Volume 3
Capítulo 58: Sem Bagunça
Após Jonas e Liza saírem do salão real, Nathaly e Nina continuaram conversando com o rei:
— Vim dar uma olhada na igreja, só passei aqui pra avisar mesmo.
— Tudo bem, Grande Heroína. Só peço que não machuque ninguém. A igreja é um lugar público e frequentado por muitas pessoas. Por favor, se descobrir algo, me avise. — Morf curvou levemente a cabeça em respeito.
— Entendido. — Nathaly se virou para sair, mas então pensou em algo: "Será que ele sabe sobre a serva?"
Se virou novamente para ele.
— A propósito, o uniforme das servas mudou? Na minha memória, eles eram completamente brancos.
— Não mudou não, sempre foi dessa cor... Talvez esteja confundindo com o uniforme da guilda.
— Mas... na guilda, os uniformes não são brancos.
— ...É mesmo? Faz tempo que não vou às ruas, haha. Não me lembrava disso.
Nina, olhando para o rei, virou um pouco o rosto em direção a Nathaly.
"Reação estranha, mas... aah, sei lá. O normal desse povo é ser esquisito." — Devo ter confundido algo, mas não importa. — olhou para Nina — Vamos.
As duas caminharam pelo salão e saíram pelos corredores do palácio.
— Esse rei é estranho.
Nathaly olhou para ela depois de ouvir sua voz e viu Nina com um rosto indiferente olhando para frente.
— ...E que história é essa de noiva? Não me lembro de ter recebido pedido nenhum...
— Outro dia eu te peço... prometo.
— A última vez que ouvi isso, não terminou bem.
Pah...
Nina, que andava à direita, próxima à parede, segurou Nathaly e a pressionou contra ela.
— Dessa vez é sério. Depois que toda essa bagunça acabar, eu te peço na frente de todos da vila. Prometo — disse baixinho, abaixando a cabeça em direção aos lábios de Nathaly bem lentamente.
Nathaly olhou para os lábios dela, Mwah! e a beijou por um tempinho.
Nina se afastou um pouco, e ficaram próximas, apenas dividindo suas respirações suaves por mais alguns segundos.
— ...Então está bem, senhorita... Vou esperar por esse dia.
— E qual é o seu plano pra entrar na igreja? Você é a tal "Grande Heroína", eles a reconheceriam.
— Vou tentar uma coisa.
Naquela manhã, uma jovem moça aparentando cerca de 24 anos caminhava pelas ruas com o olhar cabisbaixo e uma expressão preocupada. Vestia um vestido simples, mas feito de um material de ótima qualidade. Cruzou a grande rua, saindo da área nobre, e, após alguns minutos, chegou ao lugar que procurava.
Diante dela erguia-se a bela catedral, construída no mais detalhado estilo gótico, que havia sido aberta há poucos minutos para os fiéis. Admirada, observou a fachada e, logo depois, entrou pela grande porta de madeira. Assim que passou por ela, ficou deslumbrada com a riqueza de detalhes nas paredes e nos pilares. Elementos dourados, realçados pela luz amarelada dos candelabros e lustres, davam um brilho especial ao ambiente. O chão branco imaculado e os bancos de madeira, esculpidos com gravuras de sóis e representações da Deusa do Sol, completavam a visão majestosa.
Caminhando pelo corredor central sobre um tapete dourado, seus olhos foram atraídos pelas janelas imensas ao fundo, que permitiam à luz do sol iluminar a estátua da Deusa diante do altar. Tímida, aproximou-se da estátua, juntou as mãos e fechou os olhos, começando uma oração silenciosa.
O salão permanecia vazio até aquele momento. Porém, do lado direito, uma porta abriu-se, e o bispo da igreja saiu, notando sua presença. Sem hesitar, começou a aproximar-se dela.
— Como posso ajudá-la, senhorita?
Ela abriu os olhos com um pequeno susto.
— Desculpe, não era a minha intenção. — O bispo curvou um pouco a cabeça.
— ...T-tudo bem.
