Eu Selarei os Céus Chinesa

Tradução: Devlin

Revisão: Bonadeo


Livro 3

Capítulo 300: Um Antigo Céu Estrelado

“Hmm, Deserto Ocidental…” Meng Hao franziu o cenho pensativamente. Em um dos lados do Mar da Via Láctea estava localizado o Deserto Ocidental e o Domínio do Sul e no meio dentre os dois estava as Terras Negras, cujo território não era muito grande.

Para se chegar no Deserto Ocidental do Domínio do Sul, a única via era atravessando as Terras Negras. Outros lugares de acesso foram todos selados pelos Patriarcas das potências dessas duas regiões criando com isso dois continentes ou territórios separados.

Pela história ocorreu duas grandes guerras de abalar o mundo entre esses dois continentes e durante essas guerras todas as Seitas participaram de ambos os lados. Afinal, esse tipo de guerra era em uma escala tão gigantesca que não era do mesmo nível que as guerras entre duas Seitas ou Clãs.

E o invasor de ambas essas guerras foi o Deserto Ocidental!

Os recursos que poderiam ser usados para os cultivadores no Deserto Ocidental eram extremamente limitados, além disso o clima era odioso e a energia espiritual era escassa. Apesar de tudo isso, essa terra ainda era capaz de produzir indivíduos extraordinários, pois diante de todas essas dificuldades a concentração de poder do Deserto Ocidental só aumentava.

Afinal no Deserto Ocidental, cultivo não era o foco de maior atenção; lá o que era mais importante era sobreviver, pois a lei da selva era muitas vezes mais brutal que no Domínio do Sul. Diante dessas circunstâncias os cultivadores com maior talento, que seriam como furadores saindo para fora de um saco [1], estes normalmente eram mais poderosos que os do Domínio do Sul que estariam no mesmo nível de cultivo.

Por eles invejarem as terras ricas e férteis do Domínio do Sul causaram guerras para conquistá-las.

E consequentemente foram essas duas guerras que delimitaram os territórios do oeste e do sul através do uso de um enorme selamento de demarcação.

Meng Hao ergueu a mão e fez surgir dela um Oceano de Chamas que completamente incinerou o corpo do cultivador do Deserto Ocidental até virar cinzas. E com os olhos cintilando, Meng Hao se transformou em um raio de luz que rapidamente prosseguiu pelo caminho em frente, agora estando muito mais em vigília que antes.

Com isso o tempo se passou lentamente. Dentro do labirinto não estavam apenas cultivadores do Deserto Ocidental, mas também os nativos do Domínio do Sul. Quando estes acabaram se esbarrando pelo caminho, algumas vezes se ajudariam entre si, outras vezes uma batalha irromperia. O lugar estava um tanto caótico.

Enquanto isso, no mundo exterior, os Patriarcas das mais variadas Seitas haviam retornado para seus respectivos pilares de luz, nesse momento, podia ser visto que seus rostos demonstravam nervosismo. Um mês já havia se passado e ninguém ainda retornou.

Um fenômeno como esse nunca aconteceu antes. No passado, logo após o corpo ser tocado as pessoas que eram teleportadas ficariam desaparecidas por no máximo duas semanas, sendo teleportadas de volta nesse período. Se isso não acontecesse era um indício que eles estavam mortos!

Outra mudança que ocorrera, comparado a um mês atrás, foi que o escudo de energia que tinha desaparecido foi ativado novamente, prevenindo que ninguém mais se aproximasse. E ninguém poderia atravessá-lo, nem mesmo os Patriarcas do estágio de Separação Espiritual.

Entretanto, eles podiam sentir que o escudo era, na verdade, algum tipo de aura emanada pelo corpo. Então era fácil de especular que essa aura era… força vital!

Portanto, este suposto Imortal não estava morto! Ele ainda tinha um último sopro de vida restando!

O Domínio do Sul se abalou profundamente com essa notícia. Resultando em mais Patriarcas se dirigirem até lá, mas nenhum deles foi capaz de fazer alguma coisa para ajudar, a única opção que eles teriam era utilizar-se de alguns de seus tesouros mais poderosos para fazer uma abertura no escudo. No entanto, era obvio não precisava usar esses tesouros, pois o escudo se dissiparia em apenas mais um mês.

E também, as Seitas não podiam deixar de reparar que a maioria das pedras de vida de seus diversos discípulos ainda estavam intactas e não se despedaçaram. Obviamente, isso significava que a maioria de seus discípulos ainda estavam vivos, ainda que em perigo de morte. Portanto, a melhor coisa se fazer seria esperar.

Afinal, ainda que ninguém comentou sobre isso em voz alta, como que os Patriarcas poderiam deixar de perceber que esse escudo não era um obstáculo e sim uma proteção? O desaparecimento massivo dos discípulos certamente era perigoso, mas podia ser visto também como uma oportunidade de obter uma boa sorte disso.

