Volume 1

Capitulo 1: O Grande Começo

      Um outro guarda mais a frente já seguindo pelo corredor se virou para trás, olhou para o guarda a minha frente e começou a andar em nossa direção. 

— Já entendi que sou um Nullu sujo, me deixem em paz! — gritando descaradamente alto, sai andando. 

— Você não pode andar pelo castelo sozinho — guarda que jaz na porta chamou minha atenção enquanto caminhava em minha direção. 

      Com uma distância considerável percebi que todos os guardas se direcionaram ao salão, com certeza pelos gritos de Javier antes e após minha saída, agora os corredores se encontravam basicamente vazios. 

— Akiris, pensei que o objetivo fosse não chamar atenção — o guarda surpreso reclamou. 

— Negociei como eu disse que faria, sem mais, nem menos — retruquei o guarda — Agora, Karla me conte logo o que descobriu. 

— Tá, tá, tá, o nome do garoto é Wally, Wally Nyer. Ele é um Híbrido, Genasis com Nullu, não consegui descobrir o paradeiro dele hoje, mas pelo menos eu sei que todos os dias ele vem ao castelo receber algum tipo de treinamento. 

      Karla explicando o que descobriu começou a praticar sua odiosa mania de saltitar quando está entediada, embora fosse  sempre irritante, sem sua armadura ela realizava menos barulho. 

 — Ele tem uma ligação com a Nação de Energia, seu pai é um Genasis de lá. Estranho pensar que alguém que é Híbrido tenha um título de nobre no castelo, e pior, que esteja tão longe de casa. 

— Não se sinta tão mal pelo garoto, ele não se sentiria mal por você. De qualquer forma estamos ficando sem tempo, onde fica o local de treinamento? 

      Karla parou de saltitar, inclinou seu corpo e balançou aflita sua cabeça para os corredores obviamente vazios, procurando guardas apostos por alguns segundos. 

— Karla! 

— Credo Akiris. Siga por esse corredor, vire à direita, esquerda e desça as escadas, você vai saber quando chegar.   

      Escutei o que precisava e continuei pelo caminho que ela informou. Descendo os grandes degraus das escadas do castelo, comecei a me aproximar de paredes mais resistentes, porém totalmente rachadas e com muitas marcas de arcania. 

      Mas o que me preocupava mesmo estava dentro da arena. Quem, ou o que daquele lado, havia me passado um sentimento errôneo que fez minhas pernas não desejarem seguirem em frente. Porém, havia algo mais estranho, sentia como se o adversário a frente parecesse uma presa fácil... de uma forma completamente proposital. 

      Na entrada existiam duas pessoas a protegendo, sem nem mesmo se olharem por um momento por mais de dez segundos, com toda certeza não eram uma dupla. Um deles possuía um cabelo liso curto jogado para trás, vestindo uma roupa escura que possibilita esconder qualquer tipo de arma curta e... conversando sozinho?  

      O outro parecia muito acabado, estava descalço, portando uma foice afiada e muito sujo de sangue, esse homem ainda obtinha mais alguma coisa nas costas por de baixo do manto. Isso é muito estranho, definitivamente os dois não fazem parte das tropas de Javier. 

— Melhor me prevenir. 

      Prestes a passar pelos dois levantei minhas mãos, rasguei um pedaço da pele de minha mão recém espetada, juntei-as e com as palmas grudadas em frente aos meus olhos e recitei: “Undo Canto”.  

      Eu sentia aquele chão tremendo e rangendo, como se estivesse sangrando, sangrando quase na arena inteira. Graças a magia passei sem problemas pelos homens na entrada que perderam quase todo o seu equilíbrio. 

      Perante a arena dentro meu campo de visão, existia um homem alto encapuzado com uma aparente armadura leve por baixo e outra pesada por cima da roupa, ele se virou e me encarou usando uma máscara negra com um símbolo gigante estampado de uma ponta a outra; claro; o símbolo dos caçadores. Pela aparência misteriosa e sua máscara chamativa ficou claro, ele era Dominus, o líder da Ordem dos Caçadores.  

      É impossível perceber alguma reação de Dominus enquanto me aproximava, mas seus punhos fechados pareciam deixar claro qual sentimento ele estava direcionando a mim. Pelo que parecia, minha magia podia afetar até mesmo um dos homens mais fortes que existem em Valíria. 

— Você acabou de quase matar a todos nós! — Dominus falou com uma voz que ecoou quase perfeitamente para uma máscara. 

— O garoto não é tão fraco assim...  

— Ele é! — Dominus me interrompeu aumentando mais ainda o tom — Se ele tivesse saído mesmo que por um minuto, toda a cidade pereceria.  

      Mesmo com sua voz tentando me amedrontar eu não parei de me aproximar de Dominus, quando cheguei perto ele respirou fundo, encarou-me de cima para baixo por um segundo e continuou. 

— Eu te conheço Akiris, o que você quer? 

— O que eu quero? Eu desejo o mesmo que você. 

— Acha que não sei dos seus pactos? Era o que pretendia com Aska?  

