Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 45: O Perigo da Floresta na Cidade

Independente de ver, devido às pálpebras grudadas, o Caninospino permanecia em uma posição de ataque perfeita; em apenas um pulo, arrancaria a garganta do alvo.

San sentiu o corpo gelar. O primeiro instinto foi se afastar, sacar a espada e atacar. Quando moveu centímetros seu pé, o monstro rosnou e latiu freneticamente. A mensagem era clara: mova um pé sequer e morre.

Imóvel, considerava suas opções. Continuar assim seria burrice; uma hora ou outra seria morto. Utilizar suas habilidades necessitava de tempo, e havia pouco. A única restante era usar seu corpo cansado e machucado para pegar distância e atacar.

Infelizmente, antes de ter tempo de fazer seu movimento, o Caninospino pulou em direção à sua garganta, a mandíbula coberta de dentes o mataria e o máximo que faria é cair de costas no chão. Mudando o foco da sua visão, encarou o céu azul vazio de nuvens, amaldiçoando seu azar.

Esperando o abraço da morte, continuou parado. No entanto, nada disso veio, e sim um vento passando suas costas e um som de batida de corpos.

Erguendo a cabeça, deu de cara em Garmir e o Caninospino brigando, ambos rolando no chão e mordendo. Percebendo estar bem, levantou imediatamente e sacou sua cimitarra.

Desesperado, procurava qualquer jeito de interferir e acabar a luta, o problema era os dois monstros moverem a todo momento, uma hora um estando em cima e, em questão de segundos, invertendo.

San escolheu não atacar. Sua mente tava ruim, e o medo de acertar o companheiro e estragar tudo o dominou. Olhando seus arredores, tendo certeza de nenhum perigo aparecer e o pegar de surpresa.

Os dois enfrentavam com unhas e dentes, literalmente. Garmir era menor de tamanho e mais jovem, porém, seu adversário era de uma raça conhecida sendo fraca sozinha. Do lado oposto, um cão do inferno, famosos caçadores trabalhando diretamente a demônios.

Mordendo a pata de Garmir, o Caninospino achou já ter ganho e ia tentar arrancá-la. Nessa hora, teve o pescoço cravado por uma boca cheia de dentes. Em uma mordida, sangue escuro jorrou.

Suspirando de alívio, San correu ao familiar. Avaliando sua condição e estado, a maioria dos ferimentos consistia em arranhões pequenos, o pior sendo a pata, e mesmo assim, nem foi forte o suficiente.

Sorrindo, acariciou o companheiro e recebeu lambidas no rosto. O empurrando de leve, disse:

— Valeu por me ajudar. Cadê os outros?

Latindo animado e balançando o rabo, andou à loja. O seguindo, sentia a cabeça melhor, suportável a dor.

Chegando na frente da porta, tocou a maçaneta, e Garmir rosnou irritado. Vendo o estado do amigo, pensou: “Tem algo errado; entrou alguém?”

Prestes a ver o problema, escutou uma voz, não vinda da rua ou da loja, e sim na sua mente:

— Monstros… Entrar… Amigos fugir…

A voz era infantil, numa clara dificuldade em completar uma frase.

San olhou os lados, procurando quem entrou na sua mente.

— …Embaixo…

Virando a seu familiar, deu de cara com ele o encarando sério e a língua de fora. “Espera, foi ele? Sei que uma hora ia acontecer, vi a sua mãe falando, mas é meio cedo, e por que na minha mente?”

Afastando uns passos da porta, sussurrou ao companheiro:

— É você?

Recebendo de resposta um balançar de cabeça, surpreendeu-se. Mudando o foco, considerou as palavras ditas. “Um monstro entrou, Leo pegou as garotas e fugiu.”

— Sabe onde foram?

Balançando a cabeça em negativo, falou:

— Amigo falar… Ir atrás de companheiro…

“Leo deve ter ficado preocupado, então fez Garmir vir atrás de mim. Sorte a minha.” Saindo de perto da loja, escolheu mudar de lugar. Não tinha motivos de arriscar enfrentar um perigo desnecessário e quieto.

— Ideias?

Garmir o olhou confuso. 

“Com a cidade desse jeito, os guardas junto aos policiais devem ter uma área para deixar as pessoas. Ainda tem os bankers na cidade, entretanto, ia ser complicado.”

Desconhecendo da sua localização, decidiu ir à base dos mercenários; lá era repleto de mutantes, teriam força de defender.

Caminhando um tempo, mantinha sua guarda sempre alta. A qualquer hora, poderia ser emboscado; até o céu tornou perigoso, ocasionalmente via pássaros enormes voando.

Subitamente, a terra começou a tremer. “Veridiam não tem terremotos.” Em um pensamento, correu a uma casa aleatória. Pegando velocidade, chocou contra a porta a arrombando e Garmir veio em seguida.

