Volume 3
Capítulo 4.1: NÉVOA DE GUERRA
Nós recebemos uma única missão.
Ir para o norte.
Ir para o norte e resgatar a Barbatos.
A quantidade de descanso dada aos nossos soldados foi de meio dia. Nós pegamos os suprimentos que estavam acumulados em grande quantidade na Fortaleza Branca, e já que se saqueássemos teríamos mais do que conseguiríamos carregar, nós queimamos o restante. Enquanto queimávamos os suprimentos, que originalmente planejamos usar para alimentar e vestir os prisioneiros, nós decidimos queimar os próprios prisioneiros também.
Já que isto seria o mais eficiente.
Eu ordenei essas crueldades.
“Incendeiem todo e qualquer vilarejo humanos que vocês encontrarem pelo caminho.”
Chamas e fumaça estavam presentes onde quer que meu exército fosse. Meus soldados marchavam enquanto ateavam fogo em tudo que estivesse à frente, e marchavam deixando apenas a fumaça para trás. Nós avançávamos arduamente para poder auxiliar a Barbatos.
Os humanos queriam arrastar o conflito de volta para o território dos demônios. Já que a guerra era um acontecimento que devastava o local em que ela ocorria, os humanos gostariam que a terra a ser destruída fosse à dos demônios, e não a deles.
Agora, durante esta situação em que o segundo exército havia sido completamente derrotado, a única pessoa bloqueando o caminho do exército humano gigantesco era a Lorde Demônio Barbatos. Ela estava se esforçando ao máximo para obstruir um exército de quarenta mil com apenas seus próprios vinte mil soldados. Ajudar a Barbatos era uma tarefa de suma importância. Desta forma, o território dos demônios poderia evitar os terríveis desastres da guerra. E a Barbatos e eu não nos tornaremos os renegados que trouxeram a guerra.
“Não fiquem obcecados pela pilhagem! Matem-os se quiserem tomar suas vidas, mas não gastem suas energias com massacres. Nós não temos tempo para vocês estuprarem ninguém, então mantenham seus membros inferiores sob controle. Queimem todas as vilas humanas e transformem seus moradores em mendigos.”
Eu não tinha nem um pingo de hesitação. Queimem tudo. Incendeiem tudo o que verem. Os vilarejos e os suprimentos que nós não queimarmos se tornarão o sustento que alimentará os inimigos. Eu estava executando a ‘tática da terra arrasada’ ao contrário.
Ocasionalmente, os anciãos das aldeias explodiam com toda a frustração reprimida e vinham implorar para nós. Os anciãos imploraram que eles precisavam ao menos levar as sementes para que pudessem fazer a primeira lavra da primavera, suplicando para que nós não acabássemos completamente com as suas esperanças de sobrevivência. Eu não tinha tempo para explicar para eles a urgência da nossa situação. Não havia motivos tratar os problemas deles como se fossem meus, e também não tinha motivos tratar os meus problemas como deles, então eu não tinha tempo para fazer com que os nossos problemas se interconectassem. Mesmo que eu tivesse tempo suficiente, essa conexão era difícil de ser feita. Eu intimidei os anciãos.
“Então vocês vão morrer? Então vocês preferem morrer ao invés de sair daqui quietos? Me ouçam atentamente, humanos. Até que o inverno acabe, corram para as montanhas e não voltem aqui para baixo. O cultivo deste ano já chegou ao fim, então não fiquem se prendendo a ele. Vão para os vales entre as montanhas e não voltem!”
Com lágrimas nos olhos, homens e mulheres velhos partiram em busca de refúgio.
A fumaça subindo das Montanhas Negras estava se movendo pouco a pouco, mas incessantemente, rumo ao norte. A cada dia que se passava, as vilas que se encontravam no nosso caminho ruma ao norte eram queimadas.
Pessoas transbordavam das cidades que haviam sido reduzidas a cinzas. Os humanos que haviam perdido suas casas fugiam rumo ao sul ou se escondiam nas montanhas. A fumaça estava intensa em todos os lados. O som de choro e de lamentos ecoavam pelas áreas em que a fumaça era densa. Eles deveriam se considerar muito sortudos que a chuva e a neve que caiu durante nossa marcha incendiária foram leves. Se estivesse difícil de atear fogo nas coisas por causa do tempo, então eu teria matado todo e qualquer humano.
