Volume 1
Capítulo 2: O Renascimento do Clube de Literatura Clássica de Longa Data.
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Costuma-se dizer que quando se chega ao ensino médio, a vida se torna cor-de-rosa. Isso tem sido comum para a maioria das pessoas há muito tempo. No entanto, isso não significa que todos os estudantes do ensino médio desejem ter uma vida cor-de-rosa. Seja estudando, praticando esportes ou vivendo um romance, sempre haverá algumas pessoas que preferem uma vida mais discreta. Eu mesmo sei muito pouco sobre isso, mas é uma maneira bastante solitária de viver.
Eu estava conversando sobre esse assunto com meu velho amigo, Fukube Satoshi, na sala de aula banhada pela luz do pôr do sol. Como sempre, Satoshi tinha um sorriso no rosto e disse.
— Eu também penso assim. Aliás, eu não fazia ideia de que você era tão masoquista.
Infelizmente, ele estava enganado. Então, eu protestei.
— Você está dizendo que minha vida é cinza?
— Eu disse isso? Mas, Houtarou, seja estudando, praticando esportes ou qualquer outra coisa... romance, por exemplo. Eu não acho que você tenha considerado nenhuma dessas coisas.
— Também não sou exatamente retrógrado.
— Bem, é verdade. — Satoshi disse, com um sorriso ainda maior. — Você está apenas 'poupando energia', afinal.
Eu concordei, com um suspiro. Está tudo bem, desde que você entenda que eu não odeio ficar ativo. Eu simplesmente não gosto de desperdiçar minha energia com coisas incômodas. Meu estilo é economizar energia para melhorar o planeta. Em outras palavras, — Se eu não precisar fazer algo, não farei. Se precisar fazer, farei rapidamente.
Enquanto eu proclamava meu lema, Satoshi apenas deu de ombros, como de costume.
— Seja economia de energia ou cinismo, é a mesma coisa, não é? Já ouviu falar em instrumentalismo?
— Não.
— Resumidamente, significa que, para uma pessoa como você, que não tem interesse particular, apenas o fato de você não ter se juntado a nenhum clube aqui no Colégio Kamiyama, o santuário das atividades de clubes do ensino médio, faz de você uma pessoa de cor cinza.
— O quê? Você está dizendo que a morte por assassinato não é diferente da morte por negligência?
Satoshi respondeu, sem hesitar.
— De certa perspectiva, sim. Embora seja uma questão completamente diferente se você está tentando convencer um morto de que sua morte foi causada por negligência para exorcizar sua alma.
— Bastardo insolente.
Eu o encarei novamente. Fukube Satoshi, meu velho amigo, adversário digno e rival mortal, é bastante baixo para um cara. Mesmo como estudante do ensino médio, ele poderia ser confundido com uma aparência feminina, mas seu interior é completamente diferente. É difícil explicar exatamente o que é essa diferença - de qualquer maneira, ele apenas se sente diferente. Além de sempre sorrir, ele é visto carregando uma bolsa de cordão, sua marca registrada. Ele também é membro do Clube de Artesanato, não me pergunte o porquê.
Discutir com ele é apenas desperdício de energia. Eu acenei para indicar o fim da conversa.
— Sim, tanto faz. Apenas vá para casa agora.
— Sim, você está certo. Não tenho nenhuma atividade no clube hoje... talvez eu vá para casa.
Quando Satoshi se espreguiçou, de repente ele percebeu algo e olhou para mim.
— Já vai para casa? É raro ouvir isso de você.
— E daí?
— Se está indo para casa, normalmente você já teria ido antes mesmo de proferir essa frase, não é? Afinal, que negócio você teria depois da escola quando não está afiliado a nenhum clube?
— Ah. — Levantei minha sobrancelha e tirei um pedaço de papel do bolso interno direito do meu casaco do uniforme. Depois de entregá-lo silenciosamente para Satoshi, seus olhos se arregalaram de espanto. Bem, ele está exagerando. Não é como se ele estivesse realmente surpreso, embora seja verdade que seus olhos se arregalaram. Satoshi é conhecido por suas reações exageradas, afinal.
— O quê?! Como isso é possível?!
— Satoshi, comporte-se.
— Isso não é uma ficha de inscrição para um clube? Estou chocado. O que diabos está acontecendo? Houtarou se juntando a um clube...
Na verdade, era um formulário de inscrição para o clube. Ao ver o nome do clube escrito, Satoshi ergueu a sobrancelha.
— O Clube dos Clássicos...?
— Você já ouviu falar?
— Claro, mas por que o Clube de Clássicos? De repente, você se interessou pela literatura clássica?
Agora, como devo explicar isso? Eu cocei minha cabeça e tirei outro pedaço de papel do meu bolso interno esquerdo. Era uma carta com uma caligrafia rabiscada, que entreguei a Satoshi.
— Leia isso.
Satoshi prontamente pegou a carta e começou a folheá-la, e como esperado, começou a rir.
— Haha, Houtarou, isso é realmente problemático. Um pedido da sua irmã, hein? Não há como você recusar.
Por que ele parecia tão alegre? Por outro lado, eu estava muito consciente de que estava mostrando uma expressão amarga. Essa correspondência aérea da Índia, que chegou de manhã, estava tentando interferir na minha vida. Oreki Tomoe está sempre assim, enviando cartas para complicar as coisas.
— 'Houtarou, proteja o Clube de Clássicos, a juventude da sua irmã mais velha'.
