Hinderman Brasileira

Autor(a): Oliver K.


Volume 1

Capítulo 3.2: Alien

 Era quase fora de Sproustown, cerca de dois quilômetros da estrada nordeste. Em uma vizinhança distante de natureza rural chamada Little Quarry. Ali não havia prédios e as casas eram todas construídas sobre a terra, providas de grandes terrenos em sua parte de trás. Era comum os terrenos não terem separação, ou quando muito uma cerca baixa precariamente fortificada sobre o barro.

 — Não é de se surpreender que Hernandez tenha bisbilhotado na janela dos Johnson sem muito esforço. — Comentei.

 — Nesse tipo de lugar não existe muito segredo entre os moradores... — Disse Lowe.

 — Eu e Joey vamos ver a nossa testemunha. Vocês duas dêem uma olhada na cena. Já vamos para lá.

 — Ok.

 Eu e Joey fomos até a casa do tal Gelson Hernandez. Batemos na porta e ele rapidamente atendeu. Assim que dissemos que éramos da polícia seus olhos brilharam e ele ficou entusiasmado, convidando-nos para entrar. Era um sujeito de idade avançada e não exatamente parecia ter seus dias muito ocupados, de modo que deveria estar ansiosíssimo para partilhar sua história do extraterrestre com mais alguém.

 — Era um ninja! Juro por Deus! Ele saltou do meu telhado e foi parar no da vizinha. E depois saltou de novo até a casa de trás. Assim em duas etapas só, seu guarda — Acredite: ele me chamou de “seu guarda” — Pulou uma e depois outra.

 — Como era o sujeito?

 — Era ali. — Ele apontou para a parte da frente do telhado da casa da vizinha, ao lado da antena. — Ele estava ali quando pulou da minha casa. Depois ele foi naquele telhado de lá.

Hernandez era desses velhos que ficam repetindo a mesma coisa.

 — Iremos investigar... Mas poderia dar uma descrição do sujeito?

 — E foi num pulo só. A senhorita Thomas não acredita, mas eu juro que...

 Como pode-se ver, foi uma conversa difícil, mas após certo esforço conseguimos alguma coisa. Passada a entrevista Joey repetiu o que tinha anotado em seu bloquinho:

 — Aprendemos que o suspeito tinha longos cabelos brancos, era jovem, aparentemente perto de seus trinta e poucos anos, e ele provavelmente tinha uma capa? Uma capa, tenente? Esvoaçando atrás de seu corpo à medida que saltava? Não era um exagero do Hernandez? Parece tão saído de cinema... Uma capa!

  Apenas limpei o suor da testa. Procurei minha carteira de cigarros no bolso do meu casaco e acendi um.

 — Vamos ver como as garotas estão indo. — Decidi.

 Não foi de propósito, mas por acaso que Joey estava um pouco mais afastado e eu acabei entrando no recinto da cena propriamente dita antes dele. Ainda havia um policial da perícia que tinha dado as informações essenciais sobre os acontecimentos para Crane e Lowe. Ele estava no hall.

 Eu tinha ouvido falar que não constava muita informação sobre a senhora Johnson. No hall, do lado de trás da faixa de delimitação, ainda estavam desenhadas as marcações dos locais dos corpos. Caminhei rapidamente para o quarto e pude ouvir um pouco da conversa de Lowe e Crane. Ao invés de aproveitar a oportunidade para passar no teste de Bechdel parecia que elas estavam conversando casualmente sobre mim:

 — Ele não fala muito... Quer dizer, fora dos assuntos do serviço. Fica difícil dizer exatamente o que se passa na cabeça dele. — Era a voz da Crane — Mas o jeito dele deixa tudo mais difícil. Ele sempre vem cuspindo ordens para mim e para o Joey. E para o Cole. Ele é ainda mais ríspido com o Cole.

 — Engraçado. Tive a impressão de que era o oposto de ríspido... — Comentou Lowe.

 Quando entrei no quarto elas pararam e me olharam. Lowe tinha um saquinho com uma agulha de tricô amarrado a um pouco de lã. O saquinho estava fechado.

 — E então? — Perguntei, como se não tivesse escutado nada — Alguma coisa?

 Ela me mostrou o saquinho.

