Dentro da Caverna da Obscenidade Japonesa

Tradução: Fefe

Revisão: Rose Kethen


Volume 1

Capítulo 1: O dia em que aquilo nasceu

Um 『Herói』 convocado de outro mundo derrotou o 『Maou』 depois de muito tempo.

Ele retornou ao seu mundo, e os demônios, que estavam sob as ordens do 『Maou』, passaram por uma redução numérica radical.

Os monstros, que uma vez lotaram o mundo, agora, foram subitamente acuados para as profundezas de florestas e cavernas.

— Este mundo, habitado por humanos e demi-humanos.

Um mundo onde monstros não existiam.

Um mundo de paz.

Um mundo onde as pessoas batalhavam umas com as outras.

Um mundo onde humanos e demi-humanos trabalhavam juntos.

Um mundo onde não havia um 『Maou』.

Um mundo sem 『Herói』.

Um mundo regido pelos três governantes que viajaram com o Herói.

Era esse mundo.

『Um Mundo que foi Salvo por um Herói de Outro Mundo』 ... Euswara.

Um mundo feérico que, supostamente, foi criado pela deusa Euswara.

Um mundo onde existiam espadas e magia. Onde espíritos, demi-humanos, demônios e humanos coexistiam.

Um mundo onde, em um futuro não tão distante, não existiriam mais monstros.

— Isso era o esperado.

Era o que todos pensavam.

Humanos, espíritos, demi-humanos, demônios, a deusa… até mesmo o 『Herói』, todos acreditavam nisso.

Isto é, não deveria ser assim?

Monstros foram trazidos pelo 『Maou』, o qual já não existia mais.

Nesse caso, não tinha como aparecer mais monstros...

*

Um dos três governantes, a Rainha-Maga 『Leticia』, a qual supervisionava o país do norte, 『Fonteau』.

Viajando junto com o Herói, ela, uma maga, derrotou o Maou.

Mesmo seus aliados ficaram impressionados... Usando sua mana assustadora para subjugar o Maou, seu talento tornou-se uma calamidade¹ natural.

Sua mana era formidável e, apesar de que não estivesse no mesmo nível da do Maou ou do Herói, era extraordinária mesmo quando comparada com a dos elfos, que eram os mais habilidosos em magia.

Tanto ela quanto aqueles ao seu redor pensavam assim.

O passar do tempo fez com que o terror causado pelo Maou desaparecesse das lembranças das pessoas, e fez com que Leticia se tornasse ainda mais bela.

Mesmo naqueles dias, a Rainha-Maga, com certeza podia ser chamada de beldade.

Seu cabelo prateado flutuante era como um pedaço de seda longo e belo. Portando grandes olhos vermelhos, com sobrancelhas bem definidas. Seu olhar era afiado, mas, mesmo assim, ainda era um de seus encantos.

Suas orelhas eram ligeiramente pontudas, talvez devido ao seu sangue que tinha traços élficos.

Embora não fossem tão pontudas quanto as de um elfo, ainda não eram arredondadas como a de seres humanos.

E, logo a parte que mais odiava, foi a mais amada pelo Herói.

Um humano que também era um elfo. Um elfo que também era um humano.

Leticia era isso.

Leticia Fonteau. A Rainha-Maga. A maga que matou o Maou. Ah, e ela também teve um par de crianças com o Herói.

Ainda assim, seu corpo não piorou. Pelo contrário, parecia ter adquirido um brilho 『Maternal』.

Leticia era um tanto incomum se comparada a um elfo, já que gostava de roupas brancas.

Os elfos eram considerados o povo da floresta e, ainda que preferissem roupas verde-claras, Leticia sempre usava um vestido branco.

Apesar de que seu vestido fosse todo luxuoso, o tecido era fino e revelador, não escondendo seu corpo.

Seus ombros estavam nus, seus fartos seios empinados. Porém, o vestido, de um branco puro, cobria desde seu peito até os tornozelos.

