Volume 5

Capítulo 2

—Festival da Colheita de [Underwood], Cozinha nº VII.

Ao lado da praça destinada à realização da cerimônia de abertura, uma montanha de ingredientes estava se formando a partir da quantidade generosa de caça e outras coisas doadas. Aqueles que desejavam colocar suas habilidades culinárias em bom uso estavam se movendo ao redor da pilha, e eram livres para pegar o que quer que precisassem para ostentar a harmonia de sabores de suas próprias receitas.

Tendo deixado a [Grande Árvore], Izayoi e Kuro Usagi podiam sentir os aromas flutuando no ar vindos das cozinhas, deixando-os um pouco embriagados com o cheiro. Eles então começaram a vagar pelas mesas dispostas.

— Uau... São muitas barracas de comida. Meu plano original era visitar todas as barracas na área, mas isso é um pouco opressor. E torná-las submissas a mim a força seria certamente uma humilhação imperdoável...!

— Erm... Você não precisa se forçar a comer em todas elas.

— Não! Isso seria muito errado. Se for derrotado tão facilmente pelas barracas deste mundo, eu estaria decepcionando as pessoas que costumavam me chamar de “Tornado dos Festivais”. Embora seja uma pena desistir do meu plano de um dia, vou mostrar que isso pode ser feito em três!

Um brilho desafiador surgiu nos olhos de Izayoi enquanto ele olhava para as numerosas barracas ao seu redor.

Neste momento, a voz de Lily pôde ser ouvida vinda da Cozinha nº VII, localizada na esquina da praça.

— Essa voz... Lily?

Pensando nisso, Kirino havia mencionado algo sobre o grupo sênior estar ajudando nos preparativos para o Festival da Colheita. Deixando de lado sua conversa, Kuro Usagi e Izayoi moveram-se em direção a fonte da voz.

Lily deveria estar na cozinha preparando o banquete, e a fragrância de seus pratos meticulosamente preparados flutuava na direção deles. Conforme se aproximavam da cozinha, uma música alegre, mas ligeiramente desafinada, também passou a ser ouvida vinda da cozinha.

— Vegetais cozidos—Vegetais cozidos— Saborosos vegetais cozidos♪. Combinando-os e agitando-os— Melhor ficarão— Que alegria♪.

— Sim.

— Ya!

Lily deu um pequeno grito de surpresa quando se virou para olhar para trás.

Eram Izayoi e Kuro Usagi que estavam atrás dela. Um sorriso malicioso estava pendurado no rosto de Izayoi, enquanto Kuro Usagi apenas sorria ao lado dele.

Balançando suas duas caudas de vergonha, com o rosto corando até a ponta de suas orelhas de raposa, parte do constrangimento de Lily se transformou em raiva.

— Isso... isso é horrível! Ouvir os outros não é bom!

— Sim. É por isso que temos que fazer isso abertamente.

— YES—♪

Lily pôde apenas fazer beicinho enquanto eles a provocavam.

Curioso sobre o prato em que Lily estava trabalhando antes, Izayoi se serviu dele em uma pequena travessa.

— ...Um sabor único. Que especiarias você adicionou?

— Eh? Ah... esta é a carne obtida no evento de caça. Para remover o cheiro forte da carne, que poderia desanimar algumas pessoas, eu acrescentei um pouco de baunilha. Já que ouvi dizer que essa carne é muito parecida com a carne de veado, decidi usá-la em um guisado, onde a carne pode ser fervida até obter uma maciez adequada, antes de misturar outros vegetais em um ensopado para todos os gostos. Eu também ouvi que os veados são vistos como animais sagrados no Sul, e que irão abençoar as pessoas que os consumirem.

— Ó... veados, hein?

— YES♪! O Sul tem uma tradição no Festival da Colheita que vê todas as bestas com chifres como sagradas. E cabras, búfalos da água e veados também são vistos como sagrados em outros festivais além do Festival da Colheita.

Kuro Usagi fez um sinal de positivo com o polegar quando acrescentou essa informação.

Um segundo depois, os sons da apresentação de uma orquestra começaram na praça.

A peça, que tinha como foco principal os instrumentos de corda, era acompanhada pela batida de tambores e harmonizada com o som de uma flauta conforme seu volume aumentava lentamente. Percebendo a variação da peça, Izayoi juntou dois e dois e acenou com a cabeça em uma compreensão repentina.

— A tradição de ver os animais com chifres como sagrados e este tipo particular de variação musical... eu entendo agora. Em outras palavras, o Sul foi amplamente influenciado pela cultura Irlandesa.

