Volume 1 – Arco 1
Capítulo 1: Renascimento
Paz, liberdade, segurança, para muitos, coisas tão cotidianas que já não se dão mais seu devido valor. Nos marcantes anos de 1991, o Japão estava imerso no caos, por todo o país, homens e mulheres matavam para viver, colocando a comida na mesa a partir de assassinatos. Tal qual uma gripe, a profissão de “Assassino de Aluguel” contagiou a nação. Aquela época ficou conhecida pelo mais alto número de assassinos da história.
Em uma mansão, de tamanho suficiente para uma multidão, uma gargalhada alta e estridente ecoou. Em um dos vários cômodos estaria um homem. Levemente cheio, detinha de uma barba feita e grisalha, suas mãos ostentavam anéis das mais diversas joias. Seu riso não cessou, enquanto ao seu lado estavam lindas mulheres, cada uma com uma taça de vinho em mãos.
Kumori Chiaki: Chefe da família Kumori de mafiosos.
— Tragam mais vinho! Hahaha! — ordenou e voltou a gargalhada com um enorme sorriso no rosto.
Nos fundos da luxuosa mansão havia uma parte diferente, nos mais baixos niveis, em um quarto onde a luz se encontrava escassa e dava para se ver roedores no local. Nesse ambiente estaria um homem usando um terno e óculos escuros e com uma pistola em mãos.
— Está surdo?! — indagou num tom sério. — Kumori-san está pedindo mais vinho! Ande logo antes que acabe com sua diversão!
Em contraste as riquezas de Kumori e o poder do homem armado, estaria um garoto, parecia não comer há dias, seus cabelos pretos estavam bagunçados e as vestes estariam por um fio com exceção de uma coleira que ele usava. Os olhos estariam caídos e sua boca semi aberta. Seu olhar era desprovido de qualquer luz. Um diferencial para o jovem seriam esses olhos, o da esquerda azul como uma linda safira já o da direita verde como uma esmeralda brilhante.
O silêncio que cobria o rapaz era chocante, nenhum tipo de mudança em seu rosto apenas um olhar vazio, nem dava sinais de estar vivo.
Perante tal situação suas finas e fracas pernas tremiam tentando se levantar. Quanto tempo o garoto não comia? Talvez nem ele se lembre, mesmo assim ele andou com o vinho em mãos.
Kurumi Kuni: Escravo da família Kumori.
— Até que enfim! — Ele resmungou. — Escute aqui fedelho, eu te mantenho vivo apenas porque a Kowan gosta de você — acrescentou e abriu a garrafa de vinho pondo numa taça. — Mas caso siga sendo inútil, nem ela pode te salvar, entendeu?
O jovem apenas concordou com a cabeça com o homem voltando a sua gargalhada junto das moças.
— Blargh! Essa bebida é horrível! Como ousa me dar algo tão intragável?! — Ele se levantou e virou a garrafa jogando toda a bebida na cabeça de Kurumi.
— Hahaha! Ele nem faz nada! — falaram as lindas moças.
— Agora limpe tudo, vira-lata!
A expressão morta dele não mudou, apenas realizou a tarefa e limpou o chão com a língua.
“Eu sou... Quem eu sou mesmo? Já faz anos que minha existência perdeu o valor... Na verdade acho que nunca nem teve, nem pros meus pais, talvez por isso que antes mesmo de aprender a andar, eu já tava num orfanato...”
Alguns anos atrás, numa fazenda em algum lugar do Distrito Shimoina
Kurumi corria por belas terras, detinha um sorriso largo e olhos cheios de luz e emoção, uma diferença clara com seu futuro. Junto dele estariam uma grande quantidade de crianças, todos garotos.
— Ei! Kuni! — diria um dos garotos com um sorriso em seu rosto e cercado de outras crianças. — Vamos brincar!
— Vamos! — respondeu.
Os dias eram assim, brincadeiras, amigos e sorrisos todos os dias.
Em meio as brincadeiras uma figura se acrescentou, uma mulher de cabelos castanhos presos num coque, utilizava uma roupa de servente e detinha um sorriso calmo no rosto.
Kana Kowan: Dona do orfanato Kowan.
— Crianças! Venham! — ditou. — Está na hora do jantar, venham pôr a mesa enquanto eu faço a comida! — acrescentou calmamente enquanto as crianças seguiam seu pedido.
