Volume 1
Capítulo 39: Feiticeiro (1)
Algo impossível.
Algo que não pode ser explicado com bom senso. Uma coisa absurda que faz alguém duvidar de seus olhos.
Ao ver coisas assim, as pessoas geralmente usam palavras como “parece magia”.
Entretanto, falando estritamente, isso estava incorreto.
Era fácil de se confundir, já que se trata do poder invisível da “mana”, mas a magia é a ciência que acompanha a mana. Então, qual é a palavra certa para usar quando se deparar com uma situação que não se consegue entender?
‘Feiticeiro…!’
Correto.
O desprezo total pelas leis do mundo só acontece por meio da feitiçaria.
‘Mas, o gato está falando …’
Um feiticeiro se transformou em um gato? Ou um gato se tornou um feiticeiro?
Marcus estava confuso. De qualquer forma, isso era sem dúvidas extraordinário. Ele estava perplexo e Irene Pareira também tinha uma expressão de choque. Também foi a primeira vez que ele viu um feiticeiro que não fosse sua irmã mais nova.
‘O que aconteceu de repente!’
Aaron Gairn estava ficando ainda mais agitado.
Ele também nunca havia encontrado um feiticeiro pessoalmente, exceto por Kirill Pareira. Era porque os feiticeiros eram muito mais raros do que os magos.
O garoto de 15 anos relembrou dos rumores que circulavam sobre feiticeiros.
‘Dizem que todos eles têm personalidades estranhas, e se eles não gostam de alguma coisa, eles são agem de forma incorreta e causam acidentes…’
E se esse decidir fazer mal a ele? Não, e se ele já estiver planejando fazer?
A aparência de Aaron Gairn escureceu.
‘Não é bom.’
A expressão de Jack Stewart era muito mais racional do que a do segundo filho.
Embora os feiticeiros sejam únicos, eles também tinham inteligência e eram humanos. Isso significava que eles não eram seres que assustam crianças. Era difícil ver os feiticeiros falarem fora de hora ou se envolverem em outros assuntos. Porém, este era o território da família Pareira, e era definitivo que o feiticeiro já estava mostrando sentimentos hostis em relação a eles.
Além disso…
‘Não há como saber quais habilidades esse feiticeiro possui!’
Como era impossível prever a força do oponente, eles concluíram que deveriam evitar qualquer conflito, e então falaram.
“Sinto muito se ofendi o feiticeiro nesse lugar. Se você se sentiu ofendido, por favor, visite nossa propriedade após fazer um pedido oficial.”
“O quê, você realmente não vai lutar? Você está apenas indo embora?”
“O Visconde Gairn e o Barão Pareira são mutuamente solidários e confiáveis. Você parece ter entendido mal alguma coisa.”
“Hã.”
O gato estava de pé sobre as duas patas traseiras com os braços dianteiros cruzados. Ele franziu a testa como se não gostasse disso, mas não realizou nenhuma outra ação.
Jack Stewart, que suspirou por dentro, olhou para Irene Pareira e falou.
“Lamentamos por tomar seu tempo, jovem lorde. Você deve estar exausto de sua longa jornada, então, por favor, volte. Jovem lorde, por favor, entre na carruagem.”
“Uh? Ah, sim!”
Aaron Gairn entrou rapidamente na carruagem, como se estivesse esperando pelas palavras, e Jack o seguiu.
A carruagem se afastou rapidamente, deixando para trás apenas poeira e a carruagem Pareira junto com o gato preto.
“O que é isso! Isso não é divertido!”
‘As duas crianças não pareciam gostar uma da outra, então não seria melhor para eles apenas brigarem para sair?’
Depois de um longo murmúrio, o feiticeiro pôs sua pata dianteira direita até a cintura. E lá, onde não existia um bolso, uma espada de madeira fofa saiu.
O gato habilmente agarrou e fingiu apunhalar o ar como se estivesse segurando algo.
“Assim, assim! Fuush! Fuush!”
“…”
“Achei que algo interessante ia acontecer. Estou desapontado.”
