Volume 1 – Arco 2
Capítulo 42: Retorno
Naquele dia após o almoço, Edmundo já estava pronto para retornar à capital do reino. Seu trenó estava na porta da casa com os suprimentos necessários para a viagem. Audaz preso às rédeas pulava eufórico de um lado para o outro brincando com Kaia enquanto esperava pelo seu dono que ali próximo se despedia do velho ferreiro.
— Você estava com febre, delirou a noite. Tem certeza de que quer ir hoje mesmo? Todo este esforço recente deve ter te desgastado — disse o Armeiro.
— Não foi febre, foi apenas um sonho.
— Sei, e com o que sonhou?
— Sonhei com a guerra — disse Edmundo um pouco hesitante. — Estava um pouco diferente, um pouco confuso, mas era a guerra.
— Na Baía das Morsas?
— Lá mesmo.
— Faz décadas, não sabia que ainda sonhava com isso.
— E eu não sonho, não sei explicar o que aconteceu. A propósito e a espada?
— Seria engraçado você partir sem ela — disse o Armeiro rindo e entregando o florete para Edmundo.
— Não muito — respondeu o sagaz apreciando a nova bainha que protegia todo o corpo da espada. — Eu não esperava por isso!
— Nem eu, vamos saque logo!
Edmundo segurou a lâmina verticalmente, a mão direita no punho da espada e a esquerda no corpo, gentilmente a forçou e após um clique sentiu o florete deslizar suavemente para fora de seu abrigo. Um fino brilho, porém, intenso percorria por toda a extensão da arma acompanhando seu fio até chegar a ponta. Magistralmente restaurada ela reluzia resgatando ecos de uma outra época, era um minúsculo fragmento de um insuperável momento épico ao qual o florete pertencia e tomava conta do ambiente.
— A maioria das armas são… apenas… armas, mas esta sem dúvida alguma é algo mais — disse o Armeiro orgulhoso de si.
— Ela não fará do espadachim alguém melhor ou mais habilidoso.
— Não, mas nas mãos da pessoa certa, tenho certeza de que ela poderá descer até o inferno, matar todos demônios e depois retornar com vida se assim desejar. — Edmundo o encarou surpreso e então sem jeito o Armeiro completou. — Ajudará muito a amiga do príncipe.
— Não tenho dúvidas. Agradeço muito pela ajuda velho amigo.
— Eu é que devo agradecer por trazer uma brisa de inspiração do passado para as mãos deste velho e cansado ferreiro.
Sentindo uma responsabilidade maior do que antes, uma forte sensação de urgência tomou conta do sagaz e assim ele partiu, deixando pai e filha que acenavam. Cada vez mais um breve ponto na neve enquanto o lobo arrastava seu trenó em direção de casa.