Volume 2
Capítulo 31: Imaginação (1)
Ao ver a garotinha, Nathaly correu atrás dela.
A menina ria bastante, se divertindo enquanto corria sem parar. Nathaly a alcançou e a segurou no tapete, fazendo cócegas.
A garotinha riu ainda mais, e quando abriu os olhos, Nathaly se deparou com aqueles lindos olhos que brilhavam em várias cores, como uma aurora boreal, com predominância do verde, e com seus longos cabelos prateados.
Ria como uma criança pura e feliz.
Distraída ao observar aqueles olhos encantadores, Nathaly percebeu duas pernas paradas à sua frente.
— Princesa Aurora! O que está fazendo?!
Nathaly se assustou ao ver uma serva que havia aparecido.
"Não tinha ninguém aqui!"
— Estou brincando...
— Não incomode a grande heroína — disse, segurando a mão da princesa e puxando-a. — Vamos, preciso vesti-la para o banquete.
— Estávamos apenas brincando. Ela não me incomodou em nada.
— Tudo bem, mas peço desculpas mesmo assim — disse, abaixando a cabeça em sinal de respeito.
Enquanto a princesa caminhava de mãos dadas com a serva, ela se virou e acenou com a outra mão, olhando para trás com uma expressão triste.
Nathaly fixou o olhar nas duas enquanto se afastavam e ficou sem piscar por 20 segundos. Quando finalmente piscou, viu a princesa caminhando sozinha, com a mão levantada.
— PRIN... — começou a gritar, mas ao piscar novamente, a serva reapareceu, segurando a mão da princesa. "O que tá acontecendo comigo?" Nathaly colocou a mão na cabeça.
De repente, uma porta no mesmo corredor se abriu.
Akli surgiu, abrindo a porta de sua sala.
— Grande... — Nathaly olhou na direção dela, achando estar louca. — Sra. Nathaly... Sua roupa está pronta.
"Como? Como? Que porra é essa? Calma... Calma. É só imaginação. Você tá com fome e com sono, é apenas isso!" Respirando fundo, ela entrou na sala de Akli novamente.
Entrou e se deparou com dois manequins.
Um deles vestia o que ela havia pedido: um short igual ao seu short jeans azul, mas em preto, e uma blusa preta de manga comprida que parecia um leve moletom, muito semelhante ao de Nina, embora o dela fosse muito mais escuro por causa do sangue.
No short, Akli adicionou suspensórios iguais aos de Nathaly, mas alterou a cor para dourado, criando um contraste com a roupa inteiramente preta. Akli até fez uma réplica da pistola de Nathaly, porém em tecido; Ela não entendeu o que aquilo representava e achou que fosse apenas um detalhe da roupa.
Além disso, criou uma nova gargantilha para Nathaly, e por cima de tudo, havia um sobretudo preto com pelagem dourada nos ombros.
O segundo manequim exibia uma calcinha e um sutiã preto em renda, para substituir as peças antigas que usava.
Nathaly se aproximou para analisar as roupas.
— Caso não tenha gostado, posso alterar ou refazer completamente. Basta me dizer o que prefere.
Nathaly olhou para o coldre que Akli havia feito e apontou, dizendo:
— Pode manter o suspensório, achei bonito, mas essa espécie de bolsinha, pode remover. É inútil.
Akli caminhou até o manequim e removeu o coldre instantaneamente. Nathaly ficou impressionada com a rapidez, mas não comentou nada.
— Tá, vou experimentar.
Começou a se despir.
— Espere.
— Oi? — Nathaly a observou enquanto ela se dirigia até a cortina.
Akli a puxou, revelando uma banheira de pedras que simulava uma fonte de água termal.
— Por favor, tome um banho antes. Você deve estar cansada. Relaxe um pouco antes de se vestir.
— Ah, tudo bem.
Nathaly tirou toda a roupa e caminhou sobre as pedras até a banheira.
Entrou lentamente, sentindo a água morna subir pelo seu corpo conforme se acomodava. Sentou-se, Haarrff... e suspirou, cansada, pensando na serva e na princesa.
Após alguns segundos, seus olhos começaram a pesar; sonolenta, fechou os olhos. No entanto, sentiu como se alguém a observasse.
No momento em que fechou os olhos, viu o rosto da serva em sua mente e acordou com um sobressalto, meio assustada.
Frshuasshua...
Ela agitou a água, produzindo um som suave que Akli ouviu.
— Está tudo bem?
— Me dê uma toalha.
— Sim, senhora.
