Hinderman Brasileira

Autor(a): Oliver K.


Volume 1

Capítulo 23.3: O Dia que o Sub me Levou Para Jantar à Luz Intensa

 Saí da casa do Craig mesmo sem dar tchau para Marcelle, para não me delongar demais. Recebi uma mensagem do Sub. Ele queria se encontrar comigo antes de eu pegar o táxi até a Dalilah. Eu queria pegar um ônibus porque dá menos empenho de ficar se explicando o porquê de uma pequena garota viajar por aí sem autorização dos pais, então sempre que posso saio mais cedo e pego o ônibus ao invés do táxi. Entretanto como Sub queria falar comigo eu iria ter que pegar a alternativa rápida.

 Ou... Eu poderia só dar o calote. Não é como se eu quisesse me encontrar com o Sub, mesmo. O que aquele defunto ambulante queria?

 Peguei o celular e liguei para ele. Poderia ter inventado uma desculpa por mensagem, mas eu estava curiosa. Mesmo sabendo que eu estava prestes a fazer um trabalho importante que tinha hora marcada ele queria falar comigo em pessoa? O que é isso?

 — Oi.

 — Oi, você.

 — O que você quer?

 — Que palavras ríspidas... Eu só quero ter um encontro com você.

 Se fazendo de engraçado de novo... Tipo estranho.

 — Desculpa... Eu tenho compromisso.

 — Ah, mas eu estou em um lugar que você vai adorar! É só a cinco minutos do antigo prédio da Dalilah.

(O que ele estava pensando? Ele não vai se oferecer para ajudar no meu trabalho e exigir parte do dinheiro vai?)

 Não vou gastar seu tempo com a lenga que foi o resto da conversa. Colega de trabalho é colega de trabalho. E como ele estava lá por perto eu acabei chamando um táxi e aceitando o pedido.

 Cinco minutos era exagero. Numa velocidade normal eu precisaria de pelo menos uns dez minutos para ir daquele restaurante tropical de piso de madeira até o prédio da Dalilah.

 Era em South Gorem, mas parecia que estava em outro bairro. Árvores rodeavam a área, e o restaurante ficava em piso elevado, que se subia por uma escada de bambu. Assim as mesas de fora tinham uma vista panorâmica do local todo ou algo assim, o que era ótimo para enxergar com o hawkeye. Dava para ver até o local da transação no prédio da Dalilah dali.

 — Devo confessar que você fez uma boa escolha no local, Sub. Se eu fosse uma mulher de nível menor você já teria ganhado pontos.

 — Ganho alguns se pedir alguma coisa que você gosta? — Ele estava em uma mesa redonda para dois, admirando um cardápio na mão. — Sente-se.

 Me joguei na cadeira de modo rudimentar.

 — Quanta gentileza.

 Ele apenas me encarou.

 — Você sabe que vai acontecer daqui a pouco né? A transação. Hora marcada...

 — Eu sei. E tem gente lá, pelo que vi por aqui. Chegou a usar sua... finesse? — Sub olhou para os lados para ver se não tinha nenhum enxerido escutando a conversa.

 A direção da Dalilah estava atrás de mim. Sub-Zero tinha trazido um binóculo, o qual me emprestou. Na visão dos demais clientes era um pai/tio/familiar brincando de binóculos com a filha. Então estava tudo bem.

 Combinei a potência do mesmo com o hawkeye. Tinha duas viaturas de polícia lá. Uma era do DEA, a outra eu reconheci pela placa: DszbG5j. Eu cansei de ver esse carro daquele prédio grande que tem na frente do DCAE, quando estava fazendo espionagem daquele restaurante ruim que tem janelas enormes. Aquele carro era da divisão de casos especiais. Significava que tinha agentes paranormais ali.

 — O DEA deve ter ficado sabendo da entrega de Deluxes se até o Wilkinson soube O problema é aquele cara ali. — Comentei ao avistar dois policiais que estavam lado a lado fumando cigarro.

 Eu me referia a um deles eu já tinha visto. Era aquele policial gordo que eu tinha sentido o ductu em Little Quarry na semana retrasada, que estava paquerando a policial ruiva. Óbvio que eu não conseguia sentir seu ductu dali, a quase um quilometro de distância.

 Devolvi o aparelho ao Sub.

