Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – arco 7

Capítulo 85: Sob a visão de um fantasma

Lewnard Hollick…

Olhando para trás, eu realmente te odiava.

No início, quando acordei, você era apenas uma criança que fingia ser homem. Alguém sem objetivo, sem sonhos.

Um vazio.

Era estranho, de verdade. Mesmo sem objetivo, você nunca desistiu. Havia algo que te movia, algo que te impedia de só desistir…

Seja o desejo de força? Talvez o sentimento de dever? A resposta nunca foi clara, pois não havia uma.

Você tinha um desejo de ser normal. De não se envolver nessa guerra. Tal desejo te tornou reativo, defensivo em tudo no que se tratava do dever. E eu odiava isso em você.

Era como olhar num espelho quebrado.

E, mesmo assim, eu ainda tinha esse dever de te observar, de te ensinar. De proteger você até estar pronto…

No início, você era reativo e fraco. Contudo, não demorou muito para começar a mudar. Depois que sua irmã foi sequestrada, você cresceu. Ficou mais forte, não em questão de batalha, mas sim como um adulto.

Da reatividade veio o desejo de proteger. Da fraqueza veio o desejo de mudar.

Você quis proteger sua irmã, não se importando com o que diziam, com as consequências de seus atos. Você fez um contrato de sangue com uma das pessoas mais perigosas da sua família só pela chance de conseguir ajudá-la.

Nisso, você seguiu em frente. A imagem distorcida do que um dia fui mudou para algo distinto. As semelhanças ainda estavam lá; mas, a cada passo que dava, mais você crescia.

Deu seu melhor para seguir em frente. Ainda que tenha caído no meio do caminho, vi como essas quedas não te pararam, mas sim abriram seus olhos para pontos que ainda podia melhorar.

Conforme o tempo passava, mais e mais as diferenças entre aquele que fui no início de minha jornada e você surgiam, e, olhando para trás, não consigo deixar de notar que essas mudanças também foram coisas que me afetaram.

Eu realmente estou ficando mole

Após sua segunda derrota para o Lycantropo, vi mais uma evolução ocorrer bem na minha frente.

Do desejo de proteger, veio um sonho. Do desejo de mudar, veio empatia.

Era um sonho tolo. Um que mesmo eu não perseguiria em vida.

A ideia de encerrar uma guerra de mil anos; de tentar, desesperadamente, achar uma forma de unir ambos os lados; tudo enquanto tenta manter-se fiel aos seus princípios parecia impossível.

Mesmo você sabia disso. Sabia que não importava o quanto tentasse, havia barreiras que simplesmente não podia ultrapassar com força bruta…

Sabia tanto que começou a pensar em como mudar as coisas.

Nosso vínculo permitiu que visse tudo o que pensava. Que pudesse olhar fundo dentro de você, e o que eu vi foi ainda mais interessante.

Um idiota, que constantemente desafiava o destino. Como uma tragédia onde o herói luta contra forças muito maiores que ele, onde ele consegue alcançar o objetivo final…

E a pergunta que elas sempre trazem era uma que nunca deixava de tirar meu sono a noite. Uma que, quando ainda era o príncipe de Leitzac, me trouxe um gosto amargo, ainda que doce.

À que custo?

Qual era o custo que esses ideais tinham? O que precisava ser pago até o sonho de um homem finalmente ser atingido? Por que parecia que os deuses, seus companheiros, e até mesmo o destino, tinham tanto interesse em quebrar a vontade de uma única pessoa?

Eu nunca obtive uma resposta.

Não era o tipo de pergunta feita para alguém como eu. Talvez Elister pudesse dizer chegar numa resposta satisfatória. Ele era o mais inteligente no nosso grupo.

Eu, Sigmun Holl, quero saber exatamente qual resposta ele chegará no final de sua jornada. Ver onde esse sonho o levará e, talvez o mais importante, como estará depois de concretizá-lo.

Do sonho, veio a determinação. Da empatia, veio uma verdade.

Lewnard Hollick mudou. Mudou não só a si mesmo, mas também aqueles a sua volta.

O conhecimento que o Diário me dava permitiu que visse como foi a jornada de todos antes dele. Alguns tinham ideias parecidos, outros eram a escória humana, mas todos acabaram da mesma forma.

Numa cova, à sete palmos.

Meu foco mudou de volta para a luta a minha frente e senti um sorriso surgir em minha face. Ele está aprendendo rápido. Provável que vá alcançar aquele pirralho dos Jugram uma hora ou outra.

A energia criou um vendaval, a enorme corrente telecinética concentrando ao redor dele. Todo aquele poder forçou os fios ao redor a voltar, perdendo a força que tinham, e, tomando aquele poder, ativou a Capa Telecinética.

Antes que o pirralho pudesse perceber o que aconteceu, foi forçado a desviar de um soco que veio em velocidade acima do som. Antes mesmo da cortina de neve ser levantada, Lewnard tentou outro soco, forçando-o a desviar mais vezes.

Contudo, a energia residual dos golpes ainda tocava na pele dele, tão poderosa era que penetrou qualquer forma de defesa. Criando um escudo, pulou para trás, diversos ferimentos surgindo de onde os resquícios estavam e tirando sangue.

Além disso, os ferimentos também se espalharam no escudo, que foi destruído. Lewnard avançou direto contra as raízes e, movendo o braço, espalhou os ferimentos nelas.

Nisso, avançou de novo, os fragmentos ao redor dele criando uma cortina. O pirralho então fez um gesto com a mão, diversos fios ligavam a madeira e, com um comando mental, ambos explodiram em um clarão laranja.

Contudo, isso não era o suficiente.

