Volume 3

Capítulo 77: O juramento e o irmãozinho

Assim que a conferência sobre o futuro curso do país aconteceu no caótico campo, Rudel chamou Izumi e os outros para uma tenta que foi montada temporariamente. Reunindo Luecke, Eunius e Aleist, ele começou a explicar tudo em ordem. O Javali negro, o Pássaro sinistro, a névoa negra... e ele os contou sobre Sakuya. Ele falou lentamente para que suas emoções ficassem sob controle.

Assim que Rudel calmamente prosseguiu, ele mostrou uma terrível frieza.

Ele mostrou a carta de Sakuya, que foi entregue a Lena, para todos.

Ele contou sobre como Sakuya, com sua vida acabando, sacrificou essa vida pelo bem dele. Quando ele fez isso, Aleist o socou. Ficando emotivo, ele encheu Rudel de xingamentos.

(Aleist): “Para o inferno com isso! Se você tivesse controle sobre as coisas, então não teria aparecido um problema, merda! Por que você parece tão indiferente!? Ela morreu por você, não foi!?”

Eunius e Luecke o seguraram e pelas mãos deles, ele foi puxado para fora da tenda. No fim, Luecke e Eunius decidiram deixar o espaço para Izumi.

(Luecke): “É todo seu”

(Eunius): “Não se preocupem, nós vamos acalmar este cara”

(Aleist): “Hey! Esperem! Eu ainda tenho algo que quero falar...”

Confirmando que eles deixaram a tenda provisória, Rudel se levantou e mostrou um sorriso amargo.

(Rudel): “Haha, eu não esperava isso. E pensar que eu seria socado por Aleist”

Ele se levantou, mas desviou seus olhos de Izumi. Talvez cansada pela longa viagem, Sakuya estava dormindo tranquilamente na tenda. Izumi colocou uma mão na testa de Sakuya enquanto ela chamava Rudel. Rudel tinha certeza que ela iria repreende-lo.

Ele sabia que fez o bastante para merecer isso e ele planejava aceitar tudo isso. Mas as palavras de Izumi trairam suas expectativas.

(Izumi): “Você chorou Rudel?”

(Rudel): “??? Yeah, eu acho que chorei... eu estava chorando no momento que abri meus olhos. Eu mal me lembro disso, mas eu chorei e caminhei para fora da caverna. Havia muitos Dragões voando nos céus. Parecia que eles estavam celebrando o nascimento de Sakuya”

Rudel tentou mudar o assunto da conversa, mas Izumi não ligou para isso.

(Izumi): “Entendo... você chorou depois disso?”

(Rudel): “Não, eu acho que não. Eu estava muito ocupado. Nós tivemos que treinar Sakuya para ela voar e havia muitas coisas que eu precisava escutar. Eu perdi completamente minha noção de tempo e até que o mensageiro da Princesa aparecesse, eu nem mesmo tinha notado. A partir daí eu apressadamente me preparei para voltar para a mansão e cheguei por pouco na hora. Não, eu cheguei atrasado”

“Eu aprendi uma nova técnica”, Rudel riu enquanto falava. Izumi ponderou se Rudel estava ocupado dando o seu melhor para não pensar nisso.

Enquanto Rudel falava com certo gracejo, Izumi abraçou Rudel, envolvendo seu corpo com força ao redor dele. O rosto de Rudel estava enterrado nos peitos dela. Assim que a força deixou seu corpo, Rudel desmoronou sob seus joelhos e Izumi sentou para ficar na altura dele.

(Izumi): “Eu sinto muito. Por deixar você enfrentar toda essa dor sozinho... está tudo bem. Você pode chorar se você quiser Rudel”

Izumi gentilmente acariciou a cabeça dele. Rudel derramou lágrimas enquanto ele compartilhava seus próprios sentimentos. Rudel nunca pôde contar com ninguém, mas a verdade era que ele era péssimo em confiar nas pessoas. Para Rudel, que nunca contou com ninguém desde sua infância, ele era incapaz de compreender os eventos acontecendo a seu redor.

Na verdade, ele só tinha entendido as ações de Sakuya assim que tudo acabou.

(Rudel): “Se-se eu só tivesse sido mais sensato! É como Aleist disse. Se eu apenas tivesse prestado atenção em Sakuya, isso nunca teria acontecido! Mas alguma parte do meu coração está na verdade feliz. Eu consegui um Dragão. Eu sou o pior. O pior pedaço de lixo! Mesmo assim... mesmo assim, para alguém como eu, Sakuya...”

Na carta que Sakuya deixou para trás como um testamento, havia muitas palavras para Rudel. Izumi reconheceu a afeição de Sakuya por ele. Mas essa percepção apenas tornou tudo mais doloroso.

(Rudel): “Ela me disse para ser o mais forte. Ela me disse para proteger alguém! Eu não tenho escolha além de fazer isso! Mesmo eu sendo assim, essa é a minha promessa com ela... eu... eu tenho que continuar a ser o Cavaleiro ideal de Sakuya. Eu preciso continuar a ser o mais forte ou eu nunca serei capaz de olhar nos olhos dela!”