 — Por que você está aqui? — Perguntei.

 — Ora, para te advertir... Te advertir da polícia. Se deixasse você teria ido direto de encontro a ela.

 — Não sou tão descuidada assim.

(Apesar de que eu estava querendo sim testar a força daquele coronel gordo e fumacento do DCAE já fazia algum tempo...)

 — Bem... — Continuei — Estou aqui. Estou avisada. E agora? Você vai se oferecer para me ajudar e me pedir parcela do pagamento? Eu não preciso de sua ajuda.

 — Não precisa? É o que vamos ver. Sente-se. — Ele fez um gesto apontando o cardápio — pode escolher! Fique à vontade, Bubble. O titio vai pagar para você!

 — Me desculpe, mas... Os caminhões que iam fazer a entrega das balas já estão chegando e eu não quero perder a festa... — Eu retruquei ao passo que me erguia da cadeira e ia me dirigindo para o trabalho.

 Sub me agarrou pela roupa

 — Fique aí, Bubble. Você vai me agradecer. E no mais... Temos tempo.

 — Temos?

 Sub é um saco. Mas eu não posso deixar de admitir que sua aura misteriosa me intriga. Decidi sentar de novo e ver o que ele tinha a dizer.

 — É bom eu não perder o convite por sua causa, Sub...

 — Relaxe. Isso vai demorar. O convite está nas mãos de alguém que ou está lá dentro ou está vindo de caminhão. Depois a polícia vai iniciar a operação e disputar com os traficantes... Aí quem ganhar vai ficar com o convite em mãos e então só depois... Só depois que a bagunça tiver começado... Que você irá se aproveitar da mesma e...

 — Eu irei me aproveitar? Quem é você para me dizer o que vou fazer? Está me dando ordens?

 — Por suposto que não, Bubble.

 — Que bom. Seria um apocalipse se eu começasse a receber ordens de você, dentre todas as pessoas.

 — Mas você receberia ordens do Dragão, seu patrão, não é mesmo?

 — Óbvio. Ele me paga.

 — Pois e se eu dizer que esperar o momento certo são ordens do patrão?

 Inacreditável!

 — Você foi contar ao Dragão o que o Wilkinson me disse para vir fazer?!

 — Não foi bem isso... Digamos... Ele acabou sabendo.

 Cruzei os braços e lancei a Sub um olhar vituperante.

 — É verdade! Ele que me contatou. Quer ver meu celular?

 — Quero. Me dê.

 Sub colocou o celular nas minhas mãos.

 Amassei-o com a indarra. Ele manteve a compostura. Inclusive até esboçou um risinho dissimulado.

 — Você deveria jogar o celular fora depois dos contatos, você sabe. Ora, ora... Eu estou te prestando um favor, Sub. Não vai me pagar por isso?

 — Você não vai comer? Eu pago para você.

 — Eu sou uma barata parasita e não tenho fome. Diga, Sub... O que você sabe sobre o Dragão? Por que foi contar para o papai? Tem alguma coisa a ver com isso? Hm?

 Me debrucei sobre a mesa.

 — A visão de uma pequena criança enfurecida, descontando a raiva no tio...

 — Cale a boca.

 — É o que eu digo, Bubble. O Dragão me contatou por vontade própria. Sente e espere. O Dragão me disse mais do que estar ciente do tiroteio de hoje. Daqui a pouco vai acontecer.

 — Acontecer o que? Ei, espere! Me dê de novo esses binóculos.

 — Eu preferiria que você não os amassasse. Se fizer, pedirei para pagar outro.

 — Me dê. Eu preciso ver se a coisa já começou.

 Tomei o aparelho de Sub e combinei com o hawkeye mais uma vez. Os policiais tinham terminado a operação e estavam voltando para os carros! Estavam carregando caixas e prisioneiros. Levavam os algemados para um furgão que deve ter aparecido depois já que eu não o tinha visto antes, e tinha vários times carregando caixas de lá para cá.

 — Ei. Agora! Eu preciso ir para lá.

 — Ainda não, Bubble. Sente e relaxe.