Mesmo assim, com os braços finos, seios fartos, uma cinturinha que parecia poder quebrar se fosse forçada e seu traseiro, que balançava de leve... Seu charme e presença se destacavam devido à sua vestimenta justa.

Mesmo quando tentava se esconder, ela ficava atraente.

Homens, que passavam a nutrir pensamentos lascivos depois de a verem, não eram incomuns.

Até mesmo o 『Herói』.

Enquanto o Herói viajava com ela em sua juventude, ele desejou suas companheiras de viagem muitas vezes, tanto a maga Leticia quanto a caçadora Frey.

Assim, percebendo sua própria beleza naquele período. Foi quando, inconscientemente, começou a usar isso como uma arma.

Hoje em dia, usava de forma proposital.

Sempre que andava pelos corredores, os homens viravam suas cabeças e fitavam seus seios exuberantes que tremiam levemente. Apesar da proteção de suas vestimentas e roupas de baixo, sua riqueza e delicadeza ficavam implícitas diante de apenas um olhar.

Isso atiçava os soldados. Um banquete terrivelmente revigorante para os olhos. Sua beleza, corpo e atmosfera fria eram o bastante para superar qualquer outro nobre.

Tudo nela era lindo.

Uma rainha de completa beleza.

Essa era Leticia.

— Bom dia, mãe.

Quem a cumprimentou foi sua filha, 『Melcia』, que estava usando um vestido azul.

Com os cabelos prateados herdados de sua mãe, ela demonstrava uma expressão adorável. Sua altura era um pouco menor que a ideal para sua faixa etária, cerca de uma cabeça.

Mesmo assim, seu peito... A parte que poderia ser considerada o símbolo de uma mulher...

Não era devido a algo como obesidade. Desde seu rosto adorável até seus ombros, que poderiam ser chamados de delicados, até o peito e cintura, que podiam ser firmemente seguros por um espartilho, sem proporcionar dor alguma.

Essa era Melcia.

— Bom dia, Mel. Hoje você vai estudar novamente?

— Sim, mãe. Vou tomar café da manhã e ir para a escola.

— É mesmo? Esforce-se.

— Sim.

Essa foi toda a conversa. A mãe e filha só conversavam uma com a outra de forma esporádica.

Melcia se curvou² um pouco e deixou com que sua mãe passasse.

Ser parte da realeza era problemático. Quando ela viajou com o Herói não era nada, mas era feliz. Leticia se perdeu em suas memórias.

Não existiam nobres ou coisas parecidas, todos podiam falar como amigos. Eles não usavam um tom formal e podiam agir de maneira mais relaxada. Estavam todos felizes e deslumbrantes, que lindas lembranças.

Ela sentiu que poderia ser bom se sua filha pudesse provar algo parecido.

Embora entendesse que isso seria muito difícil, ainda era problemático ser parte da realeza... enquanto andava pensando nisso, enfim chegou a uma porta.

Leticia bateu um pouco, mas não houve resposta.

Não se importando e tentando abrir assim mesmo, percebeu que a porta estava trancada e a maçaneta não girava. Ainda assim, parecia entender o que estava acontecendo e não se surpreendeu nem um pouco. Seus lábios brilhantes gesticularam enquanto entoava um feitiço.

Magia de destravamento.

Ainda que a privacidade precisasse ser respeitada, mesmo em meio familiar, ela abriu a porta e entrou no quarto sem se importar.

Havia uma cama enorme com um dossel acima dela, uma mobília luxuosa que gritava pertencer à realeza.

Apesar de que a família de Leticia preferisse aposentos simples, as aparências da família real eram coisas importantes. Mesmo no caso de um aposento privado que, provavelmente, não seria visitado por outros nobres.

Havia uma figura que ainda estava na cama, apesar do Sol estar radiante no céu. Leticia se aproximou e soltou um suspiro.

— Maria.

Na verdade, embora isso não fosse algo que a Rainha devesse fazer, mas sim o camareiro, Leticia não abriu mão.

