Volume 2
Capítulo 74: Grande recompensa (3)
— Meu pai era um lixo humano. Minha mãe saía de casa cedo e, quando cresci, comecei a ter hematomas por todo meu corpo. Eu não podia aguentar mais. Quando recuperei minha consciência pela última vez, estava no meio do nada.
A voz dela estava calma, como se estivesse contando a história de outra pessoa. Hye Mi chegou ao Centro de Socorro Emergencial há um ano, e também existiam outras crianças em situações semelhantes reunidas no local.
— O tratamento que recebi não foi dos melhores. Bem, essa é a mentalidade do povo coreano. É o papel dos pais punir os filhos. Fui vista como uma marginal que fugiu de casa porque não gostava do ambiente. Até agora, minha explicação parece ser tratada como drama.
Essas não eram memórias agradáveis. Ainda assim, Hye Mi continuou falando com uma expressão calma. Parecia que sua tristeza já havia diminuído com o passar do tempo.
— É estranho, não é? Esse lugar parecia reunir todo o tipo de miséria existente. Quando eu estava lá, a felicidade parecia uma ilusão, parecia que nunca conseguiria alcançá-la. E então, conheci a Unni. Apesar de tudo o que sofreu, a Unni sempre ajudava a cuidar das crianças que estivessem chorando ou deprimidas.
Tae Hyuk lembrou de An Eun Young e balançou a cabeça.
— Existem pessoas assim.
A expressão fria de Hye Mi suavizou ligeiramente.
— Eu acho fácil conversar com você. Normalmente só recebo dois tipos de reações quando conto minha história, mas você não expressou nenhuma delas.
Tae Hyuk parecia entender o que ela estava falando. Ela recebia simpatia ou desprezo, sentimentos que fariam a pessoa se sentir ainda pior.
— De qualquer forma, vou continuar a história.
— Sim.
Hye Mi continuou a história.
As duas pessoas se tornaram amigas rapidamente, já que Soo Bin cuidou de Hye Mi, como se fosse uma irmã mais velha. Hye Mi, desde então, sempre correu atrás dela. O único incômodo era que não sabiam quando seriam separadas. O Centro de Socorro Emergencial era apenas uma espécie de residência temporária para as vítimas de violência doméstica. As crianças que estavam lá, cedo ou tarde, voltariam para casa ou seriam enviadas para outro lugar.
Hye Mi e Soo Bin seriam separadas. Então, um pequeno milagre aconteceu. As duas foram enviadas para o mesmo orfanato. Isso só acontecia uma vez em cem. Assim vez que isso foi decidido, elas ficaram tão encantadas, que chegaram ao ponto de se abraçar.
— Muitas coisas aconteceram depois que chegamos ao orfanato. Às vezes, meu pai bêbado vem e pede para que eu seja devolvida a ele. Também houve um caso na escola, pelo qual eu fui punida. Mas a Unni sempre conseguiu me ajudar a superar todas as coisas que apareciam em meu caminho.
Hye Mi e Soo Bin eram familiares uma com a outra. Elas lutaram contra a discriminação social com seus belos corpos.
— Mas houve um erro. Nós não ficaríamos para sempre no mesmo orfanato. A Unni só poderia ficar aqui por dois anos, então fizemos uma promessa. Assim que possível, faríamos o máximo de dinheiro possível para podermos viver juntas. Essa é a prova.
Hye Mi esticou a mão esquerda.
Havia algo como um anel de cobre em seu dedo mindinho. Era cheio de defeitos, como se não tivesse sido feito corretamente.
Ao contrário das aparências, Tae Hyuk era bem versado no artesanato, e rapidamente notou o que era.
— Uh, isso é um rolamento¹?
— Sim. A Unni conseguiu isso. Ela não queria ficar na escola, então conseguiu um emprego o mais rápido possível. Foi aí que a Unni fez isso. Ela não tinha dinheiro para comprar um anel.
Colocar um anel em seus dedos mindinhos indicava que tinham uma promessa a cumprir. Soo Bin obviamente estava repleta de desejo de viver com Hye Mi, longe do orfanato, o mais rápido possível. No entanto, também havia outro significado para o anel.
— De qualquer maneira, você entende agora? Este é o símbolo de minha promessa com a Unni. Continuarei usando isso no dedo, assim como prometemos. A Unni não fugiu. Tenho certeza de que foi recrutada por uma boa empresa e conseguiu um bom trabalho. Quando começar a ganhar muito dinheiro, ela voltará.
Hye Mi olhou para o anel no dedo mindinho esquerdo. Para ela, este anel dado por Soo Bin era mais precioso que um anel de ouro, que valeria centenas, milhares de vezes mais dinheiro.