“…”
Nem Irene, nem os atendentes e soldados na carroça disseram nada. Parecia que suas mentes ficaram em branco. Todos eles apenas olharam para o gato preto correndo descontroladamente, enquanto fingia ser um espadachim lutando contra um oponente.
De repente, ele se sentou.
“…”
“…”
Marcus foi o primeiro a se acalmar.
Piscando seus olhos, ele ordenou os soldados para se dirigirem para os assentos da carruagem e, com um gesto, ele conduziu o jovem lorde para a carruagem.
Felizmente, o gato não se importou. Como se cuidar de si mesmo fosse sua única tarefa, ele lambeu sua pata dianteira sem prestar atenção em mais nada.
Depois de um tempo, Irene, que percebeu a distância crescente entre eles, perguntou a Marcus.
“Esse feiticeiro, uma pessoa desconhecida… não, animal… ah, o que eu quis dizer é…”
“Sim, um ser desconhecido. Mas…”
Depois de um momento de pausa, o servo engoliu em seco e falou.
“Talvez tenha algo a ver com Lady Kirill. Eles são ambos feiticeiros.”
“Então é isso…”
“Quando voltarmos para sua família, seremos capazes de descobrir.”
Com essas palavras, a carruagem ficou em silêncio.
Irene e Marcus, ambos os dois, estavam ocupados relembrando o que acabou de acontecer. Enquanto isso, a carruagem movia-se rapidamente e, depois de um tempo, as paredes da propriedade Pareira surgiam à vista. Naquele momento, Irene conseguiu se libertar dos pensamentos do feiticeiro.
Ele respirou fundo enquanto olhava para a cena familiar à sua frente.
O filho preguiçoso voltou para sua família depois de um ano.
“O gato é um feiticeiro chamado Lulu.”
Não houve necessidade de procurar uma resposta. Todos na família já sabiam sobre o feiticeiro felino Lulu.
Uma família de quatro pessoas se reuniu após muito tempo.
O primeiro tópico que deveria ter surgido era a Escola de Esgrima Krono, mas não foi.
O Barão Pareira contou a história da feiticeira.
“Kirill… Ele veio aqui porque queria ser seu professor. Já se passaram cerca de dez dias.”
“Professor?”
“Olhe para mim, já faz tanto tempo que não conversamos, mas a primeira coisa que falo é sobre gatos… Eu sinto muito. Você trabalhou tão duro este ano, filho.”
“Ah! Não. Foi uma boa experiência. Não foi difícil, mas… eu me senti bem. Sério.”
Irene falou com tanta sinceridade que até seu pai podia reconhece-la. Só isso já fazia seu pai sentir que ele havia conquistado algo grande.
Seu filho, que esteve morando em seu quarto por 10 anos, suportou a árdua rotina da escola por um ano inteiro.
Não, ele não se forçou a ficar na escola. Mas ele realmente achou que valia a pena. Foi realmente um passo para frente.
Mas não houve discussão sobre a escola.
“A propósito, eu peço desculpas… mas podemos falar sobre o feiticeiro? Eu estou curioso…”
“É assim mesmo? Na verdade, minha boca também está coçando para falar.”
Se ele não soubesse da informação completa, ele não seria capaz de pensar em mais nada. Era muito estimulante, a existência do feiticeiro ‘gato’.
Hum-hum, Harun Pareira limpou sua garganta e explicou sobre o feiticeiro misterioso.
Não havia nada de especial nele. Não era um humano transformado em gato. Era um gato de verdade. No entanto, ele possuía inteligência humana, e parecia que o gato tinha uma personalidade que ficava entediada facilmente, enquanto se apaixonava e incomodava por alguma coisa.
“E… é forte.”
“Forte?”
“Sim, forte.”
Kirill, que estava sentada silenciosamente no colo de Irene, abriu sua boca.
“Você pode dizer apenas olhando. Mais forte do que qualquer feiticeiro que já vi na capital do Reino… muito forte. Talvez.”
Inacreditável, mas Irene não teve escolha a não ser acenar com a cabeça. O que ele poderia dizer quando sua irmã mais nova, uma feiticeira talentosa, estava falando assim sobre um gato?
Aquele gato… não, aquele chamado Lulu, tinha que ser forte. E forte significava bom.
