Guerra do Éter Brasileira

Autor(a): Keki Thay

Revisão: KlayLuz


Volume 1 – Arco 2: Festival em Thesena

Capítulo 16: Ato Final de Gantar

Ah? Sobre meus pais? Eram pessoas incríveis!

Eu, que era o único filho deles, quando criança recebia todo o amor que tinham.

Sempre que tínhamos tempo livre, ficávamos juntos fazendo coisas legais:

Passeávamos;

Acampávamos;

Visitávamos meu avô;

Dormíamos juntos; 

Eram tempos felizes.

Um breu — a única coisa que captava.

Não conseguia discernir nada e seus ouvidos zumbiam irritantemente.

Eles eram grandes combatentes contra as bestas Etéreos e a fama deles era tanta, que quando passavam pela rua sempre vinham tirar fotos com eles. Era fascinante pra mim.

Quis seguir o mesmo caminho que eles. Desse modo, decidi treinar com ambos. Nas tarde, eu aprendia com eles. Meu pai era “formal”, porém carinhoso; já minha mãe era divertida, mas severa.

Encontrava-se dolorido, com uma sensação ardente por todo lado. A luz avermelhada que era emitida do círculo mágico abaixo estava totalmente direcionada a ele. O processo de cura… a todo vapor.

“Aprendi Magia com Aliyah… e esgrima com Ronnos!”

Seus sentidos voltavam aos poucos.

“Lembro como se fosse ontem… quando os perdi.”

Vendo-se em meio às chamas que o rodeavam, fechou os olhos. Esboçou nenhuma reação. Quem visse de fora, continuaria crendo que perdeu a consciência.

A fatídica memória passou em sua cabeça.

Um homem alto, trajado em seu belíssimo terno, estava diante do Dusk, que na época tinha dez anos.

O adulto tinha uma expressão conflitante no rosto: seus olhos iam por todas as direções, mas nunca se alinharam aos olhos do garoto logo adiante.

— Neto, tenho uma notícia para te dar. É sobre Aliyah e Ronnos… — Desconcertado, o homem continuou: — Ambos foram para uma missão a fim de eliminar um Etéreo… Perdemos a comunicação… Um grupo de busca foi direcionado… Os corpos deles foram encontrados.

Disse seco. Seu avô não encontrou outro jeito de dar o comunicado. O garoto abriu bastante os olhos marejados e suas sobrancelhas franziram em descrença. Abriu toda a boca e as pernas cederam, fazendo-o cair.

— Isso é mentira!?... Mentira!! Eles são fortes, não tem como aqueles monstros terem derrotado eles! — A fala estava fraca. — Papai e mamãe prometeram sair comigo hoje por causa dos meus dez anos! Prometeram!

De punho fechado, socou o chão. Não contendo sua energia, os dois fantasmas saíram do seu punho ao mesmo tempo: um era preto com chifre, tristonho; enquanto o outro era branco com uma auréola na cabeça, feliz.

De volta ao presente, abriu os olhos e sua visão encontrava-se embaçada.

Até hoje… é difícil de acreditar que os dois se foram.

Com o passar do tempo, fui forçado aprender a viver sem eles. O legado deles como pais e capitães estão vivos no meu coração.

Quero ser igual a eles.

Decidi…

Sobrevoando o local do exame, onde instantes atrás a enorme explosão ocorreu, o Elfo acreditava que seu adversário não sairia inteiro após receber um golpe tão destrutivo diretamente.

Uma nuvem grande de fumaça cinza subia.

Ele tinha uma visão privilegiada lá de cima, mas optou por pousar e ver de perto o corpo carbonizado da sua vítima.

Não conseguia ver nada ainda, mas sentia o cheiro de carne queimada. Falou:

— Foi como eu disse, pessoas da sua laia jamais venceriam alguém magnânimo como eu! Hahaha!

Gantar tinha um largo sorriso de satisfação e caminhava despreocupado. Ia para o oponente, mas à medida que se aproximava, a seu expressão mudou descontentamento.

Uma luz fraca — que vinha do chão — iluminava a área e deixava em evidência a silhueta do rapaz que ainda estava em pé.

À medida que a fumaça se dissipou, a aparência degradante do Dusk expôs-se. Ficou aos trapos. Por seus olhos estarem fechados e a postura cheia de aberturas, fazia o Elfo ter certeza da vitória.

— Pensei que teria um “humano assado”, mas pelo que vejo será “mal passado”.

Surpreendendo-o, Dusk abriu os olhos; Gantar parou seu andar. As íris avermelhadas o encaravam.

— Caraca, rapaz! Cê tentou me pegar de guarda baixa?! — gritou Dusk. — Idiota! Não é o suficiente e nunca será pra me derrubar! 

Estava lento, havia perdido muita mana. Um golpe sofrido seria curado na hora pelo círculo mágico, mas exigia bastante mana do núcleo mágico.

Ainda tinha em posse a espada branca e, apesar das suas condições, materializou a negra. Com as duas novamente, pôs-se na postura ofensiva.

