Vol 1
Capítulo 4: O Sorriso da Ninfa
Maomao soube da morte do príncipe quando distribuíram faixas pretas de luto durante a refeição da noite. As mulheres usariam essas faixas por sete dias para demonstrar sua tristeza.
No entanto, o que mais provocou suspiros não foi o luto em si, mas o anúncio de que a já escassa porção de carne seria cortada totalmente nesse período.
As serviçais comiam duas vezes ao dia, basicamente mingau de painço e sopa, com um ou outro legume. Isso era suficiente para a pequena Maomao, mas muitas das mulheres achavam a refeição muito pouco para se sustentarem.
Havia entre as serviçais de nível mais baixo todo tipo de mulher: algumas vinham de famílias de camponeses, outras eram garotas da cidade, e — embora raro — havia até filhas de oficiais. As filhas da burocracia recebiam um pouco mais de respeito, mas, no fim, o trabalho que uma mulher conseguia dependia apenas de seu próprio mérito.
Uma garota que não soubesse ler nem escrever, por exemplo, jamais poderia aspirar a se tornar uma consorte com seus próprios aposentos. Ser consorte era, afinal, um emprego — inclusive com salário.
No fim das contas, talvez nada disso importasse.
Maomao sabia o que havia matado o jovem príncipe: o uso liberal do pó branco por Consorte Lihua e suas serviçais para cobrir o rosto.
Aquele pó era tão caro que um cidadão comum não poderia sequer sonhar em usá-lo uma vez na vida.
Algumas das cortesãs mais estabelecidas no bordel tinham acesso a ele. Algumas ganhavam tanto em uma única noite quanto um camponês em toda a sua vida, e podiam comprar seus próprios cosméticos. Outras recebiam o pó como um presente luxuoso.
Essas mulheres se cobriam com o pó da face até o pescoço — e, pouco a pouco, o pó começava a corroer seus corpos. Algumas acabavam morrendo por causa disso. O pai de Maomao havia tentado alertá-las para pararem de usar o produto, mas elas o ignoraram.
Maomao, ao lado de seu pai, viu com seus próprios olhos várias cortesãs definharem e morrerem. Elas haviam colocado suas vidas na balança — e, no fim, escolheram a beleza.
E era por conta disso que Maomao havia quebrado alguns galhos que encontrou pelo caminho, rabiscado mensagens curtas para cada uma das consortes e deixado-as à vista. Não que ela realmente esperasse que alguém fosse dar ouvidos a um aviso vindo de uma simples criada — uma garota que nem sequer tinha acesso a papel ou pincel.
Quando o período de luto terminou e as faixas pretas desapareceram, Maomao começou a ouvir rumores sobre a Consorte Gyokuyou. Diziam que, após a perda do príncipe, o Imperador — aflito de dor — passou a buscar consolo junto de Gyokuyou e da filha sobrevivente. Já para Consorte Lihua, que também perdera seu filho, ele não dedicava visita alguma.
Que conveniente para ele, pensou Maomao, enquanto esvaziava sua tigela de sopa — que naquele dia vinha com uma lasquinha quase simbólica de peixe.
Depois de limpar seus utensílios, seguiu para o trabalho.
“Uma intimação, senhor?” — perguntou, surpresa, enquanto carregava um cesto de roupas.
Um eunuco a havia parado, ordenando que ela se apresentasse ao escritório da Matrona das Criadas.
O Escritório das Criadas era um dos três grandes departamentos que organizavam o trabalho no interior do palácio. Cuidava justamente da supervisão das serviçais de menor categoria.
Os outros dois departamentos eram o Escritório do Interior — encarregado das consortes — e o Departamento de Serviços Domésticos, que ficava sob a responsabilidade dos eunucos.
“O que eles querem comigo?” Maomao perguntou, intrigada.
Ela havia percebido que o eunuco também chamava outras serviçais que estavam por perto. Fosse o que fosse, não envolvia apenas ela. Devia ser alguma tarefa que precisava de mais mãos, pensou.
Deixou o cesto no lugar certo e foi seguindo o eunuco.
O prédio da Matrona das Criadas ficava logo ao lado de um dos portões principais — um dos quatro que separavam o palácio interno do mundo exterior.
Era por aquele portão que o Imperador passava quando ia visitar suas consortes.