Os refugiados cantaram enquanto partiam.
Se partirmos agora, quando iremos voltar?
Se partirmos agora, quando iremos voltar?
Nossas aldeias estão queimando, nossos filhos estão queimando.
Aha, se partirmos agora, então quando iremos voltar…?
Quando eles não possuíam um caminho a seguir ou um lugar em que chegar, parecia que os humanos dependiam de canções para poder seguir o seu rumo de partida. Apesar de a canção ser triste e boba, eu não os impedi. Na verdade, eu até os estimulei. Fujam, alastrem-se, divulguem esta canção para todos os lados, informem as pessoas através da sua música que nós chegamos que nós somos a sua Peste…
No caminho, o exército dos duques bloqueou nosso caminho. Eles eram soldados que saíram das suas fortalezas, pois não foram capazes de suportar a canção melancólica do povo. No entanto, isto foi depois dos duques oferecerem a maior parte das suas forças militares para a família imperial como reforço militar. Apesar da sua disposição de espírito ser louvável, só mesmo isso deles poderia era digno de elogios. Enquanto olhava de soslaio para as forças inimigas que mal chegavam a cinquenta soldados, Farnese perguntou.
“O que nós deveríamos fazer senhor?”
“Esmague-os.”
“Entendido… Mas que chato.”
Enquanto resmungava sobre como isso era entediante, Farnese comandou nossas tropas.
Já que a nossa vitória era muito óbvia, Farnese criou uma brincadeira. Era um jogo para ver como ela poderia matar todos os cinquenta inimigos sem perder nenhum soldado. Enquanto testava todo tipo de táticas, Farnese provocou os inimigos. O jogo foi um sucesso. Os soldados foram completamente dizimados.
Nós cortamos as cabeças dos assim chamados ‘soldados’ e às fincamos em estacas. Toda vez que queimávamos um vilarejo, nós jogávamos cerca de quinze cabeças. Depois de ver as cabeças, os anciãos escutavam o que nós falávamos um pouquinho mais facilmente. Sem a necessidade de ameaçá-los verbalmente, eles empacotavam as suas coisas por conta própria e iam embora em busca de refúgio. Era bem direto. Eu deveria ter feito isso antes.
Sem sombra de dúvidas, nós éramos o exército de um Lorde Demônio.
Se fosse necessário expressar isto com um pouco mais de precisão, nós éramos um exército de filhos da puta.
Nossos soldados consideravam o fato de sermos filhos da puta um motivo de orgulho. Conforme saqueávamos mais, nossos soldados formavam um exército mais forte. A marcha não era difícil.
Nossos próprios soldados davam títulos ao nosso exército, como ‘Os Arautos do Inverno’, ‘ A Praga dos Humanos’, e ‘Os Saqueadores das Montanhas’. Já que o inverno era algo considerado maldito, as pragas eram algo odiado, e saquear era um ato vil de se fazer, dava para saber o quão sórdido era o meu exército. Mas que animador. Aha, que coisa mais anárquica. Essa era mesmo uma boa estação.
A minha vida era mais do que simplesmente miserável, então eu cantava sobre a minha desolação. Os refugiados cantavam porque não sabiam para onde ir, e eu cantava porque não sabia de onde eu tinha vindo. A canção de uma pessoa que não sabia para onde ir e a canção de uma pessoa que não tinha para onde retornar eram completamente diferentes.
“O que será: isso ou aquilo–? As muralhas atrás do templo da divindade da cidade caíram– então será isso–? Quando eles morrerem e morrerem de novo e de novo cem vezes–. Ou se nós morrermos e morrermos de novo juntos, da mesma forma– então será aquilo–?”
(Nota: Isso que ele falou é a fusão de dois poemas clássicos coreanos Hayeoga(하여가) e Dansimga(단심가). Hayeoga foi um poema criado para declarar o final de uma era. Toda essa parte deles falando sobre essa música só faz algum sentido em coreano e vai ficar confuso em PT, então… Lamento. Link)
“… O que diabos é essa música? É bizarra.”