Como se a corda que o prendia tivesse sido cortada, Rudel despejou suas emoções. Assim, o que Rudel estava guardando dentro de seu peito saiu. Saiu com lágrima após lágrima.

(Izumi): “Você não precisa enfrentar isso Rudel. Você pode chorar agora”

Rudel chorou ruidosamente, e Izumi o segurou o tempo todo. Izumi também estava derramando lágrimas.

Fora da Tenda, havia três pessoas escutando a conversa deles. Eram Luecke, Eunius e Aleist. Apenas Aleist estava depressivo, se arrependendo do fato de ter batido em Rudel. Aquele que cuidou de Sakuya foi Rudel, e ele se lembrou de como ele não fez nada por ela.

Eunius e Luecke pensaram nos eventos anormais e, enquanto eles pensavam, eles olharam para o céu.

(Aleist): “Po-por que eu sempre...”

(Luecke): “Não, nem você nem Rudel nunca leram o clima. Essa seria a primeira vez”

Cortando um depressivo Aleist com uma simples frase, Luecke se lembrou do conteúdo da carta de Sakuya. Ele também estava nela e ela escreveu que foi divertido. Ele estava vendo Sakuya, que sabia que iria morrer e mesmo assim escondeu seus sentimentos, com uma nova luz.

Eunius refletiu de forma parecida. Ele viu ela de forma nova e lançou algumas palavras para o céu. Mesmo que ele soubesse que elas não alcançariam o alvo, ele não podia apenas deixar de fala-las.

(Eunius): “Por Deus, ela realmente era uma boa mulher. Eu devia ter chamado ela para sair”

O céu se pintou de vermelho com o crepúsculo. Parte disso foi sufocante.


A carta de Sakuya.

Com suas enormes e horrorosas letras, Sakuya deixou uma carta. Era um tipo de testamento, mas a carta em questão não foi escrita com essa intenção. Ela simplesmente queria escrever seus sentimentos.

Estou feliz de ter ido para a academia. Eu estava feliz.

Eu não tive tempo, mas mesmo eu fui capaz de ter um sonho.

Meu sonho nunca se tornará realidade, mas eu vou virar um dos Dragões então.

Eu vou virar uma Dragoon com Rudel, então talvez ele se torne realidade?

Obrigado a todos.

Ela escreveu vários nomes abaixo disso; das pessoas que cuidaram dela. Começando com Rudel, ela até escreveu os nomes das funcionárias da cafeteria. Apenas Aleist e Fina foram tratados de forma duvidosa. “Aleist Estúpido” e “Fina Esquisita”. Ela agradeceu a ambos também.

Ela escreveu “obrigado” muitas vezes. Assim que a carta chegou na metade, ela escreveu suas memórias até aquele ponto e os sentimentos que ela tinha por Rudel. Assim que a carta mudou para essa parte, havia muitas partes em que o texto estaria borrado. Estava claro que ela escreveu enquanto chorava. Ela escreveu que estava feliz por ele ler os livros ilustrados para ela.

Ela escreveu que estava feliz por poder comer tantos doces. Ela foi capaz de fazer tantos amigos... a última parte estava tão manchada que era difícil ler. Havia vestígios de que ela reescreveu essa parte várias vezes. Ela deixou palavras de gratidão para Izumi.

Você acha que alguém vai se lembrar de mim? Você acha que Izumi vai chorar?

Se ela ler isto, isso significa que eu já parti, não é?

Eu fui útil? Eu tive alguma utilidade para Rudel?

Eu encontrei meu motivo para viver. Obrigado Rudel.

Eu vivi uma longa vida, mas esses poucos anos foram os mais divertidos que eu já tive.

Despedidas são tristes, mas obrigado por tudo.

Tchau, tchau.

E assim, a carta com letras horríveis chegou ao fim.


Assim que ele terminou de chorar, Rudel se levantou e limpou suas lágrimas. Vendo Sakuya dormindo, o rosto dele ficou aliviado. Decidindo que ele não iria mais chorar, Rudel tocou sua mão na testa de Sakuya. Izumi se levantou também, colocando sua mão em Sakuya de forma similar.

A gema azul na testa dela refletiu os dois como um espelho.

(Rudel): “Obrigado Sakuya, é graças a você que eu fui capaz de virar um Dragoon. Eu nunca irei te esquecer”

(Izumi): “Sakuya, você salvou Rudel. Você foi muito mais do que útil... eu nunca esquecerei de você Sakuya”

Rudel e Izumi uniram suas mãos. A enorme gema na testa de Sakuya brilhou como se Sakuya estivesse respondendo.

Enquanto os dois sorriam, Rudel afirmou um juramento para si mesmo.