 — É uma evidência. Eles deixaram elas aqui. Estava caído no chão ao lado da senhora Johnson. Fora isso, nada demais. — Ela deu de ombros — Realmente não tem indício nenhum de conflito aqui. Acho que podemos dizer que realmente foi obra de ductu.

 — Se sim estamos lidando com um monstro. Resolvi muitos casos em Sproustown, mas nunca em nenhum deles me deparei com alguém que pudesse matar com ductu apenas.

 E era verdade. Trabalho em Sproustown há mais de quinze anos. Nem sempre fui tenente, comecei como detetive, assim como o Joey. Mas é muito raro um ser paranormal conseguir afetar pessoas dessa maneira com uma habilidade tão simples.

 Para entender o conceito de ductu, pense em um cachorro e analise seu instinto. Quando vê uma presa fácil seu instinto diz “ataque”, quando seu instinto lhe afirma que a presa lhe trará problemas caso engaje numa luta, ele diz “lata, mas mantenha distância.” Humanos embora possuam um grau menos aguçado de instinto ainda têm um pouco que herdaram da evolução de seus antepassados. Ao ver uma aranha não temos todos um estremecimento? É herança fisiológica dos tempos em que não havia meios de combater o envenenamento e nem meio de reduzir as infestações, o que tornavam estes bichos seres perigosos para a nossa raça. Hoje em dia as aranhas não são tão perigosas quando antigamente devido à tecnologia e a presença dos postos de saúde, mas ainda mantemos um medo intrínseco de tais criaturas. Por menos venenosa que a aranha seja sempre há o estremecimento.

 O Ductu é parecido. É a manifestação do instinto em um ser inteligente. Ao se deparar com um ser indubitavelmente mais forte que você, o ductu lhe diz “tome cuidado, esta criatura à sua frente não é pouca coisa”. Como eu disse, aliens são criaturas essencialmente mistas de animais e humanos. Não no sentido literal da palavra, mas mistas no sentido de que muitas características animais são partilhadas por eles. Não é de se admirar que o instinto seja uma delas e seja ainda mais aguçado, assim como todas as demais características.

 Aliens essencialmente podem detectar de longe a presença de outros seres paranormais apenas usando este instinto que funciona como uma vibração, propagada como uma onda cerebral. O ductu indica ao extraterrestre não só se há perigo, mas também onde o perigo está.

 O que nos leva ao anti-ductu.

 Uma medida natural que a evolução proporcionou a seres paranormais munidos de ductu como os aliens foi o anti-ductu. Veja só: se numa comunidade de mais de um alien existisse apenas o ductu, todos teriam um receio interminável dentro de si, dizendo a cada um deles para evitar se aproximar dos demais, causando conflito social desnecessário e porque não dizer ameaçando a espécie. Visto que o instinto os avisa se a presença do organismo avistado é perigosa ou não, e como os próprios alienígenas são dos seres mais perigosos, este instinto ficaria martelando dentro deles o tempo todo. Para anular este estado de diligência, a natureza os abençoou também com o anti-ductu, técnica que pode ser usada para perder instantaneamente o medo que veio como instinto pela própria natureza.

 A priori pode-se pensar que as duas forças anulam-se uma a outra e eles são como seres humanos normais, então, sem vasta capacidade de discernimento. Mas não é assim. Existe certo grau de controle do anti-ductu. Um alien sente sim a insegurança quando há algum outro alienígena ou outro organismo potencialmente perigoso por perto, entretanto o anti-ductu só é acionado momentos depois, ao se avistar que este outro ser é também um da mesma raça.

“Ops, tem alguém perigoso por perto. Ah! É você. Tudo bem, o medo foi embora.”

 E este processo evolutivo chega à habilidade que eu quero chegar: a habilidade de controle do próprio ductu. Alguns alienígenas evoluíram a ponto de serem capazes de sentir ductu e anti-ductu quando quiserem. Mas como a própria palavra já indica, anti-ductu não é apenas a anulação pessoal do ductu, mas sim o equivalente a infligir ductu nos demais organismos de modo que se perca a sensação de receio. Se todos se sentem igualmente receosos, ninguém está. O que significa que alguns aliens podem escolher infligir o medo nos demais seres, a partir do anti-ductu.