Fechando a porta em um instante, pôs a cabeça na janela e observou a rua; em segundos, viu o culpado.

Um monstro do tamanho de uma casa andava a passos largos. Sua aparência assemelhava a uma tartaruga, adicionando chifres grandes na cabeça e olhos iguais a de um felino.

Nas suas costas, um homem sentava, Mark, o líder e homem réptil dos monstros. Coberto por um manto e ataduras, olhava a frente corajoso. Atrás dele, uma horda de monstros de diversos tipos o acompanhava.

De olhos arregalados, San encarou tudo espantado, nervosismo tomando conta e tremendo, se avistado, morreria facilmente. Sob tanta pressão, notou aonde iam.

“Merda! Suas hordas estão marchando ao centro da cidade. Lá podem dividir o exército.” Em longos minutos de apreensão, foram embora.

Deitou no chão e relaxou; só preferia continuar assim, no entanto, em uma cidade sendo atacada, paz e descanso é a última coisa que terá.

Antes, seus sentidos focavam somente lá fora, e por isso ignorou o cheiro forte, um que San conhecia bem, sangue.

Mandando Garmir ficar, desembainhou a cimitarra e andou lentamente no corredor de madeira. A cada passo, o fedor só piorava e a escuridão da casa aumentava.

Achando uma entrada no cômodo, pôs a cabeça espiando. Nesse momento, teve de suprimir a vontade de vomitar. Seja teto, paredes, balcão ou chão, sangue espalhava.

No chão, o que um dia já foi duas pessoas, estava jogado, os membros faltando, a barriga aberta e o restante dos rostos, puro medo e pavor. De costas, um monstro alimentava animadamente das carcaças.

Seu corpo assemelhava-se ao de um humano, usava um manto branco; era só isso que San podia ver. Engolindo em seco, queria sair dali; porém, vendo o que sobrou dessa gente, ia dar um fim na besta, ao menos mataria uma besta horrível dessas.

Aproveitando estar escondido, aproximou-se lentamente, tentando evitar fazer barulho. A poucos passos, levantou a espada o máximo possível e abaixou, usando toda sua força, mirando na base do pescoço.

Prestes a tocar sua pele, o monstro, em uma velocidade surpreendente, se jogou a frente, desviando sem ferimento algum. Virando-se, San viu a parte da frente.




Encarando o culpado de atrapalhar seu alimento, abriu um sorriso assustador. Nessa hora, o relógio no pulso de San apertou bastante; ignorando por enquanto, prestou atenção somente na sua frente e partiu pra cima velozmente.

A cozinha era grande, então havia espaço suficiente para o atacar, mirando no peito, a lâmina ia certeira. Igual da última vez, a centímetros de acertá-lo, desviou no último segundo.

Parando no canto da cozinha, observava o humano em uma fascinação. Perdendo em velocidade, San apontou a cimitarra e deu passos atrás, e a cada movimento, o monstro vinha, mantendo a distância de sempre.

No corredor, prosseguiu sendo escoltado. Quando entrou na sala bagunçada, móveis jogados de um lado e quebrados, esperou no vão da porta. Cuidando sua audição, passos leves.

No primeiro vislumbre do corpo do monstro, cortou horizontalmente, mirando diretamente na garganta. Como um contorcionista, dobrou as costas para trás, quase tocando o chão, e passou no meio da sala correndo.

Assustado tanto por essa cena quanto não saber o que fazer, desesperou-se um levemente; todas as suas ideias têm dado errado, e tinha medo de usar seu poder e só gastar essência.

De repente escutou a voz de Sacro:

— Você tem pouco tempo, vá até uma janela, rápido!

Nem questionando, escolheu uma aleatória de cortinas cobrindo e correu. Nesse momento, a besta fez seu movimento. Abrindo o manto, revelou uma escuridão Ilimitada; de lá, saíram sombras em forma de tentáculos.

Todos se moveram em alta velocidade, visando sua nova presa. San usou seus movimentos da dança da serpente os repelindo, cortando sem exceção vindo na sua direção.

Dois, cinco, oito. O número só aumentava, enquanto cortava, ficava mais difícil, seu corpo já machucado só piorava. Focando nas palavras de Sacro, correu a janela. Quase alcançando, a centímetros de tocar, teve seu pé agarrado.

Caindo no chão de queixo, tentou levantar, mas a cada segundo, era agarrado. Virando a cabeça, tentáculos o assegurava, animados para o levar nas sombras infinitas do monstro.

Sua única esperança sendo a janela tampada de cortinas, hesitando, apontou o dedo em frente e atirou usando seu poder.

