Vol. 1 – Arco 2

Capítulo 22: Black Suits Comin' (2)

Ruas de Woodnation - 3:26 da tarde, quinze de Julho.

Em plena queda-livre, Elin foi agarrada pelo braço esquerdo do seu samurai, que a colocou em seu colo. Seu guerreiro manteve a postura ao pousar em pé sobre o concreto da rua.

The Cock pousou na frente dos dois. Quando em pé, o homem se tornara praticamente um edifício. Sua sombra os cobria completamente.

— Você enganou o agente Gosling, abusando de sua inocência ao fingir ser uma vítima — afirmou o maromba. A espiga de milho gigantesca fundida à sua pélvis começou a girar como uma mini-gun, apontada na direção da artista e do samurai. — Além disso, zombou dele antes de explodi-lo sem escrúpulos.

— O nome dele era Gosling? Então fiz um favor a ele em matá-lo, que nome estranho.

— Como ousa?!

— E você? Qual o seu nome?

The Cock Dwayne Johnson.

— Piorou. — Saiu dos braços de seu samurai e se escondeu atrás dele. — Imagino todo o bullying que você deve ter sofrido durante a sua vida. Nem precisa se preocupar mais com isso, seu sofrimento vai acabar daqui alguns minutos.

— Impressionante, você fala como uma verdadeira super-vilã. Pois bem, veremos se é tão forte quanto sua confiança lhe faz parecer.

A espiga girou mais e mais rápido. Então, uma enxurrada de tiros se iniciou. As sementes avançaram pelo ar como projéteis mortais, para todos os lados, atingindo postes e conseguindo derrubá-los com apenas alguns tiros. E claro, irrompendo contra o samurai que protegia a garota.

— あきらめないで!— gritou com a potência de um guerreiro implacável, rotacionando sua katana com uma velocidade tremenda.

Uma velocidade tão tremenda que atingia níveis desumanos. Ultrapassou a velocidade dos projéteis, conseguindo cortar todos eles no ar como se fossem meras bijuterias.

Quando os tiros pararam, centenas de sementes estavam caídas sobre os pés dele. Todas perfeitamente cortadas no meio. O samurai permaneceu empunhando a lâmina, concentrado como uma máquina.

— Cansou de atirar? — falou a artista, sorridente. — Pode continuar, ué.

— Interessante — comentou o careca, firmando os pés no chão. — Deve achar que cai na sua ideia de que esse homem é muito mais rápido do que qualquer bala, todavia, já compreendi todos os seus pontos fortes e fracos.

Com um sorriso enfurecido, o oponente saltou e voou como um míssil. Em menos de segundos, surgiu em sua frente.

— Omae wa mō… nani?! — Avançou a espada contra o pescoço do inimigo, mas ela apenas cortou o ar. O maromba conseguiu desviar.

Tentou recuar, mas antes, teve o estômago acertado pela pirocada violenta da espiga de milho. Voou por metros, mas conseguiu girar no ar e pousar em pé, cambaleante.

— Vai precisar de mais do que isso — falou Elin, agarrada em suas costas, tonta.

— Como pensei. Quando ele está parado e concentrado, é capaz de cortar qualquer coisa que venha diretamente em sua direção, se adaptando a sua velocidade. Mas algo que muda de direção? Nem pensar. E olha que sou muito mais lento do que uma bala. Como essa habilidade se chama? Ei!

Ao perceber que estava falando sozinho, The Cock olhou para os lados e viu o samurai entrar em um beco junto de Elin. Correu até lá o mais rápido possível. Chegando lá, notou que os dois estavam bem no fundo do ambiente estreito.

— Nunca pensei em um nome para os poderes dele. Ele é apenas um desenho, sabe? Mas tenho um nome para isso aqui.

Então, o samurai se abaixou. Elin montou em cima de suas costas, com uma lança-mísseis rosa — coberto de figurinhas da Hello Kitty — em mãos. 

Mirou na direção do bombado e pressionou o gatilho.

— Mas que porr–

 

BOOM!!!

 

A onda de destruição aniquilou todo o beco, cobrindo o ambiente com sua fumaça ardente. Naquele ponto, tanto a garota quanto o seu samurai já não estavam mais ali.

