Volume 1

Capítulo 3: Compartilhando Sonhos

— Anuk, vamos nos atrasar! — Max gritou do andar de baixo.

— Já estou indo, você podia ter um pouco mais de calma! — Anuk respondeu, descendo as escadas em disparada.

— Você é que podia deixar de ser tão relaxado! — Max rebateu.

— Sério, a culpa é minha se você quer fazer as coisas na última hora? — Ele questionou, pulando o corrimão e aterrissando na frente dela.

Ela o encarou com um olhar sério e irritado, e em seguida puxou a orelha dele.

— Ai, ai, tá, eu já entendi! Desculpa!

— Hum… Estamos indo, Velhote! — Max abriu a porta, acenando para Edward, que continuava concentrado no jornal.

O homem apenas olhou por cima das folhas e fez um pequeno gesto de despedida com a mão. Os dois adolescentes saíram e partiram em direção à AGF.

— Tá bom, tem muita coisa que você tem que saber sobre a escola! — Max começou a explicar, levantando um dedo enquanto tentava organizar as informações.

— A academia é tipo uma faculdade americana? Acho que vi filmes suficientes para saber como funciona!

— Sério, pra você a vida é um filme?

— Olha, não. Mas eu aprendi muito mais assistindo filmes do que sendo ensinado por pessoas. Então, meu senso de realidade diz que nossa vida não está muito longe de um filme, ou de um livro!

— Onde eu fui me meter quando decidi ficar perto de você?

— Sei lá, mas sei que você gosta de mim! — Anuk respondeu, sorrindo enquanto corriam em direção à academia.

— Você se acha, hein, seu idiota… — Max disse, virando o rosto na direção oposta. — Enfim, é melhor eu te explicar quando chegarmos lá.

Eles continuaram o caminho até chegarem à entrada colossal da academia. Um portão de ferro gigantesco exibia um letreiro com as iniciais da AGF. Um gramado imenso e verde se estendia, pontilhado por várias construções. A vista era magnífica.

— Ok, uau, pessoalmente é bem mais legal! — Anuk disse, admirando a paisagem.

— Eu avisei. Pena que na prova de admissão eles te mandam para uma instituição mais próxima.

Os dois jovens entraram. O lugar parecia ficar ainda maior quanto mais se aproximavam. Já era possível ver vários estudantes espalhados pelo campus, caminhando pelas estradas de pedra que serpenteavam o gramado em direção aos prédios. As construções pareciam castelos europeus gigantescos, lugares onde só a alta classe teria acesso.

— Estou me sentindo meio oprimido aqui. Eu devia mesmo estar neste lugar? — Ele perguntou, parando ao lado de Max para observar os arredores.

— Só porque somos pobres? Isso com certeza vai nos atrapalhar um pouco, mas nada com o que se preocupar! — Max explicou.

— Como assim "atrapalhar"? Agora sim você conseguiu me acalmar hein — Anuk disse, com um tom irônico.

— Enfim, temos que ir para o prédio principal. Lá, devemos nos encontrar com os outros estudantes e eles devem dar uma explicação geral sobre a academia.

— Beleza… eu acho.

Mesmo não ligando muito para a opinião alheia, Anuk olhava em volta como se fosse um estranho completo em um bando de lobos. O ambiente parecia observá-lo e julgá-lo. Qualquer movimento dele poderia ser considerado um erro.

"Gente com dinheiro é fogo, né?", ele refletia, atento às pessoas.

Caminhando pela estrada de pedra, eles se depararam com uma multidão reunida, causando um grande alvoroço.

— É… Sei que as regras aqui são meio rígidas. Então, tenho que perguntar: aquilo é permitido? — Anuk apontou para a confusão.

— Não, não é — Max afirmou, com o semblante sério, caminhando em direção à multidão.

Anuk a seguiu. Ele não queria arrumar problemas logo no primeiro dia, mas também não ia deixar a amiga sozinha.

"E convenhamos, é ela quem sabe como as coisas funcionam aqui."

Ao se aproximarem, viram no centro da roda dois garotos da idade deles. Um era mais baixo, com cerca de 1,68m, magro, com cabelos e olhos pretos, vestindo roupas comuns e óculos. O outro, com uns 1,75m, era forte, vestia um casaco de time de futebol bem americano, tinha cabelos castanhos e olhos vermelhos.

— Deixa eu adivinhar: briga? — Anuk cochichou para Max.

— Provavelmente…

— Bom, não é tão diferente de uma escola pública.

