Volume 3

Capítulo 3.5: A cadeia de montanhas está queimando

O Rei da Escória, 71º Rank, Dantalian,
Calendário Imperial. 25/02/1506
As Montanhas Negras, Fortaleza Branca

 

“Vossa Alteza, você realmente planeja entrar em uma trégua?”

Com os nossos cavalos perfeitamente alinhados lado a lado, Lapis e eu prosseguimos. Vendo que havíamos voltado, os soldados no nosso acampamento começaram a desprender os prisioneiros. Eu respondi.

“É claro que não. O próprio Marquês não vai conseguir se segurar por mais de alguns dias e logo vai sair de lá. Já que aquele homem tem um forte senso de justiça, ele provavelmente não vai conseguir aguentar alguém distorcido como eu.”

“Mas então por que…”.

“Eu te garanto que o Marquês vai nos atacar em menos de dez dias. A Farnese já não está se preparando para embocá-los na floresta de pinheiros? Tudo o que precisamos fazer é fingir que estamos recuando e então cercar completamente o Marquês.”

“Esta serva compreende o plano de Vossa Alteza.”

Nós aceleramos os nossos cavalos. Nuvens de neve se levantaram dos cascos dos cavalos. O ar gélido do inverno me engoliu por inteiro. Eu gostava desta sensação, parecia que meu corpo estava ficando parcialmente congelado. O vento de inverno informava que o meu corpo ainda estava vivo. Eu comecei a gargalhar alto.

“Lapis. O Marquês é uma pessoa justa. O seu senso de justiça o torna uma pessoa com caráter profundo. No entanto, esta profundidade acaba sendo a sua própria limitação. Por outro lado, uma pessoa sem ética é ridiculamente rasa, e graças a este vazio de caráter, eles não tem limitações. O fato de eu ser raso de caráter é realmente uma alegria! Será que o Marquês consegue lidar com a minha felicidade? Será que qualquer uma dessas pessoas justas consegue lidar comigo? Isto tudo deve ser bem triste para as pessoas que não conseguem lidar com a minha felicidade.”

“Ser alegre deve mesmo ser bom, Vossa Alteza.”

Lapis manteve nossos cavalos próximos. Então ela falou.

“Vossa Alteza tem mesmo certeza de que o Marquês irá sair em menos de dez dias?”

“É claro. Eu acredito no senso de justiça dele.”

“Sendo assim, então vinte prisioneiros serão o suficiente.”

“…”

“Nós não precisamos nos dar ao trabalho de aumentar o número de prisioneiros e desperdiçar mantimentos.”

Com as rédeas na minha mão, eu olhei diretamente para a Lapis. Lapis não piscou os olhos mesmo com o vento do inverno os agredindo.

“… Lapis.”

“Sim, Vossa Alteza?”

“Se você morrer, então você vai para o Inferno, com toda certeza.”

“Entendo. Então esta serva não morrerá.”

Lapis me olhou nos olhos de volta.

“De acordo com um certo alguém, segundo esta certa pessoa a vida desta serva é mais preciosa do que a de Vossa Alteza. Já que é uma vida tão valiosa, então esta subordinada deve tomar muito cuidado com ela.”

Eu não consegui acreditar nisto.

Eu perguntei.

“Você não sente pena dos pobres prisioneiros?”

“Esta vassala não cometerá o erro de subestimar os prisioneiros tendo pena deles. Eles são um grupo que podem, a qualquer momento, atacar esta serva ou Vossa Alteza. Já que esta subordinada compreende e reconhece a força deles, ela tem que mata-los.”

Lapis falou categoricamente.

“Na verdade, esta vassala não está sendo respeitosa e sincera com os prisioneiros?”

Tinha como eu não rir nesta situação?

Levantando uma nuvem de neve atrás de nós, Lapis e eu voltamos ao nosso acampamento.

Assim que retornamos a nossa unidade, decapitamos setenta e sete prisioneiros.

 

 

 

 

 

Matadora de Familiares, Princesa Imperial, Elizabeth Von Habsburg
Calendário Imperial: 29/02/1506
Região Norte do Império de Habsburgo

 

 

 

— 2º mês, dia 25. As forças inimigas capturaram a Fortaleza Negra. A força militar é de aproximadamente trinta mil homens. O comandante é o Lorde Demônio Dantalian. Nossas forças estão de prontidão na Fortaleza Branca e estão perfeitamente seguras. Nós temos suprimentos em abundância e um número suficiente de soldados. O nevoeiro está intenso. As montanhas estão seguras.