— YES! Embora ainda dependa da região, é correto dizer que [Underwood] e a Aliança [Draco Greif] são bastante influenciados pela cultura Irlandesa, visto suas opiniões de julgar a força com base na presença de chifres.

— Há um Festival da Colheita organizado pela Inari Okami no Oriente também. Minha oka-san sempre recebia um convite para participar.

— Ó? O Sul não tem esse festival?

— Sim... isso mesmo. Já que o alimento básico no Sul não é o arroz, mas sim o milho e outros grãos. O método de adoração também é diferente. Mesmo que ele fosse realizado aqui, ninguém iria comparecer.

— Ó, entendo...

Izayoi acenou com a cabeça ao compreender.

—No reino dos grãos, os mais comumente cultivados são arroz, trigo e milho.

Como o clima determina a quantidade de colheita para cada tipo de grão, aquele que crescer melhor em cada região determinaria então o tipo de divindade ao qual as pessoas se devotariam. Se um festival fosse realizado em uma região que tivesse poucos devotos, isso resultaria apenas em uma grande vergonha passada no território de outra divindade.

— Pensando bem, Little Garden é cheia de drama, não é? Depois de aproveitar este Festival da Colheita, estou ansioso para participar do Festival da Inari Okami.

Izayoi riu muito, embora sua razão para estar ansioso pelo evento não fosse entretenimento pessoal, mas sim a promessa que havia feito à Lily.

Quando seu olhar se voltou para a pilha de pratos preparados esperando serem postos à mesa, Izayoi pareceu ter se lembrado de algo.

— Ah, certo. Os ingredientes ali, posso levar alguns mesmo que ainda estejam crus?

— Eh?

— O que você quer dizer com isso?

— Eu apenas pensei no idiota que se feriu tanto na última batalha que não vai poder se juntar a diversão no Festival da Colheita. Então estou pensando em consolá-lo com algumas dessas caças.

Izayoi riu levemente.

No entanto, a reação de Kuro Usagi foi exatamente a oposta, e ela voltou seu olhar para baixo quando falou.

— A pessoa de quem você está falando... É o Gry-san?

— Sim. Ele disse que gostava do sabor da carne de cavalo e veado. Vou fazer com que ele se arrependa de não aparecer neste Festival da Colheita.

E com isso, Izayoi começou a caminhar até a pilha de ingredientes.

Kuro Usagi deu a Lily um olhar significativo, antes de ir atrás de Izayoi.

— A condição do Gry-san é muito ruim, não é?

— Não, a vida dele está fora de perigo. E ele já se recuperou a ponto de reaver sua mobilidade.

— Isso... Isso parece bom!

— Sim. Na verdade, as asas de um Grifo são apenas uma sobra do processo de evolução, e são semelhantes ao osso cóccix que os humanos possuem. Mesmo sem elas, os Grifos ainda podem voar. Então ele diz que não precisamos nos preocupar.

— ...

Izayoi riu alto sem uma mudança em seu comportamento que pudesse contradizê-lo. Suas palavras, portanto, deveriam ser verdadeiras. Grifos tinham a habilidade de controlar a turbulência do ar e pisar nele como se fosse um chão sólido. Por isso, suas asas não passavam de acessórios extras.

Entretanto, a perda das asas era uma falha fatal para um Grifo. Isso porque uma vez que o leão é tradicionalmente considerado o rei das bestas, e a águia o rei das aves, o Grifo é visto como uma criatura especialmente poderosa e majestosa, fazendo deles criaturas muito orgulhosas.

Estar neste estado certamente seria um duro golpe em seu orgulho, levando-o a desejar se esconder das pessoas.

Kuro Usagi estava quebrando a cabeça tentando descobrir uma forma de consolar os dois que estavam se tratando com tamanha consideração quando Izayoi se voltou para ela sem sequer um traço de preocupação em seus olhos.

— ...Não se preocupe demais. Não é como se não pudéssemos salvar a situação.

— EH?

— Embora eu não tenha encontrado o método exato, seria estranho se não pudéssemos encontrar uma ou duas divindades capazes de ajudar a tratar amputações em Little Garden, onde todos os deuses se reúnem, certo?... Posso não saber onde encontrá-los ainda, mas eu disse que assumirei a responsabilidade até que isso seja feito. Então eu irei me esforçar para encontrar esses deuses.