— Como posso ajudá-la?
A mulher o olhou com tristeza nos olhos e desabafou:
— Meu marido foi vender tecidos em algumas vilas e cidades próximas e já faz dias... Estou sozinha e com medo de que ele tenha sido roubado ou algo pior... — lágrimas se formaram em seus olhos e uma delas caiu — Tenho medo de que ele tenha sido assassinado.
— ...
— M-me desculpe por isso. — Começou a passar as mãos nos olhos para secar as lágrimas.
— Não se preocupe, ele está bem — disse, com um sorriso no rosto. — Consigo ouvir a Deusa conversando comigo.
— É mesmo?! — A moça abriu um sorriso sincero e aliviado.
"Vai ser bem fácil!" — Sim... Ele está bem, mas vai demorar um pouco para voltar... Conheço um ritual que pode ajudá-la com sua solidão. — Se aproximou da moça e começou a acariciar superficialmente suas costas.
— Sinto um vazio no peito por não tê-lo comigo... — juntou as mãos próximas do coração enquanto dizia.
— Podemos realizar o ritual hoje, e a senhorita nunca mais sentirá esse vazio novamente.
— Hoje?! — Olhou esperançosa para ele.
— Podemos ir para a sala onde eu fico aqui na igreja e começar o ritual na presença da Deusa.
— M-mas estou um pouco suja... — Olhou para o vestido simples que usava. — Poderia ser na minha casa? A Deusa pode abençoá-la?!
— A Deusa ama seus fiéis. Levarei o azeite sagrado até sua casa ainda hoje à tarde. Por favor, poderia informar-me o endereço de sua residência?
A moça, muito feliz, olhou para ele e curvou a cabeça.
— Sim! Muito obrigada, bispo!
O bispo, com os olhos fechados e com o mesmo sorriso falso que todos os túnicas fazem, ouviu com atenção o endereço.
No início da tarde, o bispo saiu da igreja e foi até o endereço mencionado pela moça.
Andando tranquilamente pelas ruas, cumprimentou todas as pessoas que o olhavam. Após algum tempo, entrou na área nobre e chegou à casa de dois andares próxima à esquina citada pela moça. Toc-toc... bateu na porta, enquanto olhava para os lados, meio nervoso pela demora. Após alguns segundos, ela abriu a porta apenas com o rosto à mostra.
— Oi! Não repare na bagunça, acabei de arrumar as coisas... Pode entrar.
— Com licença. — Entrou, observando a casa bem arrumada e com móveis caros. "Ela tem dinheiro..."
O bispo se virou para a moça, que usava um vestido meio fino, parecido com uma camisola.
— P-po... — Olhou para ela e perdeu as palavras. — Poderia me conduzir até o quarto para que possamos iniciar o ritual?
— Sim! Me siga, por gentileza.
A moça se virou e caminhou até as escadas da casa. Subindo, o bispo tentou olhar por baixo do vestido, mas não conseguiu.
"Será um dia proveitoso!"
Chegaram ao quarto, entraram e ele começou a tirar a túnica de costas para a moça.
— Tire sua roupa, vou purificá-la para o ritual!
Assim que ele acabou de tirar a túnica e olhou para frente, viu que aquilo não era um quarto. Não havia móveis e as janelas, junto com a parede, chão e teto, estavam isolados em pedra. Logo notou a moça com um sorriso no rosto e os olhos fechados, virada para ele.
Seu corpo refletia uma luz dourada que vinha da esquerda. Quando virou a cabeça, viu Nathaly segurando a Hero, envolta em chamas intensas — embora não mais intensas que o ódio em seus olhos, que o encaravam fixamente.
Shkrunch!
Nathaly cortou as duas pernas do bispo fora.
Páh!
— AAaAAAAaaaHrrRGH!
Caído no chão, chorando de dor, enxergou, com a visão borrada pelas lágrimas, a silhueta de Nathaly se aproximando. TSSSSS... Encostou a Hero no corte das pernas, cauterizando o ferimento que misturava sangue rosa e vermelho no chão. A dor foi tão intensa que ele agonizou até perder a consciência.
