Lana – Uma Aventura de Fantasia Medieval Brasileira

Autor(a): Breno Dornelles Lima

Revisão: Matheus Esteves


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 4: Sonho

Era uma manhã fria que chovia insistentemente, um dia típico para continuar dormindo e aquecido numa cama confortável por debaixo das cobertas. No entanto, no campo de contenção as pessoas ficavam em seus alojamentos amontados uma as outras procurando por uma posição longe das intermináveis goteiras.

Nesse ponto Lana tinha uma certa vantagem em relação aos demais. Também havia goteiras no seu teto é verdade, mas o espaço era só seu.

A jovem passou a noite dormindo e o seu dia provavelmente não seria diferente. O ar carregado do cheiro característico de uma manhã fria entrava na solitária. Algumas gotas caíram no seu ombro e isso a incomodou. Lana ainda com muito sono virou-se tentando arrumar uma melhor posição longe da água gelada que gotejava do teto. Não tinha coberta ou manta, dormia em cima de uma cama improvisada com palha.

Lana virou-se novamente e sonhou.

Agora estava numa região florida. Caminhando por uma estradinha de terra, flores tingiam o cenário de vermelho. Ela não reconhecia a espécie, o que era raro, pois se considerava uma entendida no assunto.

Olhou para si mesma e percebeu que vestia um traje completo de espadachim. Calça branca, uma blusa de manga comprida de cor vermelha, botas e luvas negras. Um cinto prendia o florete a cintura. O copo, nome dado ao protetor de punho da arma, era ornamentado em ouro e reluzia magnificamente.

Ao longe avistou uma torre solitária, de súbito, a jovem lembrou-se de que estava atrasada para um importante compromisso naquele local. Pensou sem ao menos questionar do que se tratava, era uma certeza típica do mundo dos sonhos e isto bastava.

Lana contemplou de perto a torre feita de blocos de pedras verdes. Ao longo, espalhada desordenadamente, possuía várias sacadas com a base pontiaguda que simulava espinhos. Seguindo com os olhos a jovem percebeu o topo feito de algum tipo de pedra avermelhada que formava uma espécie de cúpula, como se fosse uma rosa a desabrochar.

Desceu novamente o olhar e viu uma pequena ponte vigiada por dois soldados. Em pouquíssimo tempo alcançou o local.

— Vim para a audiência! — anunciou Lana em voz imponente.

— Sua alteza aguarda por sua presença — respondeu um dos soldados prontamente ao liberar o acesso.

Um enorme estrondo fez-se ouvir quando a ponte levadiça desceu. Enquanto atravessava Lana avistou nas águas turvas do fosso estranhas imagens. Tudo muito confuso, as visões remetiam a uma jovem e indefesa lutando contra monstros apavorantes. Sua única forma de se defender era uma faca. A menina lhe encarava aflita como se suplicasse por ajuda.

Nesse momento uma mulher trajando um manto escuro se aproximou e lhe sussurrou no ouvido:

— Siga em frente. Afinal você não vai querer perder seu tempo com essa besteira? A rainha a espera.

— Sim. — Estremeceu Lana, pois por um segundo acreditava que estava vendo a própria imagem refletida na água.

Quando adentrou pelo portão do castelo tudo se transformou de forma surreal. Aquele palácio imenso, que agora aparecia a sua frente, não poderia caber dentro de uma torre. O local era branco, paredes cravejadas por cristais que refletiam e iluminavam o local. Tudo era claro, limpo e bonito.

A mulher se transformou numa espécie de sacerdotisa de trajes brancos. Soldados em volta utilizavam armaduras reluzentes. A frente um tapete branco com detalhes de flores douradas indicava o caminho para o trono.

Sentada logo adiante a rainha a esperava. “Rainha Helena! ” Lana pensou. “Minha mãe”. Esboçou um sorriso e seguiu orgulhosa, caminhando em passos firmes. No seu íntimo queria correr, pois tinha saudades, mas respeitava os protocolos, embora fosse sua mãe, ainda assim era sua soberana.