— Posso ajudar?! — indagou o jovem Kurumi, tinha um olhar brilhante e um largo sorriso.
— Hmm? Ajudar no que?
— Na cozinha! Eu quero ajudar a senhora no jantar! — Ele diria com seu sorriso apenas aumentando e os olhos parecendo faróis de tão brilhantes.
Sua frase despertou a gargalhada de seus amigos. As crianças riam com ele ficando levemente vermelho.
— Kuni! Cozinhar é coisa de mulher! — Se aproximou um dos garotos enquanto ainda ria.
— É só que... — Ele perdia as palavras ficando vermelho naquela situação.
Os demais garotos seguiam as gargalhadas e até mesmo Kana dando leves risos. Seu rosto estaria vermelho, ele pressionava os dentes quando em seu peito algo parecia se fechar como um cadeado.
— Eu tô brincando! Hahaha — Ele ria. — Eu não gosto de cozinhar! É coisa de mulherzinha!
— Isso mesmo! Cozinhar é coisa de bichinha! — gargalhou falando aquilo.
— Você não deveria falar coisas assim — Kana repreendia.
01:00 AM
No calar da noite as crianças estavam todas adormecidas, Kurumi se debatia em sonos profundos até que acordou e ficou á estalar os lábios.
— Sede — murmurou lutando pra manter os olhos abertos. — Quero leite!
Com essas palavras se retirou do local de descanso e foi para a cozinha, remexeu a geladeira e notou a falta do leite. Fazendo beicinho com isso, ele olhava pela janela vendo uma das vacas e uma ideia veio em sua mente com seus lábios esboçando um sorriso malicioso.
Em paralelo a isso, sons de passos corriam pela casa com as crianças sendo acordadas pelo ranger da porta e viam Kana com uma vela em mãos.
— Kana-san... — balbuciou a criança, com seus olhos lutando pra ficar abertos e dando um leve bocejo. — O que houve?
— Oh nada — respondia a mulher num tom calmo e suave. — Eu só estou pensando, me digam, vocês gostam de mim, crianças?
Questionou ela ainda imóvel com um sorriso.
— Nós te amamos, Kana-san — O jovem respondia. — Mas está tarde, podemos continuar a conversa aman...
— Então acho que está na hora de me pagarem, né?
As crianças ficaram confusas em relação a isso quando de repente... a porta do quarto se quebrou.
POW!!
Vários homens armados entravam no local e as crianças ficavam sem entender o que acontecia e apenas se escolhiam. Kana soltava seus cabelos, deixando-os longos e lisos, chegando além dos ombros, e sua feição estava totalmente mudada, agora esbanjava um sorriso malicioso, mãos na cintura e um olhar penetrante enquanto as crianças choravam se tremendo.
— Quietos! — Ela bradou.
As crianças se calaram e nisso Kumori entraria no local indo até Kana e a abraçou por trás.
— Bom trabalho, minha querida esposa.
—Tudo por você, amor. — Ela se aconchegou em seus ombros.
— Por que está fazendo isso, Kana-san?! — questionou uma das crianças com olhos repletos de lágrimas.
Ela tirou de seu bolso um cigarro. — Todos vocês são filhos de inimigos do meu marido. — Colocou o cigarro em sua boca e tentou acender com o isqueiro. — Fizemos parecer que foi abandono, mas na realidade foi um sequestro, vocês são nossa moeda de troca.
A mulher deu uma longa tragada em seu cigarro e ao ouvirem isso as crianças ficaram boquiabertas, olhando para ela de forma fixa.
— Falsas histórias de origem, falsas emoções, a vida de vocês é realmente deprimente — Ela seguia — Seus pais sabiam das suas vidas, o acordo era simples. “Nos deixem em paz e seus filhos ficam vivos, nos desafiem e seus filhos morrerão”
Com isso ela tirou o cigarro e deu uma grande borrifada de fumaça que se desfazia no ar. Ela olhou para as crianças, teria um olhar frio, aqueles olhos que sempre deram paixão e alegria agora davam o oposto disso.
— Hmmm? Onde está o Kuni?
— Grrrr — rosnou Kurumi com sua boca numa teta de vaca. — Solta o leite, tetuda!
Ele acabou por morder a teta da vaca que irritada o chutou pra longe. Ele se levantou com os olhos girando e notou alguns homens, sendo os capangas de Kumori.
