Volume 1
Capítulo 26: Kieran Gray, Quer Vingança
Encolhida em um canto da sala, Astrid roía as unhas. Seus olhos encaravam a porta de entrada ao mesmo tempo que pareciam estar olhando para outra coisa, algo que definitivamente não estava ali.
A mão fria de Aiyslnn, tocou em uma de suas mãos. Astrid a encarou e Aiyslnn afastou a mão, a qual tinha suas unhas roídas para longe da boca de Astrid, que não disse nada ou sequer se afastou de seu toque e somente voltou a olhar para a porta tal que não se abriu até o dia seguinte chegar. Mas mesmo sendo outro dia, Jase ainda não havia voltado, entretanto ninguém falou sobre.
O dia passou. E mais uma vez Astrid terminou na ala médica. Jase também não estava lá e Astrid não encontrou nenhum rosto conhecido, não um que pudesse chamar pelo nome ou até se aproximar para perguntar sobre Jase.
Astrid foi dispensada por uma médica, a qual não se deu ao trabalho de sequer descobrir seu nome.
A soldada deixou a ala médica. Caminhou pelo corredor e parou quando seus olhos viram alguém chorando.
Era Kieran Gray, Astrid percebeu pela calda.
O integrante do grupo vinte estava sentado no chão, abraçando as próprias pernas. Não havia clones, era apenas ele.
Astrid voltou a caminhar, entretanto parou, girou nos calcanhares e ficou de frente a Kieran Gray. Não disse nada. Kieran levantou a cabeça e a encarou.
— Ia fingir que não te vi — Começou, relutante. — Mas ia me sentir mal depois então...Você está bem?
Gray não respondeu e somente limpou as lágrimas com a manga da camiseta.
— Quer conversar? — Astrid sugeriu.
— Você está péssima — falou, por fim.
Astrid olhou para suas roupas, sujas de lama e sangue.
— Eh! Eu estou mesmo.
Sem esperar um convite, se sentou ao lado de Kieran.
— Do que quer conversar? — Kieran perguntou.
— Sei lá! Só disse isso para puxar assunto — admitiu e se encostou na parede.
— Estava pensando na Keva. Por isso estava chorando.
— Eram amigos?
— Eu gosto dela! — Baixou a cabeça. — Ela não era muito amigável.
Astrid riu, um pouco.
— Adorava resolver tudo com os punhos. Era uma completa valentona.
— Mas você ainda gosta dela.
— Eh! — Sorriu. — Eu ainda gosto dela.
— Por que ela morreu?
Seus olhos se encontram e os de Gray estavam húmidos.
— Não sei. E para piorar o Aiyden nem estava lá. — Lágrimas tornaram a cair. — Será que foi seus poderes? Será que Russell mandou alguém matá-la? Será que... — Coçou a nuca.
— Isso não está certo! — Astrid já não o encarava. — Nós vamos apenas continuar morrendo assim? Um por um, sem nenhum adulto realmente se importar? Seja lá fora ou mesmo aqui dentro. Nós vamos morrer.
— Ou podemos sobreviver.
— Como? — Astrid o encarou. — Você vai fugir?
— Não mais. Fugir...já não vale de nada. Então...
— Então?
Gray não disse nada. Estudou o rosto de Astrid por breves segundos e então se aproximou e perto de seu ouvido sussurrou:
— Irei destruir tudo. Por dentro!
O par de turquesa e de azuis se encararam e Astrid novamente ouviu a voz de Kieran, entretanto vinha do soldado que estava de seu lado esquerdo.
— Um por um — disse o Kieran, que estava à sua direita.
— Eles irão morrer.
Astrid olhou para frente e seus olhos encontraram outro Kieran Gray. Eram seus clones que surgiram tão silenciosamente que Astrid não saberia dizer se eles já não estavam ali, desde o momento em que se sentou.
Ao mesmo tempo, os três olharam para Astrid. A soldada se encolheu.
— Nós...deveriamos nos vingar, certo?
Perguntaram em uníssono.
— Por Keva.
— Vocês...estão me assustando!
Foi tudo que Astrid falou. E então os clones sumiram.
Kieran abriu a boca, mas nada saiu.
Astrid abraçou as próprias pernas, olhou ao seu redor e finalmente voltou a encarar Gray.
— Eles... — Sussurrou. — Estão vendo e ouvindo você. Então...tenha mais cuidado! Mas...Eu acho que...você deveria...deve realmente se vingar. Se vingue. — Incentivou. — Mas... não morra! — pediu, muito baixo.
— Terminou o recreio!!
A voz era de Ian Moore. Astrid percebeu, muito rápido.
— É hora de ir — falou o doutor, com um sorriso no rosto.
Kieran se levantou e Astrid o seguiu.
— Obrigado! — Foi tudo que disse antes de partir e deixar Astrid e Ian para trás.
— Melhor você ir também. Jase já recebeu alta — disse e ganhou a atenção de Astrid.
— Sério?!
Assentiu e Astrid sorriu.
— Não sorria para mim. Eu sou o inimigo, esqueceu?
O sorriso de Astrid sumiu.
— Agora vá. Amanhã será um dia ruim, porém será pior se acabares no castigo.
Astrid se foi, com medo, entretanto sorriu quando viu Jase e sorriu ainda mais quando o abraçou tão forte que seu companheiro reclamou, mas ainda assim ele não desfez o abraço. Jase esperou até que Astrid decidiu soltá-lo.