Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 8: Morcego

Diversos arranha-céus cortavam as estrelas acima das pessoas que perambulavam nas ruas. Uma mulher aproveitava essa paisagem de braços cruzados e com um largo sorriso, parecia realmente bonito quando se tinha um belo ponto de vista. 

Depois de conferir a maquiagem no espelho, ela deu uma última olhada no cenário urbano antes de sair.

Ela caminhou rumo ao elevador, então apertou o último botão e esperou descer ao som da musiquinha de fundo.

As portas se abriram para um corredor branco. Seguiu em frente, indo direto para uma ampla sala com um aquário no meio. 

Peixinhos nadavam pela água, cada um na sua própria sintonia e ritmo, mas o que roubava os holofotes era um colorido que se remexia em alta velocidade de um lado ao outro do aquário.

"É tão bom tê-los só para mim… mesmo tendo sido caros, ainda não deixo de me satisfazer em poder vê-los bem de perto.”

A mulher sentou-se numa das cadeiras e observou os visores à sua frente. Haviam inúmeros monstros engaiolados nas câmeras, que batiam nas grades para tentar quebrá-las.

Um chamou sua atenção, um lagarto cuspidor de fogo. Com o apertar de um botão, uma torreta desceu do canto da jaula e disparou um raio que atingiu em cheio a cabeça da criatura.

Duas pessoas entraram na gaiola e levaram o corpo morto, seguido por outro par que jogou um espécime completamente diferente dentro da prisão.

Instantes depois um mordomo adentrou a sala do aquário, empurrando um carrinho de comida com diversos pratos tapados por tampas metálicas.

Ele retirou uma das tampas, revelando um belíssimo filé de carne rosada. A mulher apanhou o garfo e faca e abocanhou um pedaço da carne, sem se importar com as escamas da borda.

— Crocante, um pouco salgado demais…

 

Habilidade desbloqueada, Bafo de Fogo

Habilidade desbloqueada, Armadura Natural.

 

— …mas saboroso o bastante.

Ela estendeu o braço para o lado, uma cor vermelha tomou conta da pele e lentamente escamas começaram a crescer. 

Suas unhas ficaram pontiagudas, tão afiadas que cortaram a tampa de ferro como se fosse papel.

A sensação de poder que circulava com aquelas telas diante de seus olhos eram a melhor coisa do mundo, uma dopamina que infestava seu cérebro.

— Pode voltar ao trabalho, só ficarei por mais um tempo.

O funcionário fez uma breve referência e empurrou o carrinho para fora da sala. Ela cruzou as pernas em cima da grande mesa cheia de botões.

Aquilo era como uma grande árvore, os frutos estavam lentamente amadurecendo para serem comidos por um pássaro. 

Só que, existia uma refeição especial que não experimentava há muito tempo.

— Ah, mal posso esperar para que ele fique bom o suficiente… Deus, ainda agradeço por ele acreditar em mim tão facilmente…

Um largo sorriso destacou seu batom verde-claro. Ela estava ansiosa pela tal pessoa enfim estar pronta, apenas precisava esperar até o momento certo aparecer.

 

*****

 

Lucas cambaleou para trás depois do soco, só para em seguida receber um jab que o acordou de volta a realidade.

Rapidamente saltou para trás e levantou a guarda, mantendo a base firme e os punhos erguidos enquanto encarava o intimidador oponente.

Amora estava em uma forma humanóide e de pé em duas patas. Era magro e esguio, diferente de sua forma rechonchuda quando era um gatinho.

Ele se colocou na mesma pose e se mexeu de uma maneira extremamente rápida em direção ao rapaz, desferindo um direto em sua direção.

Lucas ergueu o corpo para trás no susto, porém este foi seu erro, pois um gancho o acertou bem na lateral e o fez perder o fôlego.

— Outro erro — disse o gato, dessa vez sem dar outro golpe. — Não se esquive jogando para trás, isso só abre sua guarda na região do abdômen. 

— Uff… e como eu vou desviar direito?

— Se um golpe vem diretamente no seu rosto, você rotaciona o corpo para o lado oposto. Vou lhe mostrar.

O rapaz o encarou com uma grande desconfiança e com as sobrancelhas franzidas. Amora pouco se importou, era previsível que o garoto tivesse algum pingo de confiança depois de ser pego de surpresa.

— Eu não vou fazer a mesma coisa. Venha logo e tente me dar um soco.

Lucas chegou perto e fez a base novamente. Deu jab rápido, e Amora se esquivou girando o torso para o lado, rotacionando-se suavemente para baixo e fazendo o punho passar por cima do ombro. 