Ela observava o cenário destruído, sentada sobre a borda do prédio ao lado esquerdo do beco. 

Tirou um par de sanduíches de dentro do seu caderno, entregando um para o samurai sentado ao seu lado, responsável por deslocá-la até aquele lugar tão rapidamente.

— Subarashī! — exclamou o guerreiro japonês, após ter tirado o capacete e saboreado o alimento.

— Realmente. Sanduíche de presunto é sempre muito bom. Qual é a sua comida favorita? Ah, não sabe? É claro. Afinal, é um mero desenho… sem livre-arbítrio.

— Posso comer também? — perguntou o pirocudo, já atrás da garota.

Ao se virar, encarou o enorme homem. O enorme corpo dele fervia pelo calor da explosão, embora não carregasse nada mais do que alguns arranhões. Já costumava ser imenso, mas daquela distância, aquela forma perigosa e brutal se tornava muito mais amedrontadora.

Antes da artista poder dar qualquer resposta, notou o punho do homem vindo violentamente em direção de seu rosto.

— マザーファッカー!— berrou o samurai, entrando na frente dela. O punho de The Cock explodiu a armadura do seu peitoral, e o arremessou para fora do prédio.

— Merda! — Elin acabou sendo atropelada pelas costas do samurai, caindo do prédio junto dele.

“Duas explosões não foram o suficiente? Ele é super-forte e praticamente indestrutível, mas…”, pensou, em queda-livre. Pressionou os pés sobre as costas de samurai e usou dele como plataforma para saltar.

Então, impulsionada pelo salto, arrancou de seu caderno outra arma: uma sniper. Quase que automaticamente, como se isso já lhe fosse natural, mirou no inimigo e atirou.

Sem esperar pelo resultado, largou a arma assim que atirou e pegou seu lápis. Desenhou em seu caderno com uma velocidade absurda. Em seguida, um enorme colchão saltou para fora de seu caderno e caiu no chão, amortecendo sua queda. 

Ao pousar, encontrou o samurai caído no chão, ferido pela tamanha queda.

Sem dizer nada, pegou a sniper do chão e observou o alvo saltar do prédio para o chão. O choque entre os pés dele e o chão foi quase meteórico.

 Ela sorriu ao olhar para o rosto dele e não encontrar um de olhos.

— O seu tiro foi bastante preciso, devo admitir. — Por mais que o buraco surgido no lugar do olho esquerdo dele espirrasse sangue como uma cachoeira, ele não emitia uma mínima expressão de dor. Muito pelo contrário, continuava com aquela serenidade imbatível de um trabalhador que está cumprindo o seu expediente sem nenhuma dificuldade.

Enquanto presenciava aquela aura fria e implacável, Elin se surpreendeu com a saraivada de tiros que saiu da espiga de milho dele.

— Omae wa… — O samurai, por mais que ferido, arranjou forças para se reerguer e entrar na frente dos tiros.

Com uma concentração sobre-humana, cortou cada um dos projéteis. 

“Obrigado!”, pensou a garota.

Uma coleção de sementes surgia sobre os pés dele com o passar dos segundos, mas dessa vez, os tiros não pararam. A munição parecia infinita.

O suspiro de cansaço dele sinalizou seu fim. 

Arg! — O grito do japonês ecoou pelo beco. Com o corpo perfurado por dezenas de tiros, ele caiu.

“Maldito!”, pensou a jovem. Imediatamente, materializou um frasco a partir do seu caderno. Atirou o objeto contra o chão, desencadeando uma onda de gás que imediatamente dominou todo o ambiente.

— Bomba de fumaça? — murmurou The Cock, tossindo sem parar.

Quando a fumaça abaixou, tanto a artista quanto o samurai haviam desaparecido.

 

 

— Morre! — gritava Einstein, chutando o agente Gregory, que já se encontrava inconsciente. — Morre!  Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre! Morre!  Morre! Morre! Morre! Morre!

— Quem mandou ir atrás da gente, em? — Leonard também chutava sem parar, até ver Elin vir correndo em sua direção, com uma máscara de gás no rosto. — Coé, deu um jeito naquele careca otário?