Farnese franziu o cenho. Lapis, que estava andando a cavalo ao meu lado, também me olhou como se eu fosse estranho. Eu inventei uma mentira.
“Estes são os versos de uma melodia que eu escutei em um sonho ontem à noite. As batidas se enrolam tão bem na minha língua que a canção flui naturalmente. A Deusa não teria nos abençoado com esta melodia?”
“Hm.”
“Tentem cantar junto. É uma canção que tira o peso das nossas vidas. As músicas são cantadas para saborear o ato de fazer algo pesado com o coração leve. O que será que tudo no mundo vai ser: isso ou aquilo?”
A canção se espalhou entre os solados instantaneamente. ‘Dizem que essa é uma canção que Nosso Senhor o Lorde Demônio criou pessoalmente depois de ter escutado a própria Deusa cantar’, um bônus foi adicionado a esse rumor infundado. Assim que eu incluí um ritmo de trote, um estilo musical coreano, e o recitei, nossos soldados descartaram as canções militares e riram cantando o trote. Nossas tropas alteraram as letras para combinar com seu próprio gosto.
Badum tat badum tat o que será: isto ou aquilo?
Badum tatat tat queimar os templos e massacrar as pessoas – será isso?
Quando eles morrerem e morrerem de novo e de novo cem vezes.
Ou se nós morrermos e morrermos de novo juntos, da mesma forma– então será aquilo–?
Nossos oficiais e soldados cantaram, massacraram, saquearam e incendiaram. Com um verso eles ofegavam animados enquanto brandiam suas espadas, com outro verso, eles assobiavam enquanto ateavam fogo. Toda vez que a música era cantada, sangue espirrava.
Conforme avançamos mais ao norte, o ritmo da canção que imitava tambores com a boca ficou entusiasmado. As bruxas eram as mais animadas quanto a ela, e a cantavam de forma divertida. Enquanto montavam nas suas vassouras, as bruxas voavam baixo e cantavam o refrão. Abaixo delas, os soldados cantavam juntos enquanto marchavam sobre o solo. Conforme o refrão e o resto da música eram repetidas de novo e de novo, nossa marcha progrediu rapidamente.
A canção dos refugiados se espalhou pelo sul. A canção dos invasores cortou o seu caminho rumo ao norte. O hino dos refugiados era o lamento das pessoas, e o hino dos saqueadores era a alegria das pessoas, então eu não fazia distinção entre um e outro. Eu simplesmente considerava todos eles como parte da população. Sendo cobertos pela fumaça que subia das chamas, nós espalhamos a melodia.
Enquanto nossas tropas cantavam junto ao ritmo, apenas Lapis permaneceu em silêncio. Ela se recusava firmemente a cantar.
“Isso é um mau hábito.”
Era uma conclusão honesta e precisa.
No décimo primeiro dia do terceiro mês.
No dia anterior ao décimo terceiro que a Barbatos havia se comprometido.
Nós pegamos o cerco dos inimigos pelas costas.
O Rei da Escória, 71º Rank, Dantalian
Calendário Imperial: 11/03/1506
Planície de Neris
“— Rompem a defesa deles.”
Eu falei enquanto apontava para o cerco inimigo.
Para as pessoas, as palavras tinham que seguir o ritmo da vida, e mudar de acordo com ela. No entanto, para os indivíduos no poder, o mundo seguia o ritmo das suas palavras, e a vida das outras pessoas mudavam de acordo com as palavras ditas por aqueles com autoridade. Eu era um homem influente. Eu ordenei que atravessassem a defesa, portanto isto aconteceu.
Humbaba liderou as outras bruxas e elas bombardearam intensamente os inimigos. Nós havíamos saqueado tanta pólvora da Fortaleza Branca que nós estávamos quase transbordando munição. As bruxas espalharam saquinhos com pólvora sem pouparem gastos. Pouco depois, os magos das forças inimigas alçaram voo para retaliar.
