Vol 1

Capítulo 11: O Assunto Perturbador do Espírito (Parte 2)

  O sonambulismo era uma das condições mais misteriosas. Fazia com que a pessoa se movimentasse como se estivesse acordada, mesmo estando dormindo. A causa podia ser algum tipo de perturbação no coração — algo que nenhum tipo ou quantidade de remédio poderia curar. Pois não existia medicina capaz de acalmar um espírito inquieto.

 

Maomao conhecia uma cortesã que sofrerá desse mal. Era uma mulher de temperamento alegre, boa cantora, e havia até um homem interessado em comprá-la do bordel. Mas as negociações fracassaram, pois todas as noites ela vagava pelo bordel como uma possessa. Rumores desagradáveis começaram a persegui-la. Quando a dona do bordel tentou contê-la certa noite, a mulher a arranhou tão violentamente que a fez sangrar.

 

No dia seguinte, as outras cortesãs a confrontaram sobre o ocorrido, mas a mulher disse alegremente: "Ora, meninas, do que estão falando?"

 

Ela não se lembrava de nada — mas seus pés descalços estavam cobertos de lama e arranhões.

 

Claro! Aqui está o trecho com os travessões substituídos por aspas nas falas dos personagens:

                                  ⭘⬤⭘

"E o que aconteceu com ela?" perguntou Jinshi. Ele, Maomao e Gaoshun estavam juntos na sala de estar, acompanhados da Consorte Gyokuyou. Hongniang cuidava da pequena princesa.

 

"Nada", respondeu Maomao secamente. "Quando as conversas sobre sua emancipação cessaram, ela parou de andar pelo bordel."

 

"Então foi isso que a perturbou?" perguntou Gyokuyou, com um olhar confuso.

 

Maomao assentiu. "Parece provável. O pretendente era chefe de um grande negócio, mas já tinha esposa, filhos e até netos. O contrato dela terminaria em mais um ano de trabalho, de qualquer forma." Talvez ela tenha preferido trabalhar por mais um ano a ser forçada a casar com um homem por quem não tinha interesse. No fim, a mulher cumpriu o restante do contrato sem receber mais nenhuma oferta de compra.

 

"Agitações emocionais intensas frequentemente resultam nesse tipo de comportamento errante, então tentamos dar a ela perfumes e medicamentos para acalmá-la." Eles a relaxaram um pouco, mas não fizeram muito mais. Maomao sempre era quem preparava as misturas, não seu pai.

 

"Hmm" — resmungou Jinshi, com um toque de tédio. — "E é só isso mesmo?"

 

"Só isso." Maomao se esforçou para não zombar do olhar entediado de Jinshi. Gaoshun, ao lado dele, a encorajava silenciosamente nesse esforço. "Se não precisam de mais nada, devo voltar ao trabalho" — disse Maomao. Então se curvou e saiu da sala.

 

Voltemos um pouco no tempo. No dia seguinte ao que viu o espírito, Maomao foi ver sua tagarela favorita, Xiaolan. Xiaolan vivia tentando arrancar informações sobre Gyokuyou de Maomao, então, dessa vez, Maomao lhe ofereceu algumas trivialidades em troca do que ela sabia sobre o fantasma.

 

O problema havia começado cerca de duas semanas antes. O espírito fora visto pela primeira vez no setor norte. Pouco tempo depois, passou a ser visto também no setor leste, e então começou a aparecer todas as noites. Os guardas, assustados com a situação, não fizeram nada. Mas, como a aparição não causava nenhum dano, ninguém os puniu por sua inação.

 

Parece que o fosso profundo, os altos muros e a aparente impenetrabilidade do palácio dos fundos haviam deixado os guardas suscetíveis a esse tipo de medo. Inúteis para a segurança.

 

Depois, Maomao foi até o charlatão. Sua língua solta revelou algo novo — sobre a Princesa Fuyou, e como ela vinha passando mal ultimamente. Ela era a terceira princesa de um estado vassalo tão pequeno que poderia ser varrido com um dedo; embora tivesse o título de "princesa", na prática era pouco mais do que uma concubina de alto escalão. Tinha um edifício no setor norte. Gostava de dançar, mas era nervosa e tensa, e já havia cometido um erro durante uma apresentação para Sua Majestade. As outras consortes presentes riram dela.

 

Desde então, ela se recusava a sair do quarto. Uma alma sensível, poderia-se dizer.

A princesa Fuyou não possuía qualidades marcantes além da dança, e dizia-se que, nos dois anos desde que viera para o palácio dos fundos, Sua Majestade não havia passado sequer uma noite com ela. Agora, ela seria dada em casamento a um oficial militar, um velho amigo seu, e esperava-se que pudesse ser feliz.

"Papai sempre dizia para não falar nada baseado em suposições", pensou Maomao.

E assim, decidiu não fazê-lo.

 

A princesa, pálida e recatada, estava corada ao atravessar o portão central. Não era incomumente bela, mas sua felicidade evidente provocava exclamações de admiração entre os presentes. Um olhar coletivo de expectativa se voltou para o portão.

Se alguém fosse ser dada em casamento, esse era o ideal. Era assim que deveria parecer.