— Bem…

Subitamente, o musculoso saltou para fora do beco. Partiu em direção dos três, tão feroz quanto um touro.

Ao encarar o rosto determinado do homem, Einstein percebeu: ele vinha em sua direção, para esmagá-lo! 

Tentou correr, mas quando se deu conta, o brutamontes já havia surgido em sua frente, com o punho erguido para acertá-lo com um soco.

— Cruz credo! Não me mate, por favor, senhorzinho pintudo! — Fechou os olhos, em choque.

Quando foi ver…

— Ué? — indagou o detetive, vendo o careca caído no chão, agonizando de dor. — O que acabou de acontecer?

— Gás venenoso — falou Elin. — Esse cara é muito forte, seria perda de tempo ficar lutando contra ele. Por isso, decidi envenená-lo.

The Cock continuava berrando de dor, em total desespero. O seu corpo suava sem parar. Se debatia contra o chão, atingido pelo puro sofrimento. Tentou se levantar e se aproximar deles, mas caiu novamente assim que deu o primeiro passo.

O trio se afastou dele. 

— Esse veneno era para ser mais rápido, mas ele parece estar resistindo a ele… de qualquer modo, não vai durar muito mais do que um minuto. Vamos, vou invocar o carro.

O jipe logo saltou para fora do caderno da artista, caindo ao lado deles. O que não o impediu de ser alvejado pela sequência de tiros que saíram da pélvis de The Cock:

— Não! — gritou o brucutu em total desespero. Erguido, embora cambaleante. — Não vai ser tão fácil me derrotar!

— Vamos ter que despistá-lo! — falou Elin, entrando no carro junto dos outros dois. — Por favor, alguém diz que sabe dirigir!

— Relaxem! — exclamou Leonard, saltando para o assento do motorista e pisando fundo no acelerador. O carro partiu desenfreadamente.

Ao virar-se, Elin percebeu que não seria tão fácil, uma vez que The Cock não permaneceu no chão. Através de sua metralhadora peniana, atirando sem parar contra o chão, havia adquirido impulso para começar a voar. O maromba careca atravessava o ar como um poderoso jato. 

— Como assim? Isso nem faz sentido! 

— Mas que porra…? — Foi a reação do detetive ao virar-se para trás e ver o homem voando.

— Se eu estivesse cheio da mana agora, iria destroçar a giromba mortífera desse desgraçado! — resmungou Einstein.

A artista, desesperada, sacou sua caneta e lápis. Com os movimentos ágeis de sua mão, deu origem a dezenas de desenhos em questão de segundos. Alguns deles foram saindo para fora do caderno; três soldados armados.

Os soldados saíram pelas aberturas das janelas e subiram e escalaram o veículo, sentando sobre o teto. 

Por fim, sacaram suas snipers e começaram a disparar contra o alvo. 

— Do que adianta isso, ele não é muito resistente?

— Só a pele. Os olhos e a boca são até resistentes, mas podem ser perfurados! — afirmou ela.

Porém, não era o que estava de fato acontecendo. A velocidade do careca, em pleno voo, era monstruosamente enorme; sendo assim quase impossível de ser acertado por qualquer tiro.

— Vai mais rápido, detetive. Vai ser impossível matá-lo, mas se o despistarmos, ele morrerá pelo veneno em algum momento!

— Tô indo o mais rápido possível! — O jipe deslizava mais do que um bambu no meio da tempestade.

— Sei que estamos em uma situação muito tensa, mas esperava que você dirigisse melhor.

— Nunca falei que sei dirigir, apenas sentei aqui e comecei a fazer isso! É diferente! Cacete! — Sangue começou a espirrar do braço dele, consequência do tiro que perfurou a janela.

Todos se abaixaram, enquanto os tiros de sementes invadiam o veículo. Em questão de segundos, a saraivada de tiros detonou não só a aparência do carro, como destruiu dois de seus pneus.O jipe começou a derrapar loucamente na direção de um estacionamento.

— É o seguinte, vamos ter que pular! — afirmou o investigador, já chutando a porta.

— Já fiz isso antes e quase morri! — afirmou Einstein. 

— Não temos escolha!

— Estou sem mana. Se nos ferirmos, não vou poder curar ninguém!

