Volume 1
Capítulo 18: Por Que Não Ajudar um Monstro?
O Hobgoblin tinha facas iguais à dos seus parceiros anteriores; seu corpo era alto comparado aos antecessores, chegando no queixo de San, e o encarava de olhos animados.
“Por que o maldito tá aqui? Eu só matei alguns goblins.” A espada já preparada, apontou na sua direção.
San atacou primeiro, sabia que esses monstros eram ágeis, e acabar rápido era o melhor. Ao fazer o corte vertical, mirando na barriga, foi desviado facilmente.
O monstro usou sua velocidade e avançou com as facas em mãos. Repelindo uma, estava prestes a contra-atacar quando uma segunda veio na direção do seu olho.
Jogando a cabeça pra trás, não conseguiu evitar a perda de equilíbrio e caiu no chão. Mal tendo tempo de se recuperar, outro ataque vinha, mirando no peito.
San rolou, deixando a faca acertar o resto do manto. Tentando levantar, era atacado e jogado no chão. Isso continuou por alguns metros; ao se ajeitar, era derrubado.
Algumas vezes teve o corpo cortado; defender deitado era difícil. Cansado, ergueu o dedo e disparou uma bala de energia. Indo tão ágil que o monstro nem notou, o hobgoblin teve a barriga acertada e afastou.
Recompondo-se, o encarava irritado; passou mais no chão do que de pé desde o início da luta. Partindo pra cima, deu um golpe forte na vertical. Foi defendida por pouco, levantando as facas na hora.
Sem descanso, ergueu um dos pés e chutou no ferimento da barriga. Grunhindo de dor, afastou o máximo. Olhou seu ferimento e se assustou; sangue escuro pingava na grama.
Levantando a cabeça de novo, ficou surpreso de descobrir uma lâmina vindo na sua direção. Erguendo as facas, protegeu o peito de ser cortado. Quando o fez, uma quebrou; a outra rachou.
Um dos lados era uma espada bestial, a do oponente, um par de facas de metal velho e fraco; era óbvio o vencedor. O Hobgoblin, percebendo também, jogou sua arma no inimigo.
Seus olhos já acostumados a objetos velozes, cortou o ar. Voltando seu olhar ao monstro, fugia pelas árvores. A noite se aproximava e seu corpo cansado, levantou o dedo e disparou sua bala de energia.
O tiro adentrou na mata e acertou as costas do monstro, derrubando-o. Soltando um suspiro cansado, abriu o alçapão no chão e entrou.
A base era igual às anteriores, pequena, uma cama e as paredes feitas de terra. Sentando-se no chão, tirou a armadura e analisou os ferimentos no corpo; sua armadura amenizou do pior, por causa disso tava péssima. Arranhões, cortes e vários rasgos. Iria virar inútil rapidamente.
Deitando na cama, encarou o teto; havia sido dias longos e precisava aguentar tudo isso na ida e volta, quem sabe como ficaria no fim.
Pegando no sono, nem percebendo, dormiu tranquilamente.
***
Na mesma sala da última vez, duas crianças sentaram no tapete; o garoto lia um livro de fantasia e a garota brincava de boneca.
Os dois estavam felizes, diferente da vez anterior, ao invés de uma tempestade, era um dia quente com um sol no céu limpo. Os dois não se incomodaram ou brigaram, raro de acontecer.
Pra atrapalhar a tranquilidade, escutaram vozes do quarto, uma discussão; as duas crianças ignoraram, essa era só uma de muitas já ouvidas. No entanto, diferente das outras vezes, falavam muito alto; sempre tentavam discutir baixo e funcionava. Mas daquela vez, dava para ouvir, pedaços, o suficiente para até crianças entenderem.
— … Só pode tá louco… — Ouviu uma voz feminina.
— … Pensa, o que acontecerá se a descobrirem, estão perto… — Dessa vez masculino.
O resto foi cortado; logo puderam ouvir de novo.
— … Você é o pai dela, como consegue propor isso?
— … Justamente por isso, to fazendo por amor.
Só conseguiam compreender palavras sem sentido, o suficiente para saber que aconteceria alguma coisa. Cansados da briga, a garota tampou os ouvidos; odiava discussões.
Mesmo se o jovem quisesse ouvir, curioso do porquê da discussão, escolheu ajudar a irmã; caminhou até o canto da sala e sentou no banquinho à frente do piano.
Desajeitado, começou a tocar. Tentou imitar a mãe nas melodias; desajeitado, conseguia, e assim, a sala encheu de uma música alegre, errando em partes de ocasionalmente, independente, estavam alegres.
