Volume 2
Capítulo 9.2: E assim a Guerra Começou (J3)
O exército demoníaco está em movimento.
Recebi esta informação esta manhã.
O relatório veio de um espião que se infiltrou em território demoníaco.
— Então finalmente chegou a hora.
— Parece que sim. Embora pessoalmente, eu esperava que nunca acontecesse.
— Qual é, Julius. Eu sei que você não gosta de lutar e tudo, mas humanos e demônios são inimigos amargos. Você devia saber que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.
— É verdade. Os demônios estão ativos desde que o herói anterior morreu, de qualquer maneira, já faz muito tempo.
Assim como meus camaradas dizem, tem havido muita atividade demoníaca desde a morte do herói antes de mim.
Talvez tenhamos tido sorte de não ter evoluído após pequenas escaramuças em uma guerra completa até agora.
— Então, quanto tempo até o exército de demônios chegar?
— Hyrince foi descobrir. Ele deve estar de volta... Ah, lá está ele.
Com o comentário de Yaana, me viro para ver Hyrince, o segundo filho de Duque Quarto e meu amigo de infância, caminhando em nossa direção.
— Hyrince. Quais são as novidades?
— Bem... a julgar pela velocidade do avanço deles, parece que eles provavelmente chegarão a esta fortaleza amanhã.
— Entendo. Então está realmente acontecendo.
Guerra.
Desde que me tornei o herói, passei dia após dia no calor da batalha.
Esta será a primeira vez que experimento um combate dessa magnitude.
E não estou sozinho nisso.
A guerra em grande escala também era desconhecida na era do herói anterior.
Os únicos com experiência nesse tipo de conflito conheciam o herói há várias gerações, e a maioria deles já faleceu há muito tempo.
Além daqueles que pertencem a raças longevas, os poucos remanescentes dessa geração são velhos demais para lutar.
Em outras palavras, nenhum dos humanos que participarão desse conflito jamais experimentou uma guerra em grande escala.
Os demônios, por outro lado, vivem muito mais que os humanos.
É possível que alguns deles tenham vivido na época desse herói ou talvez ainda mais velhos.
Como será essa diferença no conhecimento em primeira mão?
Além disso, os demônios também têm vantagem em termos de habilidade básica de combate.
Seus talentos físicos e mágicos excedem em muito os dos humanos.
E a inteligência deles é igual à nossa.
Os humanos podem lutar contra monstros com estatísticas superiores devido ao poder de suas habilidades e seu intelecto.
No entanto, não temos essa vantagem contra demônios.
Porque, assim como os humanos, os demônios são capazes de usar habilidades e intelecto.
Para ser honesto, estou com medo.
Mas, como herói, não posso deixar esse medo transparecer.
O herói é a melhor esperança da humanidade. Se eu tiver medo, todos os outros também terão.
Para esconder meu medo, puxo levemente meu cachecol, uma lembrança da minha mãe.
Eu a perdi na mesma época em que os demônios se tornaram ativos e eu me tornei o herói.
Meu pai ficou aflito com a perda de minha mãe, mas como rei, ele não teve escolha a não ser se comprometer com seu trabalho enquanto suportava essa dor.
Por causa disso, ele se afastou de Shun e Sue.
Eu realmente acredito que seus laços familiares certamente se curarão com o tempo, mas agora, meus dois irmãos estão frequentando a academia.
Meu pai terá que aguentar até eles se formarem.
Quando esses dois se formarem na academia, não tenho dúvidas de que serão uma força a ser reconhecida.
Eu me pergunto se vou sobreviver a essa guerra e poder vê-los novamente?
Não, claro que vou.
Não posso simplesmente morrer aqui.
— Se sobrevivermos a esta guerra, aposto que as recompensas serão enormes.
Como se tentasse evitar que o clima ficasse muito sombrio, Hawkin fala com a voz mais alegre que consegue.
— Espero que sim. Nossa compensação por aquela batalha com o Pesadelo do Labirinto não foi suficiente para o problema que passamos — Jeskan entra na conversa.
— Sim, provavelmente porque Julius foi e esmagou a maldita coisa em pó. Se o cadáver fosse um pouco recuperável, provavelmente poderíamos vendê-lo como material.
Hyrince olha para mim exageradamente.
Qual é, que escolha eu tinha?
— Realmente! Tenho certeza que Julius fez o seu melhor. Além disso, eu não gostaria de carregar uma aranha morta de volta para casa de qualquer maneira.
Não posso deixar de sorrir com o comentário improvisado de Yaana.
— Você provavelmente está certo de que os restos de um monstro como aquele poderiam ter ganhado um bom preço, no entanto. Aposto que a seda e tal poderia fazer algumas roupas com propriedades de defesa bastante altas, você não acha?
Jeskan balança a cabeça em resposta à minha brincadeira.
— Não é provável. A teia de Taratect aparentemente é gerada por uma habilidade. Mesmo se você dissecasse um cadáver, não encontraria nenhuma.
— Sério? Eu não sabia disso.
Eu instintivamente pego o cachecol que sempre uso.
— Ah, sim, teia de taratect. Sabe, ouvi dizer que uma vez alguns aventureiros trouxeram de volta algumas yeias de taratect que não eram pegajosos, cerca de dez anos atrás.
