Lorde sem Olhos Brasileira

Autor(a): Sr. V


Volume 1

Capítulo XIII: “Desconhecido Herói”

Ao abrir seus olhos percebeu o draconato ao qual o protegia com sua asa. Os escombros caíram por cima deles, mas o homem não parecia se incomodar, nem mesmo com as chamas ao seu redor.

Saíram assim de em meio os escombros:

— Ele salvou a criança!! — gritou um homem.

Todos encaravam-no espantados com sua coragem, não acreditavam que ele poderia conseguir, mas lá estava ele. Correram até ele o agradecendo, principalmente a mãe da criança que agarrou firmemente suas mãos.

— Por favor, nobre senhor! Por favor. Conceda um nome para minha filhinha. Por favor!!

Aku ficou surpreso com tamanha proposta, estava hesitante, mas parecia que ela não iria soltá-lo enquanto ele não o fizesse. Ele por vez com pressa, apenas disse o primeiro nome que veio em sua mente.

— Zoe, que tal? — disse passando a mão na cabeça da criança a qual sorriu.

— Zoe… Nunca ouvi falar. O que significa?

— Se não me engano, Zoe significa vida! Como ela teve sua vida salva hoje, ela estará destinada a grandes feitos no futuro. Quem sabe um dia ela ilumine a vida de alguém, ou até mesmo traga sentido a vida de tal pessoa. Ela será a vida dele, com sua mais bela graça e alegria!

— Obrigada senhor! Obrigada, obrigada!!

E foi ali naquele momento, que Aku assinou sua sentença. O carrasco deu seus primeiros sinais de excitação, foi assim que ele mudou a vida de uma garota meia-humana, que agora se chamava vida, Zoe. 

Pela terceira vez, mais um fio do destino se prendeu a ele. A morte enfim sorria para sua presa, até então, estava sem pressa.

A criança sorriu segurando o dedo de Aku, parecia ter se apegado a ele. Uma casa explodiu não muito longe dali, fazendo-o perceber que ainda era tudo muito perigoso para ficar parado ali.

— Vocês precisam sair daqui rápido!! Levem elas e se escondam. — disse ele aos homens.

Enquanto todos evacuavam, Aku tentou ajudar no que podia. Desde ajudar idosos a sair dos locais perigosos a ajudar crianças a encontrar sua família, também chegou ao ponto de correr com baldes para apagar as chamas.

Muitos se salvaram e conseguiram evacuar por causa dele. Ele podia ser ingênuo e medroso às vezes, mas quando via alguém em perigo não podia evitar, seu corpo sempre se moveu sozinho, ele sempre sentiu que deveria ajudar, mesmo que tivesse de entregar sua vida no processo.

Muitos foram salvos naquele dia por um herói mascarado, com uma capa de lobos que cobria seu rosto. Todos agora lhe deviam gratidão e respeito, ele se tornava aos poucos o herói que o povo meio-humano precisava. 

Uma vila sem humanos, que sem saber, estava sendo ajudada por um de seus inimigos jurados.

***

Aku estava muito ofegante, a noite passava rapidamente com toda aquela correria frenética. Ele sentia que não conseguiria mais, o cansaço consumia seu corpo, e o fato de muitos já terem evacuado o faziam relaxar ainda mais.

Descansava ele sentado em um tronco quando uma forte chuva começou a cair de repente, olhando para o céu viu as nuvens negras e a forte tempestade chegando.

“Parece que os deuses finalmente resolveram ajudar!”

Ele recuperava o fôlego, encarava o que restou da aldeia. Seu olhar era de compaixão, enquanto via alguns moradores recolhendo o que conseguiram salvar das chamas. 

“Que droga. Por que fizeram isso?”

Sons de lâminas sendo travadas o tiraram de seus pensamentos, alguns meio-humanos saíram às pressas de em meio a floresta, passando próximos dele.

— O que está acontecendo?!

— Ainda tem um troll na floresta!

Aku apreensivo, encara as árvores à sua frente, notando os rugidos tenebrosos que a criatura dava mais adiante. Engoliu a seco e, antes que pudesse notar, seus pés davam os primeiros passos rumo à escuridão.

Seguia ele os sons, quando barulho cessou, agora não sabendo para que direção seguir. Foi quando escutou um grito de dor, correu, e saltando de em meio os arbustos deu de cara com a cena.

Uma garota meia-humana com orelhas de gato, cauda preta, cabelo negro como a noite, olhos vermelhos como o sangue e um corpo magro, mas belo.

Ela por vez empunhava uma espada, seu olhar era sério e cheio de ódio contra a criatura a qual bufava em sua frente.

— Mais um passo e eu prometo que arranco suas pernas!!   

Tentava ela proteger outra garota caída ao chão, a qual estava com a roupa um pouco suja e rasgada, tinha um cabelo castanho e orelhas de guaxinim, além de uma calda bem felpuda. 