 

Eu fiquei olhando por bastante tempo para o relatório que o Marquês havia me enviado. Como eu o examinei por bastante tempo, eu compreendi as suas nuâncias.

… Então o Marquês tem medo de mim. Como ele tem medo de mim, ele está tentando não revelar nada, e já que ele está tentando não revelar nada, ele não escreveu nenhuma informação importante. Será que o Marquês não sabe que ao tentar não revelar nada, na verdade ele acaba revelando tudo detalhadamente? Ele está tentando se esquivar da ameaça imediata se fingindo de ignorante? Quais eram suas verdadeiras intenções deixando o relatório na mão de um mensageiro e não de um mago, fazendo com que a mensagem chegasse hoje, sendo que foi enviada no dia vinte e cinco…?

Eu rasguei o relatório ao meio.

Isto não eram palavras. Eram grunhidos de um velho. Deveriam ter palavras escritas neste papel, mas já que não haviam palavras, só repetições, o pedaço de papel tornou-se inútil. E eu tenho um velho hábito de jogar coisas inúteis fora.

Suor frio escorreu do pescoço dos nobres quando eles me assistiram rasgando o relatório do Marquês. Eu falei.

“Escutem. O Marquês alega que as montanhas estão seguras. Eu dei minha fé para o Marquês. O que vocês pensam disto?”

Os nobres falaram juntos.

 

— Faça o que Vossa Alteza deseja.

 

Essas palavras tinham tanto significado quanto se não tivessem dito nada.

Uma risadinha escapou dos meus lábios. Os nobres tremeram no momento que eu ri. Eu não tinha certeza do motivo, mas as pessoas a minha volta sempre ficavam apavoradas toda vez que eu ria. Era um acontecimento bizarro.

“Aparentemente vocês são todos bem deprimentes. Todos vocês tem uma cabeça e uma boca própria, e ainda assim, o que vocês falam é exatamente a mesma coisa? Será que eu deveria dizer que isto é uma grande alegria para o Império? Já que todos os nobres estão em harmonia e agindo como um só? Seria apropriado que eu poupasse uma única pessoa, e tomasse a vida de todas as outras, já que todos vocês repetem as mesmas palavras de um jeito ou de outro? Parece ser uma boa ideia, já que desta forma nos também poderemos economizar com mantimentos.”

Os nobres se ajoelharam no chão.

 

— Por favor, pense melhor nisso!

 

Essas pessoas não tinham um grama sequer de racionalidade.

As três frases que eu mais desprezava no mundo eram ‘Suas palavras são imensuráveis’, ‘Eu estou extremamente agradecido’, e ‘Por favor, pense melhor nisto’. Essas não eram palavras, mas sim alucinações. Não importa o que eu dissesse, seria imensurável, ficariam extremamente agradecidos ou pediriam que eu reconsiderasse, fazendo com que ficasse quase difícil de identificar qual frase era qual. Portanto, sempre que eu escutava estas três frases, eu as interpretava como sendo uma só:

‘Por favor, fique quieta. ‘

Já que eles estavam me dizendo para me calar, então eu o farei. O que mais eu posso fazer?

Eu fechei a minha boca e sai andando para fora da tenda. Os nobres se levantaram rapidamente e me seguiram. Já que os nobres me seguiram, seus ajudantes, os seus cavaleiros e os escudeiros, todos eles também nos acompanharam, até que por fim, duzentas pessoas estavam seguindo uma única outra. Mesmo que eu não tenha proferido uma única palavra.

Era uma cena cômica. Apesar de ser algo realmente engraçado, ninguém estava rindo. Já que todos ficariam com medo caso eu desse risada, eu me segurei para não fazê-lo. Eu queria me virar e gritar para as duzentas pessoas atrás de mim… Riam um pouco nessa vida de vocês. Riam. Estou dizendo para vocês rirem.

No passado, houve uma vez que eu realmente disse isto.

Naquele momento, centenas de oficiais do governo de baixa patente moveram os músculos dos seus rostos e começaram a rir. Ha, haha, ha, hahaha, ha, haha, ha, ha, eles fizeram todos juntos.

Foi horrível.

De vez em quando, esta cena aparecia nos meus pesadelos.

