Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 2

Capítulo 6: Chloe, Empresta Sua Voz Para Astrid

A lâmina se pressionou contra o peito de Astrid, que em princípio não sentiu nada e alguns segundos mais tarde o coração acelerou quando passou a sentir a ponta da lâmina.

Com os dentes trincados e quase gritando, Astrid forçou a adaga a ir para cima. A lâmina passou pelo ombro e apenas o tecido de seu fato sofreu danos. Uma pequena linha no ombro. Deixando a mostra o tecido da camiseta, tal que com certeza não deveria se aprova de lâminas.

Astrid se teletransportou para longe e acabou ao lado do segundo irmão de Chloe. Amarrado e com uma mordaça na boca, ele se mexia desesperadamente, batendo a cabeça na parede se contorcendo. Seus olhos estavam abertos, no entanto ele não olhava para Astrid, seus olhos estavam na pequena Chloe que tal como a sua Chloe, ela tinha longos cabelos ruivos. Caindo soltos por suas costas e contrastando bem com o vermelho de seu vestido. Astrid não se lembrava dele. Na verdade ele nem deveria existir em suas memórias, já que sua Chloe, não usava vestidos. Então...aquela menina só poderia ser Chloe, sua companheira, ou melhor...uma perfeita imitação dela, em seu prováveis sete ou oito anos. 

Astrid sacou outra foice das costas. A menina atravessou a sala, com todos os pares de olhos a acompanhando e todos, incluindo Astrid, pareciam assustados. É, ela estava com medo, da Chloe, que pelo ano atual em que estavam já devia ser apenas uma lembrança do passado. 

O corpo da menina flutuou. Sombras apareceram no chão e duas criaturas emergiram de lá. Eram sombras, em forma de monstros. Tão grandes que a pequena Chloe poderia montar neles. Mais pequenos demais para chegarem até ao teto ou até comê-la em uma única mordida. 

— Matem-na. — Chloe ordenou e os monstros atacaram. A família de Chloe ficou mais agitada e Astrid avançou, se afastando do irmão de Chloe. 

Astrid cortou a pata da primeira sombra. Que parecia um lagarto gigante. Desviou das garras da segunda sombra que parecia um leão, entretanto, recebeu um soco no estômago, de uma sombra, que parecia uma mulher, trajando um vestido realmente curto, mas que com certeza não a impediu de se mover. Ela deu outro soco em Astrid e chutou-a para longe, antes da porta explodir. 

As costas de Astrid foram contra parede e um animal enorme saltou para cima do lagarto. 

Era um leopardo. Grande o bastante, para facilmente dominar a sombra. Dentes enormes tiraram a cabeça do lagarto fora, o qual continuou se movendo. 

O leopardo o empurrou para trás e na sequência com suas garras enormes rasgou a mulher, que diferente do lagarto, voltou para o chão, a sombra indo para baixo dos pés de Chloe.

Estás bem?

Era voz de Kane, Astrid percebeu. Levantou do chão e forçou os ombros a irem para trás.

Estou! 

Kane rasgou o rosto do leão, quando o tal tentou atacá-lo. 

Astrid se teletransportou para trás de Chloe. As foices guardadas e os punhos fechados. Tentou dar um soco em suas costas e ela sumiu. Reapareceu no teto. Pisou no concreto com força, flexionou as pernas e se jogou em direção a Astrid, a qual desviou, quando a  lâmina de Chloe, fez um semi arco, que passou por seus olhos e viajou até seu pé. A menina atravessou o chão e quando retornou sua lâmina vez um corte na lateral do leopardo, que rugiu. 

Da porta uma lâmina viajou. Passou pela cabeça do leão de sombra e fincou do braço da pequena Chloe. 

Chloe, mais velha. Correndo tinha uma mão estendida para frente, fechada em um punho que quando se abriu, a adaga de cor dourada, voltou para sua mão. Kane empurrou o leão para longe o fazendo sumir e Phelan, entrou no campo de visão de Astrid e Chloe, que sumiu no chão, fazendo a mão de Phelan, que era uma lâmina, cortar o ar.

Astrid sentiu um arrepio. Virou para trás e a Chloe mais nova estava lá, levando uma lâmina para perfurar seu corpo, no entanto uma cobra mordeu seu pescoço, a menina gritou, trincou os dentes e antes que pudesse reagir a cobra, virou um urso, que  fincou suas garras em seu estômago. 

