Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 1

Capítulo 8: Desclassificada

— O que…o que está fazendo? — perguntou Astrid. Seus olhos azuis encaravam Chloe muito atentamente, enquanto ela se mantinha apontando para o seu coração.

— Mirando no alvo!

Astrid arfou, engoliu em seco e rebateu em um tom alto:

— Nós somos amigas! Nós…

— Amigas!? — Seus lábios se esticaram em um pequeno sorriso. — Não me lembro de ter me tornado sua amiga.

Sim!! Ela não é minha amiga. Ela não é Chloe. Definitivamente não pode ser ela.

— Ela vai tirar em mim. — Concluiu. Olhou para mulher que se encontrava ao seu lado, tal que havia se apresentado para ela como sendo uma ajudante, de que? Astrid não tinha a certeza, porém após compreender o funcionamento do treino nada mais passou a lhe importar, muito menos o que poderia significar ser uma ajudante por ali.

— Ela não vai — retrucou a ajudante.

— Vai sim. Faça alguma coisa. Não! Só me tire daqui.

Com todas as suas forças Astrid tentou se debater, entretanto não conseguiu, mas do que mover sua cabeça e mãos. Seu corpo inteiro estava parado por conta dos grossos cintos metálicos.

— Ela não ira atirar em você, então fique calma.

— Como quer que fique…

Foi rápido, tão rápido que Astrid só percebera que a flecha foi atirada quando a mesma já estava fincada no alvo, que se encontrava perigosamente próximo ao seu pescoço, o qual formigou alguns segundos depois.

Chloe tirou a segunda flecha da aljava, presa as suas costas, levantou o arco e apontou para o rosto de Astrid.

— Posso ser melhor que o Jase nisso, mas se você continuar se movimentando eu posso acabar te magoando…sem querer, claro! — O sorriso que se formou em seus lábios, fez Astrid duvidar completamente de seu sem querer.

— Não aponte para ela — disse a ajudante. —Você está há assustando.

— Sério? Você está assustada?! — perguntou e sem resposta prosseguiu. — O que devemos fazer!? Eu estou muito irritada. — Seu tom antes de desanimo, alterou-se para sério. — Se não extravasar agora, acho que posso acabar fazendo algo pior.

Moveu seu braço direito um pouco mais para trás, mudou o alvo e atirou. A flecha fincou no alvo próximo ao pescoço de Astrid que mais uma vez arfou pesarosamente.

— Isso é um treino, não um lugar para extravasar suas frustrações. Por isso tente controlar suas emoções…

— Me recuso!! — Pegou outra flecha. — Ela não controlou suas emoções quando idiotamente decidiu ficar na cela. — Levantou o arco e novamente apontou para o coração de Astrid. — Então porquê eu devo controlar as minhas?

— Porque você não é idiota.

Chloe desviou o olhar para ajudante, o sustentou por alguns segundos e depois tornou a olhar para Astrid que tinha os olhos voltados para o chão.

— Tcs!! — Soltou baixo. Atirou a flecha, após mudar o alvo.

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É realmente uma tentativa de morte forçada. Foi o que Astrid concluiu assim que começou a correr. Após sobreviver a tortura que chamavam de treino de Tiro com arco. Ela e seus companheiros foram para segunda e última atividade e tal como havia lido na tela era uma corrida com obstáculos, porém as imagens que a palavra obstáculo havia despertado em sua mente, de modo algum se pareciam com as ferramentas de tortura que encontrou.

 A sala de corrida era imensa, completamente fechada e com várias pistas; sendo algumas muito extensas e sem obstáculos, tais que segundo Edward eram também as que não se poderia parar nem para atar os atacadores.

Tente não desistir. Edward havia dito várias vezes e Astrid se lembra de ter perguntado o que aconteceria se por acaso o fizesse. No primeiro momento todos ficaram em silêncio e depois Jase abriu a boca e disse: Punição. E essa palavra foi mais do que o suficiente fazer Astrid correr. Mesmo quando seu corpo começou a implorar por pausa, ela continuou até que a palavra punição já não era mais motivação suficiente para manter seu corpo correndo.

Astrid caiu, mas uma vez.

Por favor! Só…só mais um pouco. Não quero ir para lá. Por favor!