Depois daquele dia, eu nunca mais ordenei que eles rissem. Era uma pena. Quem é que poderia esperar que pessoas que não sabiam nem falar direito conseguiriam rir decentemente?

Eles não eram humanos, mas sim fantasmas. Eles eram indivíduos que viviam como fantasmas e que encontrariam o fim de suas vidas ainda vivendo como fantasmas. Para eles a regra era viver as suas vidas como fantasmas. Como eu acreditava nisto, não havia outra escolha a não ser deixar que vivessem como bem quisessem. Para os humanos, as palavras deveriam existir como um método para expressarem suas mentes, mas ainda assim, os humanos as utilizavam para esconder as suas mentes, contorcendo-as, fazendo com que suas palavras não mantivessem uma porção sequer do seu verdadeiro significado, e impedindo que elas contivessem um pouco sequer das suas emoções.

Uma planície se estendeu à frente do grupo de duzentas pessoas. Espalhado pelo local havia pilares de madeira fincados na terra. Orcs, goblins, minotauros, e outros demônios similares estavam presos nos pilares, um demônio em cada estaca. Eles eram prisioneiros que as nossas forças capturaram.

Havia até mesmo um Lorde Demônio entre eles.

68º rank, Lorde Demônio Belial.

Uma unidade separada, enquanto faziam reconhecimento, havia encontrado o Lorde Demônio por acaso e o capturaram vivo.  Preso ao pilar de madeira, Belial me encarou. Eu não havia utilizado cordas para prender o Lorde Demônio a coluna, na verdade, eu havia o pregado. Eu havia pregado a palma das suas mãos, seus pulsos e tornozelos à madeira. Belial estava gemendo na língua dos demônios enquanto sangrava.

“… Maldita seja. Malditos sejam todos vocês. Vocês, pragas do continente, as Deusas jamais perdoarão nenhum vocês. Julgamento recaíra sobre a sua raça, que esmagou e queimou nossos lares…”.

Atrás de mim, os nobres murmuraram uns para os outros. Eles não conseguiam entender a linguagem dos demônios. Bem, eles também não sabiam direito a língua do Império, então não havia a menor chance deles saberem a língua de outra raça.

Eu peguei uma faca. Era o tipo de lâmina utilizada para desossar animais. Depois de ver a arma, os olhos de Belial se arregalaram. O Lorde Demônio murmurou desesperadamente.

“Oh Deuses, oh Deusas, por favor, eu imploro que punam estes seres à minha frente. Punam injustiça com retidão e paguem sangue com sangue. Como seu pobre servo, eu imploro humildemente. Oh Deusas, por favor…”.

“Isso é inútil.”

O Lorde Demônio se virou para olhar para mim.

“O quê?”

“Eu disse que isso tudo é inútil, oh pobre Lorde Demônio.”

“Você, o que você… Não. Como você sabe a nossa língua…?”

“Não tem uma língua que seja sua ou minha. Assim como uma flor ainda é uma flor caso nasça no meu jardim, se por acaso ela nascer no seu jardim, ela continua sendo uma simples flor. Normalmente eu gosto de apreciar as minhas flores, então eu não sinto nenhum desprazer em aprender novas línguas.”

Belial me encarou.

“O que você planeja fazer comigo, humana?”

“Eu tomarei a sua vida.”

Eu peguei uma pedra de amolar e afiei a faca. As vibrações que saíam do ferro, enquanto era afiada pela pedra, se transferiam para a minha mão. Perplexo e mudo, Belial assistiu a cena de eu afiando a minha lâmina.

“Você está vendo as bandeiras balançando do outro lado da planície? Aquele é o exército liderado pelo Lorde Demônio Marbas. Foram cavadas trincheiras profundas na frente das suas vanguardas, e eles construíram cercas de madeira, então a defesa deles é bem decente. Avançar até lá e esmagá-los não seria a tática mais rentável para nós. É por isso que eu planejo trazer os inimigos até aqui.”

“Hah. O Senhor Marbas comanda o maior exército de cavalaria do mundo dos demônios. Ele não é alguém que perderia para alguém como você.”

“Perdoe-me, Lorde Demônio. Mas você sabe quem sou eu?”

“O quê?”

“Parece que não. Eu imaginei que você não soubesse quando você disse ‘alguém como você’.”

“… E quem é você para poder dizer isso?”