Enquanto observavam, os dois no centro estavam parados, se encarando. Até que, finalmente, o garoto de óculos puxou o ar e gritou.

— VOCÊ É UM MERDA!

Essa afirmação surpreendeu Anuk. Ele esperava que o atleta fosse o valentão dos filmes.

— VOCÊ É O PIOR SER HUMANO DESSE MUNDO, UM LIXO COMO QUALQUER OUTRO MERDA DESSE LUGAR! — O garoto de óculos continuou o ataque verbal.

— Escuta, eu não tenho nada a ver com você. Apenas me esqueça e me deixe em paz — O atleta respondeu, calmo, mostrando total desinteresse na situação.

— AGORA VOCÊ NÃO TEM, NÉ? PORQUE AGORA VOCÊ TEM AQUELA DESGRAÇADA! O QUÊ? VIROU POPULAR E FICOU BOM DEMAIS PRA SAIR COM OS AMIGOS? VOCÊ É UM LIXO ESCROTO, QUE NÃO PASSA DE UM CACHORRINHO DA HANA! — O garoto retrucou, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Ao ouvir essas palavras, o rosto do atleta mudou, ficando vermelho de fúria. Ele rapidamente preparou um ataque contra o jovem à sua frente. Mas o golpe foi interrompido quando outra pessoa se colocou entre ele e o alvo.

— Max? — Anuk questionou, confuso e perdido, vendo a amiga parada na frente do ataque do atleta.

— Já chega, Denis! — Max exclamou, com a voz séria e irritada.

— O que você está fazendo aqui, Max? — Denis respondeu, com o olhar ainda fora de controle.

— Não tem por que você atacar o Aki. O que você ganha com isso?

— Eu coloco esse verme no lugar dele e ensino a nunca mais mexer com quem não deve.

— Nossa, quanta autoridade, hein? E você é o quê, por acaso? Um rei? — Max disse, com deboche.

— Sai da minha frente, Max! — Denis falou, lento e ameaçador.

— Me obriga! — Max respondeu, olhando no fundo dos olhos do garoto sem recuar um passo sequer.

— Com prazer!

O garoto se preparou para atacar de novo, mas desta vez, mirando em Max.

— M-Max, cuidado! — O garoto atrás dela tentou avisar, querendo que ela recuasse.

Max permaneceu imóvel, apenas fechando os olhos para suportar o soco. No entanto, os segundos passaram, e ela não sentiu nada. Abriu os olhos e viu o que tinha acontecido. O soco de Denis havia sido interrompido mais uma vez. Desta vez, alguém havia segurado o braço dele. Esse alguém era Anuk.

— Não achei que a educação desse lugar fosse tão baixa a ponto de homens baterem em mulheres. Na verdade, nem sei se dá para te considerar homem. Parece mais um covarde. — Ele disse, encarando Denis com um olhar cortante e desafiador.

— Ora, seu… E quem é você?

— Acho que isso não importa.

"Eu não consigo soltar meu braço. Quem é esse cara?" Denis se perguntava, tentando se soltar de Anuk e falhando miseravelmente.

— Anuk, você não precisava… — Max tentou falar, mas Anuk se virou para ela com um sorriso que fez a garota simplesmente aceitar a ajuda.

— Tudo bem, irmão. Vou te soltar e você vai se acalmar, beleza? — Anuk disse, voltando a atenção para Denis.

Em seguida, ele o soltou, empurrando o braço com força e fazendo o jovem recuar alguns passos. As pessoas ficaram impressionadas. Parar o soco de um atleta com tanta facilidade não era algo comum.

— É melhor você não se meter nisso — Denis disse, recuperando-se.

— E deixar um imbecil como você machucar a minha amiga? Me recuso!

— Você não sabe de nada e não tem nada a ver com isso. Por que se meter? — Denis questionou.

— Tenho meus motivos, mas não preciso de motivo maior pra parar um valentão idiota de tentar agredir um amigo meu.

"E afinal de contas, eu também prometi que protegeria a Max, não importa o que aconteça." Anuk reafirmou mentalmente.

— Você é quem sabe. Depois não diga que não avisei! — O garoto armou a base e partiu para cima de Anuk.

Anuk apenas o encarou, confuso, com uma mistura de zombaria e desentendimento.

"Como pode existir alguém que esquive de forma tão perfeita assim?" Denis refletia, indignado com a situação, enquanto observava os movimentos de Anuk.