As tropas inimigas eram muitas e as nossas forças eram poucas. Mas independentemente dos números, os soldados inimigos estavam muitos espalhados para formar o cerco. Nossas forças se contraíram e focaram em um único ponto. Os inimigos estavam espalhados e nós estávamos focados. As forças inimigas tinham que se preocupar tanto com o lado de fora do cerco quanto com o de dentro, enquanto tudo que precisávamos fazer avançar correndo, olhando apenas para frente. Como se estivesse martelando um prego em uma tábua, Farnese martelou nossos soldados contra o bloqueio. Fora isso, não havia nenhum outro plano ou estratagema incomum. Era um poderoso ataque frontal.
Farnese falou.
“Um exército que vence através de um ataque frontal é um exército feliz.”
Ela falava pouco enquanto estava comandando. Ela apenas passava as táticas para os outros comandantes durante as reuniões estratégicas, mas durante o combate de fato, ela apenas observava o combate, com seus olhos saltando de um lado para o outro.
Farnese lia os campos de batalhas como se estivesse lendo um livro. Parecia que tudo: os gritos dos soldados, os movimentos das unidades, e o som das trombetas tinham significados únicos para ela, e estes significados eram como palavras e linhas. Quando a movimentação dos nossos soldados amansou, ela falou.
“Não fraquejem, vão em frente.”
Quando as forças resistiram fortemente, ela disse.
“Persistam também, e estejam decididos a derramar o próprio sangue.”
Assim que o cerco inimigo começou a desmoronar, ela falou novamente.
“Ataquem ali.”
Farnese lia o campo de batalha como se fosse um livro, e como se estivesse corrigindo os seus erros de impressão, ela corrigia os deslizes no campo da batalha com suas ordens. Os seus comandos eram precisos, e, portanto eram cravados profundamente na mente dos nossos soldados e oficiais.
Mesmo sem falar nada, os capitães valorizavam muito a jovem general que estava os observando de longe do alto. Eles se vangloriavam de conseguir sentir o olhar da general os encarando enquanto lutavam. Desde os capitães até os soldados de baixa patente, não havia uma pessoa sequer que duvidava das palavras da Farnese. Eu me lembrei das palavras de um gênio matemático que havia afirmado que ele enxergava o mundo todo como se fosse números. Para a Farnese, o campo de batalha muito provavelmente se parecia com palavras e frases. Um talento natural.
Antes de se passarem duas horas desde o início do nosso ataque contra o cerco, Farnese assentiu levemente.
“Acabou.”
Um sorriso torto apareceu nos lábios dela.
♦
Cinco minutos depois, como ela tinha dito, o cerco entrou em colapso. As forças inimigas levantaram suas bandeiras e fugiram. Desde o seu retiro parecia ser deliberada, Farnese proibiu as nossas tropas de persegui-los sem pensar.
“Não vão atrás deles. Nós é que receberemos dano caso o façam.”
Os capitães se mantiveram em silêncio e obedeceram a ordem. Os capitães se alegravam ao perseguir as tropas inimigas que sobreviveram, golpeá-las pelas costas, e pegar para si o que elas estivessem carregando. Seduzidos por este último interesse, o número de soldados que preferia saquear os mortos a lutar era incontável. No entanto, a Farnese não era uma general mesquinha quando se tratava de pilhagem. Os capitães, que havia saqueado tanto quanto quiseram durante nossa marcha forçada até aqui, entendiam bem a natureza da general. Se a Farnese disse para eles não perseguirem, então eles não deveriam perseguir. Era uma ordem absoluta.
Depois dos inimigos terem se retirado, como se cortinas estivessem sendo puxadas para o lado, o acampamento da Barbatos foi revelado. A pessoa encarregada pelo local veio a nós.
“Seja bem-vindo, Dantalian. Nós poderemos viver mais um dia graças a você.”
“Eu só posso me desculpar pela minha chegada tardia.”
“E você ainda diz que está atrasado… Na verdade desde o princípio nós sequer tínhamos esperanças que alguém viesse.”