 

"Você pode ao menos me contar, não pode?" — disse a Consorte Gyokuyou com um sorriso radiante. Apesar de já ser mãe de uma menininha, não tinha nem vinte anos, e o sorriso tinha algo de irreverente.

"O que eu faço agora?", pensou Maomao. A Consorte Gyokuyou a olhava fixamente, com seu melhor olhar inquisitivo, e não recuava, até que, por fim, Maomao cedeu.

"Se entender que o que vou dizer é, no fim das contas, apenas especulação", disse com um suspiro. "E se prometer que não vai ficar brava."

"Claro que não vou ficar brava. Fui eu quem perguntou."

Hrrrm. Parecia que não havia mesmo escolha a não ser falar. Maomao se preparou.

"E você não vai contar a mais ninguém."

"Meus lábios estão selados." Gyokuyou soava quase despreocupada, mas Maomao decidiu confiar nela. Então contou à consorte a história da cortesã sonâmbula. Não a que contara para Jinshi e os outros no dia anterior.

 

Uma história diferente.

Assim como a outra cortesã, a condição começou a se manifestar quando um pretendente propôs comprá-la de seu contrato. As negociações fracassaram — até aí, tudo igual à outra história. Mas essa mulher não parou de andar durante o sono, e os perfumes e medicamentos que aliviaram a primeira cortesã não surtiram nenhum efeito nela.

Depois, outra pessoa ofereceu comprá-la. A madame disse que não poderia passar adiante uma pessoa doente daquela forma, mas o pretendente insistiu que ainda estava interessado. E assim, o acordo foi selado — por metade do valor em prata da oferta do primeiro homem.

"Descobrimos depois que tudo não passava de um golpe."

"Um golpe?"

O primeiro homem que fizera a proposta era amigo do segundo. Sabendo que a mulher fingiria estar doente, ele então rompeu as negociações. Em seguida, seu amigo apareceu e a comprou por metade do preço.

"Essa cortesã ainda tinha um tempo considerável de contrato pela frente, e a prata que o homem pagou não cobria o valor total."

"E você está sugerindo que essas mulheres e a princesa Fuyou têm algo em comum?"

 

O oficial militar, o velho amigo, poderia até ser do mesmo estado vassalo, mas, ainda assim, não tinha posição social suficientemente elevada para se casar com uma princesa. Ele esperava realizar feitos valorosos o bastante para um dia poder pedir sua mão. A política interveio, e Fuyou acabou no palácio dos fundos. Ainda ansiando por seu oficial, a princesa sabotou de propósito sua dança — até então impecável — para garantir que não chamaria a atenção do Imperador. Depois, trancou-se no quarto, até tornar-se quase uma sombra dentro do palácio.

Exatamente como planejara, permaneceu pura ao fim de dois anos, já que o Imperador jamais a visitara. O oficial militar realizou seus feitos, e agora que receberia a princesa Fuyou em casamento, ela começava a manifestar essas misteriosas caminhadas. Estava tentando garantir que Sua Majestade não teria motivo algum para mudar de ideia e decidir fazê-la sua concubina.

 

Afinal, há certos homens poderosos e inescrupulosos que não suportam ver uma mulher ir para outro, mesmo que nunca a tenham valorizado. Se Sua Majestade levasse a princesa Fuyou à sua câmara, ela não poderia se casar até bem mais tarde. E a própria Fuyou, zelosa com sua castidade, não conseguiria encarar seu amigo de infância após ter passado uma noite com o Imperador.

Além disso, talvez sua dança junto ao portão leste fosse, em parte, uma prece pela segurança de seu amigo nas expedições.

"Mais uma vez, tenho que reforçar que tudo isso é apenas especulação", disse Maomao com calma.

"Bem... Não posso dizer que você está errada quanto a Sua Majestade."

 

O imperador lascivo talvez realmente se interessasse por alguém que um de seus subordinados valorizava tanto. Ele visitava Gyokuyou a cada poucos dias, e algumas das noites em que não vinha poderiam ser atribuídas a deveres oficiais. Mas não todas.

Uma das obrigações de Sua Majestade era gerar o maior número possível de filhos.

"Acho que seria horrível da minha parte dizer que senti ciúmes da princesa Fuyou."

Maomao balançou a cabeça. "Não acho que seja."

 

Ela estava mais ou menos convencida de que havia entendido tudo corretamente, mas não sentia nenhuma vontade especial de contar a Jinshi. Todas as mulheres envolvidas estariam mais felizes assim. A ignorância dele era a felicidade delas. Queria que o sorriso da princesa continuasse tão suave e inocente quanto era.

 

Parecia que tudo estava resolvido...

Mas, na verdade, ainda restava um mistério.

"Como foi que ela conseguiu subir até lá?" Maomao perguntou, olhando para uma parede quatro vezes mais alta do que ela. Talvez tivesse que investigar isso algum dia.

 

Naquela noite, enquanto dançava, a Princesa Fuyou parecia realmente deslumbrante, como a heroína de um daqueles pergaminhos ilustrados que as mulheres tanto gostavam. Era quase difícil acreditar que fosse a mesma mulher estoica e reservada.

Maomao voltou ao Pavilhão de Jade, mas seus pensamentos eram menos elevados que isso: se ao menos pudesse engarrafar o amor. Que remédio seria esse, capaz de tornar uma mulher tão bela?

 

 

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