— Esse é o tipo de esquiva contra golpes retos. Agora faça o cruzado.

Realizou o golpe, então o gato desviou flexionando levemente as pernas e rotacionando o quadril, passando por baixo do braço em um movimento de "U".

— Isso é um pêndulo, que é contra golpes longos.

— Mas e o gancho e uppercut?

— Normalmente, você não terá chance para desviar do primeiro, e o segundo você pode saltar para trás e assim abrir distância.

Amora explicou que como o gancho poderia ser voltada a região do abdômen, o melhor a se fazer era bloquear o braço do oponente.

— Lembre-se, você está aprendendo a se defender, não a lutar profissionalmente, ou seja, use suas mãos para segurar ou parar uma pessoa se necessário. Agora que sabe disso, vamos começar de novo.

Os dois abriram uma pequena distância, novamente o homem-gato tomou a iniciativa com um avanço rápido e um cruzado. 

Lucas realizou um pêndulo, porém por conta da falta de jeito acabou caindo no chão de lado. Não havia rotacionado o quadril o suficiente, o que ocasionou a falta de equilíbrio.

Ambos tiveram que recomeçar do zero, dessa vez o rapaz tomou a iniciativa e seguiu com um jab e gancho.

Seu oponente desviou dos dois golpes e encaixou um uppercut na guarda aberta pela falta de atenção dele, o que o arremessou no ar por alguns instantes e deu um apagão em sua mente.

O garoto acordou quando bateu as costas na grama. Estava tonto, seu sangue fervilhava a cada soco levado e trazia mais vontade de ficar de pé.

Mais uma vez o duelo recomeçou, Lucas tentou desferir uma sequência de socos diferente a cada momento, e quanto mais a luta durava mais seus reflexos ficaram afiados.

 

O atributo Agilidade aumentou. 

 

Sua mente pareceu desligar, os instintos tomaram conta de seus braços e pernas como se fosse a coisa mais natural do mundo. 

Com o tempo, ele aprendeu a consertar a base nos momentos certos e abrir distância quando fosse necessário, além de ignorar todo o resto se assim precisasse.

 Sua cabeça se concentrava não só em desviar, mas também quando receber um ataque. Haviam golpes e situações impossíveis de evitar, então tudo o que restava era diminuir o dano com um bloqueio ou atrapalhando.

No final, ele não conseguiu acertar Amora. Seu mestre era ágil demais, parecia prever qualquer coisa que o pupilo tentava, desde as fintas e até o lugar onde os golpes atingiriam.

Lucas terminou o treino extremamente ofegante, seu pulmão ia explodir a qualquer segundo.

— Isso foi um resultado melhor do que eu esperava — falou Amora, enquanto encolhia de volta à forma de gato gordinho. — Continuaremos mais tarde, já está na hora de você ir trabalhar. Tome um banho e vá rápido, senão sua mãe vai suspeitar de alguma coisa!

Ele obedeceu prontamente, retornando para casa e escapando dos olhares de sua mãe por um triz. Trocou de roupa e cuidou dos ferimentos, então correu a todo vapor para o trabalho.

Alguns dos garçons estranharam seu estado, porém não comentaram sobre. Entre as esfregadas de piso e bolhas de sabão, Lucas ficou entediado. 

A única coisa que matava seu tédio era um podcast sobre qualquer assunto ou um vídeo a respeito de um tópico que fosse interessante.

Esse hábito se tornou cada vez mais benéfico por conta do sistema, que o recompensava por escutar alguma coisa.

 

O atributo inteligência aumentou

 

No entanto, a frustração de não ganhar nenhuma função nova mesmo com todo aquele tempo pesava na cabeça dele.

O expediente passou bem rápido, e novamente Lucas estava fora do restaurante caminhando na calçada. 

O problema foi que não quis voltar para casa ainda, então decidiu olhar um pouco as lojas no caminho. Uma delas era uma loja cheia de artigos de jogos.

A vitrine era recheada de consoles caros e controles diferentes. Sentiu-se instigado a entrar, porém preferiu memorizar o nome da loja para evitar uma facada na carteira e seguir em frente.

Outra não muito longe era uma livraria, o que imediatamente captou a atenção dele. Não estava interessado nos livros, exceto outra sessão que lhe chamava atenção, a de mangás. 

Muitas coisas de seu mundo não mudaram em relação àquela. Obras publicadas, livros, figuras históricas e o próprio mundo era muito igual a antes, tendo como único detalhe crucial os portais.

Algo curioso sobre esse tópico era que apenas a partir dos anos 90 os monstros e habilidades começaram a surgir, além de que aparentemente a potência global não era os EUA, e sim a Espanha.