— Ah? Também vieram pelo leite? — Ele questionou para os guardas. —Foi mal, mas essa mimosa tá bem egoísta.
Os homens viriam a apontar suas armas na direção dele.
— Você lembra das ordens do Kumori-san, “mate todas as crianças!” — O homem ditou com um sorriso malicioso no rosto.
— Oque?! — Ele indagou ouvindo aquilo, seus olhos se abriam bastante e o suor escorria de seu rosto, sem acreditar no que foi dito. — M-matar todas as crianças?!
Os homens sorriam enquanto ele tentava ao máximo se afastar.
— Ei! Ele não! — diria uma voz, sendo ela a de Kumori que vinha se aproximando. — Ele não.
Todos ficavam confusos com isso e ele se aproximou do garoto, Kumori botou a mão no maxilar de Kurumi e o puxou para perto para analisar seus olhos.
— Olhos diferentes, um verde e um azul. — disse, num olhar fixo. — São lindos, assim como você falou, meu amor.
— Não falei? — Disse Kana.
Kurumi congelou, ficou sem se mexer com os olhos quase saindo do rosto e cada fibra do corpo tremendo, olhava para ela que sorria o olhando de volta.
— Ka-kana... Kana-san! — balbuciou. — O que houve?! Onde tá todo mundo?!
— Eles todos... — A mulher se aproximou dele e botou a mão na bochecha do garoto e o olhou com um olhar vazio. — Já morreram.
Essas palavras o afetavam mais forte que uma facada em seu coração, aquilo o fez fraquejar as pernas e ir ao chão de joelhos, com lágrimas que não paravam de cair.
— Mas fique calmo, você não terá esse destino — tranquilizou a mulher. — Seria um desperdício matar você. Não com essa beleza toda.
Ele seguia sem entender e ela logo botava uma coleira no pescoço do rapaz.
— Esse seu sorriso encantador, esses olhos raros, são bons demais pra morrer! — afirmou a mulher com uma feição calma, similar a uma garotinha olhando um gatinho filhote. — A partir de hoje Kuni, você será o meu bichinho, tá bom?
— B-bichinho? — Ele indagou aquilo sem conseguir entender.
— Vamos nos dar bem, okay?
De Volta aos Dias Atuais
Fora da mansão, um vulto se locomovia pelas calmas e pacatas ruas da cidade, vestia um sobretudo longo e em sua cabeça um chapéu que cobria seu rosto.
O tal vulto seguiu e se aproximou de uma mulher.
— Olá, minha cara — pronunciou num tom suave levemente relaxado.
A mulher gelou demonstrou uma aflição, um arrepio e tremer de seu corpo perante a presença desse ser.
— Sabe me dizer onde eu posso me encontrar com este homem?
Perguntou com calmas palavras. Tinha em mãos uma foto tendo nada menos que Kumori.
— Ah! E-eu... Não posso! — balbuciou. — Como espera que eu diga a localização de alguém pra um homem suspeito que nem ao menos mostra o rosto?!
— Oh! É apenas isso?
Ele movia as mãos cobertas por luvas e retirava seu chapéu e abaixava a gola e sorria mostrando seu rosto, olhos azuis e um cabelo loiro curto. Um rosto que despertou um sorriso bobo no rosto da mulher.
— E agora? Melhor?
— Oh... Meu deus... — ditou a mulher com as bochechas vermelhas e um brilho reluzente no olhar, não conseguia tirar os olhos dele ou o sorriso bobo, seu coração parecia que ia sair do peito. — E-eu... Ahhh! — gaguejou.
O homem seguia sorrindo num tom sereno e se aproximou da mulher.
— E então? Você já o viu?
— Oh, não, mas tem algo que eu posso te dar tão bom quanto — ditou a jovem de bochechas ardendo como tomates.
Ela rabiscou na parte de trás da foto e devolveu para o loiro que notou alguns números atrás.
— Hmmm? E isso séria?
— Meu número... Caso você queira.
Ele apenas deu um suspiro e com calmos passos ele se retirou da presença da jovem. Ele ouvia o soar de passos e se virou para trás vendo Kurumi em seu mesmo estado de antes.
— Meu jovem, poderia me tirar uma pergunta? — indagou.
Perante isso o garoto não demonstrou reação, apenas seguiu reto.