 Óbvio que tinha alguma coisa que o Sub sabia que eu não sabia, e por isso ele estava tão calmo enquanto eu estava desesperada para cumprir minha missão. Mas por outro lado eu não ia querer chegar lá e depois ficar sujeita a acontecer alguma coisa que eu não esperava e o Sub vir atrás e ficar de risinho dizendo: “Ha-ha! Eu já sabia!” Teria que jogar o jogo daquele palerma narcisista com cara de conde drácula.

 Sentei contra a vontade e me fiz de que não tinha sacado sua vantagem de informação.

 — Por quê? Por acaso você sabe do que vai acontecer no futuro? Estou dizendo... Se eu perder esse convite por sua causa vou fazer você trabalhar de graça para recuperar.

 — Relaxe. Você não vai perder nenhum convite. Apenas espere o momento certo. O Dragão disse que vai haver um momento certo.

 — Ah. O Dragão que prevê o futuro, então?

 Peguei os binóculos mais uma vez e dei outra espiada. Agora os agentes estavam mais concentrados fora do prédio do que dentro, e pareciam carregar as caixas de Deluxes na direção contrária...

 — Ué? Eles estão levando as caixas para dentro? O que eles estão fazendo?

 Sub não respondeu. Olhei de esguelha para ele. Estava disfarçando um risinho. O que será que ele tinha ouvido do Dragão?

 Me inclinei para trás na cadeira, levando as mãos à nuca.

 — Ai. Ai... Pelo visto você não vai me dizer mesmo o que está acontecendo é? Terei que ficar esperando a boa vontade de meu tio até ele ordenar que é hora de agir e depois ele vai dizer que eu devo a ele porque ele que facilitou o meu serviço... Não irei comprar esse argumento, Sub. Esteja ciente que eu poderia ter ido agora e resolvido tudo sozinha...

 — É mesmo? Não tire seus olhos do prédio. Vai acontecer a qualquer momento, Bubble.

 Encarei-o e ele me encarava de volta com sua feição que jugava ser misteriosa. Mas a máscara dele já tinha caído. Tudo o que ele tinha era uma informação fajuta que ele poderia ter me contado pelo telefone. Só queria fazer cena.

 Levei os binóculos aos olhos de novo.

 — Pode tirá-los. Será mais interessante ver sem eles.

 — Hã?

 A primeira coisa que veio foi o clarão.

 Foi logo assim que eu abaixei os binóculos. Eu estava mirando direto na direção dele. Foi um clarão intenso que cegava todo mundo que estava há milhas de distância. Era como dirigir no final da tarde com o sol na frente. Não se enxergava nada. Só o brilho.

 E em seguida veio o estrondo. Ele veio forte, forte e engoliu todo o resquício de vozes que ecoavam pelo restaurante. Engoliu os barulhos dos carros, dos pássaros e da brisa do vento. Não era o estrondo que aturdia, que fazia a terra tremer e os copos das mesas balançarem e os guardanapos voarem, mas parecia que era. Parecia que era um terremoto sonoro que tinha acontecido ali mesmo.

 E no horizonte, o vermelhão. Uma nuvem que começava vermelha, depois desalaranjava e subia cinza, vinda do prédio da Dalilah.

 Tudo explodiu de modo repentino. Foi uma explosão súbita que carregou tudo com ela.

 Era isso que Sub estava escondendo aquele tempo todo. O Dragão devia ter pedido para ele vir me avisar.

 — Você sabia que isso ia acontecer? — Gritei, fazendo a pergunta óbvia.

 — Quê? — Ele gritou!

 — VOCÊ SABIA QUE ISSO IA ACONTECER?

 — QUÊ!?

 Sub devia estar com os ouvidos zunindo, já que diferente de mim ele não estava se apossando de um corpo, mas era um. Desisti e resolvi partir para o local logo, pois eu ainda precisava saber o que houve com o convite... Ou ao menos com os policiais.

 Saí correndo o mais rápido que podia na direção da Dalilah, isto é, sem usar a indarra, pois tinha transeuntes ali.

 E para variar já estavam começando a sair curiosos de casas, para vir ver de perto a explosão, sem se preocupar se o fogo ia propagar para a casa vizinha e causar mais uma com explosão de botijões de gás ou algo assim. O cidadão médio adora segurança.