Chloe. Caiu no chão. Não soltou nenhum grito de dor e apenas ficou evaporando, muito lentamente. 

Kane o urso, caiu sentado e segundos depois se transformou em um lobo, que começou a lamber as próprias feridas. 

— Caramba! —  Phelan soltou. Seus olhos estavam na menina deitada no chão. —  Por que você está aqui? Quer dizer…Por que tem monstros com o teu rosto? —  finalmente olhou para a verdadeira Chloe, que por sua vez encarava os homens...civis que estavam na sala. 

— Cuida do Kane. E tira os civis daqui. — Guardou a adaga. —  Eu e Astrid continuaremos por aqui. Chama a equipa de limpeza e tenta contactar o Atlas. —  Já estava se movendo para a porta quando parou e se virou para Astrid. —  Anda! Ainda não acabou. 

Chloe continuou seu caminho e Astrid se forçou a segui-la. Os olhos, vagueando pela família de Chloe. Se demorando em Phelan que transformou Kane em um abacate. 

.

.

Sombras e pequenas Chloe de vestido vermelho apareceram pelo caminho. Chloe cuidou da maioria, e usando os pequenos dispositivos que estavam em suas bolsas, colocaram iluminação em algumas partes da casa, como se fosse uma tentativa de marcar o caminho ou talvez repelir as sombras.

Entraram em alguns quartos. Chloe guiou o caminho pela casa até pararem. Ela olhou para o teto e Astrid fez o mesmo, notando facilmente que o que ela encarava era a porta de um sótão. 

— Seu pai...Seus irmãos não pareciam bem. Eles vão ficar bem? 

Astrid baixou o olhar para Chloe que a olhou de volta. 

— A equipa de limpeza vem com uma ambulância. Há médicos com poderes em alguns hospitais da cidade. Eles vão ficar bem —  ela disse, com os olhos não expressando nada, não mostrando nada do que seria esperado de alguém que falava da própria família. 

— Do que estamos à procura?! 

—  Do verdadeiro monstro e...Minha mãe. 

Chloe sacou uma adaga. Virou-se para trás, ao mesmo tempo que a arremessou. A lâmina fincou na testa de sua versão mais nova, a qual o corpo caiu para trás, no entanto antes que levasse a adaga junto, Chloe estendeu uma mão, uma corrente saiu do cabo de sua adaga, se entrelaçou em sua mão e ela puxou-a de volta. A lâmina não voltou para si e sim passou pelo teto, riscando o concreto. A lâmina viajou até acertar o rosto de um monstro, que estava no teto, com as mãos enormes e esqueléticas se esticando em direção a elas. 

Chloe tirou uma arma e atirou, cinco vezes. A sombra sumiu e a porta do sótão explodiu. 

—  Vamos! —  disse para Astrid. Com a adaga já em mão,  Chloe jogou-a novamente, desta vez para dentro do sótão em direção ao teto e puxando Astrid para perto de si. Chloe segurou em sua  mão com força e com a outra puxou a corrente e ambas foram para cima. 

A adaga estava no teto. A corrente a poucos centímetros de voltar para o cabo e Chloe e Astrid a alguns metros do chão, do sótão. 

Não havia nada, mesmo que fosse o sótão, o espaço era apenas ocupado por uma mulher ruiva e uma pequena menina também ruiva, a mais velha abraçava a menor de lado enquanto cantava uma pequena canção, baixo. 

Entretanto alguns segundos depois interrompeu a canção para dizer: 

— Não se preocupe, querida. Nós logo sairemos daqui. Eles viram, seu pai e seus irmão irão nos tirar daqui. Não tenha medo. 

A mulher voltou a cantar. Astrid e Chloe aterrissaram no chão e a adaga voltou para mão de Chloe. 

As luzes do fato de Chloe e Astrid estavam acesas, porém mesmo que iluminassem bem o ambiente, nem a mulher nem a criança lhes dispensaram um olhar.

A mulher cantava, enquanto a pequena chorava e dizia entre soluços coisas como: Mãe estou com medo. Mãe quero sair daqui. Mãe estou com muito medo. 

Era Chloe e sua mãe. Astrid concluiu e então olhou para Chloe que parecia zangada. Parecia estar com muita raiva. 

— O que merda! Você está fazendo?!! — Chloe gritou e Astrid ao lado se sobressaltou. Ela estava mesmo com muita raiva.

— Mamãe eles virão nos tirar daqui, certo? Eles não nos deixaram aqui não é? 

