Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 6: Fazendo uma Verificação

San dormia tranquilamente em sua cama, sem nenhuma preocupação. Ao abrir os olhos lentamente, percebeu um cheiro enchendo o quarto. Levantando-se e vestindo uma camiseta, caminhou até a cozinha.

Lá, Sarah, usando uma camiseta larga, andava de um lado ao outro, cuidando de panelas, cortando legumes e arrumando a mesa. Quando o viu, logo falou:

— Ah, por que acordou tão cedo?

— Já é quase meio-dia. — Confirmou, dando uma olhada no relógio.

— Sério? Perdi a hora.

Enquanto sentava na cadeira e coçava os olhos, espantando o sono, Sarah pôs dois pratos e os serviu. Ao ver o que era, San se surpreendeu: havia carnes, um bom arroz e ovos.

— Como? — perguntou incrédulo, vendo a mesa.

— Pensei em fazer algo legal.

— De onde tirou isso? Eu nem sabia que tinha tanta coisa na minha casa.

— Dei meu jeitinho.

— Caramba, vai ter que me ensinar a fazer isso.

Enquanto os dois saboreavam a boa comida, conversavam e riam. Compartilhavam algumas histórias e até marcaram de saírem novamente. Terminando, Sarah teve de ir embora. Desculpou-se por ter deixado uma bagunça na cozinha, mas San a tranquilizou, dizendo estar tudo bem, e se despediu.

Sozinho em seu apartamento, correu ao seu guarda-roupa e trocou de roupa. Colocou sua melhor camisa, a mesma calça usada na noite anterior, já que era a sua melhor, e um par de sapatos ganhos em uma troca por carne. Percebeu já ter passado um pouco do meio-dia e saiu às ruas.

Caminhando em um ritmo acelerado — nem tão lento, nem tão rápido para chamar muita atenção —, chegou ao centro da cidade, um lugar com muitas lojas e pedestres. Parou em um canto, concentrando-se ao máximo em todos os pedestres passando.

Percebendo que ficar parado não era a melhor ideia, começou a andar aleatoriamente pelas ruas, ocasionalmente encarando as vitrines, só para descobrir serem muito caras.

Pouco tempo depois, encontrou quem procurava: um jovem adulto com seus 18 anos.

Vestia uma camisa de marca, destacando sua constituição mediana, uma calça social e sapatos lustrados. Seus cabelos castanhos penteados para trás e nas suas costas, dois homens grandes e de aparência forte o seguiam.

— Alvo encontrado, confirmado para Simon. — A voz de Sacro, ouvida em alto e bom som.

Assustado, olhou ao redor e parou em um canto, sussurrou:

— Tá louco? Se descobrirem que tenho um relógio falante, vou ser assaltado na hora.

— Imaginei isso acontecendo, por isso fiz uma frequência para somente você conseguir ouvir.

— Tá zoando, né? É possível fazer um som que somente uma pessoa ouça?

— Demorei um tempo até ajustar os seus dados e é demorado, mas sim. É mais normal do que imagina.

Recuperando-se do susto, voltou sua atenção a Simon saindo de um restaurante. Estava de bom humor e andava sorrindo. Encontrado seu alvo, San o seguiu. Sempre atrás o suficiente, evitando ser percebido e nunca o perdendo de vista.

Em cada loja que Simon entrava, San o seguia, agia igual a um cliente e dispensava funcionários. Teve de fazer isso em joalherias, cabarés e restaurantes. Após 3 horas assim, entraram em uma loja de armas.

Do lado de fora, uma placa bonita com desenhos de espadas, arcos e vários outros tipos. Por dentro, era um lugar chique. Prateleiras com inúmeras armas de diversos tipos se espalhavam, desde espadas, arcos, facas, lanças, chicotes e muitas outras.

A loja era destinada a mutantes, suas ferramentas feitas de materiais melhores, já que era de conhecimento comum que a maioria dos monstros sofria ferimentos pequenos com armas normais.

Admirado por aquilo, San perdeu o foco por um momento; tudo ali era de qualidade excepcional, a única vez vendo um item semelhante era na casa de Eugene.

— Acho que você tem assuntos importantes a tratar, o alvo está se aproximando. — Sacro tentou alertar seu dono.

A voz do relógio o fez voltar à realidade. Simon ao seu lado, observando a mesma parede. “Sem nervosismo, duvido que eu tenha sido percebido.” Os dois olharam silenciosamente, e o que San menos queria aconteceu. Simon falou na sua direção.

— São lindas, né?

Aliviado por seu disfarce de simples cliente continuar, San falou:

— Sim, e poderosas.

— Pois é, adoro armas, fazer de tudo, defender, lutar, esbanjar e exibir.

— Esqueceu da parte em que são ótimas em matar — San falou, olhando pela primeira vez seus olhos verdes.

“Merda, eu realmente falei isso? Deve achar que sou um maluco.” Por incrível que pareça, Simon abriu um sorriso.

— Não esqueci, são feitas principalmente para matar, na verdade, é a melhor parte. Qual vai comprar?