Quando abri o envelope e li essa breve carta pela manhã, tomei consciência de seu conteúdo egocêntrico. Eu não tinha obrigação de preservar as memórias da minha irmã, mas...
— No que sua irmã é especializada? jiu-jitsu?
— Aikido e Taiho-jutsu. Pode ser bastante doloroso se alguém tiver a intenção de me machucar.
Sim, minha irmã, uma estudante universitária proficiente em acadêmicos e artes marciais, não se contentou em conquistar apenas o Japão e decidiu sair e desafiar o mundo também. Não seria sábio provocar sua ira.
Por outro lado, embora eu pudesse resistir um pouco com o pouco orgulho que tinha, também era verdade que eu não tinha muitos motivos para me opor a ela. Na verdade, minha irmã acertou em cheio ao apontar que eu não tinha nada melhor para fazer de qualquer maneira. Então, decidi que poderia muito bem ser um membro invisível do clube em vez de um aluno não afiliado, e assim, sem hesitação, — enviei essa inscrição esta manhã.
— Você sabe o que isso significa, Houtarou?
Satoshi disse enquanto olhava para a carta da minha irmã. Suspirei e respondi.
— Sim, não parece haver nenhum benefício nisso.
— Não, não foi isso que eu quis dizer.
Erguendo o olhar da carta, Satoshi disse com um tom estranhamente alegre. Ele bateu na carta com as costas da palma da mão e disse:
— Atualmente, não há membros no Clube de Clássicos, certo? Isso significa que você terá a sala do clube só para você. Não é ótimo? Uma base privada dentro da escola, para o seu próprio uso.
Uma base privada?
— Essa é uma maneira interessante de ver isso.
— Você não gosta disso?
Que raciocínio estranho. Satoshi basicamente estava dizendo que eu poderia ter minha própria base secreta na escola. Eu nunca teria tido uma ideia dessas. Um espaço privado, né? Não é como se eu realmente desejasse tal coisa e me esforçasse muito para consegui-la... Mas não é tão ruim se vier como um privilégio. Peguei a carta de volta de Satoshi e respondi.
— Acho que não é tão ruim. Eu poderia dar uma olhada.
— Bom. As oportunidades estão aí para você experimentar.
Oportunidades para experimentar, né? Bem, não é como se não combinasse com a minha personalidade, então sorri amargamente e peguei minha bolsa de ombro.
Eu ainda era fiel ao meu próprio lema.
Das janelas abertas, ouviam-se os gritos da equipe de atletismo.
— Briga, briga, briga!...
Eu não gostaria de me envolver em tal desperdício de energia. Não me entenda mal, não estou dizendo que economizar energia é sempre a melhor opção, então não estou descartando essas pessoas ativas como tolas. Segui em direção à Sala do Clube de Clássicos enquanto os ouvia continuar com seus cânticos.
Caminhei pelo corredor de azulejos e subi em direção ao terceiro andar. Ao encontrar o zelador, que carregava uma grande escada, perguntei onde ficava a Sala do Clube de Clássicos e fui direcionado para a Sala de Palestras de Geologia, no quarto andar do Bloco de Propósitos Específicos.
Esta escola não era abundante em número de alunos, nem era grande em sua área de campus. O número total de alunos era algo em torno de mil. Embora a escola oferecesse currículos para vestibulares como a maioria das escolas, não era particularmente conhecida por seu desempenho acadêmico. Em outras palavras, era um ensino médio normal.
Por outro lado, a escola contava com um número extraordinário de clubes, como o Clube de Aquarela, o Clube A Capela e, é claro, o Clube de Clássicos, sendo reconhecida por seu animado Festival Cultural anual. No terreno do campus, havia três grandes prédios: o Prédio Principal, onde ficavam as salas de aula regulares, o Prédio de Aulas Especiais, com salas específicas, e o Ginásio. Era algo comum. Além disso, havia o Dojo de Artes Marciais e o Depósito de Equipamentos Esportivos. O quarto andar do Prédio de Aulas Especiais, onde estava a sala do Clube de Clássicos, era um local mais afastado.
Enquanto lamentava o desperdício de energia, percorri o corredor e subi as escadas até o quarto andar, onde logo encontrei a sala de Geologia. Sem hesitar, comecei a deslizar a porta, mas percebi que estava trancada. Era de se esperar, já que a maioria das salas especiais costumava ser mantida trancada. Peguei a chave que havia solicitado antecipadamente, com o intuito de economizar energia, e destranquei a porta.
Após girar a fechadura, abri a porta. Dentro da sala de Geologia vazia, era possível contemplar o pôr do sol através da janela. Espere, vazia não é a palavra certa. Acontece que não era o que eu esperava. Com o pôr do sol inundando a sala de Geologia, que também servia como sala do Clube de Clássicos, já havia alguém lá dentro.
Uma estudante estava parada ao lado da janela, olhando para mim. Era uma garota. Embora graciosa e pura não tenham sido exatamente as primeiras palavras que me vieram à mente ao vê-la, não conseguia pensar em outras palavras adequadas para descrevê-la corretamente. Seus longos cabelos negros fluíam pelos ombros, e o uniforme de marinheiro lhe caía muito bem.
Ela era alta para uma garota, provavelmente mais alta que o Satoshi. Embora estivesse claro que ela era uma colegial, seus lábios finos e sua figura delicada reforçavam a imagem antiquada de como uma colegial deveria parecer em minha mente. Em contraste, suas pupilas eram grandes e, ao invés de serem graciosas, pareciam energéticas.
