Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 5: Acordo Demoníaco.

 A pressão que a mulher emanava logo se dissipou, permitindo que Garrik recuperasse totalmente seu equilíbrio.

— Quem é você? — perguntou Garrik.

— Droga! Por que aquele idiota sempre faz a primeira coisa que da na telha? — A mulher colocou a mão na cabeça em decepção. — Se eu tivesse sido mais rápida…

— Me responda! Quem é você? Como você tem uma pressão tão esmagadora?

— Ah… Então você perdeu mesmo a memória… Enfim, eu não vou responder nenhuma das suas perguntas agora. Quando for a hora, eu vou atrás de você. Até lá, não se mate, Garrik. 

— Como sabe o meu nome? Me responda de uma vez! — Garrik disparou contra a mulher, que com apenas uma mão destruiu a flecha.

— Eu já te disse… agora não! — A mulher deu as costas à Garrik, que finalmente reparou na enorme tatuagem de dragão em seu pescoço

— Essa marca! Argh! Minha cabeça… — Garrik caiu de joelhos, com as mãos na cabeça.

— Não se esforce demais, você ainda não se recuperou totalmente. De qualquer forma, em breve vamos nos reencontrar, Garrik.

 A mulher foi em direção a floresta e desapareceu da visão de Garrik. Hayakaz e Hexoth apareceram logo em seguida.

— Você tá bem? A gente escutou você gritando. — Hayakaz se abaixou e estendeu a mão.

— Desde quando você se preocupa comigo, bola de pelos?

— Calma, Garrik, só viemos ajudar — falou Hexoth.

— Cale-se! Não preciso da sua ajuda! Vamos voltar de uma vez. 

— Cara, as vezes você é muito chato mesmo! Você não se cansa de ser um babaca?

— E você não se cansa de ser tão irritante?

— Parou! Deu dessa merda. Calem a boca e vamos pro castelo. Não aguento mais ouvir as discussões de vocês! — Hexoth separou os dois.

 Após isso, os três seguiram para o local da fenda, e pularam para dentro dela assim que ela se abriu. No castelo, Dartanham estava os esperando com um banquete.

— Que bom que os senhores voltaram tão cedo, a comida acabou de ficar pronta. Sentem-se, por favor.

— Eu passo. Vou descansar. Não aguento mais olhar pra cara do Garrik — falou Hayakaz, indo em direção ao seu quarto.

— Certo… irei pedir que levem o almoço para os seus aposentos, meu lorde. Enquanto isso… eu poderia ter uma palavra com os senhores, lorde Hexoth e lorde Garrik?

— Claro! Algo aconteceu? — perguntou Hexoth.

— Eu que deveria perguntar isso, meu lorde. A aura dos senhores está liberando uma mana muito desregular. É como se os senhores estivessem fora do controle! O que aconteceu naquela biblioteca, meus lordes?

— Desregular? Estranho… será que tem algo a haver com aquele cristal, Garrik?

— Muito provavelmente, Hexoth. Mas eu não sei o que ele fez conosco.

— Desculpem, mas… cristal? — perguntou Dartanham.

— Ah… sim. A gente encontrou um cristal na biblioteca, ele era meio alaranjado, e tinha uma energia estranha saindo dele. Eu tive algumas alucinações quando encostei nele. — Hexoth abaixou a cabeça.

— Eu também tive uma alucinação ao tocar ele… mas prefiro não falar sobre isso… Somente Hayakaz não tocou o cristal

— Hmmm… Entendo… Eu creio que esse cristal deve ter interferido na mana dentro de seus corpos, mas por qual motivo o senhor Hayakaz também estava emanando esta mana desregular? Bom… O mais importante é pensarmos em um jeito de resolvermos isso. Vou chamar o senhor Hayakaz, talvez ele consiga nos ajudar — disse Dartanham, indo na direção do quarto de Hayakaz.

 Após alguns minutos, os quatro estavam novamente reunidos na mesa. Para quebrar o silêncio, Dartanham disse:

— Certo, os senhores disseram que tocaram em um cristal durante a investigação da biblioteca e tiveram alucinações devido a isso. Eu inicialmente acreditava que este cristal tinha alterado as manas nos corpos dos senhores, mas o senhor Hayakaz não tocou o cristal…

— Então…? — perguntou Hayakaz.

