Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 1: Dia Difícil

Árvores grandes se espalhavam até onde a visão conseguisse. Eram de um marrom vivo e suas folhas balançavam ao vento. Pássaros cantavam em um som baixo, e animais andavam procurando comida.

Entre arbustos, um jovem corria, esperando despistar o que o perseguia. Tinha uma besta, uma bolsa nas costas e, preso na cintura, um cinto com facas de arremesso. Seus cabelos curtos estavam sujos de barro e rosto maquiado pela sujeira.

Ao saber que não aguentaria por muito tempo, avistou um tronco grande e escondeu-se atrás. Tentou ao máximo se acalmar e recuperar o fôlego. Enquanto fazia isso, percebeu algo estranho: a floresta tava silenciosa, silenciosa demais. “Eu o despistei?”, pensou. E logo um som alto começou, passos. Não de um humano capaz de fazer na grama, esses eram pesados, e se aproximavam.

San esperou, a todo momento o som chegava mais perto. Cedendo à curiosidade, espiou por trás da árvore e percebeu ser uma ideia ruim. Um gigante de três metros de altura o encarava. Usava somente uma tanga, sua cabeça era careca e na sua mão direita, segurava um pedaço de tronco.

Por um momento, considerou lutar, porém, descartou a ideia imediatamente; nem as suas facas, nem a besta dariam conta do monstro. Então, fazendo a única coisa lógica, correu.

Durante sua perseguição, tropeçou várias vezes; as suas armas pesavam cada vez mais e seus pulmões logo não aguentariam. Contudo, ao longe, conseguiu ver uma rocha enorme; passando por ela, se lembrou de algo importante. Havia uma falha passando do meio ao outro lado, o problema era ser apertada.

Odiando esse plano, e forçando sua mente a pensar em outro jeito, deu uma olhada rápida por cima do ombro e viu o monstro destruindo árvores e tudo à sua frente, em segundos seria trucidado pelo tronco. Após esgotar suas ideias, superou o medo e se jogou na falha.

Se apertando contra as rochas, raspava os braços nas pontas afiadas ao redor e chutava pedregulhos. “Acho que nunca agradeci tanto por ter um corpo magro”, pensou.

Olhando seu único caminho, uma linha reta com pedras pontudas, sentiu o redor tremer; pedaços de pedras caíram, por sorte só pegou de raspão. Virando a cabeça, o gigante se batia raivosamente contra a rocha, tentando de todo o jeito abri-la, mas de nada adiantou.

Após um tempo, as batidas cessaram, e San torceu para nenhum dos seus equipamentos prender ao redor, ou pior, o gigante saber o fim da falha.

Saindo do outro lado e vendo estar bem, caminhou por um tempo. Sabia de cor do caminho, logo, encontrou um rio. Era grande e sua correnteza era fraca.

Agachando-se no lado, tirou a sujeira do seu corpo. Primeiro foi o cabelo, era curto, então foi rápido, tirou a sujeira e deixou o cabelo curto com poucas manchas de terra. Depois o rosto, revelando olhos azuis fortes e uma pequena cicatriz abaixo do olho direito. Após acabar, decidiu já ter explorado bastante pelo dia, era hora de voltar.

Demorou uma hora; contudo, conseguiu chegar nos portões. A cidade inteira era coberta por muros feitos de pedra; responsáveis por proteger os humanos dentro, dos monstros de fora. Só os portões eram insuficientes, por isso guardas, armados e treinados permaneciam na frente.

Passando os portões, cumprimentou alguns e até tentou puxar saco de outros. Os ultrapassando, foi até a rua das barracas. Um lugar onde se enchiam de vendedores e pessoas ingênuas, comprando bobagens e negociando.

Escondidos em cantos escuros, podia-se ver jovens; esperavam uma oportunidade de assaltar uma das barracas, o que era até fácil, pois os vendedores na maioria das vezes ficavam distraídos por causa dos clientes. Porém, se um ladrão fosse pego, haveria consequências horríveis.