Era uma garota que eu não reconhecia. No entanto, ao me ver, ela sorriu e disse.
— Olá. Você deve ser o Oreki-san do Clube de Clássicos, certo?
— Quem é você?
Perguntei francamente.
Embora eu nunca tenha sido bom em interagir com as pessoas, não tinha a intenção de tratar friamente alguém que acabava de conhecer. Embora não soubesse quem ela era, por algum motivo, ela parecia saber quem eu era.
— Você não se lembra de mim? Meu nome é Chitanda, Chitanda Eru.
Chitanda Eru. Mesmo depois de ela dizer seu nome, eu ainda não fazia ideia de quem era. Aliás, Chitanda era um sobrenome muito raro, assim como seu primeiro nome, Eru. Não havia como eu esquecer um nome assim.
Olhei novamente para a garota chamada Chitanda. Depois de ter certeza de que não a conhecia, respondi.
— Desculpe, acho que não me lembro de quem você é.
Apesar de manter seu sorriso, ela inclinou a cabeça, aparentemente confusa.
— Você é o Oreki-san, certo? Oreki Houtarou, da Classe 1-B?
Eu confirmei.
— Eu sou da Classe 1-A.
‘Então agora você se lembra?’ Era isso que ela parecia insinuar... Minha memória era tão ruim assim?
Espere um momento. Eu sou da Classe B e ela é da Classe A. Qual seria a chance de termos nos conhecido antes?
Mesmo estando na mesma série, não era comum que alunos de diferentes classes interagissem uns com os outros. A única chance de isso acontecer seria através de atividades de clube ou de amigos em comum. E eu não tinha esse tipo de conexão com ninguém.
Então, teria que ser algo envolvendo todos os alunos, mas o único evento que me ocorria era a Cerimônia de Abertura da escola, no início do semestre. Além disso, não acho que já tenha sido apresentado a alguém de fora da minha classe até então.
Não, espere. Eu me lembro. É isso, houve chances de interagirmos com outras classes durante as aulas. Se envolvesse o uso de equipamento especial, então era mais viável ensinar mais de uma turma ao mesmo tempo. Isso deveria acontecer durante as aulas de Educação Física ou disciplinas relacionadas às artes.
Durante o ensino médio, também poderia haver aulas profissionalizantes, mas como esta escola é principalmente acadêmica, isso está fora da equação. E as aulas de Educação Física são separadas por gênero, então isso nos leva a...
— Será que tivemos aulas de música juntos?
— Sim, foi isso!
Chitanda confirmou com a cabeça várias vezes, confirmando sua concordância. Embora eu tenha descoberto por conta própria, ainda fiquei surpreso. Pelo bem do meu orgulho restante, devo confessar que provavelmente só assisti a qualquer uma dessas aulas de arte opcionais uma vez desde que me matriculei aqui. Portanto, era naturalmente impossível para mim lembrar de qualquer um desses rostos ou nomes. No entanto, por outro lado, essa garota chamada Chitanda conseguiu se lembrar de mim depois de me ver apenas uma vez, o que prova que não era exatamente impossível. Deixe-me dizer, ela deve possuir um nível assustador de observação e memorização.
Ainda assim, também poderia ser que tudo isso fosse mera coincidência. Diferentes pessoas podem interpretar significados diferentes ao ler o mesmo artigo de jornal. Recuperei meus sentidos e perguntei:
— Então, Chitanda-san, o que te trouxe até a sala de Geologia?
Ela respondeu rapidamente:
— Eu entrei para o Clube de Clássicos, então achei que deveria vir cumprimentá-lo.
Ela entrou para o Clube de Clássicos, ou seja, tornou-se membro.
Naquele momento, eu queria que ela adivinhasse como eu me sentia. Se ela está entrando no clube, isso significa o fim do meu espaço privado, além de ter que cumprir minha obrigação com minha irmã. Eu não tinha motivo para entrar no Clube de Clássicos. Suspirei dentro do meu coração... Foi um esforço inútil. Enquanto pensava nisso, perguntei:
— Por que você entrou para o Clube de Clássicos?
Eu não queria entrar nesse clube! Foi o que tentei transmitir com minha pergunta, mas ela pareceu não perceber.
— Bem, tenho razões pessoais para entrar.
Ela evitou minha pergunta. Inesperadamente, essa Chitanda Eru era um pouco suspeita.
— E quanto a você, Oreki-san?
— Eu?
Agora, isso é complicado. Como devo responder a ela? Acho que ela não entenderia que só estou aqui por causa de uma ordem da minha irmã. Mas, quando comecei a pensar sobre isso, percebi que ela realmente não precisa saber a razão.
De repente, a porta se abriu e uma voz ecoou pela sala:
— Ei! O que vocês estão fazendo aqui?
Era um professor. Provavelmente patrulhando o campus depois do horário das aulas. Com um corpo firme e pele bronzeada, ele parecia ser um professor de Educação Física. Embora não estivesse carregando uma espada de bambu, não seria estranho imaginá-lo com uma.
Embora já estivesse além do seu auge, ele ainda tinha aquele ar de autoridade ao seu redor.
— Boa tarde, Morishita-sensei.
Ela fez uma saudação perfeita, pela forma como inclinou a cabeça com a velocidade e o ângulo certos. Vendo como ela manteve suas maneiras independentemente de onde estava, não pude deixar de sentir inveja dela. O professor chamado Morishita ficou brevemente atordoado, em silêncio diante de sua cortesia, mas logo voltou a falar em voz alta.