Hrmm…
Tae Hyuk gemeu.
Depois de ouvir a história de Hye Mi, suas dúvidas mudaram. Soo Bin não fugiu, e estava envolvida no caso. O problema era que não estava exatamente claro de que forma estava envolvida.
Tae Hyuk começou a organizar as coisas.
“Neste momento, três casos diferentes estão acontecendo ao mesmo tempo.”
Primeiro, o desaparecimento da famosa atriz, Ryu Myung Hwa. Então, as meninas começaram a desaparecer, como se estivessem seguindo seu exemplo. O caso final era o assassinato com mutilação que Kang Suk foi investigar. Como essas coisas se relacionavam uma com a outra?
“Na verdade, este caso é muito complicado. No final, o assassino não foi pego…”
Tae Hyuk conhecia o futuro. Isso também significava que só sabia o que aconteceria no futuro. Ele não tinha nenhuma informação sobre o culpado por trás desse caso.
Nesse momento, Tae Hyuk sorriu.
“Realmente. Não é tudo a mesma coisa? Até agora, eu só me distraí.”
Tae Hyuk teria que achar a verdade de cada incidente com suas Habilidades Criminais e pessoais. Portanto, a recompensa seria enorme em comparação com qualquer outra que já havia obtido. De qualquer forma, Tae Hyuk precisaria de todo seu conhecimento do futuro. Então, se lembrou de algo útil.
“A polícia de Gang Dong não era a responsável por esse caso? E o Legista é…”
Em primeiro lugar, ele queria identificar as partes de corpos que já tinham sido encontradas. E talvez…
Tae Hyuk colocou a melhor expressão possível e disse:
— Hye Mi. Você quer ir a um lugar onde Soo Bin pode estar?
— Huh? Do que você está falando?
— Não tenho certeza. Ninguém sabe se Soo Bin estará lá ou não. Então, eu queria verificar. Talvez neste mundo, você seja quem conhece ela melhor.
Hye Mi olhou para Tae Hyuk com uma expressão confusa.
— Você quer que eu te ajude?
— Acho que sim.
A maioria dos adultos tratava Hye Mi como uma criança pobre, mas ele pediu a ajuda dela? Foi a primeira vez que isso aconteceu. Hye Mi não achou ruim, então concordou.
— Bem, eu posso ajudar, já que você insiste.
Havia uma necessidade de pagar pela ajuda. Tae Hyuk decidiu pagar uma refeição.
— Eu vou te pagar uma refeição deliciosa. Que tal hambúrguer?
— Costela!
Tae Hyuk ficou sem palavras. Ele era um cidadão comum que comeu carne de porco apimentada e salada enquanto saía em um encontro com a Flor do Luar, mas carne? No entanto, para resolver o caso, precisaria da ajuda de Hye Mi. Ele se arrependeria, mas não poderia fazer nada.
— Okay… As negociações estão finalizadas.
Hye Mi usou o que possuía surpreendentemente bem.
Tae Hyuk adicionou uma última coisa:
— Ah, certo. Talvez eu acabe fazendo algo ruim. Então mantenha tudo em segredo dos outros.
Tae Hyuk mostrou um sorriso maléfico.
— Você é uma pessoa má.
* * *
Kang Suk, que recebeu outra ligação do Legista Park Min Soo, não disse nada por um bom tempo. As pontas de seus dedos estavam tremendo ligeiramente. A tremedeira acabou se espalhando por todo seu corpo.
A condição de Kang Suk não estava normal, ele estava como uma pessoa com febre ou pressão alta.
Hyun Ho perguntou enquanto tomava café ao lado de Kang Suk:
— Sunbae. Você não recebeu apenas uma ligação do Legista Park? Que informações novas ele passou? As identidades foram reveladas?
— Desculpe… Não quero nenhuma brincadeira. Podemos sentar um pouco?
— Sim, entendido.
Hyun Ho assobiou e tirou um caderno, no qual estava anotando os detalhes do incidente. O arquivo não tinha título, já que ainda não tinham arrumado nenhum nome para o criminoso. Assim, quase vinte minutos se passara até Kang Suk se acalmar um pouco.
Kang Suk abriu os lábios secos lentamente.
— Elas estão vivas.
— Huh? As vítimas?
— Sim. Ele disse que estavam todas vivas.
— O que isso significa…?
— Olhando para o estado dos membros, o médico legista disse que poderia ver por quanto tempo já estariam mortos.
— De fato. Esse é o trabalho do legista.
— Mas esse incidente…
— Sim. Diga.
