Volume 1 – Parte 4
Capítulo 23
Suas mãos tremiam, balançando o candelabro e tremeluzindo ainda mais a luz que ele exalava. As chamas avermelhadas e bruxuleantes sob o corredor a apertaram, ao ponto do insuportável. As paredes, a cada instante mais próximas da dama de branco, inchavam sua cabeça por dentro e faziam as palavras de seu marido ressoar como uma afronta.
“Fará tudo isso?”
Tudo isso o que?!
Em meio a desordem e o inchaço de sua cabeça, não percebeu quando a dupla de homens se aproximou da porta. O som da maçaneta girando soou e seus pés se atrapalharam ao pisar no piso de madeira, para longe dali. As portas do corredor passaram sem ela perceber e por um mero instante olhou para trás. Viu a silhueta de seu marido atravessando a porta do cômodo instantes antes de ela se esconder em seu próprio quarto.
Não fechou a porta, apenas a encostou, o suficiente para ainda houvesse uma fresta para enxergar a dupla distante dali. Eles dois continuaram a conversar, como se nada tivesse acontecido.
Porém, dali onde estavam, ela não podia ouvi-los. Notou apenas a proximidade dos dois, a figura desconhecida sussurrando ao ouvido do marido — enquanto os pés dele batiam repetidas vezes no piso de madeira, ressoando por todo o corredor.
Quando se afastaram, uma troca de aceno breve pareceu encerrar o assunto e a figura sinistra retirou sua mão do manto preto. Tinha dedos ossudos e atrofiados, com veias saltadas e verdes por de baixo de uma pele extremamente pálida. Eles então apertaram as mãos e por um longo tempo, o marido sorriu para a figura sinistra.
— Vai dar tudo certo! — Falou, o som atravessando o corredor e chegando aos ouvidos de sua esposa.
…