Ao perceber que o sangramento havia cessado, Nathaly se levantou e encarou Nina com um olhar sério.
— Coloque uma roupa agora!
Nina voltou à sua aparência original, mas ainda com a mesma roupa.
— Mas eu nem tava no meu corpo... — respondeu, com um tom brincalhão.
— Não importa!
Nina retornou a sua roupa habitual, enquanto olhava para Nathaly com um sorrisinho safado.
— Você fica tão linda bravinha... Aí, mistura com ciúmes, e fica ainda mais...
Nathaly, ainda brava e encarando-a, virou o rosto para o lado, agora brava e envergonhada.
— Acorda esse imbecil logo! — exclamou Nathaly.
Nina riu, ainda olhando para ela.
— O que foi?! — Nathaly a olhou, sem conseguir esconder seu rosto vermelho.
— Nada não... Tcs... — respondeu, dando uma risadinha de canto de boca.
— ACORDA ELE LOGO, CARA! — O rosto de Nathaly ficou muito vermelho.
— Tá, tá. Calma, calma... Tcs...
Nathaly bufou levemente.
Nina desviou o olhar dela, e raízes começaram a crescer do piso de pedra, prendendo o bispo pelos braços no teto, na altura dos olhos dela. Após prendê-lo, Nina apontou uma arminha de dedo para o rosto dele, Shhhiiiiiui... e disparou uma magia de água, Cof-ca-ah!-c... fazendo-o acordar assustado e respirando fundo, pensando estar se afogando.
Parou de lançar assim que ele começou a se mexer. Com o rosto encharcado, o bispo olhou para o chão. Quando percebeu que não tinha mais as pernas abaixo dos joelhos, entrou em desespero:
— AAH...
Clec!
Nina colocou a mão na boca dele, apertando firme o suficiente para estalar a mandíbula.
— Para de gritar. — O soltou, e ele ficou em silêncio. — Que vocês são abusadores, isso já deu pra ver. Mas o que estão escondendo na igreja?
— Por que e...
Crunch.
Uma raiz pontuda cresceu da mão do bispo, decepando um de seus dedos. Seus olhos se arregalaram, abriu a boca para gritar, e ela a tampou novamente.
— Engula o choro. — Com um olhar ameaçador, retirou a mão, e ele segurou a dor como se estivesse gritando internamente. — Ainda tem mais nove dedos. Depois, quem sabe, corto as orelhas? — Nina segurou a orelha direita dele enquanto ele tremia.
— Não... não, por favor...
— É só responder o que eu quero. O que estão escondendo na igreja?
— U-u-usamos cobaias humanas para experimentos...
"Cobaias?"
— Hã? Usam cobaias? Isso tem a ver com as crianças que iriam ser levadas?
— Aquilo era apenas uma distração, para que a heroína morresse ou saísse daqui. "O quê?!" O bispo ficou confuso; não havia dito aquilo, não estava dizendo nada.
Uma voz doce, madura, sedutora e vaidosa ecoava em sua mente, dizendo o que deveria falar, mas era súbito e ele não percebia nada.
— Qual é o objetivo dos experimentos? — perguntou Nathaly. "Isso que a serva queria esconder? Minha utilidade era essa? Não faz sentido."
[ — Por que não me matou? Teve tempo de sobra.
— Minha mestra não permitiu... Digamos que você seja essencial para o plano dela. ]
Ao se lembrar das palavras da serva, refletiu:
"É a mesma pessoa por trás disso...? Primordial Rosa, eu vou destruir você. Ainda não perdoei o meu tempo roubado."
— P-para criar um Semi-Deus Artificial... — o bispo abaixou a cabeça. "Por que eu falei?!"
— Por que criar isso? — perguntou Nina.
— Para... — disse bem baixinho, com a cabeça ainda baixa, e elas não escutaram.
Nina se aproximou dele.
— Para...?
— Ptu!
Levantou a cabeça e cuspiu no rosto dela.