Próximo aos degraus do trono ela se ajoelhou e disse:

— Estou aqui, minha senhora!

— Lana, você está próxima de mim agora. Sua viagem está quase terminando, vejo que você não se alimenta há dias. Está fraca e deprimida. Logo nós estaremos juntas e seremos uma família unida novamente — disse a rainha apontando ao lado para um estranho trono que na verdade mais parecia com um caixão todo ornamentado.

— É tudo o que eu mais desejo — disse com a cabeça baixa, voz embargada e os olhos marejados.

A rainha esboçou um o sorriso de satisfação, tal como a sacerdotisa.

— Me permita fazer uma pergunta minha mãe? — disse Lana em tom respeitoso.

— Claro minha filha, pergunte o que desejar.

— Por que o trono de meu pai está vazio? O trono do rei — reparou a ruiva.

— Seu pai não está com a gente, mas chegará em breve também. Não se preocupe com isso, pois todos que vão para as guerras chegarão até nós. Seu pai também morrerá em breve!

— Não!

— O que disse? — perguntou a rainha em tom assustador.

Então a feição da garota que dormia um sono tranquilo se contorceu em medo. As gotas insistiam em molhá-la enquanto sofria pequenos espasmos com o sono conturbado.

Lana levantou-se. Deu um passo para trás, o salão tornou-se escuro e frio, os cristais das paredes agora refletiam num tom bordô, a rainha tinha um aspecto aterrorizante, a pele seca, a roupa toda rasgada, era uma bruxa.

— Ninguém escapa da morte! — decretou a mulher com voz aterradora.

Lana vacilou por um segundo, então virou-se e tratou de correr. Mas agora o fino tapete branco se transformou num caminho formado por pétalas negras. Seu pé afundava mais e mais naquele caminho, ela corria agora descalça, vestia um fino vestido branco. Na cintura uma fita branca mal prendia uma pequena faca.

Ela correu em direção à saída, mas no chão havia espinhos escondidos entre as pétalas. A cada passo furava seu pé e fazia com que Lana gritasse de dor.

Estranhamente o caminho de volta estava mais longo, e ao avistar a saída uma onda de esperança preencheu seu corpo ao mesmo tempo em que ela pisara num enorme espinho. O maior de todos. Perfurou seu pé esquerdo e ela caiu de dor. Os espinhos lhe machucavam por todo o corpo, o sangue escorria em abundância.

A luz no fim do túnel. A menina começou a rastejar. Todos em volta apenas observavam curiosos. Eram monstros.

A garota estava fraca, pálida, quase morta. Então à rainha em face esquelética se aproximou, puxou-a bruscamente pelos cabelos e disse:

— A morte é fria e solitária! Ela vem para todos! Onde está seu pai jovenzinha?

— Pai! — gritou Lana desesperada chutando a parede de madeira da cela numa reação involuntária do corpo.

A garota abriu os olhos. Estava suando e ao mesmo tempo molhada pelas gotas da chuva que invadiam o lugar. Seu pé estava dolorido. Passou a mão na sola esquerda e notou que sangrava um pouco, como se tivesse furado a pouco. Passou a mão na cintura, mas infelizmente a faca não estava lá.

Completamente confusa, Lana se esforçava a dar sentindo a tudo aquilo que lhe ocorrera.

Pouco tempo depois Aline seguia pelo corredor da solitária, aflita não pensou em encenação alguma. Estava mais preocupada em como iria convencer a prisioneira a lhe ceder seus preciosos fios de cabelo.

Com passos tímidos seguia em frente e incerta do que aconteceria. Fitou a porta por alguns instantes. Viu a pequena fresta e tremeu só de lembrar-se do contato anterior. Então relutantemente abaixou o rosto rente ao solo e preparou-se para anunciar sua presença. Limpou a garganta e abriu a boca. Mas antes que som algum saísse, ela arregalou os olhos. Foi surpreendida por uma voz de dentro da cela.

— Olá menininha! Eu estava esperando por você!



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