Acordar os filhos era o dever de uma mãe.

Enquanto se esfregava na cama suavemente, ela chamou um nome várias vezes. Depois de repetir isso por um tempo, cabelos negros se afastaram de seus seios.

Era o exato oposto do cabelo prateado de Leticia e Melcia. A escuridão da noite. Um preto profundo, extremamente profundo… a mesma cor de cabelo do Herói.

Sua amada filha, que herdou o sangue do Herói, 『Mariabelle』.

Ela tinha um cabelo preto brilhante, seus olhos da mesma cor. No entanto, sua pele lisa poderia fazer até mesmo Leticia reconhecer. Era um contraste magnífico.

Apesar de dizer que ser simples e econômica fosse bom, ela não estava vestindo nada, apenas um pijama modesto, que não cumpria com o esperado da realeza.

Leticia sentiu que sua filha se parecia muito com o pai, o Herói. Ele também não tentava conseguir nada além do essencial.

Mesmo que os nobres não vissem isso de maneira favorável, ela amava todas as partes de Mariabelle.

Vendo sua criança, lembrava-se do Herói que já não estava mais presente. Sua filha era incrivelmente querida.

— Acorde. Vai se atrasar para a escola, não acha? — perguntou Leticia.

Mou. Já tá tão tarde...?

— Sinceramente... igualzinha ao seu pai, até nas manhãs.

Muu...

Mariabelle ficou emburrada após a risadinha de Leticia.

Ela não gostava de ser comparada ao pai. Mesmo assim, Leticia achava que isso era adorável quando levada em conta a idade. Todavia, não era algo que pudesse ser resolvido. Pensando assim, fez cafuné em sua filha.

Fufu. Seu cabelo é lindo — elogiou Leticia.

— Mas todo mundo na escola diz que é repugnante.

— É sério?

O cabelo preto era raro neste mundo.

Além de Mariabelle, que tinha o sangue do Herói, não tinha mais ninguém assim no país.

Por isso, era considerado curioso, assustador e estranho.

Era incrivelmente triste que a cor de cabelo do Herói fosse considerado como heresia nesse mundo.

— Mesmo assim, um dia você vai achar alguém que vai amar esse cabelo.

— Assim espero… — disse Mariabelle, infeliz.

Com o resmungo de Mariabelle, que soou como se já tivesse desistido disso, o peito de Leticia doeu.

Mesmo ela a amando tanto, sua filha estava começando a odiar o mundo.

Contudo, não havia nada a se fazer. Não existia magia que pudesse mudar a cor dos cabelos e dos olhos.

Portanto, Leticia acariciou esse cabelo negro. Ela fazia isso para mostrar para sua filha que a amava.

Mariabelle também se entregava por inteira a esse amor maternal, deixando que sua mãe acariciasse seu cabelo. Esses eram os únicos momentos que realmente amava.

Esses momentos pacíficos.

O Maou foi derrotado pelo Herói e, desde então, as manhãs pacíficas reinariam por toda a eternidade.

Cenas felizes assim continuariam existindo.

*

O reino mágico, 『Fonteau』.

Na ponta mais ao norte, onde havia uma caverna, alguns anos atrás, a prata mágica, 『Mithril』, passou a ser extraída. Porém, no atual momento, já tinha sido todo extraído, então, esse lugar não passava de uma caverna; da qual ninguém se aproximava.

Estava cheia de sombras, a luz do sol não conseguia chegar ao seu interior. Um lugar onde os 『Rancores』 das pessoas, que ficaram aprisionadas por desabamentos, se acumularam.

No entanto, não era silenciosa. Gotas de água às vezes pingavam desde o teto, os guinchos de morcegos também ecoavam enquanto se empoleiravam.

Morcegos fazendo barulhos, água pingando em pedras e insetos suficiente para fazer que mulheres e crianças gritassem e fugissem para além da vista.