E esta seria obviamente a aquisição de um legado!

De volta ao labirinto, os Escolhidos e Crianças do Dao estavam utilizando diversos métodos para tentar achar uma saída, mas nenhum deles conseguiu ter sucesso até agora. Entretanto, alguns adquiriram parcelas de uma boa sorte diante da situação.

Um exemplo disso aconteceu com Chu Yuyan que nesse momento estava respirando ofegantemente. Ela tinha chegado até o final de um caminho e se deparou com um enorme muro coberto com fórmulas de pílulas e cada uma delas deixava a mente de Chu Yuyan aturdida.

Já Li Shiqi tinha alcançado até uma região repleta de edificações. Ela as fitou por um tempo até perceber que ela estava cercada por figuras fantasmagóricas que vagueavam em todas as direções.

Era como se tivesse descoberto algum tipo de mundo bizarro em que ela era simplesmente uma observadora.

Enquanto isso, o jovem do Clã Ji, o cultivador Quasi-Comando, se portava orgulhosamente com as mãos juntas atrás das costas olhando para um gigantesco campo de batalha. Os inúmeros destroços que estavam a sua volta não o fizeram mudar sua expressão. Ele vagueou sem rumo por um tempo até surgir um caixão à sua frente.

Quanto a jovem do Clã Fang das Terras Orientais, sua expressão era tranquila enquanto caminhava por uma terra Celestial. Cisnes brancos voavam acima e os arredores eram incrivelmente belos.

Li Daoyi, Wang Youcai, Han Shandao, Chen Fan e também Xu Qing e Han Bei estavam todos em diferentes regiões do labirinto. No final das contas, elas acabaram testemunhando os mesmos cenários descritos em relatos de outros cultivadores que estiveram nesse labirinto antes!

Depois de ter viajado por muitos dias, o caminho de Meng Hao finalmente chegou ao fim e ele emergiu em um mundo novo.

Mais precisamente, esse mundo era um vasto espaço estrelado!

Com um número de estrelas incontável, que parecia não ter fim, todas elas emitiam uma gloriosa luz estelar. O ambiente estava em pleno silêncio; nem o mínimo ruído podia ser ouvido. Meng Hao caminhava junto as estrelas, olhando em volta. E quando fez isso sentiu um poder temporal; sentindo vestígios de uma arcaica ancestralidade nesse lugar.

Essa ancestralidade dava uma sensação de decadência de mais de cem mil anos e repleta de uma incomparável exaustão. Era como se estivesse lutando para achar uma única respiração que pulsava a vontade de viver.

Esse céu estrelado era desconhecido para Meng Hao. O que ele normalmente via lá fora quando o olhava a noite era algo completamente diferente!

Neste céu nenhuma estrela parecia ser igual à outra. Esses corpos celestiais emanavam uma ancestralidade que depois de olhá-los era óbvio que não era o céu noturno do Domínio do Sul. Meng Hao sentiu uma sensação soturna, como se ele estivesse de alguma forma se fundindo a essas estrelas. Quando essa sensação cresceu de intensidade, uma profunda autoconfiança e esperança se propagou no coração dele.

Era uma sensação esquisita.

Meng Hao sabia que cada pessoa foi teleportada para esse lugar retornava relatando verem coisas diferentes. Entretanto, todos os lugares que essas pessoas viram agora estavam sendo revisitados nesse momento. Com a exceção desse céu estrelado…

Desde o início até agora, ninguém, seja os que retornaram vivos ou morreram, pôs os olhos diante desse cenário.

Meng Hao foi o único!

Enquanto Meng Hao contemplava o que via, ele subitamente olhou para o que estava abaixo de seus pés. Ele pôde sentir que distantemente abaixo dele havia um corpo celestial que estava emitindo algum tipo de poder de chamado. Ele sentiu a si mesmo sendo rapidamente puxado para aquela direção.

A velocidade a qual foi puxado era difícil de descrever, ele logo viu que esse corpo celestial estava cada vez mais aumentando de tamanho até que sua visão inteira foi preenchida por causa dele. No seu interior, ele viu nuvens, um oceano e depois terra.

Esta terra se propagava sem fim. Meng Hao pôde ver picos de montanhas, rios e então repentinamente uma montanha em particular surgiu adiante no seu campo de visão. Era noite e acima dele as estrelas estavam visíveis. Sem refletir sobre isso, Meng Hao intuitivamente comparou esse céu com o céu do Domínio do Sul e seu coração se abalou com isso.

Era realmente verdade! Esse céu estrelado era absolutamente diferente!

As estrelas eram mais luminosas, como se não houvesse nada que pudesse obscurecer a glória delas; a ancestralidade e arcaísmo delas eram claramente visíveis. Era impossível de discernir quanto tempo elas estavam naquele céu.