Hm! — Dusk olhou sua blusa em cinzas. — Meu corpo foi fortificado com magia, mas minhas roupas não… Sabe quanto isso custou?!

— Teve sorte de só o tecido queimar.

— “Sorte”, foi mesmo! Sem a minha habilidade de fortificação muscular, Token, eu teria perdido, não nego. Mas, e daí?! Eu tenho, não?

E tenho também energia restante suficiente pra limpar esse chão com a sua cara.

À distância, Gantar observou ele se recompor totalmente. Não havia mais nenhum sinal de queimadura na pele dele. Por outro lado, notou algo muito diferente de antes: os olhos escarlates dele brilhavam de um jeito ameaçador.

“Não posso dar o luxo de me arriscar mais. Se mais bolas de fogo me atingirem, será meu fim. Tenho o que de mana sobrando? Uns 20%? Tch!”

— Pode usar qualquer coisa. — Possuía um olhar determinado e um sorriso convencido. — Usa toda sua energia e ainda nada vai ser suficiente pra parar Dusk Tedimir!!

Apontou com o polegar para si.

Uma grande nuvem de raiva pairou acima da cabeça do Elfo. Esse sujeitinho insistia em fazer pouco caso dele. Mesmo após levar uma das suas maiores habilidades em cheio, uma explosão com força para destruir um bairro comum num piscar de olhos.

— Estou impressionado… Ganhou minha atenção. Sua movimentação, essa resistência anormal e acima de tudo essa “mentalidade vencedora”, de fato são coisas essenciais para um verdadeiro guerreiro. — Ele estalou os dedos. — Mas isso de fato importa?

Acima deles, inúmeras bolas de fogo surgiram. Todas se acumularam e formaram uma grande mancha de labaredas. Informava: iria ocorrer uma chuva de fogo.

Humpf! Cê é um mago de um só truque?

 

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Ele estava de pé, mal conseguia ficar sentado enquanto via o amigo no confronto intenso.

— Vamos Dusk, sei que pode vencer esse aí! — Os gritos de Harry misturavam-se com os murmúrios da plateia em volta, polvorosos com o embate.

Ao contrário deles, Gwen permanecia sentada de braços cruzados. Ela soltou um suspiro pesado ao notar que Dusk estava bem.

— Sabe que ele não tá te escutando daqui, certo? — perguntou ela.

— Eu sei, mesmo assim torcerei por ele! Não viu? Ele foi atingido em cheio, nem sei como ainda tá de pé?

— É simples de explicar: Dusk usou uma habilidade chamada: Token. É uma espécie de armadura que reveste o corpo do usuário, que aprimora toda sua parte física. Então, como ele não possui muita energia, é um ótimo recurso fortalecer o corpo, naturalmente.

— Esse é meu amigo, nada pode parar ele.

— Só que agora ele tem que evitar a todo custo ser atingido, caso contrário, adeus! Adeus energia mágica e chances de virar sentinela

 

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Hahaha! — Dusk gritava, ele fazia isso para fingir ser alguém ameaçador. — Essa chuvinha não vai me parar!

As magias de fogo desciam, verdadeira tempestade de fogo que queimaria tudo ao minimo contato.

O vulto vermelho ocasionado pelo movimento com os olhos brilhantes; Dusk atravessava o caminho a toda velocidade, golpeando cada bola de fogo que ameaçava o atingir.

Gantar percebeu o garoto aproximar-se. Suas mãos estavam voltadas para o alto, fazendo surgir mais do fogaréu. Ele levitou na tentativa de sair da área de ação do seu oponente.

Era tarde.

— Escuta… — O Elfo tentou falar, só que mais ágil que ele, a lâmina negra fez um rasgo severo na lateral da sua barriga.

Da parte cortada, uma mancha escura espalhou por todo seu dorso.

Quanto mais energia ele concentrava na área na tentativa de impedir o avanço da corrosão, mais aumentava o efeito dele.

A magia dele entrou em colapso e consequentemente o fez perder a capacidade de voar.

Caiu no chão.

Pelo impulso potente, Dusk causou danos pela primeira vez.

Tamanha velocidade que dificultou muito o pouso. Virou-se e tentou frear, fincando suas espadas no chão. Cortou o piso até parar.

Em meio à exaustão, bastava apenas ir ao encontro do ferido.

O rapaz chegou perto do Etéreo. Movia a espada branca pelo ar, pronto para cortá-lo em dois; Gantar desviou do ataque com um giro, deixando-o para acertar o chão.

O Elfo, que via seu corpo definhar pelo contato da lâmina preta, encarou-o com muita raiva.

“Que artefato é esse? Nunca presenciei algo como em toda minha vida.”

Gantar, colocou a mão na ferida, onde — pela primeira vez — tocou seu sangue. O líquido desfazia-se em pó.

— É desse jeito que minha história acaba? — perguntou-se.

Lapsos de memória vinham enquanto observava Dusk. Na sua cabeça, a imagem do jovem se misturava com a de um homem de cabelos prateados e olhos alaranjados.