— O que alterou nossas manas? — Hexoth completou.

— Certo… Posso fazer um teste com o senhor, senhor Hexoth?

— Hm? Certo? — Hexoth se levantou da cadeira e foi até Dartanham, que também foi na direção de Hexoth.

 Ao ficar em frente a Hexoth, Dartanham estendeu sua mão na direção de Hexoth e então uma esfera de energia surgiu em sua mão. Ela se mexia de maneira anormal, como se não conseguisse se manter, e logo começou a reduzir de tamanho e ir na direção do peito de Hexoth. — Me empreste seus olhos… Clarividência! — Ao tocar o peito de Hexoth, os olhos de Dartanham ficaram totalmente brancos, mas em sua visão tudo estava escuro, com uma enorme chama roxa no centro de tudo. Ela se mexia descontroladamente, como se fosse um incêndio que crescia sem parar.

 “Então era isso!”, pensou Dartanham. “Como chegou a um estágio tão avançado?”.

 As chamas então consumiram Dartanham, que despertou no mundo real.

— Argh! — Dartanham perdeu o equilíbrio e acabou caindo no chão.

— Você tá bem? O que aconteceu? — Hexoth estendeu a mão para levantar Dartanham.

— Eu estou bem, meus lordes, mas os senhores estão com um sério problema!

— O que quer dizer com isto? O que você viu com a Clarividência? — falou Garrik.

— Meus lordes, parece que alguém plantou uma chama santificada dentro dos senhores.

— Chama santificada? Só pelo nome já parece algo ruim! O que é isso? — perguntou Hayakaz.

— Isto se trata de uma chama sagrada, criada para matar demônios. Quando usada diretamente, pode facilmente matar um demônio de baixo escalão, mas quando plantada diretamente no núcleo de mana, pode matar até mesmo um Pecado Capital, mas é quase impossível plantar uma dessas em um demônio forte sem que ele perceba. No estágio em que ela se encontra, não entendo como os senhores ainda conseguem se mover.

— Espera, alguém plantou um fogo da igreja na gente e esse negócio vai matar a gente se não fizermos algo? Como isso foi parar dentro da gente?!

— As únicas opções que eu consigo pensar são: Durante a luta com o mago Azazel, ele plantou as chamas em vocês; ou durante o momento do despertar alguém interferiu e plantou as chamas sagradas.

— Ta! Como a gente tira isso? Existe um jeito de tirar essa coisa, não é?

— Existe uma maneira, mas não é nada boa…

— Como assim? — falou Hexoth.

— Há um ritual que podemos fazer, mas eu não tenho conhecimento sobre como realizá-lo, fora os efeitos colaterais…

— Pare de enrolar. Fale de uma vez quais são todos os problemas! — gritou Garrik, o que fez Dartanham hesitar por um segundo.

— Certo… Ao realizar este ritual, os efeitos de demonização serão acelerados, além de que a única pessoa que consegue realizar este ritual é um dos Sete Pecados.

 Após ouvirem isso, Hexoth e Garrik arregalaram os olhos. Vendo a situação, Hayakaz perguntou:

— Demonização?

— A demonização é um efeito colateral do ritual que nos deu sangue de demônio, ela vai nos tornando cada vez mais parecidos, fisicamente, com os demônios em si, mas vai apagando a nossa sanidade. Existem casos raros em que a demonização acontece mas não se tem a perda de sanidade, como o senhor Asmodeus. Você não se lembra disso? — falou Hexoth.

— Não. Não faço ideia do que seja isso.

— Bom. Para realizar este ritual, precisamos dos conhecimentos de algum Pecado, mas não temos a locali…

— Não precisam disso! — De repente, uma enorme pressão caiu sobre os quatro, e em menos de um segundo, uma enorme fenda se abriu em frente à porta. Dela saiu uma mulher, com uma tatuagem de dragão totalmente à mostra.

 “Esses cabelos brancos e essa tatuagem… poderia ser…”, pensou Dartanham.

— Você! — disse Garrik.

— Quanto tempo, Garrik! Soube que vocês precisam de mim — respondeu ela.