— Não. Eles virão. Vão abrir a porta. Nós iremos sair querida, eu...—  Abraçou-a mais forte. —  Eu prometo. 

Os punhos de Chloe se fecharam, enquanto elas repetiam as mesmas coisas. As sentenças quase não mudavam e para duas pessoas que diziam querer liberdade, prosseguiram facilmente ignorando a existência delas e o facto que elas haviam literalmente explodido a porta de entrada. 

— São monstros —  Astrid concluiu. 

— Sim. —  Chloe falou, muito baixo. — Esse é o monstro que temos de matar. —  Chloe sacou outra adaga. — Os outros estavam completamente vazios, mas essa está cheia de pensamentos. 

— Não são dois monstros? 

— Sim. Mas pelas regras só podemos matar um deles. — Chloe avançou e as luzes se apagaram e em completo breu, Astrid ouviu um grito e antes que pudesse se mover seu corpo foi para cima e bateu contra o teto e quando voltou para o chão, algumas luzes do seu fato voltaram a ligar. 

— MÃE!!

Chloe estava no chão. Um homem com uma mão em seu pescoço, outra pretendo seus braços e um joelho em suas costas. Ele era uma sombra, porém suas afeições pareceram familiar para Astrid. 

—  Mãe, estou com medo! 

—  Vai ficar tudo bem —  disse para criança, que chorava compulsivamente. —  Eles voltaram. Não nos deixaram pressas aqui. Não seriam tão cruéis assim para nos abandonarem aqui. 

—  Mas...e se o fizerem? 

—  Então...eles…eles têm de morrer. 

Chloe, a verdadeira gritou. O homem...Sombra começou a mover seu pulso para algum ângulo estranho. 

Astrid se levantou. Uma sombra emergiu do chão e ela se teletransportou para trás da criatura, sacou uma arma e estourou a cabeça do homem que ela supôs ser um dos irmãos de Chloe.  

Astrid deu mais tiros. O homem sumiu e ela se jogou no chão, tocou nas costas de Chloe e as duas sumiram e quando Astrid abriu os olhos, haviam  poucas luzes, estavam na sala de estar. 

—  Encontraram-no? 

Astrid olhou das botas para o rosto. Era Phelan, o menino que transformava pessoas em frutas e legumes. 

Chloe se levantou e Astrid  foi junto.

— Não matou a humana ainda. Está a usando para obter poder. —  Chloe girava seu pulso. 

—  Como quebramos a ligação?! 

—  Não sei. —  Passou a girar outro pulso. —  Ela...aquela mulher...

—  Só ouve a voz do monstro —  Astrid interviu e seus companheiros a encaram. —  Chloe chamou por ela e em nenhum momento ela olhou para nós. Era como se não nos visse ou...Nos ouvisse. 

— Então...Vamos nos fazer ouvidos. 

—  Como? Chloe gritou e ela...Nem desviou o olhar da...Outra Chloe.

—  Então precisamos de uma Chloe. —  Phelan levou a mão ao rosto, no entanto como se lembrasse que tinha uma máscara, decidiu levá-la ao cabelo. — Uma...Sabem...Mais nova. 

O tempo passou. Algumas luzes se apagaram e Astrid começou a sentir que algo vinha. Provavelmente para matá-los.

— Eu acho que...Posso fazer uma —  Chloe parou de girar os pulsos e passou a dar toda sua atenção a Astrid. —  Posso tentar...Posso criar uma Chloe, igual que vimos no sótão. 

—  Do que precisa? — Phelan perguntou.

—  Ahh...Uma tela, materiais de desenho e...Uma voz. 

—  Eu posso dar isso. A voz.

.

.

Após terminar o trabalho, Astrid se teletransportou com uma Chloe de oito anos e Phelan, deixando Chloe mais velha para trás, em seu quarto. 

Os três apareceram no sótão, onde a mãe de Chloe e o monstro estavam, ainda abraçadas, ainda lamentando por terem sido trancadas, por sua própria família, em um lugar escuro. 

— É a mãe da Chloe, não é? —  Phelan perguntou e Astrid assentiu. — Elas...Ela estava torturando a própria família. Eles tinham cortes por todo corpo. Hematomas e...Estavam completamente doidos da cabeça. 

Duas sombras se aproximaram e Phelan os cortou com suas mãos, que se tornaram lâminas. 

—  Essa mulher não fez nada com a Chloe, certo? 

Astrid não tinha a resposta, então ficou calada, enquanto sua criação saiu por trás de seu corpo e passou por eles. 