Akli entregou uma toalha, e Nathaly se secou, vestindo suas novas roupas íntimas antes de colocar o restante da roupa. Quando viu a nova gargantilha, recusou-a, lembrando-se da de Alissa.
Foi até onde havia deixado as roupas antes do banho e pegou a gargantilha antiga, mesmo que estivesse um pouco fedida e precisando de uma lavagem. Ao olhar para suas roupas antigas, avistou sua pistola.
Crash!
Segurou-a firmemente e a esmagou para evitar qualquer acidente, deixando-a ali.
Voltando para os manequins, ignorou o sobretudo e se olhou no espelho com o novo visual.
— A senhora quer que eu altere mais alguma coisa?
— Não. Está muito linda assim. Obrigada... Eu... Eu só não quero o sobretudo. Usei muito na minha vida e dei uma enjoada, mas ele é lindo.
— Ah, sim... Eu que agradeço por essas palavras tão gentis vindas de você. — Akli pegou o sobretudo e o guardou para o caso de Nathaly querer usá-lo no futuro.
Nathaly se dirigiu à porta, mas antes de sair, observou Akli mexendo em algumas estantes.
Não notando nada de anormal, abriu a porta e olhou para ambos os lados do corredor. Não vendo ninguém, ela saiu e fechou a porta.
No entanto, ao dar o primeiro passo, viu a mesma serva de antes à sua frente.
Nathaly arregalou os olhos, fixando o olhar na serva.
— O banquete já está pronto... Por favor, me siga! — disse a serva com um sorriso estranhamente forçado, virando-se para conduzi-la ao banquete.
Nathaly a observou enquanto ela se afastava.
A serva parou de andar e se virou lentamente.
— Heroooííínaa?!
Nathaly ouviu uma voz diferente, grave e aterrorizante, vinda da serva, ecoando em sua mente.
Estressada, deu um passo à frente, começando a materializar a Hero, mas a porta da sala de Akli se abriu.
— Sra. Nathaly... Você esqueceu isso!
Ela olhou para Akli e, ao se virar novamente para a serva, percebeu que ela havia desaparecido.
Akli trouxe o colar que Nina havia dado a Nathaly em seu primeiro encontro em público.
Nathaly o tinha deixado junto com suas roupas sem perceber... OuU será que não?
Paranoica, pegou o colar e questionou Akli:
— Quem é a serva de branco?
— O quê? As servas não usam uniformes brancos.
— NÃO BRINQUE COMIGO! — Nathaly gritou, e ao perceber o medo nos olhos de Akli, suavizou sua expressão. — Me desculpa... Estou exausta, preciso dormir logo.
Abaixou um pouco a cabeça em sinal de desculpas para a híbrida.
— Não precisa se desculpar, Gran... Nathaly. M-me desculpe por não perceber seu momento delicado.
Nathaly passou os dedos pelos olhos, apertando-os, estressada.
— Poderia me levar até o salão onde vai acontecer o banquete?
— Posso sim. Mas apenas até a porta; não fui convidada.
— ...
— Por favor, venha comigo — disse Akli, abaixando a cabeça.
Tomou a liderança e conduziu Nathaly até o local.
Chegando a uma grande porta, Akli se despediu e foi embora. Nathaly, então, abriu a porta e entrou.
Ao cruzar a entrada, tornou-se imediatamente o centro das atenções.
A família real, membros da elite, oficiais do exército e muitas outras figuras importantes de Alberg voltaram seus olhares para ela. Nathaly sorriu, sem saber como agir em meio a tanta gente bem vestida, em uma sala tão luxuosa.
Embora tudo ao redor estivesse ensanguentado e destruído, como o resto do palácio, a comida era real, diferente de algumas pessoas ali presentes.
Nathaly foi recebida por um casal que não havia se importado em trocar de roupa para o evento.
— Boa noite, grande heroína. Sou o homem que a chamou na cidade.
— Por favor, pare de me chamar assim — respondeu Nathaly em voz baixa, visivelmente estressada.
Ele a encarou com firmeza.
— Acho que você percebeu que há algo estranho aqui. Finja naturalidade; nem todos são reais.
— O quê? — Nathaly se assustou com o que ele disse. — Ma...
O general do exército passou próximo a eles, e Jonas iniciou uma conversa, tentando parecer natural.
— Meu nome é Jonas Sirveri, e esta é minha noiva, Liza Dirpan.
Nathaly, com um sorriso forçado, respondeu:
— Prazer, meu nome é Nathaly Kubitschek. Sou adotada. Embora minha mãe não goste desse sobrenome por algum motivo, eu ainda o acho bonitinho.