— Estranho. Este pequeno me faz lembrar do rei. 

 

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Numa estrada de terra, Gantar caminhava em ritmo constante.

No meio da viagem, ele chegou num pequeno vilarejo que não tinha tecnologias modernas. Era uma verdadeira cidade da Idade Média.

Várias raças fantásticas apareçam no território: Fadas, Demi-humanos, Elfos, Anões, etc. Todos coexistiam juntos.

Para Gantar, que era um grande viajante e explorador, nada o chamava atenção numa comunidade. Entretanto, adentrando mais, ele chegou numa área onde plantações eram o que mais havia.

Nesse local, ele avistou uma criança de cabelos prateados e olhos alaranjados. Assemelhava-se com Dusk como uma criança de 8 anos.

De punho fechado, o garoto socou uma árvore grossa. O impacto do golpe a retorceu por inteira, depois o tronco caiu.

Ficou de boca aberta pelo feito.

Gantar aproximou-se. Acreditava alguém dessa idade não teria capacidade de fazer isso e sair intacto, com certeza teria quebrado os ossos da mão.

Oi!... Tudo bem? — saudou Gantar. — Acabei de presenciar você derrubar esta árvore no soco… Vim lhe perguntar se ficou ferido.

O garoto abriu e fechou a mão, estava intacta.

— Não, não tenho ferimento.

— Em todos os meus 300 anos de vida, nunca cheguei a pensar que uma criancinha tão pequena mostraria tamanha proeza.

A reação do garoto foi de cruzar os braços e encher as bochechas de raiva.

— Ousa me chamar de criancinha? O que veio fazer aqui? Está atrapalhando meu treino diário, tenho que aperfeiçoar minha habilidade de luta.

— Tão jovem e já está treinando?

— Claro, alguém forte como eu, capaz de vencer o líder de nosso vilarejo, deve buscar aprimoramento.

Com um sorriso presunçoso e olhar de deboche, Gantar não acreditou em nenhuma das palavras ditas pelo jovem que, na sua visão, estava exagerando.

— Que bom, criancinha. Está inventando demais…   

— Não acredita em mim? Eu posso provar!

— Tem minha curiosidade. — Gantar ergueu sua mão. — Tente derrubar meu escudo indestrutível de fogo. Se o que diz é verdade, o derrubar não será problema, certo?

Os anéis em seus dedos emitiram luzes e uma barreira esférica em torno dele foi criada. 

— Se a quebrar, como forma de recompensa, irei ser seu tutor e ensinarei pessoalmente magia a você…

O impacto fez Gantar cair de bunda na grama.

A barreira se desfez em pequenos fragmentos, o golpe do moleque estilhaçou completamente a proteção em torno do Elfo.

A cena do garoto olhando-o de cima, nunca mais sairia da sua memória depois desse dia. Mal sabia ele que essa criança viria a ser um grande rei.

 

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— Se irei cair, levarei você comigo! — declarou o Elfo.

A criatura estendeu a mão, toda energia foi canalizada para esse ponto: uma bola de fogo gigantesca moldou-se e diminuía forçadamente de tamanho… até ter a proporção de uma bola de gude.

Oh! Tô sendo tão ameaçador que vai usar uma habilidade forte assim? — disse Dusk. — Infelizmente, só acho que é tarde demais para isso.

Conjuração Suprema: Devastação de Fogo!

Dusk ficou esperto. O feitiço era perigoso. Sacou suas espada e encurtou a distância com pressa.

— Tarde demais!

Das mãos do Gantar, a minúscula bola de fogo foi jogado, tamanha pressão densificada.

A magia foi lentamente até sua vítima. Normalmente seria fácil de desviar disso. Entretanto, se expandiu uma esfera de vários metros de comprimento. O corpo do garoto novamente ficou envolto por chamas.

Uma habilidade impossível. 

— Aqui acabará para você, espadachim.

— Chato pra caralho. Ainda estou aqui.

As chamas eram para incinerá-lo na hora, mas não aconteceu.

Em torno do Dusk, um fantasma preto fez o papel de escudo para o proteger. As chamas foram dizimadas.

Bem próximo, o rapaz preparou as espadas e…

— Desculpa, Fight — disse Gantar. — Perdi de novo.

O dorso do Elfo foi rasgado, dividido em duas partes.

As palavras ditas foram as únicas coisas que fes antes de decompor-se em pó.

Estava decidido.

O público que acompanhou a batalha ficou eufórico.

Em meio a todos, dois se destacavam para Dusk: seus amigos Gwen e Harry, ambos de pé. O cientista pulava de alegria enquanto a garota batia palmas com um sorriso gentil.

No telão marcava o tempo de cinco segundos restantes. A vitória foi no limite. E quase não tinha energia mágica mais para usar, mas bastava o suficiente para conseguir permanecer consciente.

Ufa! Esses foram os três minutos mais longos da minha vida! — comentou ao jogar-se duro no chão pela exaustão



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