Com os membros do corpo trêmulos, ela colocou a palma das mãos no chão. Tentou se levantar, porém caiu, uma, duas, três e na quarta obteve sucesso. Tentou engatinhar, porém seu corpo trêmulo não se moveu e rapidamente percebeu que iria ao chão em poucos segundos. Reunindo o pouco de força que lhe restava, estendeu seu braço direito e esticou-o em direção a Edward o qual estava em pé com a mão esquerda estendida para ela.

Por favor!!

Atrás de uma linha grossa azul, Edward se agachou, inclinou-se para ela e esticou mais seu braço. Astrid também esticou o seu, entretanto suas mãos não se tocaram e a dela caiu no chão e não voltou a se mover, tal como o resto do seu corpo.

Respirando profundamente Edward caiu sentado, cruzou as pernas, abaixou seu olhar para Astrid e manteve-o nela por algum tempo até que o desviou para o telão que se encontrava a alguns metros da pista, afixado à parede. 

Lá continha a situação atual da corrida, mostrando as posições de cada grupo e Edward assistiu quando o grupo quinze foi marcado com a cor vermelha e na frente escrito: Desclassificado.

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Astrid com certeza nunca havia acordado tantas vezes em uma cama de hospital, ela mal se lembrava de quando foi a última vez que pisará em um, mas cá estava ela novamente deitada em uma cama de hospital, novamente na ala médica e novamente sem quaisquer ferimentos para servirem como prova da tortura que passou. A tortura que ousaram dar o simples nome de: corrida com obstaculos..

— Argh!!

Os olhos azuis de Astrid piscaram, antes de ela os direcionar para o lado onde encontrou quem produzirá aquele som. Ela não sabia seu nome, porém reconheceu seu rosto como um dos participantes da corrida. Ele tinha o cabelo branco com as pontas azuis, vestia as mesmas roupas que Astrid e tal como as dela, também estavam sujas de lama e sangue.

— Tenha cuidado! Isso doi. — Seu tom era sofrido enquanto uma menina que não parecia ter mais de quinze anos, pressionava a palma de suas mãos, envoltas em luz, no peito dele dizendo:

— Você não é mais do grupo B, então pare de reclamar.

— Onde está escrito que só os do grupo B podem reclamar de dor, hein?

A menina pressionou mais suas mãos e o rosto dele se controceu em uma careta de dor.

— Tudo bem! Tudo bem!! Eu entendi. Não direi mais nada. — Prometeu e segundos depois voltou a falar: — Ava isso doi!

Os olhos da menina reviraram e ela parecia prestes a explodir, porém não disse nada e somente continou seu trabalho o qual Astrid assistiu atentamente, acompanhando as feridas no rosto e nas costas das mãos do menino se fecharem deixando sua pele negra apenas coberta de lama e sangue.

Astrid arfou e tentou muito não surtar nem mesmo quando percebeu que o garoto em questão tinha uma calda. A mesma ia de um lado para o outro como se tivesse vida própria fazendo-a assim se questionar o quão distraída estava para não perceber a existência daquilo.

— Minhas costas doem e minhas pernas também. Posso ficar descançando mais um pouco? Por favor!!!! — Pediu ou melhor implorou assim que Ava afastou suas mãos do peito dele.

— Devia ter ficado inconsciente durante a corrida — falou Ava, e o menino bufou de frustração.

— Bem que eu queria. Mas meu corpo já não está mais desligando por causa dos treinos. — Suspirou pesamente. — Tenho saudades de ficar incosciênte e dormir por dois, cinco dias. — Seu tom era sonhador.

— Layne criou uma nova dimensão. Pelos relatórios até ao momento só um total de dezoito soldados saíram consciente. Podes ir dar uma volta por lá. — Sugeriu enquanto mexia em um tablet.

— Não tô tão desesperado assim. — Ava deu de ombros.

— Keva já recebeu alta.

Keva...

O sorriso sumiu dos labios do menino e sua calda parou de se mover.

— Isso é bom! Aaaah! Minhas costas. Estou tão cansado. — Deu as costas para Ava, cubriu-se até o pescoço e seus olhos se encontraram com os de Astrid. Ele a encarou por breves segundos e depois fechou seus olhos turquesa.

— Não durma.

— Não estou.

— Vou chamar a douto...

— Não se apresse — falou fazendo sinal com a mão para ela ir. Ava bateu em sua mão e retrucou:

— Não se atreva a dormir.