Acertando em cheio o suporte, derrubou a cortina, deixando a luz do sol entrar na casa. Ao encostar nos tentáculos, queimaram em segundos, libertando o prisoneiro.

De pé, viu o monstro fugindo da luz. Com uma ideia rápida, deixou a espada jogada no chão e correu a ele, coberto pelo sol; nem uma das sombras o encostou. Jogando-se ao chão, derrapou até o passar e ficar nas suas costas.

Livre da cobertura do sol, as sombras ganharam vida novamente, prestes a prendê-lo; se concentrando ao máximo, usou seu poder. Estendendo as duas mãos, uma força invisível empurrou o monstro contra a janela.

Sequer considerando descansar, levantou imediatamente, querendo ver o estado do monstro e o impedir de tentar entrar novamente.

Faltando um metro a chegar, um grito ecoou; certeza não ser humano. Uma fumaça subiu e logo desapareceu. Hesitante, pôs a cabeça pra fora e viu estar vazio de vestígios.

— Que merda foi essa?

— Um tipo de monstro que ataca das sombras.

— Isso eu já percebi!

— Umbragor, é seu nome. Tem sorte, esse era jovem; pra melhorar, estamos no meio do dia, reduzindo suas habilidades.

— Sorte? E o que seria azar?

— Os adultos, nem um corpo de carne tem. São pura escuridão; suas vítimas morrem e nem sabem. Parte da culpa de tantas pessoas terem medo de sair dos muros na noite é deles; ficaram famosos em lugares hostis.

O cheiro de sangue continuava, a casa era perigosa. Pegando a espada no chão, voltou aonde Garmir ficou.

— Eu… Devia… ajudar?

— Nem, se te pegasse, ia ter sido problemático. Fez bem, se eu precisasse de ajuda ia ter gritado. Tá tudo de boa?

— Perigo… Passar.

Abrindo a porta, voltaram pra rua, procurando um lugar seguro. “A base dos mercenários vai tá uma bagunça, principalmente depois do exército.” Decidiram caminhar aleatoriamente, torcendo encontrar alguém ou algo.

Sem muita esperança, seguiram em frente, monstros vindo e ferimentos surgindo, assim, continuaram. San e Garmir melhorando seu trabalho em equipe, já distinguiam qual seria o melhor oponente ou quando necessitava de ajuda.

Cortando a lança ao meio, foi em frente e perfurou o peito de um sapo do tamanho humanoide. Guardando a lâmina, virou e viu Garmir morder e arrancar parte do rosto do seu.

“Aleluia, esses bichos eram estranhos.” Enquanto pensava, seu parceiro levantou a cabeça de repente. Percebendo a esquisitice, San perguntou:

— Algum problema?

Ficando quieto, suas orelhas estavam de pé, olhando os lados e cheirando o ar.

— Humanos… Perto… Garotas… também.

Animado de ter uma pista, e vivos ao invés de mortos, respondeu:

— Monstra o caminho.

Correndo animados, passaram casas pegando fogo, e cadáver de monstros mortos. “Leo sozinho seria incapaz de os derrotar sozinho; deve ter companheiros.”

Passando a última rua, virando a esquina, os achou. Andavam junto a um pequeno grupo, que pelas armaduras e modo de caminhar, San presumiu serem mutantes.

Leo e suas irmãs iam ao fundo, os rostos tensos. Abaixo do amigo, podia ver que a mão piorou. Independente do pano a cobrindo, pingava sangue incessantemente.

Tinha machucados no resto do corpo, de mordidas a cortes. O que chamou atenção foi ele olhando mortalmente pra frente. Acompanhando o olhar, San cerrou os punhos.

Em uma armadura pesada e um machado com a lâmina extremamente afiada, um homem grande seguia em frente, exibindo um sorriso confiante. Gus liderava o pequeno grupo.

San Escondeu-se atrás de uma casa, os observando, esforçando bastante para se conter e não ir em frente e o matar.

— Devem agradecer de eu estar aqui, morreriam facilmente. — Gus se gabava sorrindo.

— V-verdade, bom que temos o senhor. Onde é o lugar seguro mesmo? — Um homem atrás perguntou enquanto gaguejava.

— Estamos perto, sei o que estou fazendo. Sou quase um rank B.

— Quase? Você parece meio velho, por que ainda está nesse rank? — Leo, sem assegurar, falou.

Estalando a língua, respondeu de dentes cerrados:

— Por conta de um incidente com um mercenário, vai demorar um tempo.

Quando Leo ia falar outra coisa, percebeu num canto uma sombra os vendo. Achando que poderia ser um monstro, ia avisar o grupo, mas reconheceu a silhueta familiar.

Notando o companheiro, pensou: “Amigo serve pra ajudar um ao outro, principalmente em vinganças.”



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