— ...Um sobrenome diferente. Não faço ideia de que reino seja, mas... Muito obrigado pelo que fez contra o exército de monstros mais cedo. Estaríamos em apuros se você não tivesse chegado a tempo. "Claro que não estaríamos. Sai daqui logo, Grimore!" — Mas não vou tomar muito do seu tempo; imagino que o rei tenha algo a dizer. — O general do exército, Grimore, se afastou junto de seus soldados próximos.
Jonas ficou intrigado, pois apenas a elite dos reinos possuem sobrenomes.
Ao passar ao lado de Nathaly, Jonas murmurou bem baixinho:
— Por favor, tenha cuidado. Não confie em ninguém. Em breve lhe darei minhas informações, que infelizmente não são muitas.
— Ok.
Jonas se afastou com Liza, continuando sua atuação naquele ambiente e fingindo naturalidade ao interagir com as outras pessoas.
"'Ok'?" Ele ficou um pouco confuso, nunca tendo ouvido aquela palavra antes.
Com muita fome, Nathaly olhou para a mesa colossal repleta de comida e doces.
Ao ver uma moça pegando uma taça de vinho e um pratinho de cristal com doce, ela atacou.
Nathaly comeu e se deliciava, passando a mão em tudo, mas não como um animal selvagem. Sempre que notava que ninguém estava olhando, o prato desaparecia, e a comida já sumia goela abaixo.
Ainda comendo, ao longe, em um cantinho, ela avistou a princesa Aurora brincando de chá com sua boneca.
Sozinha, com um semblante meio abatido; naquele dia, não havia nenhuma outra criança para brincar com ela.
Nathaly se lembrou de como costumava ser solitária e se isolava das outras crianças. Não querendo que a princesa se sentisse da mesma forma, decidiu ir até ela para lhe fazer companhia. Mas antes, devorou um bolo e, olhando ao redor, pegou um grande pedaço de outro, continuando a comer enquanto se aproximava da princesa.
— O que está fazendo?
A princesa, mesmo triste, colocou um sorriso no rosto e, com seus enormes olhos, encarou-a antes de responder:
— Estou tomando chá com minha boneca. Quer participar?!
— Sim, o cheiro está ótimo.
Aurora se alegrou, ficou de pé na pequena mesinha e serviu chá para Nathaly e para ela.
As duas beberam e brincaram juntas. Nathaly fez a princesa rir bastante, alegrando sua noite solitária, até que o rei se levantou na mesa principal e pediu a atenção de todos.
Então se despediu da princesa e se juntou aos demais.
— O dia de hoje termina em festa graças à nossa grande heroína. Gostaria de pedir a todos uma salva de palmas para agradecê-la por nos proteger.
— Viva!
Todos aplaudiram Nathaly, que pegou um cálice da mesa e bebeu. Grimore também aplaudiu, mas apenas por obrigação, sentindo ódio por ela ter sido escolhida pelo Fogo Sagrado. Não se preocupava mais em esconder seu desprezo, que era evidente em seu rosto.
Enquanto bebia seu cálice de vinho, Nathaly notou algo estranho na rainha.
"É como se algo estivesse saindo dela e indo em direção ao rei." Confusa, se perguntava se o que via era real. "Deve ser minha imaginação." Lembrou-se do conselho de Jonas para ter cuidado. "Ou não?"
Depois de comer e beber bastante, ficou um pouco embriagada e decidiu sair.
No corredor, pediu a uma serva que a guiasse até um quarto para dormir. Mesmo tonta pelo álcool, ela observou atentamente a serva durante o trajeto, mas não notou nada de anormal.
A serva a deixou em um quarto, e Nathaly entrou.
Assim que entrou, notou que havia uma chave na porta dupla.
Traclak!
Trancou a porta e ainda bloqueou as maçanetas prateadas com um pedaço de metal de uma decoração do quarto.
Sem prestar atenção na decoração, se aproximou da grande cama dossel e se deitou de barriga para baixo, com a cabeça voltada para a direita.
— Só tô cansada... Não tem nada de estranho aqui — murmurou enquanto caía no sono.
Ao lado direito dela, na cama, havia o corpo de uma mulher em decomposição.
Moscas e larvas disputavam espaço em seu corpo, e o dossel, semidestruído, junto com o suporte da cama, compunham o cenário de um assassinato brutal.
Após algum tempo, o dia já havia clareado, e Nathaly despertou ao ouvir um barulho.
Abrindo os olhos lentamente, viu uma serva à sua frente. Assustada, se levantou e materializou a Hero, mas não havia ninguém ali.
Toc, toc, toc...