— Eu vi a porta destrancada e vim ver o que estava acontecendo. O que vocês estão fazendo na sala de aula sem permissão? Qual o nome e a classe de vocês?
... Hmph, sem permissão, né?
— Eu sou Oreki Houtarou, da classe 1-B. Aliás, Sensei, esse é o Clube de Clássicos e temo que você tenha interrompido nossas atividades.
— O Clube de Clássicos...?
Sem esconder suas suspeitas, ele continuou:
— Eu achei que ele tivesse sido dissolvido.
— Bem, isso foi antes de hoje. Ele foi reativado nesta manhã. Você pode confirmar com nosso professor supervisor, umm...
— Ooide-sensei.
— Sim, você pode confirmar com o Ooide-sensei.
Uma explicação apropriada, no momento apropriado. Morishita rapidamente abaixou o tom de voz.
— Oh. Entendo. Bem, continuem com o que estavam fazendo.
— Mas você só nos viu.
— E lembrem-se de devolver a chave quando terminarem.
— Sim, senhor.
Morishita virou-se novamente para nos olhar antes de fechar a porta com força. Chitanda encolheu seu corpo ao ouvir o som alto, mas logo sussurrou delicadamente:
— Ele é um pouco barulhento para um professor, não é?
Eu sorri. Acho que não tenho mais negócios aqui.
— Tudo bem. Agora que terminamos as apresentações, devemos ir para casa?
— Hã? Não temos nenhuma atividade hoje?
— Bem, eu estou indo para casa.
Peguei minha bolsa, praticamente vazia, e virei de costas para Chitanda.
— Vou contar com você para trancar a porta. Você não quer ouvir gritos assim de novo, não é?
— Eh?
Eu, então, continuei a deixar a sala de Geologia. Ou melhor, eu estava prestes a sair quando fui parado pela voz de Chitanda.
— Por favor, espere!
Eu me virei para olhar para Chitanda, que parecia como se tivesse ouvido algo completamente impensável, e disse, sem expressão:
— Eu, eu não posso trancar a porta.
— Por quê?
— Porque eu não tenho a chave.
Ah, sim. A chave estava comigo. Ao que parece, não haviam muitas chaves de reposição disponíveis para emprestar. Então eu peguei a chave do bolso e a segurei em sua direção.
— Aqui, você cuide dis... Desculpe. Eu quero dizer, por favor, cuide disso, Chitanda-san.
Mas Chitanda não respondeu. Ela simplesmente olhou para a chave pendurada no meu dedo e logo inclinou a cabeça, perguntando:
— Oreki-san, por que você está carregando isso?
Será que ela tem alguns parafusos a menos na cabeça?
— Bem, eu não poderia entrar sem uma chave... Espere um minuto, como diabos... desculpe, como você entrou na sala, Chitanda-san?
— A porta não estava trancada quando eu entrei. Eu achei que alguém tinha entrado antes de mim, então eu não precisei de uma chave.
Entendo. A menos que ela recebesse uma carta de um ex-membro como eu, ela não teria como saber que não havia outros membros no Clube de Clássicos.
— É isso mesmo? Quando cheguei, a porta estava trancada.
Aparentemente, dizer algo assim tão despreocupadamente foi um erro, pois a expressão nos olhos de Chitanda mudou instantaneamente e seu olhar tornou-se afiado. Era impressão minha ou suas pupilas tinham ficado maiores? Indiferente à minha expressão de espanto, ela lentamente me perguntou:
— Quando você disse que a porta estava trancada, você quis dizer esta porta?
Ao me sentir confuso com essa mudança de expressão de uma menina tão graciosa, eu confirmei. Consciente ou inconscientemente, Chitanda deu um passo em minha direção.
— Então, isso significa que eu estava trancada aqui dentro, certo?
O som das rebatidas, feitas pelo time de beisebol, podia ser ouvido do lado de fora. Embora eu não tivesse mais nada para fazer naquela sala, Chitanda parecia querer conversar um pouco mais. Com um suspiro, eu cedi e coloquei minha bolsa em uma mesa próxima.
Trancada lá dentro, foi o que Chitanda havia me dito. É isso então? Eu pensei um pouco. A chave estava comigo, enquanto Chitanda estava dentro da sala. Eu não me lembro de trancar a porta. Então, a resposta era simples.
— Não foi você que trancou a porta por dentro?
No entanto, Chitanda balançou a cabeça e negou de forma inequívoca.
— Eu nunca faria isso.
— Bem, as chaves estão comigo. Quem mais poderia trancar a porta além de você?
.......
— Bem, há momentos em que as pessoas se esquecem se elas trancaram a porta ou não.
Ainda assim, Chitanda não parecia estar prestando atenção na minha explicação e, de repente, apontou para algo atrás de mim.
— A propósito, ele é algum amigo seu?
Eu me virei e encontrei uma silhueta em um uniforme preto atrás da porta entreaberta. Seu olhar rapidamente encontrou o meu. Eu me lembro de ver aqueles olhos castanhos que pareciam estar sorrindo, então eu levantei minha voz e gritei.
— Satoshi, isso é algum hobby doentio que você desenvolveu, espiar a conversa dos outros!?
A porta se abriu e, como esperado, a pessoa que entrou foi Fukube Satoshi. Sem sentir vergonha alguma, ele disse descaradamente:
— Bem, me desculpe. Eu não tinha a intenção de espiar.
— Talvez você não tivesse a intenção, mas acabou fazendo do mesmo jeito.