— Então… você deve ser a Ira, estou certo?

— Está correto. Eu sou Sanarion, o Pecado da Ira!

— Então eu estava certo, você era mesmo a Ira — disse Garrik.

— Hm? O senhor já havia se encontrado com a senhorita Sanarion, meu lorde?

— Eu a encontrei na floresta quando fomos investigar a biblio…

— Enfim! Eu preciso da ajuda de vocês, por isso tenho uma proposta. — Sanarion se sentou em uma das cadeiras. — Eu posso fazer o ritual de fluxo de mana, mas preciso que vocês façam um favor para mim.

— Que favor seria esse? — perguntou Hexoth.

— Meu irmão, Hendebrant, foi levado para uma prisão em Earthbring e eu não consigo tirar ele de lá sozinha. Vocês vão me ajudar.

— Seu irmão seria o Pecado da Gula, não é? — perguntou Hayakaz.

— Vejo que vocês estão bem informados.

— Mas como eles prenderam um dos Pecados Capitais?

— Se lembram daquele lobo gigante que vocês encontraram na floresta?

— Não me diga que…

— Sim, ele era o Hendebrant. De alguma forma, aquele idiota conseguiu ser preso por humanos e foi para em uma prisão de segurança maxima em Earthbring.

— Então você quer a nossa ajuda para libertá-lo, e em troca você realizará o ritual de fluxo de mana? — Garrik coçou o queixo.

— Exatamente. Como esperado de você, Garrik.

— Além de nos libertarmos dessa chama santificada, vamos conseguir o Pecado da Gula… São dois coelhos com uma cajadada só.

— Espera! O Dartanham disse que esse ritual acelera os efeitos da demonização! Aceleraria em quanto? — Hayakaz bateu na mesa.

— Isso é verdade. Com esse ritual, talvez vocês percam a sanidade mais cedo que o natural… mas esse é o único jeito de desfazer a chama santificada.

— Me responda! Aceleraria em quanto tempo.

— …

— Fale de uma vez!

— Quatro mil anos…

  Ao ouvirem isso, os três lordes arregalaram os olhos, isso era mais que dez vezes o tempo de vida de cada um deles.

— Dartanham… o Hexoth disse que tem casos onde a sanidade não é some… É verdade?

— Sim, meu lorde, o Grande Asmodeus não perdeu sua sanidade.

— Então nós também podemos não perder a sanidade depois de um tempo. Eu vou crer nisso! Eu aceito sua proposta, Sanarion! — Hayakaz se levantou e estendeu a mão para Sanarion.

— Eu também creio que não vou enlouquecer por causa disso, não vou cair tão fácil. Eu aceito sua proposta, Sanarion! — Hexoth também se levantou e foi na direção de Sanarion.

 Ao chegarem ao lado de Sanarion, Hexoth e Hayakaz olharam para Garrik em busca de aprovação.

— Argh! Eu aceito seu acordo, Sanarion! — disse Garrik.

— Esse é o Garrik que eu conheço. Certo, vou cumprir a minha parte do acordo. Me sigam!

 Sanarion os levou para o pátio do castelo, onde começou a desenhar um enorme pentagrama, feito de símbolos de magia, organizado por jóias em suas pontas.

— Vão para o centro. — Sanarion fez um pequeno corte em sua mão, para escorrer sangue de sua mão, sangue esse que ela colocou em cada jóia do pentagrama. — Estão prontos?

— Vamo nessa — disse Hayakaz.

— Claro — falou Hexoth.

— Se der errado, irei te fazer em pedaços — Garrik fechou os olhos.

 Após alguns segundos, o pentagrama começou a brilhar em azul, o vento começou a girar mais rápido ao redor deles. — Oh! Amado deus das trevas e do caos… traga o poder de seus eternos exércitos a este ser… Grandioso Senhor da Destruição… gire a chave do destino para este corpo… Lendário Cavaleiro da Morte… levante sua espada em nome desta alma… Despertar de Mana! — Ao terminar de recitar o feitiço, faíscas começaram a sair das pontas do pentagrama, onde as jóias brilhavam emanando energia. Após um minuto, o vento cessou e a luz das jóias se apagou.