 Eu vinha correndo e Sub gritando qualquer coisa atrás, que não dava para ouvir direito em meio ao rebuliço. Na visão dos transeuntes comuns devia ser uma garotinha correndo do tio para satisfazer a curiosidade de ver o fogo de perto e o tio correndo atrás tentando impedi-la de se queimar. Se aquela patota resolvesse ajudar o Sub a me alcançar eu teria problemas.

 Antecipando a desgraça, deixei Sub me alcançar quando estávamos na descida final. Uma descida que desembocava numa interseção em t, com os escombros flamejantes da Dalilah logo na frente. A rua transversal era a principal e a descida era a rua que estávamos. Bem... Você sabe... Era subida se considerasse da visão de quem estava lá na rua debaixo.

 — E agora? — Perguntei a Sub, dando a entender que estava preocupada com as viaturas estacionadas e os curiosos se reunindo numa bola cada vez maior, como se fosse sorvete saindo mais e mais da máquina.

 — Que tal... Subimos pelo telhado da quadra de trás e nos aproximamos por cima? A fumaça vai tampar a visão da polícia e vamos entrar despercebidos.

 — É. Boa ideia.

 Assim fizemos. Contornamos a quadra, usando de indarra quando necessário escalamos a residência de trás pelo teto. E então chegamos aos escombros pelo lado de trás. Não era a atitude mais ajuizada, mas o tempo entre o impacto e nossa chegada deixava claro que não haveria segunda explosão por atingimento de objeto inflamável. Se fosse para isso acontecer, já teria acontecido.

 A primeira coisa que percebi foi o prédio onde eu lembro que ficavam as salas dos trabalhadores de escritório. Era um predinho de dois andares bonitinho, com parede amarela, e telhado com telhas arranjadas em forma triangular. Estava tudo caído agora. E o telhado havia permanecido apenas na beirada da parte de trás, fora isso dava para ver o prédio queimado por dentro.

 Não era nem de se cogitar subir no telhado, qualquer empurrãozinho e as telhas que ficaram cairiam também.

 Percebi o corpo de um homem caído em uma das salas.

 Era o único corpo que tinha no prédio. Os policiais deviam ter saído e levado os integrantes do tráfico que estavam ali para o furgão da polícia antes de tudo explodir. Sub estava ao meu lado, agachado no telhado se preparando para saltar até os escombros com meu comando.

 — A polícia pelo visto também antecipou a explosão — comentei — eles estavam levando as caixas para dentro e evacuando... Devem ter imaginado que havia bombas nas caixas.

 E de fato o arranjo da destruição dava a entender que as explosões vieram das caixas. E ao mesmo tempo. Foram bombas controladas, programadas para estourar em determinado momento.

 Desci até o corpo.

 — Olhe isso!

 Sub me seguiu até descermos com um pulo e entrarmos no prédio. Se é que “entrarmos” era a palavra certa.

 O corpo era de um homem que tinha ficado todo desfigurado, com o corpo queimado. Ele não tinha explodido. Se tivesse eu não teria encontrado o corpo inteiro.

 — Provavelmente sofreu queimadura pelo bafo do fogo? — Arriscou Sub.

 — É o que eu pensei.

 Parte das roupas dele estavam faltando, partes estavam coladas de modo afundado no corpo. Era jovem, tinha tido a pele escura e era muito alto. Mas sua pele que já fora negra agora se mostrava majoritariamente em carne e sangue, beirando ao vermelho. Enxerguei também um bastão de silisolita que estava intacto, caído ao seu lado. O que era peculiar. Esse tipo de material não se achava na Terra. Apanhei o bastão e entreguei a Sub:

 — Veja.

 — Veja o que?

 Ele não conseguia enxergar o bastão.

 — Segure. — Falei decidida, meneando a cabeça. Ele estendeu a mão sem entender então lhe entreguei o bastão. Sub o analisou com feição admirada. Não podia enxergar o bastão mas podia senti-lo.

 — Essa é a tal silisolita que chamam? Mas então... Teve confronto paranormal por aqui.

 — E não é para menos. O convite, o DCAE e a entrega do Verde estavam em jogo. Carregue isso, vamos mostrar para o Craig.

 — “Olhe isso”, “Veja”, “Carregue isso”? Por acaso acha que sou seu capacho, Bubble?

 — Não é hora para isso.