— Pode até ser verdade. Mas eu não podia deixar de espiar quando vi o normalmente inativo Houtarou passando bons momentos sozinho, com uma garota, na sala de aula com um pôr do sol. Eu não quero acabar sendo expulso.
Do que ele está falando?
— Eu achei que você já tinha ido embora.
— Sim, eu estava indo, mas então eu vi você com essa garota dentro dessa sala lá embaixo. Acho que ainda sou inexperiente em espiar.
Eu ignorei os comentários de Satoshi sobre nos ver lá de fora, já que essa era sua forma habitual de fazer piadas. No entanto, pessoas que não estão acostumadas a essas piadas despreocupadas podem acabar levando a sério.
Parece que Chitanda também foi enganada.
— Eh, eh, eu...
Sua expressão calma de um tempo atrás havia desaparecido, sendo substituída por um olhar confuso.
Ela parece ser do tipo que mostra suas expressões com o rosto. No momento, ela parece estar dizendo.
— Veja, estou confusa agora, com um olhar nervoso — Mesmo sendo divertido ver ela assim, eu não vou deixar isso ir mais longe.
Felizmente, a fim de expor a piada de Satoshi, tudo o que você precisa fazer é perguntar-lhe.
— Você está falando sério?
— Claro que não.
Ufa.
Chitanda deu um suspiro de alívio. Esse era o lema de Satoshi. — Piadas são feitas no local, assim como mal-entendidos devem ser desfeitos de imediato.
— Oreki-san, quem seria esse?
Após se recuperar da piada de Satoshi, Chitanda perguntou, um pouco cansada. Acho que devo apresentar Satoshi a ela, ou não chegaremos a lugar nenhum. Eu disse, brevemente:
— Ah, ele? Esse é Fukube Satoshi, um pseudo-humano.
— Pseudo?
Uma apresentação mais do que adequada, a qual Satoshi parece ter levado com bom humor.
— Haha, ótima apresentação, Houtarou. Prazer em conhecê-la. E você é?
— Chitanda, Chitanda Eru.
Assim que ouviu o nome de Chitanda, Satoshi teve uma reação inesperada. Pela primeira vez, ele realmente ficou sem palavras. Para alguém tão tagarela quanto Satoshi, isso era realmente raro de se ver.
— Chi, Chitanda-san? Aquela Chitanda?
— Hmm? Eu não sei a que Chitanda você está se referindo, mas acredito que eu seja a única na escola com esse nome.
— Então deve ser isso. Estou surpreso.
O espanto de Satoshi era genuíno. E se ele estava espantado, então eu também deveria estar.
Eu aprendi há algum tempo que este homem tem uma maneira de descobrir todos os tipos de informações incríveis. No entanto, o que foi isso que o deixou tão surpreso? Eu não fazia ideia.
— Ei, Satoshi, o que foi?
— O que foi, você diz? Eu sei que você não é tão bem informado, mas você está me dizendo que você nunca sequer ouviu falar do Clã Chitanda?
Desta vez, Satoshi balançou a cabeça e suspirou de forma exagerada. É claro que esta era uma das maneiras de Satoshi brincar. Sabendo que ele é muito bem versado em todos os tipos de conhecimento inútil, eu não estava envergonhado por ser ignorante em um deles.
— Sobre a família da Chitanda-san?
Balançando a cabeça de forma satisfatória, Satoshi começou a explicar.
— Embora haja muito poucos clãs prestigiados na cidade de Kamiyama, os mais proeminentes são os quatro 'Clãs Exponenciais'. O Clã Juumonji (十文字), que administra o Santuário Arekusu, o Clã Sarusuberi (百日紅), que opera as livrarias, o Clã Chitanda (千反田), com suas grandes fazendas, e o Clã Manninbashi (万人橋), da montanha. O primeiro caractere de seus sobrenomes é representado por um expoente do número dez (十百千万), daí eles são chamados de 'Os Clãs Exponenciais'. Os únicos outros clãs que estão em pé de igualdade com os quatro são o Clã Irisu, que administra o hospital local, e o Clã Toogaito, com sua posição dominante no campo da educação.
Pasmo, pisquei desconfiado e perguntei:
— Quatro Clãs? Satoshi, você está falando sério?
— Que rude. Eu já menti sobre coisas assim antes?
Se Satoshi está dizendo que é verdade, então deve ser. Mesmo assim, clãs prestigiados nos dias de hoje? Enquanto Satoshi ainda estava carrancudo, Chitanda veio em seu auxílio.
— Hum, eu ouvi falar dessa história antes. Embora eu não esteja muito certa sobre a minha família ser um Clã famoso.
— Então isso tudo é verdade?
— Mas é a primeira vez que escuto sobre 'Os Clãs Exponenciais'.
Enquanto eu olhava para Satoshi, ele apenas deu de ombros.
— Eu não disse que eu estava mentindo.
— Mas isso foi tudo inventado de qualquer maneira, não foi?
— Bem, eu sempre quis começar uma lenda.
Como se querendo dar um fim ao tópico, Satoshi bateu palmas e disse:
— De qualquer forma, Houtarou, qual é o problema aqui?
Você com certeza é curioso. Portanto, querendo encurtar uma longa história, eu expliquei brevemente os detalhes para ele.
Estava ficando um pouco tarde, então Chitanda foi acender as luzes. Depois de ouvir a história, Satoshi cruzou os braços e começou a murmurar.
— Hmm, esse é um caso estranho.