— Então… é isso? — Hayakaz analisou seus membros. — Não me sinto diferente.

— Meus lordes, a mana dos senhores está muito mais estável, nem parece a mesma mana de antes — falou Dartanham.

— Pois realmente não é! — corrigiu Sanarion.

— O que quer dizer, senhorita Sanarion?

— Esse ritual libera todo o fluxo de mana do usuário, ou seja, ele libera o potencial de quem o usar. Eles estão com cerca do dobro da força anterior. Com a mana circulando mais efetivamente pelo corpo, ela mesma apagou as chamas sagradas plantadas nos senhores.

— Desculpa, o dobro da força? Isso é um aumento absurdo! — Hayakaz quase caiu para trás.

— Sim, Hayakaz. Você realmente não notou a diferença? Eu até me sinto mais jovem — disse Hexoth.

— Não! Pra mim, tudo parece igual.

— Você é mesmo lerdo, heim.

— Mas lembrem-se de uma coisa: esse ritual acelera os efeitos da demonização. Pode ser que vocês percam a sanidade…

— Fique tranquila. Não é como se nós fossemos cair tão fácil. — Hexoth abriu um sorriso.

— Se você diz… Enfim, eu cumpri a minha parte do acordo, agora é a vez de vocês cumprirem a parte de vocês!

— Espere, senhorita Sanarion! Eu lhe peço alguns dias, assim eu poderei treiná-los para que se acostumem com as mudanças corporais. Podem surgir problemas caso eles liberem essa mana sem nenhum controle

— Ele está certo. Meu corpo ficou muito leve, preciso me acostumar. — Hexoth socou o ar.

— Acontece que não temos muito tempo, já devem ter descoberto que ele não é apenas uma besta como outra qualquer, por mais que às vezes ele pareça. Provavelmente irão decretar uma execução.

— Antes de tudo, me responda: Por que ele mesmo não se liberta? Ele é um dos Sete Pecados! — perguntou Garrik.

— Eu também não entendo… Talvez algum feitiço, ou restrição de mana… o fato é que ele não consegue sair sozinho. Enfim, eu não tenho tempo pra esperar!

— Apenas três dias, senhorita — Dartanham se curvou.

 Sanarion arregalou os olhos em surpresa, então disse:

— Argh, seu… Ta! Três dias!

— Oh! Agradeço profundamente, senhorita Sanarion.

— Certo, mas por precaução… — Sanarion se afastou um pouco dos quatro e estendeu suas mãos na direção deles e disse: — La Serpiente!

 Após o feitiço ser recitado, um brilho verde surgiu em frente a Sanarion, diversos pedaços de papel começaram a cair do céu e aos poucos foram formando uma enorme cobra.

— Isso seria… — disse Dartanham, antes de ser interrompido.

— Sim. Esse é um dos meus Shikigamis, La Serpiente. Vou deixá-lo aqui, você é bem traiçoeiro quando quer, Dartanham!

— Você duvida da minha palavra, Sanarion? — Garrik liberou sua pressão.

— Vocês perderam suas memórias, também são imprevisíveis, mas se vão mesmo cumprir, então não tem problema eu deixar a La Serpiente aqui, não é?

— Sua… — disse Garrik, antes de ser interrompido.

— Acalme-se, Garrik. Ela está certa, não há problema em deixar esse Shikigami aqui — disse Hexoth.

— Bom, está tudo resolvido, vou indo, tenho outros assuntos a tratar.

— Lhe desejo uma boa viagem, senhorita Sanarion. — Dartanham se curvou novamente.

 Após Sanarion sumir em um portal, Dartanham se virou para os três lordes e disse: — Meus lordes, devemos começar?

 De repente, os três se viram em uma enorme planície de grama, era como se estivessem no meio do nada.

— Mas o q… — Hayakaz tentou falar, mas uma enorme pressão caiu sobre os três.

 Ao olharem para a origem da pressão, viram uma enorme névoa negra saindo da sola dos pés de Dartanham, que estava em sua forma demonizada: com seus chifres ainda maiores, pele e asas totalmente vermelhas e uma roupa totalmente feita de sombras.

— Vocês estão prontos, meus senhores?



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