Com certa dificuldade, passou pelos apelos de gente dizendo ter relíquias do passado e crianças esperando o assaltar. Finalmente, chegou ao seu objetivo, uma loja e uma placa escrita: “Casa das Carnes.” Por dentro, um lugar grande e frio, vitrines exibindo carnes. O atendente o viu e ignorou, continuando a atender o casal.

San passou por uma porta, o levando para a parte de trás. Os funcionários permaneceram quietos, já acostumados às suas visitas.

A sala era grande, ganchos se espalhavam com a pele de animais e o frio reinava. Em uma mesa de corte, um homem de corpo magro e braços fortes, cortava a carne usando um cutelo; vestindo um avental branco manchado de sangue e uma touca branca, tirou as entranhas, depois a pele, após isso cortou a carne em partes. San esperou pacientemente, observando-o.

Quando acabou, jogou os pedaços descartáveis no lixo e disse:

— Ajudante, vem.

Um garoto de 15 anos apareceu; permaneceu no canto observando e vestindo a mesma roupa do homem. Pegou a carne e levou-a outra sala. San finalmente viu o rosto do homem de 30 anos, seu cabelo era curto, e mesmo o rosto cansado, abriu um sorriso e disse:

— San, já faz um tempo, pensei que havia parado de caçar.

— Tava resolvendo uns problemas, mas tô de volta, Jay.

— Bom, o que me trouxe?

Mexendo em sua bolsa, tirou vários esquilos e outros animais pequenos. Todos colocados na mesa — Um diferente — Jay analisou os corpos, o jeito que morreram, outras feridas e indícios de doenças.

— Achei que me traria algo melhor. Da última vez a nos falarmos, você disse estar pensando em ir em uma uma nova área.

— Fui, e é um lugar ótimo. Tem uns animais deliciosos, uma paisagem linda, frutas saborosas e um gigante tem uma base por lá.

Sem mostrar interesse, conferiu os corpos por um tempo e disse:

— Posso te dar 30 créditos.

— Quê! Jay, olha quantos têm aí, deve custar uns 60, até mais.

— Sim, deveria, só que você ainda precisa melhorar como um besteiro. Percebi que acertou a maioria das flechas em lugares ruins, vários dos órgãos, e isso prejudica a carne.

San sabia que Jay estava certo; começou recentemente a usar uma besta e ainda precisava melhorar. No início, usava só facas de arremesso, porém, a distância era limitada. Ganancioso por dinheiro e um pouco irritado por ter sido perseguido, continuou a negociar.

— 60, ainda são bastantes animais.

— Não vale a pena, se metade da carne for inútil.

— Vende as peles.

— Conhece alguém comprando isso?

— Tá, 50, eu tive de ser perseguido por um gigante pra conseguir isso.

Em dúvida, colocou a mão no queixo e pensou por segundos, então se decidiu.

— Feito, mas para de acertar as flechas no estômago. Na próxima vez, me esquece.

Decidido o pagamento, os dois estenderam as mãos e aproximaram seus relógios; assim, a transferência foi feita. San confirmou e saiu. Os relógios, cada pessoa ganha um ao nascer, contêm todas as informações de uma pessoa, incluindo sua conta bancária — se for tirado do pulso, não tem como acessarem a conta. — Para outros com dinheiro, podem até comprar com inteligência artificial.

Andando distraído e pensando em suas economias, San quase se chocou com uma pessoa à sua frente. A rua, anteriormente lotada, separou-se dos dois lados. Vendo isso, ficou parado junto aos outros e esperou, conhecia bem isso.

Pouco tempo se passou e deu para ouvir sons de motores; rapidamente surgiram carros grandes e blindados. Dentro, podiam-se ver jovens de 20 anos no máximo. Civis acenavam e até soltavam beijinhos.

Eram mutantes enviados do exército, humanos com poderes incríveis lutando contra diversos monstros. Enquanto todos sorriam e acenavam, San podia ver bem, esses jovens podiam agir alegres e sorridentes, entretanto, seus olhos revelavam muito. Tinham medo, e fazia sentido, até os com habilidades fortes morrem todos os dias.

Esperando até isso acabar, seguiu seu caminho. Deixou seus itens na casa de um amigo e durante o resto do dia, fez trabalhos simples: arrumar encanamentos, limpar telhas e espantar ratos de casas. Só terminou ao anoitecer. Indo para sua casa, passou no portão da cidade. Dava para ver os guardas lá, e também ouvir gritos do outro lado.

