Volume 1

Prólogo: Que Sobrem Apenas Cinzas

— Pare com isso! — Leo forçou seu corpo para frente, mas as algemas, presas fortemente aos pulsos, o impediam de sair do lugar. Por mais que se debatesse com toda a sua alma, tudo o que conseguia era rasgar a própria pele.

Em sua frente, via, entre as sombras, o sangue iluminado pelas chamas. Sua amada estava presa, com machucados espalhados pelo seu corpo extremamente magro. Era nítido como ela tinha definhando com os maus tratos nas últimas semanas.

Mas o que levou a uma reação tão exagerada, foi a entrada de outra pessoa na sala. Pequena, não mais de 1,4 metros, uma garotinha de cabelo rosa, cantarolava animada com um bisturi em mãos.

Zena, a pequena garota, olhou com o mais puro dos sorrisos. Era difícil entender como, em meio a tanto sangue, ela podia ter uma expressão tão reluzente, mas ela tinha. Ainda mais contraditória com sua pureza, era o sangue espalhado pelo pé e roupas.

A garotinha não se importou com o homem se debatendo e seguiu em direção à mulher indefesa. Sua expressão, cada vez mais brilhante. Encostou com sua lâmina fria na pele da pobre mulher acorrentada; mas, antes de começar, murmurou:

— Aproveite o show, terei certeza de fazer algo incrível, Leozinho. 

Leo amaldiçoou, gritou até  rasgar a garganta e sentir o gosto do sangue na boca, mas não podia fazer nada enquanto, cantarolando, Zena pegou a faca e tirou um naco da pele menina.

Ei, você conhece uma brincadeira chamada Esfola? — Aquilo era só o começo. Sem se importar com a dor de sua vítima, Zena sorriu e jogou a fatia de pele no fogo. A pele queimou, se contorcendo nas chamas, até virar apenas cinzas insignificantes.

O cheiro era realmente desagradável, a fuligem se levantava no ar e não permitia, a Leo, ignorar o que acontecia, mesmo que fechasse os olhos, a desgraça em sua frente ainda viajava até ele.

— Primeiro você faz um cortezinho, tipo assim… — Mais uma vez, cortou superficialmente a pele do braço da garota. — Depois é só arrancar como um adesivo.

Sorrindo e cantarolando, pegou a pontinha da pele que se soltava com o corte, então puxou com cuidado, arrancando um grande naco de pele. Aos poucos, tirava pedacinho por pedacinho, não tinha pressa, gostava de aproveitar cada momento, cada mudança de expressão. 

A cada pequena gota de sangue que caía no chão formando uma poça macabra, a menina parecia ficar mais animada. Assim conseguiu aos poucos tornar os berros de dor, em suspiros roucos. Depois de dias e dias de sofrimento, o golpe final necessário para destruir o espírito de sua vítima estava sendo dado.

No outro lado daquele calabouço, uma poça de sangue ainda maior se formará e a resistência também parecia ter chegado ao limite. Durante todo o tempo, Leo se debateu, por mais que as correntes espinhosas cortassem sua pele, continuou a se debater, até que o sangue no seu corpo chegasse à beira do fim.

Mais que nunca, o garoto estava frente a frente à morte, ter sobrevivido tanto já era um grande feito, mas não restavam forças; por mais que tentasse, era impotente. Fraco e derrotado, restava-lhe amaldiçoar o destino, enquanto, frustrado, mantinha o punho tão cerrado que as unhas perfuravam a própria pele.

“Mate todos, queime seus inimigos, amigos, sua vida… No fim, deixe que sobrem apenas cinzas.”

Em sua mente, soava o sussurro infernal de um demônio, entre dúvidas cintilantes, nem sabia se restavam forças para firmar um acordo com ele.

E Zena riu.

Suas gargalhadas pareciam incessantes, como uma criancinha assistindo a um desenho, fazia décadas que não se divertia tanto assim, aquele era, talvez, um dos momentos mais divertidos de sua vida. Uma ideia terrível tinha brotado em sua mente.

Com a pequena e delicada mão, limpou as lágrimas da sua presa e mostrou um sorriso assustador. Num movimento surpreendente, ela soltou a garota. Liberta, ela não sentiu qualquer alívio da dor, mas pelo menos uma pontada de esperança de que o sofrimento finalmente acabaria.

— Já chega de toda essa tortura, seria maldade estragar uma garota tão bonita. — De alguma forma, conseguiu mascarar seu sadismo e usou um tom gentil, nem parecia que ela quem tinha causada toda a dor. — Se fizer uma coisinha, juro, é apenas um pedido, se puder realizar ele para mim, prometo que toda a dor vai acabar.

Por mais que toda sua razão dissesse que aquilo era uma armadilha óbvia, o coração bateu mais forte. Para alguém morrendo de sede no deserto, qualquer miragem é uma esperança. Entre a realidade e aquilo que queremos que seja verdade, a segunda opção é muito mais poderosa. Por um instante, a garota teve esperança.

Zena sorriu vendo aquilo, ela parecia perto de um êxtase orgásmico. Imaginando a cena de horror que poderia ter em sua frente, sacou uma adaga da cintura. Era uma faca de pompa, lâmina bela e perfeitamente afiada; a empunhadura, ornada com ouro e cristais.

Segurando o punhal pela lâmina, apontou o cabo para sua vítima e disse: — Apenas pegue essa faca e — abriu o maior dos sorrisos — mate aquele cara com suas próprias mãos. Melhor, quero que torture ele, faça pequenos cortes, assim o sangramento vai matá-lo. Fácil, né? Até amarrei ele para você. Melhor ainda! Só precisa cravar essa arma no peito dele e toda a dor vai embora... Então, o que fará?