— É um risco — falou Elin, escancarando a porta com um chute e agarrando seu irmão.

Tremendo de medo e com os pensamentos trabalhando como uma máquina em chamas, saltou junto de Einstein.

Durante a queda, uma horda de soldados pularam para fora de seu caderno. Eles foram de cara contra o chão, sendo machucados ou mortos, mas virando belos amortecedores de queda.

Lá, largou o seu irmão. Não permaneceu deitada sobre os soldados, se levantando rapidamente e correndo em direção de The Cock, que permanecia voando através do impulso de seus poderosos tiros.

Já com o corpo vacilando, ela tirou outra sniper de dentro do caderno e atirou, quase sem mirar. O projétil foi refletido pela pele do musculoso.

Entretanto, os tiros que vieram em sua direção dificilmente seriam defendidos por pele alguma.

Então, conjurou a partir de seu caderno mais e mais soldados. 

Eles caíram em sua frente e, como verdadeiros muros humanos, levaram todos os tiros. Um mar de sangue se originou dos seus corpos feridos, mas mesmo assim, não paravam de atirar até a morte.

O que era irrelevante, uma vez que os tiros não incomodavam o inimigo. Ele sequer continuou disparando contra eles, partindo até Elin.

— Agora você não escapa! — afirmou o homem, ofegante e coberto de suor, surgindo em sua frente.

Ela pensou em fugir, mas logo percebeu que nada chegava a ser mais rápido do que o inimigo e sua poderosa arma.

Com um olhar fixo e determinado, avançou contra ele.

Por outro lado, os tiros também vinham contra ela.

Portanto, aproveitou de estar com o caderno em mãos e conjurou mais cinco soldados que entraram em sua frente.

— Morram! — gritavam desesperadamente os soldados, descarregando os fuzis contra o rosto de seu alvo. O tiroteio durou desesperados segundos, mas caiu assim que sua munição acabou, coberto por tiros.

Suspirando ofegantemente, The Cock observou com neutralidade os cadáveres estirados sobre seus pés. Por sorte, nenhum dos tiros chegou a ser capaz de realmente feri-lo. Quando olhou para frente, se assustou; a garota sumiu.

— Para onde foi, covarde?

 

Estou aqui.

 

Seguindo a voz dela, encontrou apenas um rádio largado no meio da rua.

 

Se quiser, tente me encontrar. Mas acho isso meio inútil, você meio que vai morrer daqui a pouquinho.

 

— Para me matar, vai ter que aparecer — afirmou rigidamente, encharcado de suor. — Seja míssil ou sniper, nada será o suficiente.

 

Não vou precisar. Você vai morrer sozinho.

 

Uma pontada atacou o seu coração. Tentou manter-se firme, mas acabou por se ajoelhar.

 

O meu objetivo nunca foi te matar, eu só precisava distraí-lo enquanto meus amigos fugiam. Agora que o veneno está fazendo efeito, já não tenho com o que me preocupar. Até mais. Boa sorte aí com a morte.

 

Furioso, aniquilou o rádio com um tiro de sua espiga. Desabou completamente logo em seguida, estonteado. Se levantar era um desafio impossível, pois seus músculos doíam como nunca, como se todos eles sangrassem ao mesmo tempo. Já o seu coração, batia descontroladamente, como se quisesse explodir.

Porém, mesmo assim, conseguiu. Com todo o esforço do mundo, se reergueu.

— Pois bem. Aceito a morte, mas não antes de levá-los comigo! — E como um verdadeiro monstro de aço, começou a correr.

Até cair de novo.

Dessa vez, sem quaisquer resquícios de forças para levantar. Seus olhos fecharam.

Meio-minuto depois, Elin saiu de dentro de um beco qualquer, há alguns metros do homem. Se ele procurasse mais um pouco, a encontraria; mas não esperava que chegaria neste ponto, visto o estado do homem. Havia se aproveitado de que os soldados entraram em sua frente para sair correndo e se esconder; no meio tempo, materializou dois walkie-talkies e deixou um ali para distrair o inimigo.

Com o bombado derrotado, ela poderia voltar até Einstein e Leonard para que a busca pelas coordenadas fosse retomada. 



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