— Há, eu ainda tô me decidindo, todas parecem tão boas.

— Nem me diga, vim aqui 4 vezes, e só agora escolhi qual pegar, quer ver?

“Já é arriscado eu ter me aproximado, melhor ir o longe, logo me esquece.”

— Foi mal, vou ir ver outros lugares e não sei se tenho tempo.

— Ah, para com isso, pessoas como nós, temos todo o tempo do mundo.

“Espera, ele acha que sou igual? Interessante, posso usar isso.”

— Você tá certo, qual escolheu?

Com um sorriso, os dois foram até o balcão, uma atendente bonita usando o uniforme vermelho da loja e um crachá em formato de espada escrito: “Nancy” os aguardava. Indo até a sala de trás, trouxe uma espada embainhada.

A bainha era de um marrom escuro com uma alça para prender ao cinto. O cabo era feito de um couro preto.

A moça deu a espada nas mãos do novo dono. A assegurando, puxou o cabo, revelando uma lâmina prateada, e com eles admirando a linda arma, explicou:

— O couro no cabo é feito de pele de lobo demoníaco, macio ao toque e desgasta devagar. A lâmina é retirada de um monstro de metal quase tão resistente quanto o metal Duranium, e afiada.

— Incrível! Duvido ter outra espada tão boa. Armas bestiais valem a pena.

Feitas de partes de corpos de monstros, as armas bestiais são as melhores para mutantes. São resistentes, fortes e, em alguns casos, possuem características do monstro.

— O quão perto de Duranium se compara? — perguntou San.

— Duranium é um metal extremamente difícil de achar e ser minerado. Mesmo sendo otimista, cerca de 50%.

Dando uma olhada na bainha, percebeu também ser cara, com pequenas linhas de ouro a rodeando. Um pouco curioso sobre, perguntou:

— E a bainha, do que é feita?

— De um material chamado kydex. Tem um certo grau de resistência, entretanto, não é o foco; é estético.

Prendendo ao cinto, Simon aproximou para pagar. San virou o rosto, preferia evitar ver quanto aquilo custava. Acabado, saíram da loja.

“Já deu, vamos nos separar aqui; logo volta ao normal.”

— Me desculpe por ter me apresentado tão tarde. Tava tão animado que esqueci completamente. Me chamo Simon Cardoso.

— Igual pra mim. Sou Max Alvares.

“É arriscado eu ter me aproximado tanto, revelar o nome seria burrice.” 

— Prazer, Max. Sabe, você parece ser um cara legal. Quer vir comigo testar a minha nova espada?

“Caraca! Cara estranho, simples assim? Deixa quieto, preciso ir, tenho que ter certeza que é uma pessoa ruim se pretendo o matar.”

— Adoraria, faz um tempo que quero ver uma arma bestial em ação.

Andando juntos, pareciam bons amigos, andavam calmamente e conversavam. Aproveitando a oportunidade do bom clima, San perguntou:

— E esses guarda-costas, são fortes?

— Eu acho. Meu pai os contratou com medo de alguém tentar me matar. Mas, sério, quem iria fazer isso? Nunca os vi em ação.

— Sabe, quando eu era novo, tentaram fazer isso comigo, porém, eu dava um jeito de fugir. Depois de tantas vezes, desistiram. — pensou em uma mentira na hora.

— Seus pais deixaram assim, sem punição?

— Até tentaram, me rebelei, assim deixaram quieto.

— Interessante…

Na sua caminhada, San continuou a contar mentiras, e Simon ficando cada vez mais interessado. Até chegarem nos portões da cidade, isso o calou.

Percebendo irem sair da cidade, ficou preocupado que um guarda o reconhecesse e arruinasse seu plano. Passando-os, permaneceu de cabeça baixa, sem contato visual ou ações que o denunciassem e, por sorte, deu certo. Na verdade, seus olhares foram nos seguranças atrás deles. “Faz sentido, devem achar que são dois mimadinhos saindo com seus guardas. Para ajudar, sempre que nos vemos, eu tô vestido pra caçar.”

Andaram pelo campo aberto por pouco tempo até chegar na floresta. Estava calmo, árvores altas balançando ao vento, os raios de sol eram repelidos pelas folhas. De vez em quando animais pequenos correndo aqui e ali.

— Corajoso da sua parte vir na floresta sem armadura nenhuma — falou San, olhando a reação dos seguranças.

— E você está incluso. Mas não precisamos nos preocupar, estamos próximo da cidade, nenhum monstro chega tão perto, e se ousar vir, somos todos mutantes aqui.

“Espera, todos? Os seguranças também? Complicou.”

Concentrando para agir normal, perguntou:

— E os seguranças, têm habilidades fortes?

— Mais ou menos, os dois têm uma habilidade incomum e comum. Inúteis comparado a mim.

“Você tem uma habilidade incomum. Será que a rara é tão forte assim?”

Simon, mandando darem um pouco de espaço, San falou sem rodeios:

— Deveria demiti-los então. Se são tão fracos assim.

— Já tentei, meu pai nega.