Mas apesar de ter sido convocada oficialmente, Maomao não se sentia nem um pouco à vontade naquele lugar. Embora fosse um pouco mais modesto do que a sede do Escritório do Interior — localizada bem ao lado —, ainda assim era visivelmente mais ornamentado do que as residências das consortes de nível médio. O corrimão exibia entalhes elaborados, e dragões coloridos subiam pelos pilares vermelhos como sangue.
Empurrada para dentro, Maomao achou o interior menos impressionante do que esperava: o cômodo possuía apenas uma grande escrivaninha como mobília. Havia cerca de dez outras criadas ali, todas parecendo tomadas por ansiedade, expectativa e uma certa excitação nervosa.
"Muito bem, obrigado. As demais podem se retirar" — disse o eunuco.
Hein? Maomao estranhou ser separada das outras dessa forma.
Obediente, entrou sozinha na sala seguinte, enquanto as demais saíam lançando olhares desconfiados em sua direção.
Mesmo para o gabinete de uma oficial, o espaço era enorme. Maomao, curiosa, lançou o olhar ao redor — e percebeu que todas as criadas estavam voltadas na direção de uma pessoa em particular.
Sentado discretamente num canto, havia um "alguém" acompanhado por um eunuco. Não muito longe, encontrava-se outra mulher, já de idade, que Maomao reconheceu como sendo a Matrona das Criadas. Mas a pessoa sentada ao lado... essa ela não conhecia.
Hmm?
Logo reparou que aquela figura tinha ombros largos demais para uma mulher, além de vestir-se de maneira muito simples.
O cabelo, quase todo preso por uma espécie de lenço, descia em mechas soltas pelas costas.
É um homem?
Ele observava as criadas com um sorriso tão suave e gentil quanto o de uma ninfa celestial.
Até mesmo a Matrona corava feito uma jovem.
De repente, Maomao entendeu o rubor generalizado nos rostos à sua volta: aquele só podia ser o belíssimo eunuco de quem ela tanto ouvira falar.
Seus cabelos eram finos como seda, a presença quase líquida, os olhos amendoados e as sobrancelhas curvadas lembravam os galhos flexíveis de um salgueiro. Nem mesmo uma ninfa pintada num pergaminho sagrado poderia competir em beleza com ele.
[Mon: Jinshi sendo a “mulher” mais linda da Light Novel akakakak]
Que desperdício, pensou Maomao, sem esboçar nem o mais leve rubor.
Os homens no palácio traseiro eram todos eunucos, privados de sua capacidade de reprodução.
Agora, faltava-lhes o que precisavam para gerar filhos.
Quão deslumbrantes seriam os filhos desse homem, continuaria sendo apenas uma questão de imaginação.
Justo quando Maomao estava pensando (com uma boa dose de insolência) que uma beleza quase sobre-humana como aquela poderia até atrair a atenção de Sua Majestade, o eunuco se levantou com um movimento fluido.
Foi até uma escrivaninha, pegou um pincel e começou a escrever com movimentos elegantes de sua mão e braço.
Então, com um sorriso tão doce quanto a ambrosia, ele mostrou seu trabalho para as mulheres.
Maomao congelou.
Você aí, com as sardas, dizia a mensagem. Fique aqui.
Pelo menos esse era o sentido.
O belo homem deve ter notado a reação de Maomao, pois se voltou totalmente para ela, oferecendo-lhe o sorriso mais radiante. Ele enrolou o papel novamente e bateu palmas duas vezes.
"Terminamos por hoje. Podem voltar aos seus aposentos."
As mulheres saíram, lançando olhares desapontados por sobre os ombros. Elas jamais saberiam o que estava escrito no papel da ninfa.
Maomao observou-as saírem e, após um momento, percebeu que todas eram mulheres pequenas, com sardas proeminentes. Mas elas não haviam dado atenção ao sinal, o que significava que não sabiam ler.
A mensagem era só para Maomao.
Ela se preparou para sair com as outras, quando sentiu uma mão firme sobre seu ombro. Com muito medo e tremor, virou-se e se viu frente a frente com o sorriso quase cegante do homem-ninfa.
"Agora não pode fazer isso," ele di
sse. "Quero que você fique."
Aquele sorriso — tão ousado, tão brilhante — não aceitaria um "não" como resposta.
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