocidade em direção ao bosque. Entre o uso da fusão de ar e suas proezas físicas, o Protetor era capaz de atingir facilmente os 300 km / h, seria uma viagem curta.
Ao ir tão rápido, o Ry conjuraria uma lâmina de vento em forma de cunha na frente de si, para proteger seus olhos e rosto de insetos e poeira, que a essa velocidade os atingiria com a força de uma bala.
Também criaria um efeito de turbilhonamento, permitindo que fosse ainda mais rápido.
A equitação de Lith resultou em uma advertência, duas vidas atrás, então ele precisava de todo o seu foco e força de vontade para não cair.
O Ry tinha uma pele grossa e macia, mas não sendo capaz de seguir seus movimentos, Lith foi forçado a usar fusão de terra e fusão de luz para evitar danos permanentes em suas regiões inferiores.
“Que porra é essa coisa? É mesmo necessário ir tão rápido? Se continuar assim, não sei se sobrará o suficiente de mim para fazer qualquer coisa!”
“Pare de choramingar, estamos quase lá. E sim, a velocidade é de extrema importância quando se enfrenta uma Abominação.”
A mente de Lith passou por todos os bestiários que ele tinha em Soluspedia e todas as suas memórias de RPG de videogame e mesa antes de desistir.
“O que diabos é uma abominação? Por que é tão perigoso?”
“Você não entende. Nós não chamamos de Abominação pelo que faz, mas pelo que é!”
Eles estavam indo para o norte, em uma região da floresta que ele nunca havia visitado antes. Tudo começou devagar, como a tensão no ar antes de uma tempestade. Só quando se aprofundaram na floresta, Lith pôde entender o que Ry queria dizer.
Logo a grama começou a escassear, até não haver mais nenhuma. A terra ficou nua, sem vegetação rasteira de qualquer tipo, seca e se esfacelando como depois de meses de seca.
As árvores ao redor deles estavam com a casca completamente escurecida. Elas não tinham folhas nem galhos de pé, parecendo gigantescas estacas de madeira. Não havia som algum, tudo parecia saído de um filme pós-apocalíptico, depois de uma explosão nuclear.
A paisagem natural foi completamente destruída até onde a vista alcançava.
Depois de um tempo, Lith pôde ouvir claramente os sons de uma batalha, então ele focou seus olhos, melhorando sua visão.
Eles estavam se aproximando de algum tipo de sombra em movimento, travados em combate à distância com Gylad, uma fera mágica dois metros de altura e pesando pelo menos novecentos quilos, com pele marrom clara com tons de azul.
Atacando a sombra pelo flanco, havia também um Shyf, uma besta mágica puma do tamanho de um tigre, com um metro e meio de altura e pesando mais de trezentos quilos. Ele tinha uma pele cor de mel com tons de verde.
“O Gylad é o rei no norte, Portador da Luz, enquanto o Shyf é o rei no sul, Ceifador.” O protetor rapidamente apresentou Lith aos seus aliados.
“Essa coisa é a Abominação. Fique longe dela o máximo que puder, ou ela vai sugar você até secar como tudo o mais.”
A Abominação tinha uma forma estranha, podia ficar de pé sobre as pernas, parecendo um homem com membros muito longos e finos, ou ficava sobre os quatro membros, tornando-se grande e atarracada como um porco que uma criança desenhou.
“O que diabos é essa coisa?” Lith lançou cinco bolas de fogo com um aceno de mão. A Abominação estava rodeada por uma névoa negra e fina, com um raio de quinze metros.
Ao viajar através do nevoeiro, as bolas de fogo diminuíram de tamanho e, quando atingiram, as explosões resultantes foram reduzidas para metade em comparação com a sua eficácia normal.
A Abominação emitiu um grito baixo que ressoou desesperado ao invés de doloroso.
O Ry uivou, conjurando um pilar de vento que prendeu no chão a criatura das sombras, permitindo que os outros reis descansassem e se reagrupassem.
“Essa é a sua ideia de reforço? Um humano?” Se alguém alguma vez pensasse que um cervo não poderia parecer feroz, ao olhar para Gylad seria forçado a pensar novamente.
“Menos latidos, mais recuperar o fôlego.” O Shyf ofegava pesadamente.
“Se ele é bom o suficiente para derrubar Irtu e Gerda, ele está bom para mim.”
Lith notou que uma das quatro pernas do Shyf era na verdade feita de terra, a verdadeira estava atrofiada e seca de forma não natural.
“Um membro protético feito da magia da terra? Que controle incrível ele deve ter, para movê-lo como um real. Eu nem notaria se Shyf não estivesse tão perto.”
Tendo notado Lith olhando para ele, o Shyf explicou:
“Isso é o que acontece quando você é tão arrogante para deixar o Wither perto o suficiente para tocá-lo. Eu estaria morto se o Portador da Luz não tivesse chamado sua atenção por tempo suficiente para eu escapar.”
“Wither? Isso não é uma abominação?”
O Gylad zombou. Ele queria repreender o Ry, pois a coluna de vento estava se dissipando, então ele preferiu trazer o Flagelo para a velocidade ao invés de perder tempo discutindo.
“Uma Abominação é quando uma criatura da floresta falha ao evoluir. Normalmente elas morrem no local, mas raramente perdem o controle da energia do mundo, enlouquecendo. As abominações são incrivelmente fortes, com poderes excepcionais que as fortalecem como monstros.
Sendo seres sem mente, geralmente um rei é mais do que suficiente para derrubá-los. Mas em ocasiões muito raras, todos nós nos reunimos para matar uma Abominação única, como neste caso. Sendo assim, não deve ser difícil entender por que o chamamos de Whiter.”
O Gylad apontou com seu focinho para a floresta morta ao redor deles.
“Como diabos ele fez todo esse estrago?” Lith não conseguia acreditar que três criaturas com tanto poder não conseguiam derrubar um único monstro.
“Simplesmente por existir.” O Ry explicou. “Onde quer que vá, tudo morre. Sempre que estamos prestes a matá-lo, seu corpo torna-se tão informe que nem o vento, o gelo ou a terra podem prendê-lo.
Então, ele foge para uma zona saudável da floresta, se cura e temos que começar tudo do zero. Estamos lutando há três dias, não podemos aguentar muito mais. Por isso decidi pedir sua ajuda, Flagelo.
Ao contrário de nós, todos os elementos obedecem ao seu comando.”
Lith assentiu, tentando assimilar todas as informações.
‘Eles estão lutando há três dias? Puta merda, quanta resiliência. Solus, análise!’
[“Sim, capitão, quero dizer, Lith. Todos os reis têm um núcleo de mana ciano, mas o Protetor é o que tem mais probabilidade de ter uma quebra de limites em alguns anos.”]
‘Eu quis dizer o Wither! Aura enevoada, corpo sombrio, é um morto-vivo?’ Lith observou a criatura se contorcer e gemer sob o pilar que se dissolvia. De acordo com a literatura de fantasia da Terra e a tradição do novo mundo, os mortos-vivos deveriam ter olhos vermelhos brilhantes.
Mas as órbitas de Wither eram totalmente negras, como o resto de seu corpo.
[“Não é um morto-vivo. Sua força vital não é nada como eu já vi antes, e nem é por sua aura mágica. O que diabos um núcleo de mana negro poderia significar?”]