 O anti-ductu, em disparidade com o ductu, não é a capacidade de esvair o medo, mas de infligir.

 Percebe onde quero chegar? Se um ser que pode infligir um medo natural nos demais organismos, e este medo natural é forte o suficiente para anular o sentido quando presente de um espécime de mesmo grau de periculosidade, então quando lançado anti-ductu em um organismo desprovido desta habilidade, como um ser humano comum, por exemplo, o ductu se torna uma sensação indescritível de receio exagerado, aparentemente inexplicável.

 Já que o medo causa a aceleração do coração, o que estávamos especulando era a possibilidade de anti-ductu ter sido infligido naquele casal de idosos de modo a causar um enfarte, visto que eles poderiam sofrer uma espécie de problema cardíaco.

 Pode-se matar seres humanos com anti-ductu apenas? Esta é a pergunta que pairava.

 Até então eu nunca havia visto nada parecido, mas seguindo o argumento lógico nada impede a possibilidade. Entretanto para fazer possível teria que ser um alien provido de uma extrema intensidade de anti-ductu natural.

 — E você, Crane? O que acha?

 — Bem, eu não sei... Hernandez foi o único que viu o suspeito... Sempre existe a pergunta: será que ele viu mesmo?

 Cocei minha costeleta.

 É verdade que a história toda é muito conveniente para Hernandez. As únicas impressões que existem na casa dos Johnson são as dele: no parapeito da janela e no interior da casa. Segundo ele, ele tinha se debruçado para avisar os Johnson do acontecido e então quando avistou o casal perecido, entrou deixando as impressões que ficaram dentro da casa. O relato dizia que ele abriu a porta (que estava destrancada, apenas encostada) e adentrou-se, esperando prestar socorro ao casal tombado no chão. Só quando chegou perto deu-se conta do que havia acontecido.

 A versão dele indicava que havia um alien envolvido. Enquanto que a possibilidade levantada por Crane indica que isso seria apenas um caso comum, que poderia ser deixado para a polícia convencional, e Hernandez seria então o principal suspeito.

 — Creio que é difícil de saber com certeza, não é...?

 Percebi que Joey estava demorando demais para entrar. Lembre que ele estava há apenas uns passos de distância quando o convidei para conferir a cena do crime. E mesmo assim deu tempo de entrar no quarto e trocar todas aquelas frases. Assim que isso me passou pela cabeça ouvimos a voz dele:

 — Tenente! Aqui!

 A entonação era de urgência, então todos os três corremos da casa dos Johnson para fora. Joey estava logo à porta, apontava para o telhado da residência de trás.

 Inclinei a cabeça para a direção apontada e o vi: um jovem de vinte e poucos anos e cabelos longos, vestindo uma espécie de sobretudo desabotoado que esvoaçava como uma capa às suas costas. A descrição era imbecilmente fiel ao relato de Hernandez. Assim que meus olhos pousaram sobre ele, o jovem saltou da casa vizinha na direção oposta a nós.

 Não deu muito tempo para pensar. Sem proferir nenhuma ordem aos demais simplesmente larguei meu cigarro na grama e pus-me a imitar seus movimentos, visando alcançá-lo. Ele já estava longe, mas não podíamos perdê-lo de vista. Saltei no telhado da casa dos Johnson depois alcancei o da residência vizinha também com um pulo só. O teto da outra residência já era um pouco mais afastado, então hesitei um pouco antes de pular.

 Embora eu conseguisse fazer o parkour assim como aquele alienígena, eu não tinha tanta maestria. Felizmente as casas acabaram e o caminho acabou se tornando um pedaço de floresta. Chegamos a um aglomerado de árvores que ficavam ao lado de uma estrada de Little Quarry. Não conseguia avistar o suspeito, mas meu anti-ductu indicava a direção que ele estava. Saltei do telhado ao chão e comecei a correr a pé.

 Percebi que apenas Joey havia me alcançado. Ele portava sua calibre 22 na mão.

 — Ele está aqui! — Gritei para Joey e apressei o passo. Joey deve ter apressado-se mais ainda, pois em alguns segundos ele me alcançou.