— Este caso. Cortando os braços e as pernas… Ele disse que as vítimas estavam vivas enquanto eram mutiladas.
“…”
O rosto de Joo Hyun Ho ficou inexpressivo.
— Eu vou cortar esse bastardo vivo!
Cho Kang Suk gritou como uma fera ferida.
* * *
Os braços e as pernas das bonecas foram cortados. O homem olhou para seu trabalho com satisfação. Era quase como observar uma obra de arte, mas faltava algo.
— Hey… Por favor, não me olhe com esses olhos. Não se preocupe. Eu lhe darei coisas ainda mais bonitas.
Uma boneca estava olhando para o homem com uma mistura de medo e desprezo. O homem não suportou e arrancou os olhos da boneca fora.
— Os braços, as pernas e, agora, os olhos também devem sair.
O homem riu. Ele estava pensando nos belos olhos de uma boneca que, por acaso, tinha já há algum tempo. Se quisesse, então conseguiria.
O homem murmurou:
— Eu vou te dar os braços para me segurar fortemente, pernas para correr em minha direção e… olhos que só possam olhar para mim.
A insanidade do homem enchia o quarto escuro. Ele não sabia quanto tempo ainda possuía. No entanto, se corresse, poderia terminar o trabalho antes do tempo acabar. O homem buscou outras peças para a boneca.
* * *
Tae Hyuk tinha o telefone de Kang Suk. Era uma Falsificação, mas ele ainda conseguia ver o histórico de chamadas e o e-mail. Ele usou isso para descobrir claramente as pessoas que Kang Suk conhecia.
Existiam muitas coisas que poderiam ser feitas com isso.
— Agora, vamos tentar pela primeira vez.
Tae Hyuk ligou para o Legista, Park Min Soo, com uma expressão satisfeita.
— Uh, Min Soo. Você está indo bem?
— Eu te disse a situação. Fazem dez minutos que liguei relatando tudo. É óbvio que as vítimas ainda estavam vivas quando foram mutiladas. Você já esqueceu que eu disse isso?
— Haha, desculpe. Na verdade, liguei porque quero pedir um favor.
— Qual?
— Eu tenho uma testemunha importante neste caso, então quero mostrar os membros. Vou enviar ela para onde você está. Por favor.
— Hey, isso é ilegal.
— É por isso que estou te pedindo. Será nosso segredo.
Hrmm…
Park Min Soo hesitou um pouco antes de responder:
— Isso ajudará a resolver o caso?
— Claro.
— Entendo. Estou sozinho aqui, então deixarei a testemunha entrar secretamente.
— Obrigado. Ah, você sabe que isso é confidencial, certo?
— Entendo. Não vou dizer nada a ninguém. Levarei isso para o meu túmulo.
— Então vou fingir que não sei nada sobre isso. Você fará o mesmo. De qualquer forma, obrigado. Então, trabalhe duro.
A ligação foi encerrada.
Tae Hyuk riu. Park Min Soo parecia ter ficado surpreso diante de tal pedido de Cho Kang Suk.
— Então um disfarce… Não, não há necessidade disso.
Tae Hyuk ainda estava vestindo a fantasia de Rudolph, da festa de Natal.
— Bem, posso dizer que acabei de sair de um emprego de meio período.
Tae Hyuk sabia que precisaria de Park Min Soo. Ele não se importava com coisas triviais, e uma vez que ficasse concentrado, apenas olharia para os cadáveres.
— Eu acho que só há gente estranha em torno do Hyung.
Tae Hyuk pegou um táxi e foi para o necrotério Gang Dong. Claro, Hye Mi estava junto. Ela saiu do carro e olhou para os arredores perplexa. A atmosfera era incomum.
— O-onde é isso? Não é um hospital…
Tae Hyuk coçou a parte de trás da cabeça.
— Hye Mi. Você não quer encontrar Soo Bin?
— Não. Eu tenho que encontrar. A Unni não veio me pegar, então tenho que encontrá-la.
— Então, tenho certeza que Soo Bin está aqui. Está tudo bem?
Embora Hye Mi estivesse familiarizada com a violência, isso ainda era diferente da morte. É por isso que ela não sabia que o cheiro da morte assolava esse lugar.
— Como você sabe que a Unni está aqui? Ela foi sequestrada?
— Bem, talvez seja algo assim.
Eles entraram por uma porta lateral do necrotério, onde alguém estava de pé, diante de uma porta com um cadeado. Era Park Min Soo, aquele que ele havia contatado anteriormente. Tae Hyuk tossiu algumas vezes e caminhou.
— O Detetive Cho Kang Suk me enviou.