— Huh!  — Respondeu baixo e ela foi embora.

Ele dormiu. Astrid concluiu assim que o ouviu ressonar. Sua expressão era serena, nem parecia ter passado por uma corrida extremamente letal, nem parecia alguém que estava preso. Para Astrid ele parecia apenas alguém tomando um cochilo após alguma pequena e normal atividade. Isso a fez lembrar-se de si mesma, quando o mundo estava correcto. Quando as coisas faziam sentido, quando podia ligar para seu pai por qualquer coisinha, por qualquer capricho seu. Mas agora, naquele mundo completamente estranho não havia qualquer forma ou meio de ligar para seu pai e mesmo que ouvesse ela não tinha a certeza se ele atenderia.

— Boa noite!

— Não creio que boa seja a palavra certa.

— Mas é a adequada. Consegue se levantar?

Astrid sorriu sem ânimo e balbuciou um: — Acho que sim. — Elis foi para o lado e ela colocou os pés no chão e tão logo o fez, perdeu o equilíbrio, entretanto doutora Swooney a segurou pelo braço e a ajudou a ficar em uma postura ereta.

— Obrigada! — falou Astrid, muito baixo.

— Acho que o sangue, não faz tanto efeito em você. — Seus olhos negros percorriam o corpo de Astrid.

— Sangue...? Do que está falando?

— Vou soltar o teu braço. Tente andar um pouco.

As mãos de Elis deixaram o braço de Astrid a qual permaneceu parada temendo se desequilibrar novamente.

— Ande. — Elis a incentivou e em contragosto Astrid deu alguns passos. Os primeiros foram um pouco dificis, no entanto alguns segundos depois Astrid já conseguia andar normalmente, quer dizer coxeava um pouco, mas a doutora não pareceu achar tal facto relevante e a deu alta.

Com os olhos passeando pela ala médica, Astrid perguntou:

— Os outros… não vieram para cá?

— Eles estão na dimensão das punições. Creio que estarão de volta não tarda.

— O-onde? Você está falando sobre aquele... — Gesticulou com as mãos e a doutora assistiu seus movimentos com um olhar confuso. — Sabe onde eu fui e...

— Sim! Ele é chamado de dimensão das punições.

— Mas porquê eles foram para lá?

— Desclassificação. — As sobrancelhas de Astrid se elevaram. — Seu grupo foi desclassificado e por regra quando isso acontece esse grupo é mandado para a dimensão das punições.

Um calafrio subiu a espinha de Astrid.

— Isso quer dizer que irei para lá novamente. — Seus olhos encaravam o chão, sua mente sendo arrastada para suas infelizes lembranças da dimensão das punições.

— Não.

Os olhos de Astrid piscaram e muito lentamente encontraram os de Elis.

— Só eles seram punidos, lá.

— Porquê...

Talvez porquê os olhos de Elis se pareciam com os de Edward, mas ela lembrou; de seu ultimo momento antes de perder a inconsciência.

— Acho... — Sua garganta fechou.  — Acho que não toquei na mão do Edward eu...

— Você não o fez por isso foram desclassificados.

— Então a culpa é minha? — A doutora não disse nada. — É minha culpa.

Como uma melodia calma as palavras de Chloe ecoaram em sua cabeça a fazendo se sentir mais culpada.

— Ontem...por quê eles foram para essa... dimensão das punições? Foi por minha culpa?!!

Novamente a doutora preferiu o silêncio.

— Acho que é minha culpa também. Então... — Riu. — Não é que eu queira ir para lá nem nada... mas porquê não estou sendo punida?

— Você está. Use o balneario do corredor para se trocar e depois vá para o refeitório, se não se demorar muito ainda pode ir a tempo do jantar.

Essas foram as últimas palavras da doutora antes de deixar Astrid para trás.

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Sinto muito! Eu realmente não desiste de próposito. Eu ía realmente tocar na mão do Edward, mas... Aaaahh! Como vou olhar para eles? Com certeza dessa vez Chloe irá cravar uma flecha no meu coração. Começou a coçar a parte de trás da orelha. Não é como se tivesse feito isso de proposito... porquê tenho de passar por isso? Bateu o punho fechado no peito enquanto era coroída pela ansiedade. O que devo fazer? Talvez se ficar quieta eles fiquem com menos raiva…

Um ombro se esbarrou no seu. Astrid se inclinou para frente e segundos depois levantou sua cabeça.