— Como assim? Só aconteceu da Chitanda esquecer que ela trancou a porta, não é?
— Não, isso é estranho.
Satoshi descruzou os braços e bateu palmas.
— Ultimamente, as escolas têm sido muito exigentes sobre como o campus é administrado. A administração do colégio Kami é particularmente irritante. Caso você não tenha notado, nenhuma das salas de aula aqui pode ser trancada por dentro. A razão é para prevenir que os estudantes façam algo suspeito dentro das salas.
Enquanto Satoshi explicava triunfantemente, uma suspeita me veio à mente. Eu sei que Satoshi pode ser particularmente rápido em descobrir essas informações inúteis, mas será que ele está aprendendo rápido demais? Considerando que ele está aqui há apenas um mês...
— Como você sabe disso?
— Bem, eu estava tentando me esconder em uma sala de aula para experimentar algo na semana passada, mas descobri que as portas não podiam ser trancadas por dentro.
— Você quer dizer que a escola projetou as portas assim para evitar especificamente que as pessoas façam 'coisas suspeitas'?
— Bem, acho que sim.
— Pode apostar.
Nós dois rimos. Como resultado de nossa risada seca, Chitanda deu um passo para trás. Percebendo isso, eu limpei a garganta e disse:
— Bem, algo deve estar errado com a fechadura então. Está ficando escuro, então vou para casa.
Levantei-me da mesa em que estava sentado.
Senti alguém pegar meu ombro. Virei-me e vi Chitanda, que de alguma forma se aproximou por trás sem que eu percebesse.
— Por favor, espere!
— O que foi agora?
— Eu não consigo parar de pensar nisso.
Ao ver o rosto de Chitanda de perto, recuei.
— E?
— Por que fiquei trancada? Se eu não podia trancar por dentro, então como é que eu consegui entrar em primeiro lugar?
O olhar de Chitanda tinha um tipo de poder que não aceitaria uma resposta tola. Sentindo-me oprimido por isso, respondi humildemente.
— Então, o que aconteceu?
— Se foi um erro de alguém, então de quem? E como é que eles acabaram me prendendo por engano?
— Não, acho que há algo errado com a fechadura...
— Eu realmente não consigo parar de pensar nisso.
Ela disse enquanto avançava, obrigando-me a recuar.
No começo, achei que Chitanda fosse uma garota graciosa, mas isso era meramente minha primeira impressão baseada em sua aparência. Percebi que agora estava presenciando seu verdadeiro eu. Especialmente seus grandes olhos energéticos, que contrastavam com sua aparência geral. Esses olhos refletiam sua verdadeira natureza. 'Eu não consigo parar de pensar nisso’. Essa sentença, sozinha, havia transformado a garota dos 'Clãs Exponenciais' na garota propaganda de sua própria curiosidade.
— Como isso aconteceu? Oreki-san e Fukube-san, bem, vocês vão me ajudar a pensar nisso?
— Por que eu tenho que…?
— Bem, isso parece interessante.
Interrompendo-me, Satoshi aceitou o desafio imediatamente. Como esperado de Satoshi, mas...
— Bem, estou indo para casa. Não estou interessado.
Não preciso explicar que para mim isso é um desperdício de energia. E se não preciso fazer isso, então estou fora.
No entanto, Satoshi, que deveria conhecer meu modus operandi muito bem, disse:
— Oh, vamos lá, Houtarou, nos ajude. Eu faria isso se pudesse, mas não posso chegar a conclusões apenas com base no meu próprio banco de dados.
— Isso é estúpido, eu estou...
Quando estava prestes a continuar, Satoshi olhou para o lado. Seguindo seu olhar, vi Chitanda.
— Ugh.
Com a boca fechada e os punhos segurando a saia, ela olhou para mim. Inconscientemente, dei mais um passo para trás, longe dela. Se fosse apenas para comparar a intensidade de personalidades, ela não perderia para minha irmã. Era um aviso de Satoshi.
— Acho que é melhor você seguir seus caprichos.
Olhando alternadamente para Satoshi e Chitanda, concordei e honestamente aceitei o conselho de Satoshi. Caso contrário, isso poderia implicar em uma desgraça cair sobre nós.
— Sim, acho que isso é interessante. Vou pensar sobre isso.
Não tinha escolha a não ser dizer isso, em um tom inexpressivo. No entanto, essa resposta foi suficiente para Chitanda relaxar seu olhar.
— Oreki-san, você já pensou em uma solução?
— Espere um pouco, certo?
Houtarou gosta de pensar antes de agir. Contudo, uma vez que colocar seus pensamentos em ordem, ele é capaz de fazer as coisas.
Pare de ser tão tagarela. Mesmo agir antes de pensar realmente nunca é bom. E então, comecei a pensar
Quando Chitanda entrou nesta sala, a fechadura estava aberta. No entanto, quando cheguei, ela estava claramente trancada.
Se acreditarmos em Satoshi, então não havia como Chitanda ter trancado a porta por dentro. No entanto, em vez de uma razão arbitrária desse tipo, pode ser que isso tenha sido o resultado de uma ação inconsciente. Por exemplo, a porta estava parcialmente trancada quando Chitanda entrou na sala e a mola dentro da fechadura deve ter sido de alguma forma acionada depois que ela entrou e acabou trancando-se como resultado.
Depois de explicar essa teoria, Chitanda inclinou a cabeça, reservando seu julgamento, enquanto Satoshi levantou imediatamente a voz.