Lucas não encontrou tanta informação nos podcasts e vídeos do Supertube, mas também não sentia tanta vontade de pesquisar sobre. 

Tudo o que ficava em sua mente era a constante vontade de farmar e vencer aquela dungeon, quase como se só desse para viver se derrotasse o troll.

Ele comprou um mangá na promoção e saiu da loja, indo de volta para casa. Lá fez o de sempre, jantou e tomou um banho, mas Amora não apareceu.

“Pra onde será que ele foi?”

Era até um pouco triste levando em conta que estava animadíssimo para continuar o treino. Deitou-se na cama e encarou a mochila no canto da sala.

No entanto, Lucas teve dificuldade de permanecer quieto, optando por mexer nos espólios dos monstros, todos completamente inúteis já que não sabia como usá-los. 

Quando remexeu a mochila um pouco mais, uma moeda dourada com o símbolo de um morcego caiu e rolou pleo chão. 

— Ah, lembro de ter pegado isso… O que será que faz?

Ele apanhou a moeda, fazendo uma janela surgir.

 

Moeda de Invocação - Morcego

Raridade: Rara

 

Uma moeda que ao ser lançada invoca um morcego como companheiro

 

“Uma descrição bem vaga… Bem, não custa nada usar.”

Como não custava nada, lançou a moeda no ar. Ela se desmaterializou conforme girava, quando tocou o piso se transformou num círculo branco e fez um grande morcego emergir do chão.

Era igual aos que encontrou na masmorra, de pele roxa e grande demais para um morcego comum. Ele fez um barulho estranho e bateu as asas ao redor de Lucas.

— Será que é dócil…?

Lucas estendeu a mão em direção a criatura, que pousou em seu braço e ficou de pé. O rapaz fez um carinho na cabeça do morcego, e para sua surpresa não teve a mão engolida.

O animal aceitou o afago bem quieto, o que lhe deu uma bela confiança.

 

?????

Morcego das Cavernas ♀; Nível 0

Habilidades; Ecolocalização - Visão no Escuro - Mordida Vampírica

Essa espécie de morcego tem asas fortes e se alimentam do sangue das vítimas. Eles ficam mais fortes quanto mais sangue ingerem e costumam se movimentar em largos bandos para drenar o mais rápido possível o sangue das presas.

 

— Meio brutal… mas eu acho que tem como você me ajudar.

Lucas foi para fora de casa junto do pet, encontrando-se com goblins no meio da noite. 

Ele apontou na direção dos cabeçudos feios, o comando foi mais que necessário para o morcego pular para cima de um e infligir uma mordida no pescoço de um dos goblins que secou seu corpo inteirinho.

 

????? subiu de nível.

 

Os outros goblins iam atacar o pet, se não fosse por Lucas entrando na luta com uma voadora de dois pés. 

O último ia fugir para evitar uma batalha direta contra dois, no entanto foi pego por uma mordida e perdeu sua vida em questão de segundos.

 

????? obteve sangue o suficiente para aprimorar uma de suas habilidades.

Escolha a habilidade que deve ser melhorada:

 X Mordida Vampírica X

Aumenta a quantidade de sangue drenado e recuperação de vida.

 

Como não havia outra opção além da mostrada na tela, selecionou aquela mesmo. O lado bom foi que muitas coisas ficaram esclarecidas em sua cabeça.

Primeiro, uma moeda de invocação trazia uma criatura amigável para lutar ao lado de quem a invocou, e esta tinha suas próprias habilidades e um nível. 

Como era um monstro com a habilidade de drenar energia vital dos outros, Lucas chutou que as outras habilidades recebiam melhorias baseado na quantia de sangue consumida.

Sorriu, era um novo mundo diante de seus olhos e uma forma automática de farmar duas coisas ao mesmo tempo.

Lucas ficou a noite toda deixando que seu pet se alimentasse dos goblins, apenas parando quando seis foram mortos para receber a recompensa da katana.

Estava com saudade de uma delas, a leveza que foi tocar uma depois de tanto tempo era imensurável. 

Naquele mesmo momento ele teve duas ideias: farmaria as katanas ao máximo e deixaria a morcega matar os goblins, tudo para matar aquele maldito troll com muito gosto.

— Hmmm… você precisa de um nome, morceguinho. Que tal Zu… não, ninguém gosta do nome desse bicho. Já sei, pode ser Mila, de Carmilla. 

Mila acenou com a cabeça várias vezes, tinha gostado do nome. E foi assim que Lucas adquiriu sua primeira invocação, uma morcega roxa. 



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