Saindo do fogo, o idiota parecia bem, apesar da respiração ser descompassada. Ainda que mostrasse surpresa, pude ver que Lawrence ou seja lá como ele se chama já havia se movido, tentando criar espaço.

Ele se move bem… além disso, tem um bom controle sobre o Diário. Seja lá quem o treinou, fez um bom trabalho.

A neve virou água e avançou em uma onda. Lewnard estava para seguir, mas imediatamente arregalou os olhos e criou uma barreira telecinética, conseguindo bloquear a água.

O cheiro de ozônio preencheu o ar, o crepitar soando na clareira. Arqueei uma sobrancelha com aquilo e olhei para a outra guardiã.

Ei, garotinha… Qual era o nome desse herdeiro? Minha voz soou, estranha até mesmo para meus ouvidos, na clareira.

Lawrence. — O sorriso rapidamente desapareceu. — E não me chame de garotinha…

Como quiser, garotinha. — Nisso, o idiota avançou, ignorando o fato de que o seu oponente acabou de manipular o conceito de “Eletricidade”. Ele não devia ter mais de dezesseis anos e, mesmo assim, conseguiu fazer algo desse nível?

Só John Hollick, pai do idiota, conseguia ter um controle desses nessa idade.

Os dois estavam próximos um do outro e, a um passo de se chocarem, o punho de Lewnard chocou-se contra cinco fios, uma onda de pura força Astral destruiu tudo ao redor, forçando Grace a desviar o olhar com o clarão.

Os ventos resultantes mandaram-nos para trás, cada um conseguindo parar com o sangue do idiota derramado no chão. Havia um corte profundo em um dos dedos, que já começara a ser curado…

Mas, acho que Lawrence saiu dessa pior. Olhando para ele, vi o estado do braço e sorri. Ainda que não fosse significativo, houve uma fratura ali, e ele sabia disso.

Sem uma forma de se curar, ele teria de lutar com um braço enfraquecido. Considerando que estava contra a parede até agora…

Seu merda… — falou, o rosto numa carranca de pura fúria. Sorri, agora era só uma questão de Lewnard acabar com isso.

Algo não está certo… sinto como se esquecesse de algo…

Avançando, estava pronto para acabar com isso; quando, num movimento que quebrava qualquer lógica, Lawrence simplesmente desapareceu em pura velocidade; reaparecendo atrás dele, com dois fios enrolados no pescoço do idiota.

Aposto que tava se achando, não é? Que achou ser forte só porque quebrou meu braço? Só porque conseguiu me superar em força?! Que pena! Agora olha para você!

Estava delirando? Não, não era bem isso. Esse olhar cheio de ódio está direcionado para algo que não podemos ver…

Continuou tentando arranhar os fios, a Capa Telecinética sendo a única defesa que tinha.

A sina de sangue dos Jugram… Sabe o que ela faz, Ladrão de Yw?

Agora entendi… então é a Batalha contínua?

Isso é um problema. Há duas características que tornam a linhagem dos Jugram tão forte. A primeira é a técnica de moldagem de Energia Astral em um formato sólido. A segunda, uma que só pode ser desperta nos descendentes diretos de Cana.

A sina de sangue é uma marca daqueles que carregam o legado dos portadores. A exposição constante à radiação Astral muda algo em nível genético, dando habilidades sobre-humanas para eles.

A dos Jugram, Batalha Contínua, permite que sua conexão com o Plano Astral se torne mais profunda e forte conforme a produção de adrenalina aumenta.

Simplificando, quanto mais eles apanham, mais forte eles batem.

O problema, o motivo pelo qual é uma péssima ideia para qualquer outro Portador fazer uma missão conjunta com Absalão, está na forma como isso afeta o mental deles.

Usar a Conexão Astral pela primeira vez, normalmente, dá uma sensação de divindade, de ser o centro do universo. Lewnard já experimentou isso, no início, quando herdou o diário, e mais recentemente, quando enfrentou aquele Esper.

Agora, com uma carga de adrenalina constantemente aumentando a força da conexão, naturalmente apenas aqueles com uma disciplina mental conseguem se manter focados…

E esse pirralho não teve ninguém que ensinou isso a ele.

Como é a sensação de ter seu desejo tirado de si, Lira Jugram? Dói, não é? Bem, essa dor não se compara com a minha! Agora, vê se vai pro inferno!

Desistindo de cortar os fios, pôs uma mão no abdômen do pirralho e explodiu uma Bala Astral, forçando-o a desfazer os fios com a dor. Pulando para fora, inspirou fundo, tendo de desviar de mais fios, cada um carregado de vendavais e cargas elétricas.

Lewnard então apontou a mão para ele e concentrou-se, com um comando mental, sangue jorrou livremente de um corte profundo, tão fundo que forçou Lawrence a parar.

Esse idiota… ele ainda está se segurando, mesmo sabendo que o oponente quer matar ele com todas as forças… Mesmo sabendo que este está atrás de Grace, sua irmã…

Se ele quisesse, poderia ter usado o conceito de ferimentos ainda mais efetivamente.

Bem, acho que esse será um bom teste para essa determinação. Então vá e me mostre, Lewnard Hollick.

Mostre que estou errado.

Ou morra tentando.

 


Caso queiram ajuda com questões literárias, abri um serviço de consultoria literária. Se possível, venham dar uma olhada: 

Ou acessem meu Whatsapp: (51) 982867579
 
Além disso, caso queiram atualizações dos capítulos e outros produtos, deem uma olhada no meu server: https://discord.gg/VbdF4VmU
E também, caso queiram melhorar a escrita, entrem no server da Novel Brasil: https://discord.gg/novelbrasil

E um agradecimento especial ao Luiz Gê, que financiou esse combo! Espero que continue me dando esse suporte.




Comentários