O encarregado do acampamento sorriu amargamente. Havia sangue espalhado na barba completamente branca do supervisor. Este homem com aparência idosa era um Lorde Demônio, o décimo sexto no ranking, Zepar.
“Apesar de que seria mais do que apropriado oferecer um banquete para você e para seus homens por nos ter permitido escapar da morte, desconcertantemente, nossa situação atual não nos permite seguir a etiqueta apropriada. Peço desculpas. De todo modo, se você tivesse chegado um dia depois, nós teríamos te recebido como cadáveres.”
“Como a etiqueta durante a guerra poderia ser a mesma do que nos tempos de paz? Não nos preocupemos com esses detalhes. Não há uma ínfima razão para você se sentir desconcertado, Duque Zepar.”
Zepar de 16º rank, e eu de 71º rank, conversamos um com o outro utilizando linguagem semi formal. Eu estava sugerindo indiretamente que esta era um comportamento adequado para as linhas de frente. Isto poderia ser contra a etiqueta, mas nesta situação ele era quem havia sido resgatado, e fui eu quem os salvou, então eu decidia. Como ele balançou a cabeça concordando, Zepar deve ter entendido o que eu queria dizer.
“De qualquer forma, eu me sinto muito constrangido de recebê-lo assim. O que nós de alto ranking estávamos fazendo enquanto você, que possui um ranking baixo, atravessava as defesas inimigas na cadeia de montanha para vir nos salvar…?”
“Duque Zepar, como qualquer coisa desta situação pode ser culpa sua? Como os Lordes da Facção das Planícies protegeram o continente dos demônios, que estava com suas fronteiras em risco, o nosso povo com certeza louvará os seus esforços. Tudo o que eu fiz foi auxiliar muito levemente os Lordes a protegerem seus súditos. Agora, vamos em frente.”
Enquanto agradecíamos um ao outro, Zepar nos guiou até o acampamento.
O local estava solitário. Era um campo defendido exclusivamente com paliçadas e trincheiras. As cercas estavam quebradas por causa dos ataques constantes que aconteceram nos últimos dias. Nas pontas das estacas, corpos estavam empalados pelo abdômen, pendurados como roupas para secar. Aves de rapina pousavam sobre os cadáveres e se alimentavam da parte mais macia deles, os olhos. Sangue escorria dos buracos vazios das órbitas dos corpos cegos. No momento em que nos aproximamos, os pássaros fugiram alarmados. Conforme as aves fugiram, elas derrubaram os olhos dilacerados sobre a terra. Zepar não disse uma palavra sequer enquanto passávamos pelos cadáveres dos seus homens.
Vendo minhas tropas entrando no acampamento, os soldados que ainda estavam vivos se reuniram. Eles aplaudiram enquanto levantavam suas lanças.
— Vivas para Sua Alteza Dantalian! Viva!
— Bênçãos ao nosso salvador!
Os soldados bloquearam o nosso caminho, então não conseguíamos nos mover para frente nem para trás. Seria impossível imaginar que a aparência dos soldados que sobreviveram a este purgatório estivesse bonita. Eles estavam desdentados e com membros faltando, estavam sujos e com manchas espalhadas pelo corpo todo. Se havia algo de belo neles, então era o sorriso brilhante que se formou nos rostos deles. Zepar repreendeu os oficiais e os soldados.
“Mas o que é isso? Não importa o quão alegres vocês estão não é apropriado bloquear o caminho de um rei. Rápido, sa-…”.
“Não, está tudo bem, Duque Zepar.”
Eu o parei.
“Não existe um rei sequer que força o seu povo a sair do seu caminho.”
Eu desci do meu cavalo e abracei um dos soldados. O guerreiro era um jovem orc. Um cheiro muito forte e pungente de fezes de cavalo, sangue e urina emanava do seu corpo. Eu segurei o jovem orc e beijei sua testa.
“Todos vocês são admiráveis. Todos vocês são dignos de louvores. Vocês fizeram um ótimo trabalho por terem mantido a defesa. Peço perdão por não ter conseguido chegar antes. Vocês fizeram bem…”.