— É meio falta de educação sair quando estão falando com você, não acha? — falou quando os olhos se batiam contra a coleira dele e logo mudou sua feição.
Kurumi ia pegando os tomates de uma feira.
— Meus tomates! — reclamou o vendedor. — Você tem que pagar por eles seu mol...
BAAANG!
Um som enorme de uma arma. O vendedor caia no chão com sua cabeça perfurada e o garoto seguiu numa feição totalmente fria.
Em suas mãos estava a arma com a fumaça que ainda saía. Essa visão pasmou o homem. “Ele parece tão jovem, ainda sim conseguiu matá-lo com tamanho sangue frio... Na realidade, entre esses dois... Esse garoto é quem mais parece estar morto”. Pensou ele que olhava os olhos vazios e mortos do garoto.
— Ei! Garoto! Que olhos bonitos — falou o homem. — Tão diferentes — Portou um sorriso em seu rosto.
Kurumi apenas seguiu andando quando o som estridente de seu estômago abalou o homem.
— Acho que ainda não almoçou hoje, não é? — indagou perante aquela situação. — O que acha de eu pagar um Udon pra você?
Seu corpo apenas parou ao ouvir aquilo.
— Udon? — Questionou ele ao ouvir.
Num humilde restaurante não muito longe. O garoto virou um grande prato de Udon comendo aquela comida com um largo sorriso.
— Você realmente está com fome, né? — perguntou o homem de canto com um sorriso calmo em seu rosto. — Aqui, pode comer o meu também.
Em resposta a isso ele sorriu pegando a tigela e a virando em sua boca, seu olhar estaria diferente agora estaria mostrando vida e uma luz.
— Muito obrigado pela comida!
— Ohh! Que bom que gostou. Agora é hora de você me pagar.
— Pagar? — indagou arregalando os olhos.
— Bom, é o capitalismo. Você me dá algo e em troca te dou algo. Nada é de graça. — Apoiou a cabeça em seu rosto ditando aquilo.
Assim que notou a encrenca na qual se meteu Kurumi botou a mão no bolso, mas era surpreendido pela falta de sua pistola.
— Procurando por isso? — questionou o homem tendo em mãos a tal pistola. — E então vamos conversar?
— E-eu não tenho dinheiro. Nenhum tostão sequer!
O homem pegou uma xícara e deu um leve gole em seu chá, ele soltou o ar quente. Enquanto o garoto olhou aquilo quieto.
— Eu não quero dinheiro, só informações sobre o seu chefe.
— M-meu chefe? — balbuciou — Que chefe? Eu não tenho nenhum chefe!
O homem seguiu tomando seu chá jogando do bolso várias fotos de Kumori.
— Kumori Chiaki. É seu chefe, não é? Ou melhor... — Ele apoiou a cabeça em sua mão com a outra que apontava pra coleira em seu pescoço. — Ele é seu “dono”, certo?
O jovem se calou enfim olhou aquele homem com seriedade.
— Essa sua coleira... — falou ainda com os olhos no acessório. — Ela é a marca registrada da família Kumori.
Ele fazia uma pausa e deu um leve gole em seu chá. Kurumi não entendia direito aquela situação, mas uma certeza ele possuía... aquele homem não era normal...
— As mulheres da família Kumori geralmente tem esse costume de botar coleiras em escravos e os tratar como cachorrinhos. — Ele retornou sua explicação ainda calmo. — Esse é o seu caso, certo?
Ao ouvir isso ele voltou a ficar quieto com a cabeça baixa, um silêncio absoluto dominou a mesa, os azuis olhos do loiro não piscavam ou hesitavam. Até que o garoto cedeu, aquela leve batalha mental teria o desfecho quando ele acenou positivo com a cabeça.
— Já imaginava. — O homem respondeu ao ato e se levantou. — Bom pode me levar até ele?
— Que merda você tá pedindo?! Eu nem sei quem diabos é você!
— Oh, onde estão meus modos? Me chamo Shizan Muzaka — respondeu sereno. — Mas me chame de “seu salvador”, caso queira.
Um tom sereno saia desse homem que se revelou. Kurumi o olhava fixo, não sabia ao certo o motivo, mas o simples nome do homem já fazia com que seu corpo tremesse e um suspense invadisse seu corpo.