Era esse tipo de lugar repulsivo, imundo, bruto, contaminado e sem desenvolvimento. Porém, também era, de certa forma, pacífico. Morcegos voavam, insetos nojentos rastejavam pelo chão e fantasmas vingativos praguejavam em desespero.

E, após a conclusão da extração de prata mágica, o mundo pacífico ali deveria continuar sem quaisquer problemas.

Contudo, isso terminou.

Atualmente, essa paz não existia mais.

Gii.

Com um som mais baixo que o normal, um morcego caiu no chão. Na base de seu pescoço havia um único inseto, menor do que um dedo polegar.

Um tentáculo com um veneno paralisante apareceu de dentro de sua boca e, com isso, o inseto comeu sua presa paralisada. Levando vários dias para subir as paredes, ele usava seu corpo para escalar de pouco em pouco, sem que os morcegos notassem, matando-os com um veneno paralisante.

Para, por fim, capturar as presas.

O inseto não tinha sentimentos, mas realmente parecia que um pequeno guincho de prazer escapava nesses momentos.

Essa era a lei da natureza. Desde sempre, para sempre.

— Mas, quem iria esperar que isso poderia acabar produzindo o pior resultado possível?

O inseto estendia um tentáculo bem fino desde sua boca, atacando os morcegos e os derrubando.

A refeição não era nenhum tipo de banquete. Dissolvendo o couro da nuca de suas presas, não comia nada a não ser uma parte mais macia que tinha por ali.

E, dessa forma, sua refeição acabava.

Quanto aos restos, tudo seria consumido por outros insetos que não conseguiam escalar as paredes rochosas ou derrubar morcegos.

Não restaria nada. Até mesmo os ossos acabavam consumidos.

Na verdade, os insetos se reuniram ao redor do morcego e… zuzu, houve um som, como se algo estivesse se arrastando pela caverna. Foi um som quase inaudível — humanos não escutariam isso.

Entretanto, esse som e vibração fizeram com que os insetos se dispersassem.

O que apareceu no meio da escuridão da caverna era uma 『Distorção』. Um monstro nasceu.

Zuzu. Um som que nunca tinha sido escutado na caverna.

Olhando mais de perto, era como se um monte de catarro tivesse ficado profundamente preto, como se fosse apenas uma distorção da escuridão… um slime negro.

Vários anos atrás, quando o Maou ainda vivia, não era um monstro incomum. Seu nome científico era 『Ooze Negro』.

Um monstro de classe média do tipo slime, um espécime que só se tornaria forte depois de viver por muito tempo.

Porém, “aquilo” parecia já ter vivido por muito tempo.

Um Ooze Negro recém-nascido era mais fraco do que animais domésticos, como os cães. Tendo o tamanho do punho de uma criança.

Honestamente, isso acabaria apodrecendo, incapaz de capturar qualquer presa. Era provável que estivesse destinado a ser devorado pelos diversos insetos.

Entretanto, havia um prêmio esperando por esse slime.

Além disso, não era algo no seu próprio nível, era um grande prêmio. Seguindo seus instintos, o slime engoliu o cadáver do morcego com seu corpo. Slimes engoliam suas presas e as digeriam aos poucos, alimentando-se sem pressa.

Isso foi sorte. E sua sorte também não podia ser considerada ruim… apenas um pouco azarada.

Era a classe mais baixa, um slime comum.

Não, isso seria no caso de qualquer outro slime.

Se não conseguisse presas, ele desapareceria, incapaz de mudar seu destino. Contudo, esse Ooze Negro conseguiu comida. E assim, uma mudança aconteceu.

O slime que era do tamanho do punho de uma criança cresceu no mesmo instante em que absorveu o morcego.

Essa era a principal característica de um Ooze Negro.

Podia digerir seu alimento e aumentar sua massa em um instante. Agora que tinha conseguido se nutrir com o morcego, o pequeno slime já não seria morto pelos insetos.