Bom.

A lâmina estava bem afiada.

Naquele momento eu coloquei o metal da lâmina no fogo e o aqueci.

“Meu nome é Elizabeth Von Habsburg. Há mais alguns nomes no meio, mas eu vou omitir eles. Lorde Demônio Belial, mesmo que por pouco tempo, eu estarei sob os seus cuidados. Afinal, eu serei a última pessoa que você verá nos momentos finais da sua vida.”

“…!”

Com certeza Marbas não conseguiria ficar parado se seus soldados assistissem um Lorde Demônio sendo esfolado vivo diante dos seus olhos. Os demônios entrarão em fúria, e sendo incapazes de controlar a sua ira, eles irão avançar. Eles chutarão e derrubarão suas cercas resistentes e abandonarão suas trincheiras seguras para nos atacar.

Parece que Belial entendeu quais eram as minhas intenções, já que ele começou a se debater desesperadamente. É claro, Belial, cujo corpo estava pregado, não conseguia escapar.

“Não! Senhor Marbas, não venha! Por favor, me deixe para morrer!”

“Desista. Não importa o quanto você gritar, eles não conseguem te ouvir.”

“Não! Aaack! Não faça isso, sua desgraçada! Não faça!”

“Mas que problemático.”

Era o tipo de pessoa que não sabia quando as coisas eram inúteis.

Eu pressionei a minha faca contra a pele do homem preso. A lâmina entrou na carne do Lorde Demônio com a mesma facilidade que teria em entrar na manteiga. Um gritou escapou. Almejando o momento em que a sua língua saiu da sua boca, eu cortei a ponta dela. Outro grito explodiu. Os berros do Belial perderam as suas formas e se tornaram meros lamentos de dor.

Eu olhei brevemente para o mago. Ele acenou com a cabeça disfarçadamente e ativou um feitiço de aumento sonoro. Deste momento em diante, os gritos de Belial foram aumentados, e, portanto ecoaram fortemente por toda a planície. Toda vez que um dos seus dedos da mão ou do pé era cortado, nossos soldados comemoravam.

Aproximadamente na hora em que eu comecei a arrancar a pele da bochecha do Belial, os nobres gritaram.

 

— Vossa Alteza, as forças inimigas estão se movendo. É a bandeira do Marbas!

— As tropas inimigas vão fazer uma investida completa!

 

Os nobres apontaram para frente sem se importarem com a boa educação.

Eles realmente estavam certos. As bandeiras dos demônios estavam balançando furiosamente. O som das trombetas preencheu o outro lado da planície. Eles estavam se preparando para investir em breve. Eu limpei a faca com um pano.

“Escutem bem. As forças inimigas estão bem agitadas, então eles virão para cima de nós descontroladamente. Não lutem contra eles nesta situação. Atraiam eles mais para dentro do nosso território e os cerquem. Fiquem batendo nos tambores e assoprando as trombetas com força e sem parar. Movam-se calmamente enquanto estiverem fazendo muito barulho, assim impedindo que os inimigos recuperem a compostura.  Vocês entenderam?”

Os nobres bateram no peito com o braço direito.

 

— Sim, Vossa Alteza!

 

A batalha continuou até o anoitecer.

As forças inimigas colidiram contra a nossa linha de defesa sem nada para os defender de nós. A tropa de cavalaria liderada pelo Marbas era poderosa. No entanto, as cavalarias deles estavam exaustas de terem subido a colina, o ritmo deles diminuiu por ficarem presos nas cercas de madeira, serem obstruídos pelos lanceiros, e serem atingidos e mortos pelos besteiros. Os demônios tentaram investir três, quatro, cinco e seis vezes, e continuaram sendo mortos repetidamente.

Finalmente, as tropas inimigas recuaram. Foi depois deles terem falhado em atravessar as nossas defesas pela sétima vez. Eles não estavam tão rápidos como quando eles investiram contra nós pela primeira vez. Eu não perdi essa oportunidade.

“Persigam-nos e acabem com eles.”