— Isso seria impossível. Não tem como as fechaduras do Colégio Kami ficarem em um estado de parcialmente trancadas, com base no seu design. A chave não sai da fechadura em tal estado.
Não há espaço para meio termo, né?
Se esse for o caso, então isso nos leva a alguém trancando a fechadura conscientemente. Então, perguntei:
— Você se lembra que horas você entrou nesta sala?
Chitanda pensou um pouco e disse:
— Logo antes de você. Cerca de três minutos, eu acho.
Três minutos, isso é muito curto. Não haveria tempo, uma vez que a Sala de Geologia é o lugar mais tranquilo no Colégio Kami.
... Agora isso está ficando complicado. Quando estava prestes a pensar tudo de novo, Chitanda repentinamente gritou:
— Ah!
— O que foi, Chitanda-san?
— Já sei. Pense nisso, quem mais tem a chave?
— Hã? Quem?
Chitanda tinha um olhar alegre em seu sorriso... Por alguma razão, tive um mau pressentimento sobre isso. Como esperado, nossa madame aqui se virou para mim e disse:
— Oreki-san, é claro. Ele tem a chave.
Tal como previsto. Em vez de concluir que foi uma boa dedução, ela percebeu algo e disse:
— Ah, mas isso é mesmo possível? Oreki-san não é uma pessoa confiável?
...Você deveria dizer essas coisas na frente das pessoas? Enquanto eu estava sem palavras, Satoshi riu e disse:
— Bem, eu não sei sobre Houtarou ser confiável ou não, mas eu não acho que ele é o tipo de pessoa que iria se divertir prendendo alguém aqui dentro. Ele não tem nada a ganhar fazendo isso, afinal de contas.
Isso mesmo. Você me conhece bem - eu não faria nada que não me beneficiasse. Isso significa que não fui eu que tranquei a porta. Então, quem foi?
Eu não estava entendendo isso. Então, eu comecei a coçar a cabeça. Eu nem fazia a menor ideia. Por alguma razão, eu me senti culpado e perguntei:
— Isso não é bom. Você tem alguma pista?
— Pista? O que você quer dizer com isso?
— Uma pista é uma pista.
Satoshi ajudou a elaborar a minha explicação exageradamente simplificada.
— Algo que seja diferente do normal. Você notou alguma coisa que sentiu ser diferente ou estranha, Chitanda-san?
— Hmm, agora que você mencionou...
Há algo diferente? Embora eu não estivesse exatamente esperando muito, Chitanda estava olhando ao redor da sala de Geologia antes de virar o olhar para baixo e disse gentilmente:
— Há um tempo atrás, eu ouvi alguns sons vindos de baixo dos meus pés.
Sons? Então alguém tinha trancado a porta? Eu não fazia ideia. Não, será que esse é o caso?... Entendo. Eu, de alguma forma, cheguei a uma conclusão. Satoshi notou minha expressão e disse:
— Houtarou, você parece ter percebido alguma coisa.
Eu silenciosamente peguei minha bolsa.
— O-Onde você vai, Oreki-san?
— Nós estamos indo para testemunhar a reconstituição da cena do crime. Se tivermos sorte, talvez consigamos ver.
Senti Chitanda freneticamente me seguir, e Satoshi bem atrás dela. Já era bem tarde e o horário de encerramento se aproximava. A equipe de beisebol podia ser vista claramente arrumando seu equipamento. Chitanda e Satoshi, que eu já deveria ter deixado para trás há muito tempo, acabaram me acompanhando. Ou melhor, eles estavam me seguindo. Chitanda caminhava ao meu lado e perguntava:
— Nos diga. Como é que você descobriu?
Satoshi também disse de trás:
— Ela está certa, sabia. Não deveria haver segredos entre nós.
Pare de dizer como se fosse algo tão grave. Sem virar a minha cabeça, eu disse:
— Não é exatamente um segredo. É só que é tão simples que não requer muita explicação.
— Isso talvez seja simples para você, Oreki-san. Mas eu continuo sem entender.
Chitanda fez um beicinho... Embora fosse incômodo explicar, fugir de suas perguntas também era um desperdício de energia. Arrumei minha bolsa e me perguntei por onde deveria começar.
— Tudo bem, que tal se eu disser que você foi trancada por alguém usando uma chave mestra?
Quando eu disse algo que para mim era um fato importante, a voz de Chitanda aumentou em surpresa. Parece que teremos que começar as explicações aqui.
— Ehh? Como é isso?
— A sala de Geologia está localizada longe do campus. Se alguém fosse trancá-la na sala, ele teria que usar a chave regular e devolvê-la para a sala de professores antes que eu pudesse pegá-la emprestada. Três minutos é pouco tempo para qualquer um tentar fazer isso.
— Entendo. Então deve ter sido com outra chave, e só existindo uma chave regular, isso nos leva à chave mestra, certo?
Exatamente. E naturalmente, é de se esperar que a chave mestra não possa ser normalmente utilizada pelos alunos. Além disso, há uma outra informação decisiva.
— Chitanda-san, você disse que ouviu algo vindo do andar abaixo de você, certo?
— Sim.
— Se o som vem do chão do quarto andar, o que você normalmente teria pensado em primeiro lugar?
Satoshi, que parecia bastante descontraído, respondeu:
— Que o som vem do teto do terceiro andar?
— Certo. E esse é o nosso usuário da chave mestra.
A única pessoa que iria trabalhar com material de fixação no teto da sala de aula após o tempo de aula seria...
— Estou surpreso que você tenha conseguido descobrir que é o zelador.