(Rudel): “Eu não estou mais sozinho. Meu sonho era um sonho que todos tornaram realidade... agora é a minha vez de garantir os sonhos de todos. Eu vou ser o Cavaleiro que todos desejam. Eu vou ser o mais forte de todos os Cavaleiros. Eu vou me tornar o mais forte dos Dragoons!”

Rudel respirou profundamente antes de murmurar o resto.

(Rudel): “Eu não vou deixar este sonho acabar com o meu próprio egoísmo”

Como se fosse para responder as palavras finais de Sakuya, Rudel fez esse juramento para o Dragão dormindo.

Fora da tenda, Aleist chorava enquanto ele murmurava que nunca esqueceria Sakuya. Luecke fechou os olhos enquanto rezava para que ela descansasse em paz.

Eunius olhou para o céu, jurando que ele nunca se esqueceria.


Nos próximos meses, as notícias de Rudel se espalharam por todo o |Reino de Courtois|. Elas se espalharam na forma de um artigo, elogiando o Cavaleiro Branco que se tornou um Dragoon. A pessoa que estava lendo o artigo era Chlust, o garoto que foi enviado para as fronteiras do Reino.

Depois de passar um ano de sua vida na fronteira, ele leu o artigo sobre seu irmão Rudel em cima de sua mesa com um sorriso em seu rosto. O irmão que treinou ele se tornou um Dragoon. Como seu irmão mais novo, era algo que o orgulhava.

(???): “Oy, Capitão, eles escreveram algo interessante?”

Chamando Chlust de Capitão e se aproximando estava um homem enorme com o rosto não barbeado. Ele era um plebeu da periferia que se tornou Cavaleiro e ele servia como ajudante de Chlust. Nesta fortaleza longínqua onde Cavaleiros nobres raramente provavam ser de algum uso, ele era um homem que fez pouco caso de Chlust no início.

Mas dentro do intervalo de um ano, Chlust ganhou o respeito do homem.

(Chlust): “Yeah, meu irmão se tornou um Dragoon. Eu estava apenas comemorando”

Assim que ele mostrou o artigo, o enorme homem não barbeado leu com seus olhos arregalados.

(Ajudante): “Isto é incrível. Então o irmãozão do Capitão é de elite! Bem, ele ainda é jovem e sem experiência real de combate, então talvez você seja o mais forte”

“Gahaha”, o enorme homem deu uma gargalhada. Assim que Chlust se lembrou de Rudel, ele estava certo de que seu irmão tinha ficado ainda mais forte do que antes, então ele provavelmente não seria capaz de vencer. Se lembrando do rigor de Rudel, Chlust mostrou um sorriso amargo.

(Chlust): “Mais importante que isso, alguma coisa aconteceu?”

(Ajudante): “Oh, é verdade. Você se lembra dos corpos dos monstros estranhos e dos ataques a vilas que aconteceram nessa região? Parece que a área finalmente se acalmou, mas eles começaram a atacar ao redor de outro forte. Eu ordenei aos homens que não baixassem a guarda, mas... hah”

Assim que o homem enorme suspirou, Chlust suspirou também. Começando com os superiores do forte, os Cavaleiros de nascimento nobre dormiam pela manhã e não acordariam até o meio-dia. Mesmo que eles fossem acordados, eles iriam beber cerveja e seguir para vilas próximas. Eles até colocavam as mãos nos recursos do forte.

Desde que Chlust começou a administrar os bens, até mesmo eles sabiam que não podiam ir contra o nome Arses. Mas suas atitudes não mudaram nem um pouco.

(Chlust): “Entendido, eu vou fazer algo sobre o relatório. Eu vou ter que reorganizar a composição do pelotão mais tarde”

(Ajudante): “É todo seu Capitão. Nós temos confiança na nossa força, mas relatórios nem pensar. Eles são tão ruins que você vai chorar de pena. Com os outros caras, eles vão aceitar se eu falar que o capitão vai cuidar disso”

Em um ambiente duro, Chlust cresceu também. Guardando o artigo sobre seu irmão em sua mesa, Chlust pensou no relatório e na composição da tropa enquanto ele reunia alguns documentos sob sua responsabilidade. Alguns dos documentos recentes foram coletados da estante de livros.

De lá, ele puxou arquivos necessários.

Eles estavam aumentando ultimamente, os relatórios de um Ogro Negro. Ainda estava no nível de um rumor, mas eles diziam que um Ogro Negro estava atacando |Courtois|. Com a aparição de um monstro que ninguém ouviu falar antes, Chlust também pressentiu um senso de crise.

Em certas vilas, ele atacaria apenas humanos; em outras, ele iria apenas destruir o rebanho. Pelo testemunho dos aldeões, eles escutaram vozes humanas também.

Mas no forte de Chlust, o assunto foi tratado como um engano da parte dos aldeões. Era inimaginável que humanos iriam agir ao lado de um Ogro. E com o fato de que ele só atacava rebanhos, a conclusão era que ele queria encher o estômago.

Reunindo os documentos, Chlust começou a investigação do Ogro Negro.



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