Com um sorriso zombeteiro, Anuk desviou de uma série de ataques, mas, em poucos segundos, ele parou o punho de Denis, segurando-o com apenas uma mão. O sorriso desapareceu, substituído por uma expressão de seriedade e irritação.

— Nunca mais ouse tentar encostar nela ou em qualquer outra pessoa que eu me importe! — Ele se aproximou e sussurrou no ouvido do atleta.

Mais uma vez, um pequeno brilho quase imperceptível surgiu no colar de Anuk, bem antes que ele desferisse o contragolpe. Ele socou a barriga de Denis, mas, para surpresa de todos (incluindo o próprio Anuk), o adolescente foi arremessado a uma distância surreal, como se tivesse sido atingido por uma explosão.

— É… o quê? — Anuk perguntou, confuso, ao ver o corpo do atleta jogado no gramado, bem à frente. O garoto havia atravessado toda a multidão e parado a uns quinze metros de distância.

— É uma ótima hora para a gente sumir daqui! — Max afirmou, puxando-o pelo braço. Eles dispararam novamente em direção ao prédio principal, junto com a multidão que começou a se dispersar imediatamente.

Depois de correrem por alguns minutos, pararam ofegantes em frente ao imponente prédio principal.

— Sério, por que parece que sempre que a gente está junto, estamos correndo? — Anuk questionou.

— Sei lá, talvez porque sempre estamos metidos em confusão? — Max respondeu, tentando recuperar o ar.

— É, talvez você tenha razão. Mas, e aquele seu amigo? Onde ele está?

— O Aki? Ah, ele não é meu amigo, mas deve estar bem.

— Não é seu amigo?

— Digamos que é um conhecido. Ele quase não interage com ninguém, é muito tímido e reservado.

— Deu para perceber… Enfim, você está bem?

— Eu? Estou ótima. O que me impressiona é o que você fez lá!

— Hahaha, eu também estou impressionado…

"Até demais, na verdade", Anuk completou para si mesmo.

— Por que você fez aquilo? — Max perguntou, recompondo-se.

— O quê? Bater no valentão? Olha, não era para ser com tanta força. Na verdade, eu nem sabia que eu tinha tanta…

— Não, não é isso. Estou falando de me proteger e comprar a briga por mim.

— Ah… porque somos amigos, ué.

— Sério?

Anuk ficou em silêncio, encarando a menina, buscando a melhor resposta.

— Você é importante para mim. Isso já basta…

Max o encarou em silêncio, surpresa, e seu rosto ficou levemente vermelho.

— Ah… Q-que bom saber disso. Significa que você vai me p-proteger, né? — A garota se embolou nas palavras e virou o rosto na direção oposta.

Anuk a observou, confuso, antes de responder com um sorriso contido.

— Claro.

Após a afirmação, os dois ficaram em silêncio novamente, se encarando.

— Q-quer dizer, isso faz parte do meu sonho, então é claro que eu vou… — Anuk tentou desconversar, um pouco ansioso.

— Sonho? — Max perguntou, curiosa.

Nesse momento, Anuk percebeu para onde a conversa estava indo. Ele sempre teve medo de falar sobre seu sonho, temendo que ela ou qualquer um achasse bobo, infantil, e rissem dele. Por isso, sempre manteve segredo.

— Eu… eu… Eu tenho o sonho de salvar as pessoas. Ainda não sei como, mas de alguma forma eu quero proteger o máximo de pessoas que eu conseguir! — Ele disse, reunindo toda a confiança que tinha.

Max o encarou por alguns segundos, surpresa, e em seguida começou a gargalhar.

"Eu já imaginava", Anuk refletiu, sentindo um ponta de decepção.

— HAHAHAHA! Por que eu não estou surpresa? — Ela disse, em meio às risadas.

— Quê? — Anuk perguntou, surpreso.

— Isso é totalmente a sua cara! — Ela afirmou, com um sorriso alegre e radiante.

— Espera, por que você estava rindo?

— Porque eu acertei. É a sua cara! E achei engraçado eu ter acertado. Você não é o tipo de pessoa que sonharia com algo pequeno ou bobo. Provavelmente miraria na coisa mais surreal do mundo.

— Então você não acha que é besteira?

— Claro que não! Na verdade, eu acredito que se for você, esse sonho com certeza vai se realizar. Eu normalmente acharia besteira — e até é uma enorme besteira —, mas quando é você falando, eu acredito que o impossível é possível.

Anuk ficou encarando Max, incrédulo e admirado, o que fez a menina se desesperar de vergonha.