      Isso é impossível! Nem mesmo sua jurisdição consegue chegar até Dracaries, então como ele pode saber dos pactos? Quem contou isso a ele? Talvez ele saiba do potencial do Wally... não, isso é algo diferente. 

— Apenas achei sensato me preparar quando na entrada se encontra um homem com as roupas banhadas em sangue. 

— Fomos atacados no caminho. 

      Dominus ficou quieto por poucos segundos, conseguia perceber ele movendo seu braço aos poucos para esconder suas mãos em suas costas. 

— Não entregarei o garoto a Dracaries, Akiris. Mesmo que nossos objetivos estejam alinhados, nossas visões não são as mesmas... 

— Não tente preparar o terreno comigo Dominus, vá direto ao ponto — já sem paciência interrompi Dominus. 

      O lider dos Caçadores me observou estático, não movia um musculo. Sua falta de expressão, um presente da sua estranha mascara, dificultava entender o que ele queria. Pois então, Dominus respirou fundo mais uma vez e prosseguiu:  

— Venha e acompanhe o garoto até a ilha, julgue com seus próprios olhos. É o melhor que você vai obter de mim. 

      Sem nem ao menos esperar uma reação ou uma resposta de minha parte, Dominus levantou a cabeça em direção aos aparentes caçadores. 

— Vocês dois, acompanhem o Wally. Soltrone, não o perca de vista. 

      Os aparentes caçadores não responderam, apenas se mexeram. Ainda pareciam abalados assim como Wally, ele passou por nós junto aos caçadores sem sequer olhar para o lado.  

      Logo após saírem, virei-me para terminar minha conversa com Dominus. Chocando minha visão com ele, o mesmo já estava relativamente longe de mim, quando pisquei; ele simplesmente desapareceu. Não deixou nenhum rastro ou algum barulho; apenas sumiu.  

      Parecia que eu não tinha muitas opções naquele momento, ir até a ilha é tudo o que eu podia fazer. Dominus não passou nenhuma instrução do local de partida... realmente, o Líder dos Caçadores é tudo o que dizem.  

      Comecei a caminhar em direção a saída tomando o mesmo caminho de minha vinda a arena, talvez para minha má sorte ela estava aqui novamente, Karlamitas. Ela balançou os braços para o ar e se aproximou saltitando em minha direção, com um rosto esbanjando felicidade enquanto gritava. 

— Aquii! Aquii! Ei! Aquii! 

      Continuei andando pelos corredores até então vazios tentando a ignorar, entretanto, logo ela me alcançou. 

— Akiris, como foi? Encontrou o garoto? — Karlamitas perguntou ao barrar minha passagem. 

— Encontrei, mas não fui o primeiro, Dominus já estava lá recrutando ele — esgueirando-me falei. 

— Ah claro, Dominus... Dominus?!  

      Karlamitas ficou parada por um curto espaço de tempo murmurando repetidamente alguma coisa, enquanto com uma mão tentava roer a unha protegida pela sua armadura e a outra passava pelo seu longo cabelo vermelho.  

—  Eu que não iria querer me esbarrar com esse cara. 

      Escutei seus passos acelerarem até chegar ao meu lado novamente, ela parecia estranha, olhava aos arredores inquieta. 

— Realmente, Dominus merece a reputação exagerada eu analisei ele de perto, não é alguém que você gostaria como inimigo. 

— De perto?! E você está tão calmo? Que frieza, até pra alguém da sua idade  

— Não é uma boa hora para piadas Karla. 

 — Hum, mas e agora? Continuo com as Revoltas? Parece que tem um monstro explodindo coisas pelo reino... juro que não fui eu  

      Karlamitas não parecia estar mentindo, por mais que ela adore explodir coisas e principalmente coisas vivas, sua armadura não está polida, mas sim um pouco empoeirada e com toda essa displicência, ela já teria sido descoberta. 

— Seus ataques, essa tal criatura fará para você por um tempo, então apenas se prepare para partir. 

      Ela não falou mais nada, virou-se e saiu pulando de alegria para direita e para esquerda como uma criança que acabava de comer sua refeição favorita. Observando Karlamitas eu senti algo estranho; em um rápido instante, senti uma mão em meu ombro e uma presença atrás de mim. 

— Então é ela? A descendente de Vlouthier? — alguém me pergunta. 

— Quem sabe? — pergunto olhando para frente.  

      A mão saiu do meu ombro e a presença consequentemente sumiu. Rapidamente saí andando sem olhar para trás. Aquele era o Dominus... Isso foi ele mostrando que estava me observando? Então Dominus podia se teleportar? Não, não, não é possível, única magia de teletransporte é do elemento de energia, porém, eu não sentia nada nele, nem um resquício mesmo tão de perto.  

      Antes de sair do castelo, percebi algo de errado com meu corpo. Minhas pernas desabaram acompanhadas dos meus batimentos acelerados. Meu corpo ainda não tinha esquecido; aquela sensação, aquela energia, aquela pressão, tudo o que o garoto emanou quando enfraqueci a arena... foi perturbador. Eu estava tremendo sem parar. 

— Nem nos meus piores pesadelos, eu imaginei que ele teria dentro dele... a porra de um Primordial. 



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