— Porém, ainda havia outras dificuldades. Como a revoada³ de morcegos, ou mesmo os cães selvagens e lagartos que rondavam a entrada da caverna. Todos eram capazes de matá-lo.

Entretanto, esse slime era esperto. Não, será que não poderia ser considerado até inteligente?

Ele não partiria em busca de presas grandes, primeiro iria se satisfazer com os insetos que viviam sob rochas.

O tamanho de um inseto era muito pequeno, então o aumento de sua massa predando isso seria insignificante. Porém, mesmo assim, o número de insetos dentro da caverna poderia rivalizar com o número de estrelas no céu.

Ele caçou e comeu os insetos. Seguindo seus instintos, comeu voraz e exaustivamente, mais e mais. Logo, seu tamanho aumentou.

Depois de vários dias, arrastou-se pela parede e conseguiu capturar um morcego.

Embora a presa tivesse reagido, não conseguiu fugir depois de ser apanhada pelo slime. E, embora os lagartos estivessem acertando-o com seus dentes e tentassem resistir desesperadamente, nos últimos dias essa coisa se tornou tão grande que quase tudo ali tinha se tornado impotente.

Ele não foi capaz de digerir a carapaça daquele inseto que atacou o morcego de antes. Além disso, por ser muito pequeno, renderia muito pouco alimento. No entanto, o slime conseguiu uma habilidade interessante. Um veneno paralisante forte o suficiente para acabar com qualquer coisa que ficasse imersa dentro de si.

Por este novo fator, sua caça ficou ainda mais fácil. Os morcegos, os lagartos e os insetos dentro da caverna estavam sendo predados, então, o slime estendeu uma gavinha para a entrada da caverna, onde havia um cão selvagem.

Isso possuía um tipo de líquido paralisante. Em alerta, o cão selvagem correu um pouco antes de começar a convulsionar.

Quando terminou de atacar os cães selvagens que viviam por perto, o Ooze Negro retornou para a caverna. Embora não tivesse nada como instintos de orientação, até onde ele sabia, essa era sua casa.

Agora, as únicas coisas que conviviam com o slime na caverna eram os rancores. Isso era tudo.

Qualquer caverna comum poderia ser calma e quieta, mas essa, em particular, tornou-se uma caverna da morte, cheia de brados de fantasmas vingativos.

Naquele momento, o Ooze Negro já tinha assumido o tamanho de um boi.

Alguns anos antes, quando o Herói e o Maou lutaram, esse tamanho era bastante comum.

Contudo, agora, que os monstros não apareciam mais, criaturas como um Ooze Negro só podiam ser vistas em ilustrações.

Tendo essa realidade, todos acreditavam que a paz conquistada duraria para sempre. Não abrindo mão dessa felicidade após terem superado a era de terror do Maou.

E as coisas foram assim.

No momento, ninguém sabia que um monstro nasceu.

Depois disso, um mês inteiro passou voando.

*

Chegou ao ponto em que não tinham mais cães selvagens atacando, e os moradores da aldeia mais próxima começaram a se perguntar o que estava acontecendo.

Mesnmo que tivessem prosperado como uma cidade mineradora no passado, desde que a última mina secou, foi impossível conseguir mais prata mágica, então a cidade passou a ser chamada de aldeia.

Agora, havia apenas uma dúzia de pessoas morando ali. Era uma aldeia rural que vivia de pecuária leiteira.

De vez em quando, alguns cães selvagens apareciam e atacavam o gado e colocavam os velhos para trabalhar, porém, recentemente não tinham aparecido mais.

Todos ficaram curiosos. Mesmo havendo comida na montanha, isso não seria o bastante para satisfazer um cão selvagem.

Depois de provarem do gado, começariam ataques constantes. Mesmo com muitos morrendo com frequência nas armadilhas, afinal, não havia o suficiente delas para a proteção.

Até porque, existia um enorme número desses animais.

E nenhum apareceu nos últimos tempos.

Será que tinham desistido?