O soldado começou a chorar. Depois de escutar minhas palavras, os outros soldados também começaram a chorar. Eles se ajoelharam ao meu redor e encharcaram minhas roupas com suas lágrimas. Eles choraram emocionados, enquanto murmuravam ‘Vossa… Alteza… ‘. Zepar não pode interferir com o choro dos soldados que haviam sobrevivido ao cerco. Isto era algo que ninguém ousaria impedir.
Enquanto o som do pranto estava transbordando do acampamento, uma voz afiada cortou o ar.
“Hey! Bambu fino!”
Era a Barbatos. Ela estava um pouco depois do grupo de soldados abaixados.
Então ela pulou. Como se estivesse cruzando um córrego, ela pulou sobre as costas dos soldados como se fossem pedras. Eu fiquei muito surpreso e boquiaberto diante do seu comportamento completamente sem orgulho e dignidade. E enquanto eu estava surpreso e de queixo caído, Barbatos me abraçou.
“Estou grata pra caralho, seu filho de uma porca gorda!”
“Uwaack!”
Eu perdi o equilíbrio e quase cai. Barbatos ria alegre enquanto balançava pendurada no meu ombro.
“Seu maluco desgraçado, seu cachorro filho da puta! Seu infeliz, como assim você chega mesmo em menos de seis dias só porque eu disse para chegar em seis dias!? Seu, seu…! Por acaso as montanhas são o seu quintal para você conseguir chegar aqui saltitando tão rápido assim? Seu cachorro lindo!”
“Uaaaack!”
Eu fui beijado à força. Na verdade, não foi um beijo, mas sim um chupão. Não havia qualquer possibilidade disso ser algo além de um chupaço.
Eu, que havia feito uma atuação muito romântica e digna para os soldados, agora estava torcendo o pescoço para evitar uma exibição pública de chupões agressivos. Os lábios da Barbatos erravam frequentemente. E quando isso acontecia, essa garota ficava brava sabe-se lá por que.
“Ah, caralho. Fica paradinho aí.”
“Euub! ?”
Barbatos agarrou minha cabeça com suas duas mãos. Finalmente, ela conseguiu enfiar a sua língua na minha boca. E foi naquele momento em que os chupões se transformaram em beijo de língua profundo. Para alguém com a aparência de uma criança, as suas habilidades em beijar eram extraordinariamente inigualáveis. Primeiro, ela puxou o ar de dentro dos pulmões, criando um vácuo dentro da minha boca. Depois de ser sufocado, eu perdi a força na minha língua. Barbatos enrolou sua língua envolta da minha e a chupou. Nossos lábios se separaram por um instante. E naquele momento, eu inalei ofegantemente, fazendo o seguinte som, ‘Heub… ha…!’. Isso foi só por um instante. Logo em seguida, Barbatos tampou minha boca novamente, e desta vez, ela pressionou o centro da minha língua com a dela e a estimulou. Eu perdi a força nos meus joelhos. Barbatos me pegou com leveza, e apoiou o meu corpo que estava caindo depois dos meus joelhos falharem. Eu vou ser estuprado. Estas palavras ecoaram na minha cabeça. De verdade. Hoje eu vou ser estuprado. Honestamente, eu acreditei que seria violado ali mesmo, naquele instante. Barbatos, que estava usando a sua língua para pressionar o meio da minha, então enrolou a dela em torno da minha como uma cobra. Deixando escapar um ‘Eub… ‘, eu gemi. Espera, eu acabei de soltar um gemido? Sério mesmo? Eu iria chegar aos finalmentes por causa de uma língua? Não importava o quanto eu movesse meus braços para tentar empurrá-la, era inútil. Como eu não conseguia colocar força nos braços, minha resistência foi em vão. Os olhos da Barbatos revelaram o seu sorriso torto. ‘Que fofinho. ‘ Parecia que ela estava dizendo isto. Como se estivesse falando para eu parar de reclamar, Barbatos agarrou as minhas partes inferiores com sua mão esquerda. Meu Deus. Minha visão embranqueceu. Meu último fio de resistência desapareceu sem deixar vestígios. Não havia como lutar contra. Meus joelhos tremeram de medo da técnica desta Lorde Demônio pervertida que viveu por centenas de anos. Eu pude sentir com meu corpo inteiro o significado da expressão ‘ser comido’. Ela vai me comer. Este era um medo instintivo que as pessoas mantiveram contra as bestas desde o início dos tempos. Primitivamente, eu tremi. Deus, por favor, só não… Sério. Então ela misturou as técnicas de empurrar a sua língua como uma broca para dentro de mim, e de prender a minha com a dela, violando a minha boca. Parecia que meu cérebro estava em um liquidificador.