— Q-quero dizer, sabe como é, você é meu amigo e talz. Eu tenho que confiar em você, né! — Ela disse, sem jeito, e Anuk começou a rir. — P-por que você está rindo, seu idiota?

— Só você para me animar e dizer essas coisas sem nem pensar! Obrigado. — Anuk agradeceu, sorrindo.

Max voltou a encará-lo, com um sorriso de satisfação.

— Sabe, Anuk, eu conheci alguém há muito tempo que me salvou.

— Como assim?

— Ele era um menino, idiota e cheio de esperança. Eu me sentia perdida e só queria ser levada pelo mesmo acidente que levou meus pais. Mas ele estava lá por mim, com os olhos brilhando, dizendo para eu ter esperança e não desistir, gritando para eu lutar… Eu não sabia quem ele era, e nem ele sabia quem eu era. Éramos completos estranhos, mas ele estava arriscando a vida para me salvar. Ele era mesmo incrível.

— Por que você está me contando essa história? — Anuk perguntou, curioso.

— Porque eu acredito de verdade que você consegue proteger as pessoas. Então, comece por mim. Me proteja direitinho, ok? — Ela disse, com empolgação e um sorriso.

— Não sei se entendi direito, mas pode deixar. Com certeza eu vou realizar meu sonho! — Anuk respondeu, na mesma empolgação.

— Você é mesmo um idiota… — Max comentou, sorrindo.

— Oxi, por quê? Do nada?

— Nada. Só vamos continuar e tentar não nos meter em encrenca.

— É uma boa!

Eles começaram a seguir para dentro do prédio principal. Enquanto caminhavam, Anuk estava reflexivo.

"O que foi aquilo? Tipo, eu sei que meu corpo não está muito normal, mas eu tenho certeza de que não soquei com tanta força… Cara, que bizarro."

Dentro do grande prédio, havia incontáveis pessoas. No centro, um jardim com uma fonte e diversas flores. Nas laterais, as construções davam acesso às salas. O chão era de azulejos laranjas, e as paredes, pretas.

— Para onde vamos? — Anuk questionou Max, ainda admirando o local.

— Vamos para o teatro. É lá que costumam dar as boas-vindas e nos direcionar para as atividades.

Eles se dirigiram ao teatro, um lugar para apresentações, como peças, óperas ou shows. A sala lembrava um cinema: as cadeiras se distribuíam de cima para baixo, aproximando-se do palco.

"É a primeira vez que vejo um teatro. Parece muito com um cinema, a forma de organização. Exceto que não tem um telão gigante, e sim um palco com cortinas. Será que tem show de talentos aqui?"

— Vamos sentar aqui. Assim você terá uma visão melhor! — Max disse, apontando para uma das cadeiras mais acima.

— Quanta gente, né? Parece até que vai ter uma sessão de filme…

— Claro. A introdução da Academia é uma das mais importantes, e todos querem presenciar o diretor pelo menos uma vez.

— Ele é um homem misterioso? Achei que ver o diretor não fosse sinônimo de algo bom.

— Não, idiota. É que ele é um homem muito importante, e dizem que se ele enxergar seu potencial, você provavelmente conseguirá um dos melhores empregos que a vida pode oferecer.

— Uau! Então esse cara deve ser algum tipo de vidente?

— É… quase isso.

Enquanto conversavam, as luzes se apagaram, e os holofotes se concentraram no palco. As cortinas se fecharam e se abriram novamente em minutos, revelando um homem.

— Senhoras e senhores, gostaria de dar as boas-vindas ao início do futuro de cada um de vocês. Então, bem-vindos à AGF! Meu nome é Viktor, muito prazer. — Ele se apresentou com uma voz calma, elegante e sofisticada.

 

NOTAS DO AUTOR

- AGF significa "Futuro de Ouro", mas dificilmente os personagens irão dizer o nome completo da academia.

 

- Arcádia realmente existe, porém na história é uma cidade completamente fictícia, em alguns momentos podem ter situações e lugares parecidos com o nosso mundo porém levem em conta que a cidade é completamente alterada para realidade da novel, tipo Nova York da Marvel.

 

- A todo que estão apoiando até aqui, agradeço de coração, esse projeto tem um objetivo muito maior e eu quero levar ele ainda mais pra frente, por isso preciso do apoio do máximo de pessoas e agradeço a quem tem acompanhado a história do Anuk e curtido! Agradeço demais e espero poder cada vez mais melhor essa história.

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