Quando alguém levantou essa questão, ela foi descartada de imediato. Animais selvagens não teriam pensamentos tão respeitáveis. 

Entretanto, era um fato que os ataques tinham parado. Um completo mistério, mas decidiram tratar isso como um milagre da deusa Euswara e começaram a orar ainda mais.

Era apenas mais uma aldeia rural. Mesmo assim, nesse tipo de lugar ainda havia um velhote cheio de energia.

Levantando os braços, ele pegou seu equipamento e foi para a montanha. Seu objetivo era ver o que estava acontecendo. Embora os outros aldeões tivessem tentado impedi-lo, ele não escutou ninguém.

O velho acreditava ser forte. Tendo matado inúmeros monstros enquanto jovem. Deixando de lado todos os slimes e goblins, conseguiu derrotar e subjugar vários monstros muito maiores do que si mesmo, como ogros e outras coisas do tipo, claro, nessas situações ele estava sempre com seus companheiros.

Mesmo tendo envelhecido, sua força não tinha diminuído ainda… bem, era o que acreditava, ao menos.

O velhote começou a escalar a montanha. Ao perder o fôlego, sentou-se em uma pedra, para descansar um pouco. Era difícil escalar uma montanha com esse corpo velho.

Engolindo água como se estivesse se afogando, ele respirou fundo. Antes, montanhas assim não eram nada. Além disso, seria possível dormir na antiga mina de mithril.

No entanto, nenhum cão selvagem tinha aparecido ainda. Na verdade, nem mesmo coelhos apareceram.

O que estava acontecendo?

Sua intuição dizia que era algo ruim.

Mesmo enquanto envelhecia, sua intuição só melhorava. Contudo, seu corpo já tinha ficado velho e cansado.

— Quando percebeu, seu corpo não era capaz nem de se mexer.

Paralisia. Seu velho corpo não percebeu o leve estímulo do veneno paralisante fluindo em seus vasos sanguíneos.

O efeito se revelou no mesmo instante. Um veneno paralisante que vinha de um slime do tamanho de um boi, isso era simplesmente forte demais.

Para não mencionar o movimento do corpo, até seu coração acabou parando. O velho, sem entender nada, morreu.

Dessa forma, sem esperar, o slime o devorou. Devagar. Sempre devagar.

E, assim, as cortinas para o pior ato possível se abriram...

Neste dia, o slime negro adquiriu conhecimento. Conhecimento sobre carnificinas de monstros, sobre humanos, sobre a vida... e sobre sexo.

Agora, ninguém sabia sobre sua existência. Esse slime tinha sofrido uma mutação. Era capaz de roubar as características únicas das coisas que engolia.

Como o veneno daquele inseto.

Como o conhecimento humano.

Se sua primeira presa humana fosse uma mulher...

O que aconteceria seria: roubar a característica de 『Gravidez』, então por sorte algo horrível não aconteceu.

Todavia, mesmo sua presa sendo um velhote, era um humano macho.

O slime conseguiu algumas coisas. Conhecimento sobre os humanos, sobre a vida… sobre como engravidar mulheres.

Humanos eram criaturas pecaminosas.

Para não mencionar sua própria raça, eles faziam filhos com todas as raças: elfos, sereias, bem, faziam isso com qualquer coisa que tivesse uma forma humanoide.

O mundo ainda não sabia...

Nesse mundo, sem Maou para produzir monstros, um monstro nasceu.


Notas:

1 – Os caracteres usados para escrever "talento" e "calamidade natural" possuem o mesmo som, em japonês.

2Se curvar nada mais é uma demonstração de respeito pela outra parte e, também, cumprimento. Não mostra que você é submisso, mas que tem respeito ou apreço pela pessoa.

3 – Revoada é o grupo da mesma espécie em voo. No caso, é o coletivo.

4 – Aqueles fiozinhos mais finos das trepadeiras, que vão se agarrando aos galhos da planta que está sendo usada de apoio.



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