E era por isso que ele estava preocupado.
“Encontrar um feiticeiro habilidoso é difícil.”
“Não sei disso bem, mas… parece que sim.”
“Mas é mais difícil encontrar um feiticeiro que esteja disposto a ensinar alguém.”
“Certo.”
Isso estava correto.
O Barão Pareira, assim que Kirill despertou seu poder, foi à capital para se encontrar com o rei em busca de um professor que pudesse iluminar os talentos de sua filha. No entanto, acabou em vão.
Existiam três tipos de feiticeiros. Aqueles que não gostavam de Kirill, aqueles que Kirill não gostava e aqueles que não podiam ensiná-la porque não combinavam com as habilidades de Kirill. Graças a isso, o Barão Pareira percebeu profundamente porque a maioria dos feiticeiros acaba refinando suas habilidades sem um professor.
Mas…
“Aquele feiticeiro é o primeiro a se oferecer para ensiná-la, e em segundo lugar, Kirill gostou. Talvez suas habilidades correspondam às de Kirill. Contudo… ainda não aceitei a oferta.”
“Há algum outro problema que interessa a você?”
“Como sua identidade não é certa, essa é a parte mais problemática. Nós enviamos alguém para a Associação de Feiticeiros. Porém…”
A parte mais importante era estranha. O Barão virou-se para sua filha, que tinha uma expressão rígida no rosto.
Sim.
Uma das razões pelas quais Kirill não conseguiu encontrar um professor até agora.
Kirill não gostava deles.
Esse era o maior problema.
Mesmo que tudo sobre a pessoa fosse bom, mas Kirill não gostasse dela, então era um grande não.
Irene Pareira, que a observava, perguntou a Kirill.
“Kirill.”
“Quê?”
“O que você acha?”
“Sobre o quê?”
“O feiticeiro gato.”
“O que o mano acha?”
“Hã?”
Por outro lado, quando a pergunta surgiu, Irene ficou perplexo. Foi porque ele nunca pensou nisso. Ele decidiu que não havia espaço para sua opinião, pois era um assunto entre feiticeiros.
Então ele falou.
“Hum. Já que ele seria seu professor, sua opinião não é a mais importante?”
“Sim?”
“Sim, e eu não sei muito sobre feiticeiros…”
“Não importa.”
“Hã?”
“O irmão não sabe muito sobre feiticeiros, mas você me conhece! Apesar disso, está tudo bem para meu irmão me dar sua opinião honesta.”
“…”
O suor frio escorreu pelas costas de Irene.
Sua irmã mais nova era teimosa demais às vezes. Cada vez que Irene ficava sem palavras para dizer, ele voltava correndo para o quarto e se escondia sob o cobertor.
Mas agora não.
Irene ficou em silêncio com uma expressão envergonhada.
“Kirill, você está deixando seu irmão, que você não vê há muito tempo, desconfortável.”
“Não, eu só estava perguntando a ele, por quê?”
“É porque é uma pergunta difícil de responder.”
“Está tudo bem em ser honesto.”
“Tire essa expressão de seu rosto e depois diga algo como isso.”
Como sempre, Amel Pareira acalma habilmente a filha. Mas a expressão de Kirill não mudou. E o suor de Irene não parava de cair.
‘Algo ruim deve ter acontecido.’
E isso provavelmente tinha algo a ver com ele. Pode ser algo que Kirill disse, ou talvez ele disse algo errado. O importante era que Irene não era inteligente o suficiente para descobrir o que o estava fazendo suar.
Ele estava querendo fugir para seu quarto há muito tempo.
Claro, ele não podia. Ele havia percorrido todo o caminho até Krono para não fugir de nada novamente, e não havia como ele fugir de sua própria irmã.
Felizmente, havia uma solução melhor.
Irene colocou a mão no bolso e pegou alguma coisa, então a entregou a sua irmã mais nova.
A garota perguntou com os olhos bem abertos.
“O que é isto?”
“Um presente.”
“P-Presente?”
Kirill Pareira estava surpresa.
Não era só ela.
O pai e a mãe olharam para seu filho com descrença.
‘Irene trouxe um presente?’