Todas essas estrelas eram estranhas, nenhuma delas existia no céu do Domínio do Sul.

“Estas são as estrelas mais antigas existentes na minha memória”, uma voz tranquila veio de trás de Meng Hao o fazendo virar-se lentamente na direção. Ele não tinha ideia quando, mas um homem de meia-idade surgiu ali atrás dele sentado em cima de uma rocha.

O homem estava vestido com um simples e elegante manto. Seu longo cabelo preto percorria pelo seu corpo. Ele era belo, com uma aura um pouco herética sendo emanada dos seus olhos. Ele tinha uma aparência diferente da do corpo que Meng Hao, no passado, vira na Torre do Tang; no entanto, se olhasse mais de perto era possível notar que era exatamente a mesma pessoa.

Surpreendentemente, uma pequena fogueira estava acesa bem à frente desse homem e em cima das chamas, ele estava assando uma criatura que era um tipo de cobra.

“Sente-se”, o homem falou calmamente.

Meng Hao permaneceu pensativo por um instante e então se aproximou e se sentou. Seus olhos se voltaram para a cobra que estava assando no fogo. Ela tinha garras e apesar de estar sendo tostado não estava completamente morta ainda, ainda estava lutando para sobreviver.

Ainda mais surpreendente para Meng Hao era que a cobra tinha chifres semelhante a um veado. Ele a fitou um pouco mais perto e mesmo o corpo dela estando quase tão preto quanto carvão, ele ainda foi capaz de descobrir alguns indícios de que criatura era aquela e isso o fez subitamente arfar.

“Isso é…”

“Apenas um Dragão Branco”, falou o homem casualmente: “Ele tem uma base de Cultivo ilimitada, que o faz estar próximo do primeiro nível do Reino Imortal. Eu o encontrei na Oitava Montanha. Ele estava faminto e queria me comer, mas eu também estava faminto naquele dia”. Meng Hao não sabia ao certo quão poderoso era o primeiro nível do reino Imortal, nem sabia exatamente o que era a Oitava Montanha. Contudo, ele era capaz de sentir o quão estupendamente poderoso esse Dragão Branco era.

“Quer um pedaço?” perguntou o homem, olhando para Meng Hao. Ele ergueu, tirando do fogo, o Dragão Branco, este que tinha o tamanho aproximado de um braço e rapidamente o cortou pela metade. “Gosta mais da cabeça ou do rabo?”, perguntando em seguida.

Meng Hao hesitou, fazendo o homem rir caçoando dele.

“É… ficarei com a cabeça”, Meng Hao finalmente respondeu.

“Você com certeza sabe como comer, garoto.”, comentou o homem lhe dando a metade dianteira do Dragão Branco.

Meng Hao apanhou o pedaço, sentindo-se um tanto apreensivo. Ele olhou para o homem que dava uma grande mordida na cauda. E depois da primeira mordida, ele deu outras triturando-a em pedacinhos. Meng Hao respirou profundamente, olhando para a outra metade do Dragão Branco que estava na sua mão. Em seguida, disse para si mesmo que tudo isso era apenas uma ilusão e então a pôs em sua boca.

E então começou a comê-la. A cabeça era muito crocante e o sabor era, na verdade, bastante delicioso. Seus olhos se alargaram por conta disso e ele rapidamente consumiu o pedaço inteiro. Logo a metade de um Dragão Branco estava completamente no seu estômago.

“Bom, não é?” o homem comentou rindo enquanto olhava para Meng Hao. “Eu costumava comer um desses todo ano.”

“O sabor não é de todo ruim”, respondeu Meng Hao parecendo um pouco envergonhado.

“Você quer saber o que é mais saboroso que Dragões Brancos? Dragões Alados da Chuva, igual esse que você tem aí dentro de você. Se você cozinhá-los em uma sopa o sabor será incrível. Infelizmente, Dragões Alados da Chuva são um tanto raros de se achar. E assim que eles crescem, lidar com eles é bastante trabalhoso. Se eu tivesse sorte, poderia perseguir um deles por trinta mil anos só para ser capaz de saborear aquela sopa”. O homem lambeu ou beiços enquanto olhava diretamente para o dantian de Meng Hao.

O olhar que aquele homem dera fez com que Meng Hao respirasse profundamente. Isso porquê ele percebeu que no seu Primeiro Pilar do Dao, aquele em que o núcleo do Dragão Alado de Chuva tinha se alojado, subitamente tremeu-se com um intenso pavor.


[1] Awls sticking out through a bag: uma expressão chinesa que remete a alguém que dentre a multidão se destacou e portanto se elevou dentre os demais.
Nota do devlin: Eis um capítulo chato de traduzir devido a repetições constantes da ancestralidade das estrelas e o quão diferente elas são. Parece que o autor queria dar bastante ênfase nisso. Tentei ao máximo não deixar a leitura enfadonha, mas em algumas partes não tinha como.


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