Ela segurava seu braço, seus olhos estavam apavorados enquanto tremia encarando o monstro diante delas.

O monstro enorme por vez, usava uma saia longa e felpuda de lã, algumas couraças presas por correntes em seu corpo, sem contar que segurava uma clava com pregos duas vezes seu tamanho, por isso a apoiava em seu ombro.

Pura brutalidade e poder, seus olhos brilhavam em um amarelado escuro, e suas presas saltavam para fora de sua boca, grandes presas pontudas.

“O que está acontecendo aqui?”

Aku então percebe, a garota parecia muito ferida e mal aguentava ficar de pé, mesmo assim se mantinha firme apontando sua espada para a criatura. 

Um combate então se inicia, a garota com um salto fez sua investida. O troll usando seu braço se protege do ataque, seguido de um empurrão que a lança contra o chão.

— Pirralha maldita! Nem sequer fez cócegas. Hahahahaha!!!

Ela tentou se levantar, mas seu corpo já não aguentava, o que a obrigou a se arrastar em direção de sua amiga. O troll vendo isso abriu um sorriso aterrorizante, quando sentiu algo em seu braço, olhando percebeu um leve corte que se abria.

Seus olhos se enfureceram, levantou a clava para o alto berrando:

— Morraaaa!!!

Rugiu enquanto descia a clava em sua direção, ela por vez ainda tentou se proteger com as mãos, mas parecia tarde demais. Foi quando uma pedra acertou em cheio a cabeça do troll, fazendo-o parar seu ataque, suficiente para dispersar uma forte onda de vento.

O troll furioso se virou, agora encarando Aku o qual estremeceu. A garota abrindo seus olhos a avistou também, sua amiga por vez chegava para ajudar. 

— Saiam daqui!! — disse Aku — Rápido. Eu cuido dele!

A garota ajudava sua colega a levantar, as duas saiam dali. O Troll vendo isso, deu seus primeiros passos em direção a Aku, ignorando as duas por completo.

— Isso mesmo! Sua batalha agora é comigo seu merda!!

A garota meio-humana ainda encarou nosso herói por um momento, parando. Parecia não querer deixá-lo ali sozinho para morrer, foi quando por um momento pôde notar o sorriso a qual Aku dava.

— Hahaha. Que merda está acontecendo…? Por que estou sorrindo? Será que perdi a cabeça de vez?

Aku está frente a frente com um verdadeiro monstro, já não era mais uma história a qual ele estava acostumado a ler em seu mundo. Agora era realidade, podia até mesmo sentir o cheiro da terra molhada, o frio das gotas da chuva, a briza suave, o cantar dos corvos e o ódio que a criatura emanava.

“Droga, porque sempre dou uma de herói nessas horas? Espero que com essa minha ajuda, elas tenham conseguido escapar.”

“Quer saber. Foda-se elas! E quanto a mim?! Eu que estou com um problemão agora!” 

Pensou ele enquanto o grande troll rugiu descontroladamente em sua direção, o que o pegou de surpresa. Sentiu seu corpo ficar pesado como uma rocha, ele agora estava sob efeito do rugido da criatura, seu corpo não podia se mover.

“Merda, minhas pernas não me respondem!”

— O que foi criança…? Não consegue se mexer? — disse o troll sorrindo.

“Pensa Aku, pensa... Está na cara que ele é um troll, ou seja, um monstro forte que resolve tudo com força bruta. Também me lembro de nos mangás eles serem lerdos e idiotas! Contando que eu corra, essa tartaruga não vai me pe–”

Seus pensamentos até então despreocupados, foram interrompidos bruscamente pela criatura, que se lançou contra ele com uma velocidade insana.

Aku não conseguiu notar quando ele se moveu. E quando se deu conta, já era acertado sem sequer chances de reação.

— Argh–

O impacto lateral da clava esmagou e quebrou ossos, já os espinhos perfuraram e rasgaram a pele. Ele foi lançado com um poder absurdo, se chocando contra uma árvore um pouco distante de onde estava.

O choque do impacto, a fez rachar se partindo e abrindo ao meio. Aku por sua vez caiu ao chão, já aparentava estar morto, se não fosse pelo fato de começar a tossir muito sangue de sua boca.

— Argh! Cof, cof, cof…

“Doi, doi, doi, doi!!”

Sua cabeça estava confusa, a dor era desnorteante. Não se movia, mas sentia seu braço esquerdo quebrado junto de algumas costelas, seu corpo adormecia o trazendo ainda mais desconforto. 

Sua visão ficava cada vez mais embaçada, sua cabeça sangrava, assim o sangue adentrava em seus olhos, impedindo-o de ver o que quer que estivesse à sua frente. 