— Mesmo? Aigoo. Uma criança… isso está certo?
Park Min Soo olhou para Hye Mi com olhos ansiosos. Ele não deu importância à roupa de Rudolph que Tae Hyuk estava usando.
Hye Mi balançou a cabeça vigorosamente.
— Eu não sou uma criança. Sou adulta.
— E-entendo, entendo. De qualquer forma, estou deixando vocês entrarem em segredo. Por favor, façam silêncio.
Tae Hyuk e Hye Mi entraram com Park Min Soo. O local onde tudo estava sendo mantido era o piso 1B.
— Eu vou prestar atenção nas entradas. Tirei tudo do formol, então confira com atenção.
— Sim.
Isso era para evitar que os membros apodrecessem.
Uma vez que entraram, notaram que o local estava tão frio que poderia ser considerado um armazém de refrigeração. Havia uma mesa de autópsia de plástico no meio da sala. Pareciam braços de bonecas, pernas estavam por cima deles.
— B-bonecas…?
Os olhos de Hye Mi tremeram. As luzes fluorescentes no fundo de seus olhos piscaram, como se ela estivesse morrendo.
— Infelizmente, não são bonecas. Quer olhar mais de perto?
Hye Mi concordou silenciosamente e se aproximou, só então percebeu o que eram essas coisas.
— C-corpos…
— Shh. Alguém lá fora pode ouvir.
Tae Hyuk colocou algumas luvas cirúrgicas que estavam ao lado da mesa e entregou um par para Hye Mi também. Ela não disse nada e fez como Tae Hyuk, colocando as luvas. Agora, se confirmasse que nenhum dos braços ou pernas eram familiares, então o longo dia terminaria.
“…!”
Nesse momento, Hye Mi de repente se sentou. Ela se manteve calma depois da confusão do começo. Então, havia encontrado algo de especial?
Tae Hyuk engoliu em seco. Ele seguiu o olhar de Hye Mi. Era uma mão com um pequeno corte sobre ela. Não era muito bonita. Estava suja de óleo, as unhas foram arrancadas. A única coisa incomum era que tinha um anel feio no dedo mindinho.
— E-ela devia me buscar. Era uma promessa. O dedo mindinho…
Hye Mi se levantou do lugar em desespero. Ela caminhou na direção da mesa, como se quisesse ter certeza de que não estava vendo errado. Suas pernas tremiam tanto que mal conseguia se manter de pé. Apesar disso, caminhou lentamente, passo por passo.
De repente, uma mão familiar estava diante dos olhos de Hye Mi. Depois de tocá-la algumas vezes para confirmar, Hye Mi a abraçou e caiu sobre a mesa. Ela começou a chorar enquanto segurava a mão suja contra o próprio rosto.
Uwah, uwaaaaaah…!
O impacto fez com que o anel do dedo mindinho caísse no chão. Ele rolou sem que ninguém percebesse. Era quase como se estivesse falando.
“Desculpe, não consegui cumprir minha promessa.”
* * *
Tae Hyuk olhou para o teto.
Ele perdeu o apetite. Hye Mi estava atordoada e cansada. Tae Hyuk a levou para fora do necrotério. Ele se inclinou para Park Min Soo, que estava fumando um cigarro do lado de fora.
Esse braço era claramente de Kim Soo Bin, mas era apenas um braço. Ele a comparou com as outras partes, não havia nenhum outro braço coberto com óleo, assim como o braço esquerdo de Soo Bin.
Park Min Soo disse claramente que a vítima ainda estava viva quando o braço foi arrancado. Existiam chances de ela ainda estar viva.
Tae Hyuk tentou lembrar de tudo a respeito do caso do Doll Play. No final, a identidade dos corpos mutilados não seria revelada. Mas agora, ele descobriu algo.
O futuro mudaria com a intervenção do Deus do Crime.
“Isso é apenas um, mas já sei quem é o dono do braço. Agora posso fazer uma investigação.”
A única coisa que restava a fazer era pegar o criminoso e descobrir a identidade dele. Tae Hyuk caminhou pela escuridão.
Ele podia ouvir Hye Mi respirando em suas costas.
Viva. Obviamente, viva.
“Eu irei resgatá-la, Kim Soo Bin ainda não está morta.”
Para Hye Mi, que queria desesperadamente ser feliz… Por causa da enorme recompensa, Tae Hyuk decidiu iniciar uma investigação completa.
Nota:
1 – Você sabe o que é um spinner. Alguns deles vêm com rolamentos naqueles buraquinhos, não sei o nome de nada, na verdade nunca sequer tive um, mas… Segue a imagem de o que é;