— Agora você tem duas opções — afirmou enquanto mostrava dois dedos em sua mão. — Você pode correr de volta pro seu dono e me dedurar, talvez até ganhe um petisco por isso. Seria a ação correta pra um cachorrinho.
Aquelas palavras o deixaram com os dentes rangendo e suas bochechas levemente avermelhadas.
— Ou... — alternou — Você pode me levar até seu chefe para que você possa ser livre. Oque me diz “cachorrinho”?
Essas palavras entravam em sua mente e acessavam suas mais dolorosas lembranças. Tais pensamentos o mergulharam em antigas memórias.
Kana estaria numa pequena clareira com uma xícara de chá em mãos e perto dela estaria um lobo.
— Mate-o. — diria ela para Kurumi com uma feição seca.
— M-mas Kana-san... Eu não...
— Eu não pedi suas palavras — A mulher interrompeu. — Eu te dei uma ordem. Você não é meu escravo, é meu bichinho. Eu não preciso de um bichinho que me diz não — afirmou enquanto fechava os olhos. — Você não deve dizer sim ou não as minhas ordens, apenas lata e as faça ou irei ter que arrumar um novo bichinho.
Ao ouvir aquilo ele sentiu uma dor enorme em seu peito e ela deu um leve gole em seu chá e agora abria os olhos mostrando um olhar frio para o garoto.
— Entendeu?
— ... Au au!
— Muito bem.
Ele partia para cima do lobo e recebia grandes cortes e logo uma quantia de sangue jorrava no chão.
Fora de sua mente gotas também pingavam... Lágrimas de Kurumi. Sua boca tremulava sem parar enquanto as lágrimas não cediam, apenas caiam naturalmente com sua mente que se perdia naquelas memórias.
Kumori estava sozinho em seu sofá com os guardas armados na sua volta. Passos ecoaram e chamaram a atenção deles, Kurumi retornou, estava com sua cabeça baixa e seus cabelos negros escondiam seu olhar.
— Até que enfim você voltou! — resmungou. — Trouxe os meus tomates, vira-lata?!
— Kurumi.
— Hmm? Oque disse?
— Meu nome... É Kurumi Kuni! E eu não sou mais o seu bichinho! — Ele ditou enquanto levantava a cabeça mostrando os dentes rangendo e pareciam que iam quebrar de tamanha pressão.
Seus olhos ardiam em chamas, o ranger dos dentes e a firmeza em suas mãos para finalmente se libertar dessa prisão. Com em mãos sua pistola que apontou para Kumori. Sem perder tempo os guardas apontaram as armas para ele.
— Acho que não, senhores. — Uma voz ao longe diria aquilo.
Um som estridente ocorria, surpreendendo os guardas.
CRASH!!
O vidro era quebrado voando por todo o local. Em uma entrada triunfal Shizan voava em uma pá. Seu sobretudo estava aberto e seu chapéu saia com a brisa do vento. Os guardas sem entender direito a figura do homem atiravam nele ainda no ar.
Num movimento rápido ele movia sua pá para as mãos e o simples vento emitido pela ponta redirecionou as balas, conforme se aproximava do chão ele mirava e assim pousou e perfurou o peito de um dos guardas. Ambas as mãos debruçadas em sua arma e ele se deu a perda de seu chapéu, com seu rosto totalmente à mostra.
— Essa pá... Você é... — balbuciou Kumori com o corpo tremendo e os olhos arregalados.
— Impossível, ele é... O homem que ocupa a terceira posição do ranking de Assassinos de Aluguel — ditou um dos guardas com seu corpo paralisado. — O Deus da Morte!
O loiro sorriu e apoiou-se em sua pá.
— Deus da morte? Você não falou nada sobre isso!
— Apenas detalhes, meu jovem.
Kurumi o olhava vendo a feição dele ainda sorridente. “Esse cara... Ele consegue sorrir e se manter calmo mesmo enquanto mata, parece um psicopata... De onde diabos ele tirou essa pá?!”.
Aproveitando-se da brecha de atenção, Kumori deu um tapa contra a mão de Kurumi, arremessou a pistola para o chão e a pegou.
— Se-senhor Deus da morte! — disse ele gaguejando com um sorriso forçado. — Tenho certeza que podemos chegar num acordo, quanto te pagaram? Eu pago o dobro, não, o triplo! Pago o quanto quiser, apenas me deixe viver!
Shizan daria um leve sorriso com isso.