 Com as mãos na cintura usei o hawkeye na área para ver se conseguia enxergar algo que me escapava. Notei alguns pedaços de papel queimado. Estavam espalhados por toda a parte. Mas não eram muitos... Eram poucos. Quem traria papel para um escritório?

 Ops. Essa pergunta pareceu sem fundamento.

“Quem traria papel para um escritório abandonado de uma transportadora que veio à falência há mais de dois anos e meio?” Ok... Agora parece uma dúvida mais razoável.

 Seria aquele pedaço de papel o...?

 — É o convite de Cooper! — Concluí, agachando-me para tomar um pedaço na mão. Esse estava ao alcance da mão do pobre humano que estava queimado e caído ao chão. Ele estava estatelado com uma mão estendida.

 — Parece que ele morreu tentando salvar o papel. Deve ter o esticado no alto para que não queimasse.

 — Que desastre... Tão focado em sua missão.

 — Como sabe que era o convite?

 — A julgar pelo modo como os restos explodidos do papel estão jogados por aí... Não são muitos... Mas ainda bem que o vento não os tirou do lugar... — Apontei os pequenos resquícios do que mais parecia papel carbono, grudados no que havia sobrado dos rodapés do que já tinha sido o escritório — Vê-se que eles se espalharam esvoaçando a partir de uma fonte, e a fonte é a mão do morto.

 Sub demorou um pouco para se convencer analisando o local, mas por fim meneou a cabeça de modo afirmativo, concordando com a cabeça.

 — E agora? — Perguntou ele após uns instantes de contemplação.

 — Agora... Acho que o trabalho falhou né? Adeus pagamento. E por sua culpa.

 Bati com o dedo no peito de Sub.

 — Ei. Eu salvei sua vida, sabia? E se você tivesse pegado o convite desse jovem, teria sido você a explodir.

 — Você podia ter me dito a que horas o prédio ia explodir e eu teria vindo e feito o trabalho e saído antes que tudo isso acontecesse.

 — Ha ha! — Sub riu alto — Convencida.

 — Ei... Não tão alto. Há policiais ali atrás da nuvem de fumaça.

 Sub saltou de novo ao telhado da casa de trás e eu o segui, não havia mais o que fazer ali.

 Enquanto voltávamos à rua ele trocamos mais umas últimas palavras:

 — Mas acontece Bubble... Que eu não sabia a que horas o negócio ia explodir. O Dragão não me passou essa informação.

 — E o que exatamente ele te contou?

 — Por que não pergunta direto para ele? Ele havia me mandado te chamar, eu não te disse? Disse que você tinha jogado o celular fora após a última conversa e ele não poderia te contatar até te dar um novo, que ele disse que te daria após seu retorno com o encontro com Wilkinson. Mas você nunca chegou a retornar para o local combinado após falar com Wilkinson.

 — Por que eu queria ver o que ia acontecer nessa entrega do Verde. Foi uma perda de tempo. Ok... Já que é assim eu vou voltar ao centro e falar com o Dragão agora.

 — Não se esqueça que você me deve uma.

 Sub. Sempre picareta.

 Ele parou, como fazendo menção que iríamos nos separar. Estávamos até então correndo pela rua debaixo, na direção do centro, o que não fazia o menor sentido se quiséssemos tomar um ônibus ou taxi. Apenas tínhamos começado a correr para sair da Dalilah e não despertar a atenção da polícia. Mas considerando que teria que voltar para o centro era melhor começar a repensar meu trajeto.

 — Hmm. Ok. Eu vou a pé, eu acho. — Menti. Queria só me separar mesmo.

 — Eu vou de ônibus. Como fazemos? Te mando o valor por telefone?

 — Eu joguei meu telefone fora.

 — Então depois discutimos.

 — Claro... “Depois”.

 Sub tomou o caminho contrário e desapareceu, caminhando no seu jeito desengonçado, como um boneco de corda.

 Tipo esquisito.

 Eu não planejava pagar o Sub grande coisa por causa de mera falha de comunicação da parte dele. Nem morta. Mas não quis causar uma discussão naquele momento.

 Esperei ele sumir de vista e tomei o mesmo caminho que ele, até o ponto de táxi. Com este fui até o prédio do Ansoft Limited, no centro. O prédio onde Dragão se reunia conosco, no sexto andar do subsolo. Usando sua máscara de luchador mexicano.



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