— Simon, a gente é mutante, temos dinheiro e poder, devemos tomar o controle das nossas vidas.

— É verdade, somos os maiorais, tô gostando do que fala.

Acabando, Simon desembainhou sua espada e a balançou, começando com movimentos simples, estocadas e cortes. Depois de familiarizar-se com o peso e o equilíbrio, acelerou, executando golpes rápidos. Seus principais alvos eram árvores, exibindo grandes marcas nos locais atingidos.

Fazendo o mesmo com pedras, cortou várias ao meio. “A lâmina é afiada, junto com suas habilidades físicas superiores, torna desumano isso.”

Adaptado ao ritmo, Simon chamou um dos seguranças. Um homem de grande estatura com um semblante sério, olhos afiados e usando roupas parecidas com o jovem. Sua constituição era robusta, e seus músculos prestes a rasgar a camisa a qualquer momento.

O segurança desembainhou o facão carregado na cintura e os dois começaram o treinamento. A troca de golpes era veloz, Simon se movia como determinado a vencer, enquanto o segurança mantinha uma expressão séria e impassível, como se não precisasse se esforçar.

Finalizando sem o vencedor decidido, Simon virou para San, nem ofegando, e perguntou:

— Fui bem?

— Melhor do que eu esperava.

— Vamos achar animais? Queria testar o que a lâmina faz com carne.

— Talvez, eu soube que tem sido difícil achar boas caçadas.

Andaram por um longo tempo e acharam somente animais pequenos que fugiam ao vê-los.

Na sua caminhada, San, ao ouvir sons de arbustos ou galhos quebrando, virava imediatamente e preparava para a luta. Mesmo odiando admitir, foi um pouco influenciado pela noite, e sendo a primeira vez saindo dos muros desde o incidente, estava nervoso, principalmente estando indefeso.

Voltando à cidade perto do anoitecer, os guardas não o viram de novo, e agradeceu por isso.

— Foi divertido — disse Simon.

— Sim, só a parte de ter dois caras nos seguindo a toda hora piorou um pouco.

— Nem me diga. Me despeço agora, aproveitando o clima agradável, me passa seu número? Adoraria repetir.

Trocaram os números e se despediram. Longe o suficiente, San deu um suspiro alto.

— Finalmente! Falar daquele jeito tava me matando. Tão certinho, parecido com um mauricinho.

— Ele é de uma família com muito dinheiro, deve ser normal falar assim no seu círculo social — falou Sacro.

— Quem se importa? É chato demais.

Superando isso, começou a correr até sua casa; por sorte, a distância era perto. Tirou as roupas boas e pegou suas piores: camiseta manchada de sangue, calça furada, tênis com um buraco e uma touca.

Saiu de casa e caminhou direto ao bairro pobre; foi fácil misturar-se entre os pobres, e por lá, esperou sentado por um longo tempo. 

***

A noite nos bairros pobres era difícil; pessoas lutavam por qualquer fonte de calor ou lugar para dormir, ainda tinham que se preocupar em ter suas poucas coisas assaltadas.

San, sentado em um canto de uma loja, rodeado por caixas de papelão e lixo. Alguns vagabundos tentaram incomodar; no entanto, vendo seu olhar sem medo, desistiam.

Tarde da noite, com fome e desistindo, se perguntava o porquê de ainda estar ali; só se vestiu tão mal por conta do rumor que soube de Simon gostar de ir nesses lugares e puxar briga.

Antes de desistir, escutou um som estranho nos becos, tentando o identificar, procurou o barulho.

Seguindo de onde vinha, teve de caminhar por um longo trajeto, passando por vários lugares. Os becos da cidade eram um labirinto; era fácil se perder e se esconder.

Chegando perto o suficiente do som, viu um homem no canto. San o reconheceu; era o segurança de Simon. Por sorte, conseguiu permanecer escondido entre as sombras, por isso, viu o que acontecia atrás dele.

Simon segurava sua espada, parado na frente de um mendigo ajoelhado. As roupas do mendigo eram trapos, e mesmo a distância dava para ver sua sujeira. Era um homem velho, suas costas dobradas indicavam ter trabalhado duramente na vida.

— P-por favor, eu imploro.

— Implora? Pelo quê? Não te obriguei a nada, veio por livre espontânea vontade, velho.

— Faço qualquer coisa.

— HÁ! O que um inútil poderia fazer? Só lamber minhas botas!

Sem piedade, Simon cravou a ponta da lâmina na coxa do homem, soltando um grito horrível.

— Por favor!

— Um pedaço inútil como você só infesta as ruas. Merece isso, e tem que estar no seu lugar, abaixo dos meus pés.

Levantando o pé, pisou nas mãos do homem. Segurando o grito na garganta, abriu um sorriso forçado misturado com lágrimas.

— Sim, o senhor está certo, me perdoe.

Abaixando a cabeça, beijou os pés do seu agressor. Simon gostava daquilo, exibia um sorriso sádico. Sem mostrar um pingo de remorso, cravou a ponta da lâmina de novo nele, e de novo e de novo. Sempre com um sorriso.



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