Nossa tropa de cavaleiros avançou contra os inimigos. Já que eles haviam descansado o bastante, os cavaleiros estavam cheios de energia. As costas dos demônios foram cortadas pelas espadas empunhadas pelos nossos cavaleiros. Os soldados inimigos caíram de frente na descida da colina. Corpos cortados ao meio caíam e rolavam colina abaixo, e até chegarem à base da colina, eles já haviam encontrado alguma outra metade cortada. Um após o outro, corpos cortados ao meio rolaram colina abaixo. A retirada dos inimigos havia os derrotado. Belial, que estava pregado à coluna de madeira, ainda não havia morrido. Ele estava assistindo à batalha, que havia se tornado um massacre, com os olhos bem abertos. Com sangue tampando a sua garganta, ele gritava.

 

— Aaack! Uuuuaaaa… uuaaaah! Uuuuaaaack!

 

Mais tarde da noite, começou a nevar. Haviam muitos soldados inimigos que haviam morrido na colina cujos cadáveres estavam olhando para o céu. Eles haviam morrido com suas bocas e olhos bem abertos. Vento e neve entraram por estes buracos. Já que os corpos haviam esfriado, a neve neles não derretia e se acumulava em cima deles. A neve se empilhou nas bocas dos corpos.

O cortei o pescoço do Belial e joguei a sua cabeça na neve. Haviam tantas cabeças enterradas na neve que era difícil diferenciar as outras da do Belial. Apesar dos goblins, centauros e seres humanos terem aparências diferentes, a forma que eles tinham após a morte era quase igual. A vida era assim. A vida das pessoas não era a mesma graças a tudo que eles viveram, a vida delas era igual, pois eles morriam da mesma forma… Apesar do fato de que os vivos deveriam se entender por causa do medo e simpatia que sentiam pela morte, já que durante toda a sua vida eles não chegavam a experimentar a morte, na verdade os demônios e os humanos ficavam separados e muito provavelmente lutariam por toda a eternidade… Depois de observar as cabeças decapitadas na neve por muito tempo, eu me virei para ir embora.

No caminho de volta para a minha tenda, nobres e soldados estavam alinhados dos dois lados. Eles estavam cobertos de sangue. Enquanto eu caminhava pelo caminho entre eles, todos se ajoelharam ao mesmo tempo.

 

— Vossa Alteza.

— Você é a vencedora.

 

No final do caminho, o meu irmão estava de pé do lado da entrada da tenda. Não havia sangue na sua armadura.

Quando me aproximei, os cavaleiros do meu irmão deram um passo para trás. Eu esfreguei o ombro do meu irmão como se estivesse tirando algum pó.

“É um alívio que você esteja ileso, Vossa Alteza Príncipe Herdeiro.”

Meu irmão tremeu.

“Você… Você é o Diabo.”

“Eu sei. Tem algum problema com isso?”

“…”

“Eu perguntei se tem um problema.”

Meu irmão abaixou a cabeça. Ele murmurou alguma coisa baixinho, mas eu não consegui ouvi-lo.

Mas que patético.

Sentindo pena do seu orgulho e espirito rebelde pífios, eu ignorei meu irmão e entrei na tenda. De qualquer forma, ele era um homem que não conseguia encarar alguém nos olhos a não ser que tivesse dormido com a pessoa.

As empregadas se aproximaram para tirar a minha roupa e me limpar.

Enquanto limpava a parte inferior do meu abdômen, a chefe das empregadas sussurrou.

“Vossa Alteza, chegou uma mensagem da Lorde Demônio Paimon.”

“Deixe a mensagem para lá. Vou escutá-la mais tarde.”

A empregada-chefe curvou a cabeça.

Com meu corpo agora limpo, sentei-me junto a uma estante de livros.

O vento do inverno penetrou no meu corpo, que agora já estava frio. Como a tenda não conseguia bloquear o vento, o inverno penetrava totalmente no local. Minha mente estava clara. Eu pensei no relatório que o Marquês havia enviado, o que havia chegado ao amanhecer.

… O Marquês tinha medo de mim. Seria no mínimo apropriado respeitar este medo. Era obvio que os fracos temessem aqueles que eles reconheciam como mais fortes que eles. Mas por que razão ele me temia, mas ainda assim, escolhia não seguir os meus comandos? Era por orgulho? Que significado este orgulho doentio podia ter? Eu não conseguia entender. Era por estupidez? Eu tinha que repreender a estupidez de um velho? Eu não tinha certeza. Era arrogância da minha parte considera-lo como sendo um velho senil só pelo meu próprio julgamento? Muito provavelmente…

Eu peguei uma pena e comecei a escrever. Era uma única palavra.

 

— Vitória.

 



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