Leo já estava à beira da morte, não tinha como salvá-lo, era melhor que um sobrevivesse do que ter duas mortes, né? Talvez fosse mais racional aceitar. Ou talvez devesse se perguntar: será que sua amada conseguiria continuar a viver com a culpa de matá-lo? 

As perguntas eram muitas, mas Leo não tinha forças para pensar muito sobre. Por isso restava a mulher na sua frente decidir, ela escolheria morrer sem trair a pessoa que ama, ou se agarraria na pequena chance de viver.

A dúvida cruel, a semente diabólica que Zena plantou já não poderia ser ignorada. A dor crescia e corroía a razão, humanos ao ver a morte na sua frente, farão de tudo para escapar dela. O medo e a dor corroem a mente, corrompem a alma, destroem os laços. Naquele silêncio, só sobrava o som das chamas queimando.

Fraca, a garota pegou a lâmina. Com sua mente nublada em dor, deu passos para frente, cambaleava com dificuldade, mas seu destino era claro, o homem à sua frente.

Vendo aquilo, Leo não falou, não lutou, apenas se calou olhando sua amada se aproximar com uma faca. Claro, ainda era um humano, por dentro, o medo ebulia fervorosamente, mas conteve suas emoções. Na face, permitiu apenas que um sorriso gentil e fraco aparecesse.

Encarando olho no olho aquela mulher, uma pontada de dor percorreu a alma, por mais que tentasse ser forte, era doloroso, se sentia abandonado, fraco, frustrado, apavorado e, de certa forma, traído. Só lhe restava acalmar a mente pensando em outras coisas, a mente vagava nas memórias felizes e dolorosas que teve, não tinha tido uma vida plena, mas, se aquele era o fim, não tinha mais o que fazer.

Fechou os olhos e esperou a dor final, mas ela nunca veio, apenas ouviu um sussurro fraco, tão fraco, que até parecia uma ilusão:

— Dessa vez vai ser diferente…

A lâmina prateada foi pintada com sangue. Em um giro veloz, o belo punhal dançou refletindo a luz do fogo no meio das sombras, por fim sua ponta afiada pousou na pele da Zena. Apenas um corte superficial, foi tudo que a fraca garota conseguiu, mas aquela era sua resposta final, escolheu morrer sem se curvar.

Passou a lâmina do seu braço normal para o em carne viva, apenas segurar algo naquele estado causava uma dor excruciante, mas não recuaria. Com seus restos insignificantes de força, avançou para morte, se aquele era o fim, lutaria, mesmo que pateticamente.

Nos olhos de Zena um sentimento predominava: incredulidade. Como? Por que? Não fazia sentido! Tudo estava indo como queria então… por que? Por que aquela mulher precisava mudar de ideia no último segundo?

Todo o prazer acabou, foi do êxtase ao ódio em apenas um instante.

Nunca admitiria, mas, naquele momento, foi derrotada e, por mais que desviasse da lâmina facilmente, por mais que perfurasse o peito daquela mulher com seu braço, o sentimento de derrota, o ódio, o gosto amargo, não passariam.

De qualquer forma, essa pequena vitória moral, foi tudo que aquela garota conseguiu. Num instante, Leo viu o braço de sua amada voar pelo ar, logo depois, ela já estava com as costas contra a parede e, Zena, com a mão em seu pescoço.

— Vou te matar, tola! — Pela primeira vez, o tom não era infantil, por mais que a voz continuasse sendo irritantemente fina.

Num último suspiro, Leo forçou aquelas correntes, seu corpo não tinha forças, mas, antes do fim, queria pelo menos abraçar sua amada.

Sentiu a pele rasgar, até alguns ossos quebrarem tamanha a força que fazia, mas não podia se libertar daquelas correntes.

Soltou um berro final, então fechou a mandíbula com tanta raiva, que seus dentes racharam. Tudo que queria era um pouco mais de força, então…

“Queime tudo logo!”

O diabo sussurrava e sussurrava. Enquanto isso, nos olhos, refletia a cena da mulher que amava, aquela que jurou proteger, sendo enforcada. Debatia-se em seus últimos suspiros, miseravelmente lutava até que a vida que habitava em seu ser começasse a se esvair.

Ódio, queimava em sua alma, era uma raiva incontrolável.

— VOU TE MATAR! — O rugido estridente vinha da alma; poderoso, fez até Zena, sempre impassível, sentir uma fagulha de medo.

Chamas se alastraram.

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Nota:

Opa, sou o Hiore, espero que tenham gostado desse prologo. Enfim, vim contar como vai funcinar oas lançamentos e outras coisinhas.

 

Primeiro, meu plano e lançar um capítulo por semana no minimo, que vai sair aos domingos, mas sempre que der vou postar um extra no meio da semana.

 

Além disso, quem quiser vai poder me apoiar doando no pix, sempre que acumular 20 reais em doação, vou postar um capítulo extra.

Para mais informações, só entrar no meu server do discord: Aqui

Sério, se possível, entrem no server, acho que ele ficou bem bonitinho e é lagal, tb dá para ser notificado sempre que sair cap novo por lá.

Por fim, só para dar um contexto, esse prologo se passa num futuro um pouco distante do presente da obra, então no primeiro capítulo estaremos de volta a algo mais calmo e serão apresentados os perssonagens, considerem isso um teaser do futuro.

 

É isso, obrigado por ler.



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