“— Paha.”
Finalmente, Barbatos removeu seus lábios dos meus. Uma fina linha de saliva estava pendurada como uma ponte pênsil entre as nossas línguas. Ofegando, eu a encarei ferozmente.
“Você… você realmente…”.
“Não dê uma de espertinho e tente roubar o coração dos meus homens.”
Barbatos mordeu a minha orelha e sussurrou.
“Estou grata por você ter me salvado, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ouça bem. Meus soldados são meus. A coisa que eu mais odeio são vagabundos que mexem nas minhas coisas. Desta vez eu vou te deixar em paz só com isso, mas se você tentar encantar meus subordinados mais uma vez…”.
Barbatos lambeu a parte interna da minha orelha. Aquela sensação fria e molhada causou um arrepio na minha coluna.
“Dantalian. Se fizer isso de novo, eu vou mesmo te estuprar diante dos olhos bem atentos de todos os soldados.”
“…”
Eu solucei.
“Qual a sua resposta?”
“E-eu vou tomar cuidado.”
“Quais seus planos para hoje à noite?”
A luxúria da sua voz, ao perguntar meus planos para a noite, parecia até estar pingando. Se a respiração de alguém tivesse cor, então com certeza o hálito dela estaria com um cor-de-rosa intenso agora. Eu solucei de novo.
“Uh… Nenhum?”
“Heeh. Ha, olha só que interessante! Agora você tem um.”
“Por favor, espere um instante. Apesar de eu não ter certeza se você está ou não exausta depois de ter bloqueado os ataques dos inimigos por tantos dias, que tal descansar direito hoje?”
“Então, já que eu estou exausta, acho que eu deveria me recuperar tomando tônicos naturais, certo?”
Gyaaaack.
“Todo ser racional neste mundo tem o direito de decidir sobre os seus próprios hábitos sexuais nesta nossa sociedade. Barbatos, eu recuso veemente as suas tentações…”.
“Negue o quanto você quiser. Eu vou simplesmente recusar a sua recusa.”
Isso não era certo.
Barbatos agarrou minha mão direita e começou a me puxar enquanto andava. Enquanto era arrastado, eu me senti como um escravo que havia sido vendido para outro dono por causa de uma safra ruim. Era algo degradante, bem degradante.
Milhares de soldados assistiram em silêncio enquanto eu era puxado para longe. Era óbvio o que ficaria gravado na mente deles hoje. A cena de Sua Alteza Dantalian abraçando os corpos sujos dos soldados e chorando por eles já havia voado para longe das suas cabeças e evaporado. Uma única cena permaneceria para eles, e os soldados falariam e ririam disso a noite toda.
‘Sua Alteza Barbatos comeu o Lorde Dantalian!’
E nesta situação.
Com minhas últimas esperanças, eu olhei para a Lapis, para a Farnese, e para as Bruxas. Todas elas ignoraram meu olhar. As bruxas até levantaram os braços, acenando como se estivessem dando adeus para algum ídolo indo embora. As bruxas estavam sorrindo intensamente.
— Vossa Alteza, seja bem comido!
Se meus ouvidos ainda estivessem funcionando direito, então foi isso que as bruxas gritaram bem alto. Desgraça. Mas que tipo de conceitos morais um mundo precisa ter para que alguém abandone o seu próprio mestre e diga para ele ser bem comido? Já que todos os princípios das relações humanas caíram aos pedaços, e todos os laços de fraternidade do mundo pegaram fogo, só me resta culpar vocês. Que Confúcio e Mêncio amaldiçoem todos vocês. Morram. Morram todos vocês…