 Alguns instantes depois conseguimos ver o sujeito. Estávamos em uma descida que tinha poucas árvores, era mais um monte de grama com apenas uma árvore aqui e ali. Não tinha muito espaço para esconder-se. Ele tinha um objeto brilhante às suas costas e continuava correndo o mais rápido que podia.

 — Atire! — Disse à Joey. E ele obedeceu.

 Após o disparo ouvimos um barulho de metais se chocando, e o sujeito continuou em seu passo acelerado. Deduzi que Joey de alguma forma devia ter errado o tiro.

 Joey disparou novamente e o barulho de metais se chocando foi ainda mais nítido. Dessa vez percebi um pequeno movimento quase imperceptível do objeto que o fugitivo possuía amarrado às suas costas. Era uma lâmina de algum tipo. Ele provavelmente estava usando uma mão para defender-se dos tiros com a lâmina, retirando-a do suporte e após isso guardando a arma novamente no depositário amarrado às costas rapidamente. Isso requeria uma destreza admirável.

 Então foi que percebi que o fugitivo tinha perdido um objeto após o segundo tiro, que tinha caído ou de seu bolso, ou de sua mão. Provavelmente a segunda opção, pois se ele estivesse segurando alguma coisa e precisasse dela para sacar sua lâmina, este objeto acabaria caindo.

 Ali, após alguns pensamentos que me ocorreram em frações de segundo, decidi que cessaríamos a perseguição. Fiz sinal para o Joey parar e então me aproximei do embrulho que caíra do bolso de nosso alvo e o apanhei.

 As razões pelas quais optei por este caminho foram as seguintes: Primeiro que Joey nunca erra seus alvos com uma pistola. Então ele certamente tinha acertado, o que quer dizer que enquanto correndo e de costas o fugitivo tinha conseguido defender-se de dois tiros de uma calibre 22 com seu objeto às costas, usando uma mão só. Isto indicava o quanto era habilidoso. Segundo: eu e Joey estávamos excedendo o limite humano com aqueles saltos entre telhados e mantendo passadas de mais de cinquenta quilômetros por hora em terreno acidentado. Exceder o limite humano me desgastava. Deduzi que se o alien era do tipo que corria rapidamente sem muito esforço, ele planejava nos desgastar para depois, se necessário, vencer-nos facilmente com um contra-ataque surpresa, visto que possuía habilidade considerável.

 Era uma pena ter que perder o fugitivo, mas pelo menos ele deixara uma pista, o que com sorte nos traria informações com as quais pudéssemos identificá-lo com menor esforço físico.

 — O que é isso? — Perguntou Joey se aproximando de mim, referindo-se ao objeto caído do extraterrestre. Ele provavelmente também percebeu que só iríamos nos cansar se continuássemos a perseguição então não perguntou nada sobre a ordem muda de cessamento.

 — Parece um envelope com uns papéis dentro... O jeito é levar para a central. — Suspirei — Droga... Estou ficando velho para este tipo de atividade.

 — Nada, tenente. Ele era inalcançável, mesmo.

 — Que seja... Vamos voltar. Agora sabemos se Hernandez estava mesmo inventando ou não o suspeito.

  Nem sempre as saídas a campo acabavam do jeito que a gente gostaria. Às vezes encontrávamos um morto no beco e nenhum suspeito, às vezes encurralávamos o suspeito prestes a sair da cidade de barco, às vezes não esperávamos suspeito nenhum e embora encontrássemos, este escapava de nossas garras.

 Ossos do ofício.

 Entretanto um amargo gosto ficava de saber que apenas não o alcançamos porque estávamos inferiores em questão de “indarra”.

 Indarra é outra habilidade característica dos chamados seres paranormais, objetos de interesse do DCAE. Já afirmei em ocasião anterior que zumbis têm força vastamente superior a do homem comum. A verdade é que a maioria das raças dentre as dez perigosas o tem. Citando o exemplo do alien, por ter misturada à sua espécie também características animais, sua força e resistência física é acentuada. Imagine uma formiga gigante de tamanho humano. Carrega até dez vezes o próprio peso. Pode ser pressionada por um sapato gigante e ainda assim sair praticamente ilesa. Pode cair de uma altura de vinte metros e sair andando normalmente. Parece muito mais resistente fisicamente que o ser humano médio, não?