Ela era igual a outra Chloe, no entanto, ela não usava um vestido e sim calções, como os que sua amiga usava, sempre com estampas e chegando bem perto de seu joelho. 

— Mãe — Chloe, criação de Astrid falou. Ou melhor, moveu a boca, enquanto em outro cômodo, Chloe deveria estar fazendo aquela voz surgir. — Mãe! —  Chamou, o tom parecendo um pouco infantil. — Papai...Quer pedir o divorcio. 

A mulher parou, abruptamente. 

— Harold, não quer ficar aqui. Vai estudar para a capital. Ele acha você sufocante. 

Os olhos da mulher se levantaram e se fixaram na pequena menina que parou a quatro passos de si.

— Hooda, te odeia. Kai visitou a tia Alina. Ele está pensando em se mudar. 

Os olhos da mãe estavam arregalados, sem lágrimas, mas parecendo, à beira delas.

— Mamãe. Estou com medo, mãe! — Harper, olhou para quem a chamará, os olhos ainda arregalados e fora daquele espaço. — Eles nos abandonaram aqui. Papai, e os manos nos trancaram aqui...Eles são tão cruéis. 

—  Eh, eles...—  Piscou. —  São. 

Astrid se teletransportou para o lado de Chloe, no entanto, foi Phelan quem bloqueou as garras que tentaram retalhar a criação de Astrid. Era mais uma pequena Chloe, mais um monstro. 

Phelan a empurrou para trás e avançou em direção a ela. 

— Todos eles te odeiam. Você deixou o Oliver morrer. Kai vai te odiar ainda mais. Você é muito cruel, me trancaste aqui...Como você…como você pode. 

Novamente a atenção de Harper estava em Chloe, e estando mais perto Astrid percebeu o quão terrível ela estava. Magra demais e com os olhos tão fundos que parecia não dormir a dias ou talvez semanas. 

— Não. —  Seu corpo se afastou da outra. Astrid cortou o braço de uma sombra, levantou as duas foices e protegeu o corpo, enquanto tentava se concentrar em manter o que havia criado em pé. 

— Sim. Você fez. Todos vocês. Vocês me trancaram aqui. 

—  Não! Eu não. Não!! Foram eles. Eles nos trancaram aqui. No escuro.

—  Mamã...

—  Eles fizeram isso. São tão cruéis, eles...

—  Foi você!! —  Chloe gritou. —  Foi você que sugeriu. —  A mulher saiu do lugar e alcançou os ombros de Chloe. 

—  Eu não...Não fiz isso. São eles...

—  Você é ruim.

Chloe, o monstro, continuou sentada. Os olhos não mais derramando lágrimas, o corpo não mais tremendo, como se estivesse com medo.

Phelan foi empurrado para a parede. A sombra, em forma de homem, foi para cima dele, com uma espada. O soldado desviou, cortou a lâmina de sombra e perfurou o corpo feito de trevas.

— Nós não estamos aqui trancadas juntas. Eles trancaram você aqui sozinha. Ou melhor…— riu — Você se trancou aqui sozinha. Não é?

Harper negou, ainda segurando seus ombros. 

— Eu te odeio! —  Chloe declarou. — E nunca...Irei te perdoar. 

Os braços de Harper foram para baixo ao mesmo tempo que Chloe, o monstro, caiu para o lado. 

A luz voltou, os monstros sumiram e Harper Walsh, caiu. 

.

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—  Obrigada! 

Astrid não sabia se aquilo era necessário. Mas o fez. Agradeceu a sua criação que nada lhe retornou. 

Harper havia sido levada por Phelan e ela e sua Chloe, voltaram para o quarto de infância de Chloe, a verdadeira. 

— Diz-me que não temos de matá-la? Acho que já morri vezes o suficiente por uma noite. 

Astrid tentou rir, mas seu rosto apenas se desfigurou em uma expressão triste. 

—  Vá!

Chloe, de oito anos, começou a se mover, indo em direção a parede, onde atravessou e quando Astrid voltou a piscar, ela já não se movia, e tudo que seus olhos viam era a pintura de uma pequena Chloe, na parede. 

Astrid olhou para Chloe, sua companheira de grupo, e ela parecia...Mal. 

— Como você está? 

— Prestes...A vomitar. — Olhou para Astrid e em seguida saiu correndo, para vomitar no balde de lixo de seu quarto, o qual parecia como se ela não tivesse fora, a anos.





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