— Fufufu. Acho que você me entendeu errado, Kumori-san. — Ele se mantinha distante emocionalmente, mas fisicamente se aproximava cada vez mais dele, emanava uma aura que o fazia não conseguir nem se mexer, apenas via o olhar penetrante e vibrante desse homem junto de um sorriso sombrio.
— Eu não faço isso pelo dinheiro... — afirmou ele num tom frio. — Eu faço apenas pela matança! A morte é algo lindo! Eu amo tanto! Poder vê-la todos os dias é como um festival sem fim! — Seu tom mudou totalmente, um sorriso absurdamente largo e olhos arregalados enquanto estava coberto de sangue e sentindo o aroma dos cadáveres.
Kumori mais e mais ficou paralisado perante aquele homem até que ele disparou, disparou e disparou. Shizan tocava sua pá contra o chão e um enorme braço surgia do chão e impedia aquele tiro.
— Não queria sua liberdade? Ela está bem aí.
Kumori se encontrava no chão desarmado quando um cano seria posto contra sua testa, quem segurava?... Quem não... Se não Kurumi.
— Cadê ela? — Ele questionou frio.
— Ah? Ela? — Ele indagou enquanto suava com os olhos que quase saltavam de seu rosto.
— Kana-san... Onde ela tá? — seguiu ele com um olhar distante e a mão firme no gatilho.
— Kana... Oh a Kowan! Ela não está mais aqui.
— Onde ela tá, porra?! — respondeu de forma apenas colocando sua arma mais fundo ainda.
— Ela morreu! — Ele gritou agora se tremendo muito. — Ela descobriu que eu estava tendo um caso e tentou me roubar e eu tive que agir!
Ele ouvia isso e seguiu totalmente inflexível com aquela resposta.
— Então você não é mais útil pra mim.
A arma apenas seguia contra a testa de Kumori. Ele arfou sem parar quase perdendo o folego e encharcado de um suor frio como gelo.
— Ku-Ku-Kurumi-kun! Não faça isso, por favor! — Ele gaguejou — Eu sei que errei, mas me arrependo! Abaixe essa arma, por favor!
O garoto apenas o olhava, sua mão não hesitava e ele seguia forte.
— Não podemos deixar tudo no passado?! Eu não vou mais te tratar desse jeito, não será mais meu cachorro... Será meu filho! — permanecia implorando. — Eu irei te tratar bem! Te dar amor, comida, você até herdará toda a minha fortuna!
Essa parte o afetou e assim perdeu um pouco a postura.
— Bastante comida? — Ele indagou. — O que vai me dar?
— Pizza... Gyudon... Oque quiser! Eu te darei!
— Entendi parece mesmo bem gostoso. — Ele respondeu esboçando um sorriso reluzente.
Kumori sorriu vendo aquela feição e agora a arma não apontava mais para ele.
BAAANG!!
O sorriso e face pura de Kurumi se mancharam... mancharam por uma quantidade enorme de sangue. Sua arma soltava fumaça enquanto Kumori estaria morto no chão.
— Agora já sei o que vou comer amanhã.
— Ótimo trabalho, cachorrinho.
— É Kurumi!
Ele respondeu grosso e logo andou e remexeu as gavetas do cômodo na procura de algo.
— Onde tá? Onde tá?! — seguia caçando quando seus olhos se encheram de uma luz pura. — Achei!
O olhar brilhava numa pureza totalmente diferente da frieza anterior, ele segurou um anel que teria um símbolo esférico preto.
— Um anel? Não me parece de grande valor. Por que esse interesse?
— Não é pra vender! Ele é meu! Meus pais me abandonaram junto desse anel — explicou enquanto olhava o símbolo. — É uma castanha, tá vendo? Por isso meu nome.
— Castanha? Me parece mais uma gota d’água.
— Cala a boca!
— Bom, vamos embora.
— Pera, falta uma coisa — respondeu.
Ambos estavam parados longe da mansão, seus olhos estavam iluminados brilhando. O fogo seria a causa desse brilho, a mansão ardia em chamas e ele sorria vendo sua coleira queimar.
— Finalmente eu tô livre! —gritou com um largo sorriso. — Valeu, loiro!
— Não. — Ele sorriu atraindo a atenção do jovem para si. — Você agora tem uma dívida comigo de 10 bilhões de ienes.