Lana – Uma Aventura de Fantasia Medieval Brasileira

Autor(a): Breno Dornelles Lima

Revisão: Matheus Esteves


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 11: Descanso

Naquela tarde, o monge Daniel tratou de cuidar dos ferimentos de Lana que desfalecia exaurida na frente dele e de Aline. Todo o esforço da fuga finalmente havia superado os limites da garota ruiva.

Enquanto isso Aline comia uma refeição também preparada pelo homem, isso sem tirar os olhos da amiga que permanecia inconsciente. A princípio ela relutou, mas acabou por contar que estavam há dias fugindo dos guardas, dormindo pouco e comendo somente o que encontravam ao alcance na mata.

Por fim já alimentada e em segurança, a menina adormeceu naquela tarde, ali no relento. Contudo seu sono não foi tranquilo, desde que elas fugiram do campo de concentração a garota não tinha uma noite de sossego, e qualquer barulho a despertava. Em uma semana adquiriu um senso de alerta que beirava a paranoia. Prova disso foi que mesmo em segurança, já alimentada e com o corpo necessitando de descanso a jovem se virava de um lado para o outro. Seu corpo pedia por descanso, mas a mente não desligava.

Por volta de dez horas da noite ela resolveu se levantar. Ainda abatida, olhou para o lado e viu que o monge havia improvisado uma pequena tenda. Lana dormia lá dentro em segurança.

Ela ouviu o crepitar de chamas e automaticamente seguiu em direção da fogueira no centro do minúsculo acampamento. Sentiu um cheiro convidativo preencher por completo as suas narinas, era de peixe frito e estava ali ao lado da fogueira cuidadosamente colocado em algum tipo de folha grande que servia de proteção ao alimento.  “O monge não poderia cozinhar tão bem.” Pensou. Logo seu estomago roncou. Talvez fosse a fome que fazia aquele peixe parecer incrivelmente interessante. Ela olhou para um lado, depois para o outro e não viu ninguém, somente o burrinho lhe fazia companhia. Assim sendo, ela fitou a comida por mais alguns breves segundos e então agarrou o peixe. Numa bocada ela levou quase tudo para dentro da boca, mastigava com gosto e satisfação. Deu até mesmo um breve suspiro e jogou os olhos para os céus quando sentiu o sabor da comida, e se desfez completamente relaxada numa expressão de prazer e satisfação. Era como se houvesse uma festa dentro da sua boca, nunca antes tão simples refeição lhe pareceu tão prazerosa.  Neste momento uma voz ao seu lado disse em tom cortês:

— Está gostoso?

Aline deu um pulo para o lado e quase engasgou com a comida.

— Sai assombração! — gritou a menina enquanto tossia e batia com a mão contra o peito. — Ah! É você monge! Quero que saiba que meu coraçãozinho de donzela é frágil, eu não posso ficar tomando sustos a todo instante! — disse enquanto seu rosto fazia um misto de careta e náusea.

— Eu estava aqui o tempo todo, minha jovem. Não tenho culpa se o peixe lhe tomou toda a atenção — disse o monge com tranquilidade sentado num tronco contra o fogo.

Aline sentou-se ao lado dele enquanto terminava de comer.

— Desculpe. Era seu o peixe?

— Não. Não como peixe, era para você — respondeu com um breve sorriso na face.

— Ainda bem, por que senão o senhor teria que ir pescar mais. Este eu não ia devolver de jeito nenhum! — falou de boca cheia.

— Senhor não, me chame apenas de monge.

— Está bem — balbuciou Aline enquanto notou uma jarra ao lado e sem fazer cerimonia tomou um logo gole de água.

Fez-se então um breve silêncio seguido de um som alto, o monge encarava as chamas enquanto a menina embaraçada tentava esconder sem sucesso um alto, sonoro e logo arroto.

— Estou impressionado — falou o monge.

— Desculpe! Eu não faço mais isso.

— Refiro-me àquela garota. Lana é o nome dela, correto? — falou o homem indiferente a falta de etiqueta de Aline.

A menina tomou fôlego e disse aliviada:

— Ah! Sim, ela é Lana e eu sou Aline, muito prazer! — disse fazendo reverência, curvando-se tal como uma nobre faz ao apresentar-se.

O monge nada disse. Estranhando o silêncio do homem, Aline arriscou:

— E qual o nome do monge?

— Daniel. Pode me chamar de monge Daniel.

— Que estranho — disse a menina.

— O que é estranho?

— O monge não é daqui, sei disso pelas suas feições, mas mesmo assim possui um nome que só é comum em nossa região.

— Fui batizado de Daniel há três anos quando aceitei a missão de atender os necessitados de seu país.

— Entendi — hesitou Aline por alguns segundos. — E qual o seu verdadeiro nome?

O monge levantou o olhar mordeu levemente os lábios, tomou fôlego e após essa breve pausa disse:

— Daniel.

— Não! Eu quero saber o seu nome de verdade! — insistiu Aline.

— Daniel é um nome de verdade. Não estou entendendo a sua pergunta.

— Eu quero saber o nome que seus pais deram para você! Não espera, vai que você é órfão. Eu quero saber o nome que as pessoas lhe chamavam antes de vir para cá — disse longa e pausadamente tentando achar mentalmente brechas na sua formulação.

— Quer saber o meu antigo nome, como me chamavam em minha terra? É isso?

— Sim! — disse a garota numa longa e sonora afirmação.

O monge levantou-se, virou o rosto para a esquerda, mordeu novamente os lábios. Então ajustou os óculos no rosto e permaneceu em silêncio.

Passaram alguns minutos, Aline já impaciente se preparava para repetir a pergunta quando foi interrompida com a desconcertante resposta do homem:

— Eu não me lembro.

— O que? — perguntou ela inconsolável.

— É tarde, está na hora de dormir — disse o monge em tom sóbrio.

Aline por sua vez parou e prestou atenção no homem que continuou a falar.

— Desta vez quero que descanse num sono tranquilo e sem interrupções. Não quero que se preocupe com perigo, barulhos ou ameaças. — O monge gesticulou e disse mais uma série de palavras, que a essa altura pareciam não terem mais importância pois ela sentiu-se sonolenta, e antes mesmo que pudesse entender o que estava acontecendo a jovem dormia tranquilamente.



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