Chitanda disse enquanto balançava a cabeça ansiosamente. A pessoa que eu vi no terceiro andar era o zelador, que estava carregando uma escada comprida. Quando ele saiu de uma sala de aula, ele colocou a escada no chão e tirou uma chave do bolso. E diante de nossos olhos, ele começou a trancar as portas das salas de aula do terceiro andar, uma por uma.
Em outras palavras, ele primeiro abria todas as portas das salas de aula e então passava a fazer o que ele estava trabalhando no interior das salas de aula. E quando ele terminava, ele, então, voltava a trancar todas de uma vez. Se alguém entrar nas salas de aula quando as portas estavam abertas, então essa pessoa azarada teria acabado ficando trancada... Muito parecido com a Chitanda aqui.
Quanto ao que o zelador estava fazendo, eu não tinha ideia. Ao passar por tantas salas de aula e carregando uma grande escada com ele, pode ser que ele estivesse mudando as lâmpadas das salas de aula, ou talvez verificando os alto-falantes, alarmes de incêndio ou algo assim. De qualquer forma, a questão de Chitanda foi amplamente resolvida.
E, assim, o caso foi encerrado.
— Você viu? Eu disse que ele iria fazer as coisas se ele colocasse seus pensamentos em ordem.
— Você está certo. Estou impressionada.
Eu não me acho incrível... Afinal de contas, foi o Satoshi que me contou sobre o sistema de gerenciamento de chaves, enquanto foi a Chitanda que percebeu o som que vinha de baixo.
Eu estava pensando em ficar mudo o tempo todo... Oh bem, eles podem pensar o que quiserem de mim. De qualquer forma, eu fui obrigado a passar por todo esse problema, mas ao olhar para Chitanda e ver tanta admiração honesta refletida em seus olhos significativos, acabei engolindo todas as queixas que eu possa ter tido.
— Bem, de qualquer maneira. Mesmo você estando em um ambiente fechado, eu ainda não entendo como você não ouviu a porta ser trancada.
No entanto, Chitanda não aceitou isso como uma crítica ou sarcasmo, ela apenas sorriu.
— Bem, posso explicar isso. Eu estava... sim, eu estava olhando para aquele edifício da janela.
Ela disse e apontou para um prédio ao lado da estrada. Era o Dojo de Artes Marciais. Era um edifício de madeira de aspecto decaído, desgastado depois de ser exposto aos elementos por tanto tempo.
Eu decidi pegar uma folha do livro de Chitanda e expressei minha opinião honesta:
— Parece que você está realmente fascinada por isso.
— Não, eu apenas achei esse prédio um pouco misterioso.
— Hmm.
Eu não sei como esse prédio pode ser misterioso, mas Satoshi parecia entender algo quando ele murmurou,
— Bem, ele parece ser muito velho.
— Sim, ele é.
É isso então? Pode até ser, mas para ela ter se distraído com um prédio tão antigo, eu não fazia ideia se ela estava sendo elegante ou simplesmente despreocupada.
Em pouco tempo, nos deparamos com um semáforo vermelho. Assim como nós, havia outros estudantes que estavam indo para casa.
— Aliás, nós ainda não nos cumprimentamos apropriadamente — disse Chitanda-san, gentilmente.
— Cumprimentos?
— Sim, o Clube de Clássicos vai iniciar suas atividades a partir de agora, afinal. Vamos nos divertir juntos.
O Clube de Clássicos! Eu tinha esquecido completamente! Eu pretendia apenas dar uma olhada na sala do Clube, mas foi tudo em vão, já que Chitanda se juntou ao clube... Mas isso tudo foi imprevisto. Minha inscrição já foi entregue e arquivada no registro. Nessa escola, era impossível sair de um clube antes de um mês após ter entrado.
Enquanto eu abaixava minha cabeça, Chitanda virou-se e sorriu para Satoshi.
— Você vai entrar no Clube de Clássicos também, Fukube-san?
Satoshi cruzou os braços e pareceu estar pensando, mas logo respondeu,
— Bem, isso soa interessante. Tudo bem, eu estou dentro.
— Vai ser um prazer conhecê-lo, Fukube-san.
— Não, o prazer é todo meu... Prazer em conhecê-lo também, Houtarou.
Olhei ironicamente para Satoshi, que decidiu ficar quieto.
Quando o semáforo ficou verde, comecei a andar. Coloquei a minha mão no meu bolso e senti a carta lá dentro. Era a carta da minha irmã. Na verdade, desde que essa carta de Oreki Tomoe tinha chegado, eu tinha essa sensação de que algo havia começado a se movimentar.
Você está feliz agora, irmã? Agora existem três pessoas dentro de sua juventude, que é o Clube de Clássicos. O tradicional Clube de Clássicos já renasceu. Isso também é, provavelmente, um adeus aos meus pacíficos dias de economia de energia. Quanto ao porquê...
— Ah sim, nós ainda não decidimos quem vai ser o Presidente. O que devemos fazer?
— Você está certa. Embora Houtarou definitivamente não pareça ser o tipo de pessoa que serve para ser o Presidente do clube.
Essas pessoas provavelmente não iriam tolerar meus métodos de economia de energia. Se fosse apenas Satoshi, eu ainda poderia lidar com ele de alguma forma, mas o principal problema é...
Nossos olhos se encontraram. Chitanda Eru sorriu com seus grandes olhos.
O principal problema é esta madame aqui. Eu tenho apenas um vago pressentimento sobre isso.