 Da mesma maneira que os seres paranormais usam de sua rápida cognição para adquirir finesses impossíveis aos seres humanos, podem também usar sua força excedente para alcançar novos feitos, inimagináveis ao ser humano.

 A força não serve somente para bater nos outros com uma caixa de pesca. Uma aplicação interessante é a velocidade. Imagine o seguinte: um corredor de cem metros pode chegar a correr a mais de quarenta quilômetros por hora se for forte o suficiente. É claro, ninguém consegue manter esta velocidade em um percurso mais longo, mas na corrida de cem metros, tudo depende da força com que se aplica na ponta do pé para dar o impulso inicial. Nesta modalidade de corrida o corredor aplica toda sua força na ponta de seus dedos para que o impulso seja maior, permitindo-lhe atingir maior velocidade. É uma aplicação da força para obter outra característica física: a agilidade.

 A indarra é a força intrínseca das raças de destaque. Os zumbis, os aliens e as demais raças têm um grau de indarra. Mas esta força pode ser aplicada em diversas situações, permitindo seu dono realizar ações como saltar do chão direto para um telhado, saltar de um telhado de uma casa a outro, correr a mais de cinquenta quilômetros por hora em percurso acidentado. Outra aplicação da indarra seria a já mencionada finesse do Chapman, que consegue imitar a força de corte de um fio de nylon sem precisar do impulso do alvo. Como pode-se ver, sair por aí dando murros em vidros de joalherias com a força bruta, de longe não é a aplicação mais proveitosa que se tem desta particularidade. Este fator natural quando utilizado com decência pode se tornar muito mais perigoso do que parece.

 O que acredito que aconteceu ali é que o alien, somada à sua aplicação da indarra para aumentar a velocidade, ainda possuía características de um animal veloz. Como nem eu e nem Joey somos alienígenas, só pudemos usar a indarra sozinha, então acabamos ficando para trás.

 — Vocês estão loucos? O Hernandez estava olhando! O que você acha que tivemos que inventar para explicar sua velocidade absurda? — Explodiu Crane assim que retornamos ao local do crime.

 — Desculpe. Mas eu queria pegar o suspeito...

 — E não conseguiu. Claro. Ele estava muito longe. Nem valia a pena tentar.

 — Conseguimos isso. — Entreguei-lhe o envelope.

 — Como ele era? — Perguntou Lowe.

 — Fisicamente era exatamente igual à descrição do relato. Era muito melhor que o detento de anteontem em termos de habilidade. Defendeu duas balas do Joey com uma mão só.

 Crane me olhou indignada

 — Sem olhar para trás. — Acrescentei.

 Houve um instante de silêncio.

 — Sem desculpas... Vamos pegar esse sujeito. O DCAE já passou por coisa pior. Agora que temos isso — apontei o envelope com a cabeça — Espero que tenhamos alguma informação relevante. Ou pelo menos que seja suficientemente importante para ele voltar para buscar.

 Todos eles confirmaram com a cabeça e então fomos nos preparando para voltar à central. Um último pensamento me passou pela cabeça.

 — Joey? — Comecei

 — Sim, tenente?

 — Como você achou o alienígena? Viu ele por acaso?

 — Não. Meu anti-ductu me avisou. Dava para sentir ele ali de fora...

 — Como eu pensei. E nós três estávamos lá dentro, a cerca de mais de dez metros de distância e não sentimos... Quer dizer então que a intensidade do ductu era fraca ou mediana no máximo.

 — Sim. Não era grande coisa. Era parecido com a sua intensida... Digo... Não que o tenente não seja grande coisa, mas é que...

 — Entendi, Joey.

 Lowe entendeu aonde eu queria chegar.

 — Mas se a intensidade era fraca... — Ela completou — Então os Johnson...

 — Exato. Não poderiam ter sido mortos apenas com aquilo.

 — Hummm. — Fez Joey.

 Se fossem dois velhos caquéticos, na cadeira de rodas, sobrevivendo a base de aparelhos, provavelmente seria possível matá-los com um ductu de menor intensidade. Mas adultos de meia idade sem visíveis problemas de saúde... Seria muito mais difícil.

 — De qualquer forma, por ora vamos voltar à central. — Concluí.



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