Curioso, foi ver o motivo. Chegando, viu um homem do lado de fora do portão, gritando desesperadamente, implorando para deixá-lo entrar, mas os guardas nada fizeram.

Todos conheciam a regra: se não tiver passado os portões antes do anoitecer, é deixado lá fora. Pouca gente podia entrar, só se fosse importante, porém, era claro que o homem era um ninguém. Suas roupas eram simples e rasgadas e ainda se podia ver vômito seco em algumas partes.

Um dos guardas, de armadura pesada de metal, um capacete combinando e uma espada embainhada, se aproximou de San. A voz cansada e ombros abaixados, disse:

— Triste, o idiota apostou com outro conseguir correr até um ponto e voltar antes do anoitecer, parece não ter dado certo.

— Em vez de ficar aí gritando, deveria procurar um lugar e se esconder; os monstros são ainda mais cruéis à noite.

— É, e infelizmente, por causa do caso João, se ele ficar por muito tempo aí, pode tomar um tiro.

— Sim, já sabem o que era aquilo?

— Temos teorias. A cada dia têm acontecido coisas estranhas: pássaros migrando fora da época, monstros perto dos muros a cada dia e pessoas desaparecendo.

A cidade inteira sabia do caso João. Um dia, João, um grande amigo de um dos guardas, ficou fora dos portões. O guarda era de uma patente alta. Dando permissão, abriram os portões; João agia como sempre, mas o que entrou, mostrou sua verdadeira face rapidamente. Um monstro havia tomado conta do corpo dele. Matou inocentes e ainda conseguiu fugir.

Após isso, prenderam o guarda e as regras de entrada e saída dos portões ficaram rígidas. Quanto a João, seu corpo encontraram dias depois, em um buraco, seco igual a uma múmia.

San foi embora; sabia que as chances de o homem sobreviver eram baixas, monstros diferentes e piores surgem ao anoitecer. Nem ficando na frente do portão, suas chances aumentariam; poucos sobrevivem; a cidade era bem isolada, significando que expedições oficiais eliminando monstros eram poucas.

Já em casa, um apartamento no terceiro andar de tamanho médio, guardou seus equipamentos em um baú embaixo da cama, depois tomou o banho. Após acabar, penteou o cabelo — agora livre de manchas — e preparou sua comida. Da geladeira, tirou um pedaço de carne, legumes e um pouco de pão.

Enquanto comia, foi até o mapa na sala, ocupava boa parte da parede e marcava todas as florestas ao redor da cidade. San o comprou aos 10 anos e adicionou marcações a cada ano; talvez fosse o mapa mais detalhado das florestas. Nele tinha áreas de caça, ninhos e lugares seguros caso precisasse.

Pegando um lápis, começou a adicionar tudo o descoberto naquele dias. Preferindo escutar um som, ligou a TV.

Limpando peça por peça, de terra e sangue, ouviu um som na TV chamando sua atenção e aumentou o som.

Uma mulher alta, morena, usando uma blusa preta, calça social e cabelo ondulado solto. Na frente de carros de polícia, segurava um microfone e permanecia séria.

— Nesta manhã, foram encontrados os corpos de um casal. Foram assassinados brutalmente. Até agora, foram achadas poucas provas. Um grupo da ordem de caçadores de mutantes foi enviado para cá. Mas temos informações exclusivas, nos arriscamos e temos provas do culpado ser o devorador de almas. Os corpos das vítimas exibiam a marca das suas vítimas. O caso é em Clairmont, as autoridades pedem para ninguém sair de casa à noite. Meu nome é Jéssica Mayer e essa é a notícia de hoje.

“Clairmont, demora alguns dias pra chegar aqui, talvez ele venha. Falta pouco tempo para o meu despertar, é o mínimo o pai estar presente vendo o filho ganhar suas habilidades”, pensou San. Mas se corrigiu rapidamente. “No que tô pensando? O cara nem veio ao enterro da própria mulher, duvido que venha me ver.”



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