— Desculpe.

Com uma mão levantada e um sorriso divertido, a menina se desculpou.  A mente de Astrid não precisou de muito tempo para reconhece-la afinal não é todo dia que se via alguém de pele dourada.

— Se vai se desculpar, faça-o direito e não sorria — falou um menino albino, que se encontrava a esquerda da menina.

— O que tem o meu sorriso? Ele é bonito. — Sorriu mais, mostrando seus caninos proeminentes.

— Quem disse?

— Edward e Orfeu.

— Eu não confio nos elogios do Edward, e... — Inclinou-se um pouco para trás, encarando assim o menino de cabelo rosa que se encontrava do outro lado. Em completo silêncio, com os olhos entediados ele simplesmente negou com a cabeça.

— Desculpem.

A menina foi a primeira a encará-la e os outros dois fizeram o mesmo alguns segundos depois e Astrid tentou ao máximo não olhar para os olhos dela que pareciam de um dragão.

Mesmo eles tendo participado na corrida com ela, eles não estavam com as roupas cheias de lama; a menina de pele dourada e o menino que estava a sua direita estavam com as roupas um pouco chamuscadas e cobertos de cinza enquanto que o dá esquerda estava molhado e com sangue descendo por sua testa, Astrid não poderá deixar de ficar curiosa onde eles arranjaram tais coisas.

— Você está perdida?

— Balneários. Estou procurando os balnearios que ficam no corredor.

— Então você pode vir comigo. Eu estava indo para lá agora mesmo.

— Sim! Obrigada.

— Porquê está andando sozinha? Os outros já foram para as celas? Eu não me lembro de tê-los visto no refeitorio. — O menino de cabelo platinado olhou para seus companheiros que pareciam compartilhar a mesma duvida que ele.

— Eles... — Voltaram sua atenção para Astrid. — Foram para… dimensão das punições.

— Sim! Disso nós sabemos. Mas se você está aqui então… Espera! Você foi enviada para uma dimensão diferente?! — Astrid negou com a cabeça e desviou seus olhos para longe dos reptilianos.

— Eu não fui enviada para lá. — Eles não disseram nada e quando Astrid tornou a encará-los, percebeu que eles já haviam entendido tudo.

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Por longas quatro horas Astrid ficou sentada no chão da sala compartilha, passando em sua mente várias e várias tentativas de se desculpar, formulou diversos discursos, mas no final, quando por fim seus companheiros atravessaram a porta da sala ela não disse nada, simplesmente sua boca não quis se mover e tudo que ela pode fazer foi baixar a cabeça e desejar profundamente sumir dali, se possível para sua realidade normal.

Eles se espalharam pela sala, alguns se jogaram no chão visivelmente exausto e outros como Jase e Lucky, estavam conversando sobre qualquer coisa que Astrid não prestou a atenção, pois estava ocupada demais tentando decidir se continuava em silencio ou falava e isso se perdurou por um longo tempo até que o som da porta de entrada se abrindo chamou sua atenção e a fez levantar seus olhos para quem havia acabado de chegar.

— Boa noite a todos! — Doutora Elis cumprimentou, mas ninguém respondeu e ela também não pareceu se importar. Andou até Astrid com dois guardas atrás de si, parou diante dela e se apressou dizendo: — Levanta-se! Temos exames para fazer.

— Exame?

Na parede oposta a qual Astrid estava sentada, estava Aiyslnn, que a olhava com uma mistura de pena e medo. Astrid olhou ao seu redor e um frio surgiu em sua barriga ao notar que todos a encaravam, muito seriamente e com pena.

— Eu estou bem, não acho que preciso fazer qualquer tipo de exame. — Foi o que disse assim que voltou a olhar para a doutora.

— Fazê-lo ou não! Isso não é decisão sua, por isso levante-se e me acompanhe.

— Não quero ir! Eu estou me sentindo muito bem.

Deve ser outro pesadelo. O estomago de Astrid embrulhou de anseidade e puro nervosismo.

— Lamento, mas você não tem escolha. — Com um pequeno movimento de mão de Swooney os gurdadas avançaram em direção a Astrid, a levantaram pelos braços e forçaram-na a ir em direção a porta.

— Te-tente se sair bem na prova. — Aiyslnn gritou antes de deixarem a sala.



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