— Eu também ouvi isso, quando eu ainda era apenas um jovem aventureiro. Dizem que um grupo queimou um ninho de taratect e encontrou algumas teias intactas dentro. Aparentemente, tinha uma condutividade e durabilidade mágicas ridiculamente altas, então valeu uma recompensa. E essa parte é apenas um boato, mas também ouvi dizer que eles coletaram um ovo de dragão lá. Ovos de dragão são tão raros, que falar que está vendendo apenas um seria suficiente para permitir que você viva com luxo pelo resto de seus dias. Como companheiro de aventura, fiquei com bastante inveja na época.
— Sim, e então havia uma mania de capturar taratects para obter mais dessas teias, não havia? Mas ninguém conseguiu encontrar um que pudesse produzi-las.
Eu congelei durante essa conversa, ainda segurando meu cachecol.
Hyrince ergue as sobrancelhas para mim.
— Julius, você realmente não sabia o quanto essa coisa é valiosa? Você está sempre usando…
— Não fazia ideia.
Eu respondo sem jeito.
— ? O que é isso, então?
Ouvindo nossa conversa, Yaana inclina a cabeça curiosamente.
— O cachecol que esse idiota sempre usa é feito da mesma teia de que eles estão falando.
As palavras de Hyrince voltam todos os olhos para o lenço no meu pescoço.
Acho melhor não contar a eles que Shun chocou o ovo de dragão que Jeskan mencionou e atualmente está criando o produto como animal de estimação.
— Ho-ho! Será, agora?
— Eu nunca tinha visto o material antes. Ouvi dizer que alguns deles foram vendidos para uma família real, mas nunca imaginei que essa família fosse sua, Julius.
— Então é tão valioso assim? Eu sempre me perguntei sobre isso, já que você nunca tira.
— Ah, não, eu só uso o tempo todo porque é uma lembrança da minha mãe…
— Sério? Ah, me desculpe…
— Está tudo bem. Foi há muito tempo.
Pouco depois que ela deu à luz Shun, a saúde de minha mãe piorou e ela faleceu.
Ela tricotou este cachecol para mim pouco antes de Shun nascer.
Eu sabia que era feito de teia de taratect, mas não fazia ideia de que era um material tão raro.
— Não se preocupe com isso, Yaana. Julius só tem um complexo de Édipo.
— Qual é, Hyrince, isso não é um pouco demais?
Eu sorrio em resposta à leve provocação de Hyrince.
Vendo isso, Yaana se sente aliviada de sua ansiedade por me perturbar e ri.
É assim que deve ser. Um herói não deve ser envolvido em uma atmosfera sombria.
Sou grato a Hyrince por me proteger. É muito importante ter um amigo próximo que realmente entenda você.
Embora eu ache que ele poderia ter escolhido uma frase melhor do que "complexo de Édipo".
É verdade, posso ter sentimentos mais intensos sobre as mães do que a maioria das pessoas, tendo perdido a minha quando era jovem.
Isso fica evidente pelo fato de que vejo traços de minha mãe toda vez que olho para Shun, que nunca a conheceu.
Ainda me lembro da primeira vez que conheci Shun.
Foi um dia antes de minha mãe morrer.
Fiquei surpreso com seu olhar firme, a intensidade em seus olhos tão inadequada para um bebê.
Sua expressão parecia com a da minha mãe.
A mãe também era uma pessoa obstinada.
Ela deu à luz Shun sabendo muito bem que isso poderia destruir seu corpo fraco.
“Se alguma coisa acontecer comigo, por favor, crie seu irmãozinho direito.”
Enquanto ela falava, o brilho nos olhos de minha mãe era igual ao que eu vi nos de Shun.
Inteligente, gentil, mas de alguma forma perigoso.
Esses olhos…
Pensando bem, o momento em que percebi que era um irmão mais velho também foi quando aceitei minha posição de herói.
Quando assumi o papel pela primeira vez, fiquei apavorado.
A percepção de que eu teria que lutar me abalou profundamente.
Mas quando perdi minha mãe e conheci Shun, senti um forte desejo de protegê-lo.
Afinal, sou o irmão mais velho dele.
Mesmo que eu não possa substituir nossa mãe, posso pelo menos protegê-lo como um irmão.
Esse foi o começo da minha história.
A origem de Julius, o herói.
Meus pensamentos são interrompidos pela comunicação telepática de Hyrince.
[Julius, há algo estranho na maneira como esses demônios estão se movendo.]
[O que há de estranho nisso?]
[É como se fossem dispersando todas as suas tropas para invadir o território humano de uma só vez, mas não sabemos por que estão dividindo suas forças assim.]
[Você acha que há algo por trás disso?]
[Sim. Certamente seria melhor se concentrar em uma frente, então por que dividir suas tropas assim? É melhor supor que eles têm um motivo.]
[Alguma ideia do que pode ser?]
[Não tenho certeza. Está além de mim agora. Mas é melhor não baixarmos a guarda.]
[Entendi. Obrigado.]
Tenho um pressentimento terrível sobre isso.
Como se tivéssemos caído em alguma armadilha enorme.
Como ser pego em uma teia de aranha.
Isso me lembra a luta contra o Vestígio do Pesadelo. Sinto a mesma ansiedade vaga agora que sentia naquela época.
Mas, como herói, não posso fugir.
Mais uma vez, agarro com força o cachecol feito de teias de aranha.