Um tempo depois, a mãe entrou; diferente da expressão animada do normal, tava com um rosto derrotado, abatido. Seus cabelos vermelhos bagunçados e os olhos cansados. Ao ver os dois, era como se o cansaço sumisse, e abriu um sorriso enorme.
— O que meus bebês estão fazendo?
***
Acordando lentamente, percebeu estar segurando o colar. “Quando achei que não teria mais esses sonhos, aparecem no pior momento.” Trocou os curativos necessários e comeu uma maçã guardada. Saindo ao ar fresco, era um dia cheio de nuvens e neblina espessa.
Ver longe era impossível; as árvores ficavam escondidas e a luz é fraca. “Sinistro, é melhor eu ficar na base hoje.” San ficou cauteloso, em um lugar completamente desconhecido, onde a qualquer hora, podia ser atacado; pessoas sãs permaneceriam seguras.
Havia passado, no total, cinco dias desde o começo da sua viagem; conseguiu encurtar a distância pegando atalhos e se arriscando, sua ansiedade em acabar logo motivou bastante.
Umas horas de caminhada e estaria na localização das flores; depois de as pegar teria de fazer todo o caminho de volta e esperar Floki o buscar. Por se adiantar, daria pra treinar sozinho.
Prestes a entrar de volta, um vulto passou correndo na neblina. Com a mão no cabo da arma, se quisesse, poderia entrar e esconder, mas tava receoso de algo surgir e tentar arrombar a entrada.
A passos calmos, caminhou calmamente pela mata; a floresta permanecia calma, sem um único indício de monstro ou perigo, somente animais aparecendo, como se aquela parte da floresta fosse separada do resto.
Olhando os lados, avistou pegadas; as analisando cuidadosamente, deduziu ser de um javali, da profundidade e sinal de garras. “Ultimamente só tenho comido barra de proteínas, frutas e carne de animal pequeno; seria bom ter uma comida decente.”
Superando o medo da neblina, seguiu o rastro. Andou cuidando das pegadas e indícios da localização do animal. Em um momento, achou ter perdido o caminho por causa da neblina; porém, logo pisou em fezes e se localizou.
Encontrando o animal, grande e um par de presas ao redor da boca, comia um pedaço de carcaça, permanecendo de costas. San esgueirou nos arbustos, escondeu e observou. Por um segundo, esqueceu do seu redor, lembrando das caças normais e só concentrou na presa à sua frente.
Atrás de uma árvore, concentrou a essência no seu dedo e se preparou, criando a esfera de energia azul; atirou quando o javali levantou a cabeça. O projétil, rápido e certeiro, cravou diretamente na cabeça. “Minha mira tá melhorando”, pensou comemorando.
Aproximando do corpo, tirou uma faca do cinto e preparou para retirar a carne. Arrancando uma parte fina, ouviu um barulho das suas costas, e lembrou onde estava.
Com a faca na sua mão, a preparou para o ataque; ao virar, viu o culpado pelo som, o encarando ferozmente e chamas ao seu redor.
O corpo de San arrepiou, dizendo fugir imediatamente; a única vez se sentindo assim, foi passando a noite ao ar livre.
O cachorro o encarava, atento aos mínimos movimentos e respiração. A passos lentos, aproximou até chegar bem perto. San teve seu corpo paralisado, o medo dominando.
Tão próximos que se sacasse a espada, teria o rosto devorado antes de conseguir. Pondo um pé atrás, o cão rosnou alto. “Merda! É assim que vou morrer?”
— Saia dai, sem movimentos apressados. — falou Sacro o mais baixo possível.
Dando o primeiro passo, ouviu:
— Se mova, e morre. — Uma voz feminina saiu do monstro.
Se San já tava assustado, escutando a voz alcançou outro nível. Monstros falantes eram raros e extremamente perigosos, com a capacidade de pensar logicamente e bolarem planos. Reunindo a coragem, falou:
— S-sim, madame.
— Você está machucado, sinto cheiro de sangue.
— Enfrentei um Hobgoblin a umas horas daqui, me machuquei levemente.
— Se está ferido, tem bandagens, sabe usá-las?
Sua mente funcionando no automático, só respondeu:
— Sei, tenho comigo um pouco.
— Tomara que tenha o suficiente, sua vida depende disso — virando de costas caminhou em uma trilha de terra — me siga.
Por um momento, considerou virar e correr com toda a sua força, ou dar um tiro, até pensou em subir numa árvore. No fim escolheu a seguir, fugir seria suicídio. “Minha vida depende de saber usar bandagens, então tem chance de sobreviver?”