Embora suas palavras soassem muito casuais, a determinação dele podia ser vista em seus olhos. Era como se ele tivesse acabado de fazer um juramento.

Para uma pessoa com tal atitude, a simpatia seria um insulto.

Consequentemente, Kuro Usagi decidiu retomar seu comportamento animado ao responder.

— Se é assim, então a Kuro Usagi também vai ajudar!

— Ó? Você tem alguma pista?

— YES! A Kuro Usagi é uma prestigiosa [Aristocrata de Little Garden]! E definitivamente eu já conheci um ou dois médicos famosos!

Com um olhar que dizia para deixar essa parte com ela, Kuro Usagi estufou o peito com orgulho. Izayoi apenas assentiu sem tirar sarro dela.

Eles chegaram à enorme mesa que estava coberta por uma montanha de ingredientes e arregaçaram as mangas, preparando-se para encher um saco que haviam levado consigo.

— Certo! Vamos pegar um monte de comida para ele!

— YES! Para comemorar sua recuperação rápida, vamos levar bastante!

— Bem, vamos pegar um veado primeiro...?

— Uwa! Izayoi-san, cuidado!

Tendo estendido a mão para pegar um pedaço de carne bem cortado, Izayoi bufou quando se virou para olhar para trás. Apenas para ver uma fada aproximadamente do tamanho de um punho mergulhando em direção ao seu rosto.

*Pak!*

Ele deu um tapa nela.

 — Você a mandou voando? Você a mandou para o chão? Ela está morta, certo? O que você acabou de estapear, Izayoi-saNNNNNN!?

— Apenas finja que você não viu nada.

— Ce... certo...

— Certo! Vamos pegar um monte de comida para ele!

— YES! Para comemorar sua recuperação rápida, vamos levar bastante!

— Bem, vamos pegar um veado primeiro...?

— Uwa! Izayoi-san, cuidado!

Tendo estendido a mão para pegar um pedaço de carne bem cortado, Izayoi bufou quando se virou para olhar para trás. Apenas para ver outras três fadas aproximadamente do tamanho de um punho mergulhando em direção ao seu rosto—

*Pak! Pak! Pak!*

—Ele deu três tapas consecutivos com a mão.

— Wa! Para onde você as mandou? Parece que você esmagou mais algumas dessa vez! O que você acabou de estapear, Izayoi-saNNNNNN!?

— Apenas finja que você não viu nada.

— Certo— Você achou que isso fosse funcionar!? Você já tentou essa tática uma vez! Seu idiota!

*Swish! Pak!*

Ela o golpeou com seu leque de papel.

Izayoi também percebeu o quanto era forçado usar a mesma tática duas vezes seguidas, mas ele relutantemente exibiu as fadas diante de Kuro Usagi.

— Ó, por favor. Por que eu iria matá-las sem motivo? Eu apenas as peguei no ar e atirei dentro do saco.

— Nem... nem precisa dizer, eu já sabia disso!

Espiando dentro do saco que estava cheio de carne, Kuro Usagi viu quatro fadas semiconscientes, que agora estavam deitadas vendo estrelas enquanto gemiam de dor. Pegando uma delas para olhar mais de perto, a expressão de Kuro Usagi tornou-se séria.

— ...EH? Elas não são fadas.

— Ó?

— Elas... poderiam ser [Pequenos Demônios de Laplace]? Sem chance! Por que os maiores de Laplace viriam para...

Antes mesmo que ela pudesse terminar de pronunciar as palavras “este nível”, a música parou e o barulho ao redor deles diminuiu um pouco. Kuro Usagi percebeu que os preparativos para a cerimônia de abertura estavam completos e olhou apressadamente para o palco que fora esculpido na parte central da face do penhasco.

Apenas para ver que a líder da Aliança [Draco Greif], que ainda tinha seu chifre quebrado envolto em bandagens— Sala Doltrake já estava no palco.

Olhando para o céu para confirmar a hora com as estrelas, Kuro Usagi entrou em pânico.

— Ó não! Isso é ruim! Eu tinha prometido para a Sala-sama e para a Shiroyasha-sama que seria a mestre de cerimônias da abertura do Festival da Colheita!

— Oi? A Shiroyasha também está aqui?

— YES! Eu preciso me apressar... De... de qualquer forma, certifique-se de manter esses pequenos demônios protegidos, Izayoi-san!

— Entendido—

Izayoi disse enquanto acenava para ela.

Erguendo suas orelhas de coelho, Kuro Usagi começou a correr em direção a praça onde aconteceria a cerimônia de abertura.



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