Com muita dificuldade, encostou-se ao que sobrou da árvore. Não podia ver muito bem, mas notou a sombra borrada que vinha em sua direção.

“Merda… Dá um tempo seu desgraçado louco!” 

O troll agarrou sua perna e o lançou para o alto como se ele não fosse nada. Aku sentia seu corpo subir enquanto sua mente girava junto de sua visão, agora em queda livre, seus olhos se fechavam, perdendo a consciência. 

***

— Na floresta! Tem um troll na floresta!!

Gritou uma das garotas as quais já chegavam na vila. Alguns moradores correram até elas, a garoto com orelhas de gato por vez agarrou um dos homens lagarto pelo braço dizendo:

— Tem um de nós na floresta! Ele está lutando sozinho com um troll… Tem que ajudá-lo!!

— Um de nós? Mas já está todo mundo aqui! E os que faltavam, bem, estão mortos.

— Ajudem o garoto com a capa! Ajudem… ajudem ele.

Disse ela perdendo a consciência, a seguraram a deitando no chão. O homem por vez encarou a floresta adiante, e olhando os demais confusos, falou:

— Ainda tem um dos nossos na floresta! Ele, neste momento, está enfrentando um troll sozinho!! Devemos nos apressar e ajudar nosso benfeitor!!! Que a divindade dos Contos, nos observe nesta noiteeee!!!

— ÊÊHHHHHHH!!!

Os gritos se misturavam com os trovões no céu. Um raio com um som estridente rasgou as nuvens com seu brilho roxo, fazendo-o despertar.

“Hm? Onde… O que aconteceu?”

Percebe ele que já não chovia, embora a grande nuvem negra ainda cobrisse o céu, e alguns trovões e relâmpagos a colorisse com tons roxos quase incandescentes.

— Cof, cof–

Se engasga, novamente tossindo mais sangue. Toda a dor acumulada retornava ao seu corpo, tentando se levantar, quase escorrega de onde estava. 

— Opa.

Se agarrando em alguns galhos pode notar que estava pendurado na copa de uma grande árvore.

“Como vim parar aqui?”

Um baque repentino fez tudo tremer onde estava. Se agarrando onde podia, avistou o troll que chacoalhava a árvore freneticamente, rugindo em fúria.

— Desça daí e me enfrente como homem!!!

Aku não aguentando soltou o galho, caindo batendo seu corpo contra alguns galhos que seguravam sua queda.

Caindo assim no ombro do troll, o qual encarou ele com um sorriso assustador. Novamente segurando-o pela perna o lançando contra o chão, com o impacto esmagador Aku lançou sangue de sua boca.

O troll não satisfeito o chutou com tudo, lançando-o em uma outra árvore próxima. Que no impacto derrubou algumas mangas que se amassaram ao chão, um cheiro doce e gostoso se fez presente ali.

Aku agora não sentia mais nada em seu corpo, até mesmo sua respiração parecia confusa, e sua visão voltará a ficar borrada. Sua capa escorregou um pouco, mostrando assim seu rosto. 

Sangue começou a sair de sua boca, nariz e ouvidos, enquanto seu corpo começava a ter espasmos, lágrimas ensanguentadas escapavam de seus olhos.

“Eu… eu vou mesmo morrer aqui?”

O troll se aproximava lentamente dele, rindo como louco, não demorando a perceber que Aku era humano. O encarou por um instante enquanto um sorriso doentio tomou ainda mais seu semblante, seus olhos brilhavam encarando o garoto muito menor que ele.

— Hu-ma-no…? Que sorte grande a minha! Que Ártemis deusa da caça, continue me abençoando por toda essa noite esplêndida. Não fique com medo criança, eu não mordo, pelo menos não ainda… — disse lambendo os beiços.

O troll começou a salivar indo em direção a Aku, que se enchia ainda mais de pavor. Embora quisesse correr dali, seu corpo não se movia, nem sequer sua mente pensava em soluções para o tirar daquela situação desesperadora.

— Porque? Porque salvar aquelas meia-humanas? Você não é humano? Porque daria sua vida por monstros?

Aku permanecia em silêncio. O troll por vez parou, encarando o céu, esticando sua mão em direção a lua, a fechando em seguida em uma tentativa de agarrá-la.

— Um humano que se importa com monstros? Que... que... Nojento! — Volta a encará-lo. — Vocês são nojentos!! E ainda por cima querem os deuses todos para vocês! Ártemis é apenas de nos Trolls!!! Humanos insignificantes não merecem suas bênçãos, nem sua bondade… Em sacrifício a ela, vou retirar suas entranhas enquanto ainda está respirando!

Disse ele dando passos poderosos em sua direção. Aku encarou as nuvens, não podendo conter as lágrimas que escapavam dele, assim como sua vida.

“O céu… está triste hoje… Será o que houve?"

Continua...



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