Enquanto andava, observava o fogo ao redor da cadela. Tocava nas árvores, mas não queimava nada, só iluminava ao seu redor. A seguindo por trinta minutos, chegaram em uma clareira.
Era grande e em cada pedaço de grama, flores roxas brilhantes se espalhavam, bem as que procurava. No meio, um tipo de ninho formado, o chão repleto de peles animais e troncos servindo de parede.
Distraído com tamanha quantidade de flor estelar, parou as olhando, eram mais bonitas que as fotos vistas, e mesmo de dia e a neblina alta, emanavam um brilho roxo suave.
A monstra caminhou até o meio, quando San a seguiu, viu o que permanecia deitado, e surpreendeu. Um filhote enrolado nas peles, tinha um corte no peito, sangue saía e seus olhos escuros perdiam o brilho.
— Salve-o, use os produtos dos humanos.
Engolindo em seco, se aproximou. A condição do pequeno era péssima, sua respiração tremula e o sangue cobria a sua casa.
— Se ele morrer, você vai junto.
“Nem um pouco de pressão.” Tentando ao máximo superar qualquer distração ou medo, tirou a mochila e colocou ao seu lado.
O primeiro a fazer: usar um spray para evitar infectar; o pequeno soltou um grito. A mãe, ao lado, olhava tudo com olhos de falcão. Hesitante, tomou coragem e perguntou:
— Como se machucou?
— pra que saber? Só faça logo.
— Preciso saber se era arma ou outra coisa. Algumas têm veneno ou causam ferimentos diferentes. É difícil ver devido ao sangue na frente.
— Garras, limpas de veneno. — respondeu facilmente.
Parando para pensar, San teve de considerar os seus passos. O sangue saía rápido, e a ferida era profunda. Sua vida dependia disso, mesmo assim, escolheu arriscar.
Sacando uma das suas facas, a cadela monstro rosnou e o ar ao redor esquentou.
— Aqueça a lâmina da faca. Sei que tem controle de fogo, e parece ser boa, já que consegue fazê-lo ir em árvores sem causar um incêndio.
— Por quê?
— A ferida é profunda; tem de ser assim.
Cedendo ao pedido, a faca aqueceu subitamente, a lâmina ficou em um vermelho vivo.
Suando ao ponto de pingos caírem, concentrou ao máximo em não errar, tocou a faca no peito do filhote. Soltando um grito enorme, pássaros voaram longe, e a mãe desviou o olhar.
O filhote desmaiou, deixando tudo fácil. A ferida já estancada, tirou da mochila um kit de costura com os equipamentos necessários em dar ponto e, lentamente, tirando os pelos da frente, deu os pontos em cada ferida. Por fim, tapou usando gazes e bandagens.
Por último, só para ter certeza, levou o ouvido ao focinho e ouviu uma respiração lenta.
— Tá feito; nos próximos dias, cuida se vai infeccionar.
Concordando com a cabeça, acalmou-se e disse:
— Agradeço imensamente sua ajuda, mas ainda necessito de você.
— Para?
— Ele está fraco. Como disse, é preciso cuidar e ver se vai infeccionar, e acredito que deva trocar esses panos no peito. Quero que fique e o cuide.
Concentrando em ser respeitoso, falou:
— É uma honra. Infelizmente, tenho alguns compromissos; eu realmente devo os fazer.
— Quais seriam?
“Devo dizer que pretendo pegar as flores? Bem, eu salvei a vida do filhote dela e fiz tudo certo até agora, devo ficar bem.”
— Sabe, eu queria pegar um punhado dessas flores roxas.
Considerando, levantou a cabeça orgulhosamente e respondeu:
— As mais próximas ficam a quilômetros. Recolhi todas e juntei aqui. Nada sai sem minha permissão. Fique e cuide do meu filhote; então, te darei umas.
— Isso seria ótimo, mas deve demorar para seu filhote se curar. Tenho de voltar a um determinado lugar se quiser voltar em casa. Senão, terei que ir a pé, e sabe bem que a noite é difícil.
— Vamo deixar assim: fica, e te levo pessoalmente ao seu objetivo. Posso te levar até na cidade se preferir.
Antes de San poder dar outra desculpa ou argumentar, sentiu o relógio no seu pulso apertando sozinho. Considerando isso um sinal, escolheu ficar, claro, fingindo ser escolha dele.
— Se é assim, é claro que ficarei. Como poderia deixar um filhote desse ferido? Conte comigo.
Fazendo o que deveria ser um sorriso, disse:
— Agradeço muito; me chamo Mavara.